Luís Montenegro conseguiu mostrar-se, no debate parlamentar de hoje, pasmado com a descida dos juros da dívida, e só por um triz não agradeceu a Passos Coelho a redução que se vem verificando nos outros países da periferia. A maioria dos
media não lhe fica atrás nos encómios.
Isto acontece quando se sabe que o BCE vem dando sinais de que amparará os países da zona euro em dificuldades, o que leva os investidores a fugir, na hora actual, da instabilidade dos países emergentes, produzindo milagres simultâneos (ou miragens, como o
Wall Street Journal se refere hoje à situação portuguesa) em Atenas, Dublin, Lisboa, Madrid, Roma...
Mas, mesmo assim, desde que se observe com algum rigor, nem tudo o que luz é ouro. Num contexto de inflação negativa (de -0,13% no primeiro trimestre), só doses cavalares de propaganda nos podem distrair da distância que vai entre as taxas de juro nominais e as taxas de juro reais na colocação da dívida. Veja-se
aqui:
• Hoje — taxa nominal: 3,575% / taxa real: 3,7%;
• Janeiro/2011 — taxa nominal: 6,72% / taxa real: 3,12%;
• Outubro/2006 — taxa nominal: 3,994% / taxa real: 1,274%;
• Outubro/2005 — taxa nominal: 3,35% / taxa real: 0,66%.
Perante estas taxas de juro, o que é que o Governo e os
media concretamente festejam?