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sexta-feira, julho 10, 2015

Da guerra «sem quartel» à pobreza e às desigualdades



    «Depois de lançar no desemprego centenas de milhares de pessoas, de convidar jovens e adultos a emigrar, de cortar nos salários, em pensões e prestações sociais, Pedro Passos Coelho diz que é chegada a hora de travar uma «guerra sem quartel às desigualdades de natureza económica e social». Não estranhem: o primeiro ministro que apresenta esta promessa eleitoral é o mesmo primeiro ministro que acha que não foram as medidas de austeridade que «aumentaram o risco de pobreza» e que os mais pobres «não foram afectados por cortes nenhuns». E de nada serve que organizações insuspeitas, como a OCDE, critiquem as políticas sociais do governo, reprovando os cortes efectuados no RSI ou o facto de a austeridade pesar muito mais para as famílias de menores rendimentos.

    Do que talvez a OCDE não se aperceba, em matéria de políticas de combate, «sem quartel», à pobreza e às desigualdades, é que não se trata apenas de uma questão de cortes orçamentais mas sim, e sobretudo, do regresso à miséria moral da caridade e à sopa como política social. Os números são claros: se tomarmos como base o ano de 2010, os beneficiários do RSI passaram a representar 61% do número de beneficiários existentes naquele ano, ao mesmo tempo que as pessoas assistidas pelo Banco Alimentar Contra a Fome (BACF) aumentaram em 29 pontos percentuais. Em 2014, aliás, ocorre um facto inédito: o número de pessoas apoiadas pelo BACF (384 mil) supera o total de beneficiários de RSI (321 mil).»

sexta-feira, junho 19, 2015

Um mentiroso sem escrúpulos

Decorreu hoje o último debate quinzenal da legislatura. Passos Coelho, jogando com a habitual falta de fact checking da comunicação social, em especial por parte das televisões, falou na Assembleia da República como se estivesse numa arruada do circuito da carne assada. Mentiu com os dentes todos, sem o menor respeito pelos deputados que tinha à sua frente. A verdade dos factos é uma cena que não o intimida. Veja-se:

1. Passos Coelho disse que «é falso que tenhamos tido mais emigração que noutros países». Mais: garantiu que «na Irlanda o saldo migratório foi mais grave», assim como em Espanha. O Eurostat desmente o alegado primeiro-ministro:

Via Nuno Oliveira (clique na imagem para a ampliar)

2. Passos Coelho assegurou que os mais pobres «não foram afectados por cortes nenhuns». Seria difícil enumerar todos os cortes que concorreram para o agravamento da pobreza e o brutal aumento das desigualdades. Veja-se só o que aconteceu relativamente ao rendimento social de inserção (RSI) e ao complemento solidário para idosos:

Via Nuno Oliveira (clique na imagem para a ampliar)

Via Nuno Oliveira (clique na imagem para a ampliar)

segunda-feira, junho 15, 2015

Mitos urbanos

• João Galamba, Mitos urbanos:
    «Depois de se refundar em “Somos o que escolhemos ser”, Passos Coelho parece ter-lhe tomado o gosto e quer transformar todo o seu passado conhecido (e documentado) num enorme mito urbano. A ideia de que Passos Coelho sempre desejou a vinda da troika, precipitou a sua vinda e, depois, foi além da troika, é, tudo leva a crer, o maior de todos os mitos urbanos. Para Passos Coelho, essa é uma tragédia que, embora seja bem real e amplamente documentada, nunca aconteceu.

    Passos Coelho, coadjuvado por Paulo Portas, está empenhado em apagar da realidade os 450 mil empregos destruídos desde que o atual governo assumiu funções, a maior vaga de emigração desde os anos 60, o recuo do investimento para níveis de meados dos anos 80, o corte de salários e prestações sociais, o recuo de uma década no combate à pobreza e à exclusão social, a degradação da educação, da saúde, da justiça e da segurança social. Isto não são episódios passados de uma história que acabou bem. Isto é o presente. É aqui que estamos.

    E podíamos estar bem pior.

    O facto do Tribunal Constitucional (e as eleições) ter travado o desvairado plano de Passos Coelho, anunciado em outubro de 2012, e reafirmado em Abril de 2013, de cortar 4 mil milhões de euros em salários e prestações sociais, e de tal ter tido um efeito positivo na economia e no emprego, também é apagado da história.

    A despesa que Passos Coelho dizia querer cortar em 4 mil milhões de euros subiu 3 mil milhões de euros, e foi o aumento da despesa que Passos Coelho queria cortar, nomeadamente rendimento de funcionários públicos e de pensionistas, que permitiu estabilizar a procura interna. Se o plano de corte em salários e prestações sociais desejado por Passos Coelho tivesse ido avante, a recessão teria sido mais profunda e a procura interna, que é o que explica a saída da recessão, não teria recuperado como recuperou. A recuperação da procura interna ocorre apesar do governo, e contra sua política, nunca por sua causa. Se dúvidas houvesse, o corte de 600 milhões de euros em pensões, que a coligação já prometeu para 2016, é prova disso mesmo.»

    Cortes excessivos, errados e desnecessários, que tiveram efeitos catastróficos na economia, no emprego e na coesão social, e não criaram a famosa “confiança”. A patranha da austeridade expansionista. Um plano de cortes suicida, sucessivas vezes tentado, e, felizmente, sucessivas vezes travado pelo Tribunal Constitucional. Degradação acelerada do serviços públicos e da relação do Estado com os cidadãos. Uma realidade que só não é pior porque o governo foi impedido de pôr em prática (toda) a sua estratégia. Não, esta não é uma história com um final feliz. Esta é uma história que só poderá vir a ter um final feliz se, nas eleições, a dupla Passos Coelho e Paulo Portas for derrotada.»

quinta-feira, junho 11, 2015

sábado, maio 30, 2015

Histórias de quatro anos de sucessos [3]

            «Apesar das dificuldades, esta história acabou bem.»


No Porto há arrumadores desempregados e reformados que pedem para comer:
    «O universo dos arrumadores do Porto deixou de estar confinado à toxicodependência e está cheio de histórias de quem troca lugares de estacionamento por moedas para comer, porque perdeu o emprego, a reforma não chega ou o negócio faliu.»

segunda-feira, maio 25, 2015

Histórias de quatro anos de sucessos [2]

(in Acção Socialista)

Um inquérito a 216 instituições de assistência social revela que um em cada três utentes destas instituições passou fome pelo menos um dia por semana. Foram entrevistados cerca de duas mil pessoas que recorrem a essas instituições. Mais dados estão disponíveis aqui.

Com os cortes no rendimento social de inserção, no complemento solidário para idosos e no subsídio de desemprego, o Governo empurrou muitos milhares de portugueses para situações abaixo do limiar de pobreza. Apesar de a política do Governo conduzir a esta barbárie social, Paulo Portas tem o descaramento de dizer que tem de haver «uma ética social na austeridade», para que «aqueles que são mais fracos vulneráveis e mais pobres não sejam os sacrificados da austeridade». Veja-se o resultado:

O risco de pobreza continuou a aumentar em 2013

terça-feira, maio 05, 2015

Os discursos de Passos Coelho

• Mário Soares, Os discursos de Passos Coelho:
    «Na passada semana, Pedro Passos Coelho fez vários discursos que caíram muito mal àqueles que o ouviram. Os portugueses perceberam há muito, mesmo os que são seus apoiantes, que o governo e a coligação que dirige estão no fim, sem remédio.

    A coligação que em certa altura não era nada desejada passou a sê-lo, porque faz alguma falta para as eleições que se aproximam e que o Presidente da República quer que se façam o mais tarde possível. Passos Coelho - que nunca gostou de Paulo Portas, bem como o Presidente Cavaco Silva, cujo único protegido sempre foi Passos Coelho - também nunca falou, que se saiba, em favor de Paulo Portas.

    (…)

    Na passada sexta-feira, em Aguiar da Beira, Passos Coelho estava a comer queijos - era o Dia do Trabalhador, note-se - e encontrou o seu amigo Dias Loureiro, que foi em tempos ministro da Administração Interna e que ganhou muito dinheiro, como, aliás, o atual Presidente da República, sem se saber bem como nem porquê. Foi um encontro entre amigos solidários, não só pelo interesse dos queijos, ao que dizem muito agradável. O elogio que Passos Coelho fez a Dias Loureiro, como empresário-modelo, é verdadeiramente indigno. (…)»

quinta-feira, abril 09, 2015

Intervenções no âmbito da Interpelação ao Governo (pedida pelo PCP)
centrada na continuação da política da troika



Pedro Nuno Santos: «Como é que explica que há seis meses o emprego esteja a cair de forma ininterrupta, Senhora Ministra [Miss Swaps]? O que é que está a acontecer?»


João Galamba: «A Senhora Ministra das Finanças [Miss Swaps] disse uma coisa espantosa que, de facto, resume grande parte da dissonância cognitiva deste governo: numa mesma intervenção disse que o Governo foi obrigado a aumentar impostos por causa do Tribunal Constitucional (e que queria era ter cortado salários e pensões) e terminou a sua intervenção vangloriando-se da devolução de salários e pensões.»

segunda-feira, abril 06, 2015

«A destruição que se limitou a ser destrutiva»


• João Galamba, Competitividade e desenvolvimento:
    «Depois de divulgar dados que mostram que o investimento recuou a valores pré-adesão à CEE, o INE informa que o desemprego está a aumentar há 5 meses, tendo já ultrapassado os 14%, e que a população empregada, em fevereiro de 2015, foi estimada em 4399,9 mil pessoas, um pouco menos do que em 1987.

    Desde que o actual Governo entrou em funções há menos 420 mil empregos em Portugal. Só em 2012 foram destruídos cerca de 190 mil empregos, mais do que os 150 mil verificados em 2009, o auge da crise financeira internacional.

    Se a opção de ir para além da Troika teve resultados ruinosos no crescimento, no investimento, no emprego, transformando uma recessão que se previa pouco intensa e muito curta numa gravíssima crise económica e social, a agenda alegadamente reformista do governo não parece ter criado qualquer tipo de dinâmica positiva na economia portuguesa.

    Para além da destruição, que foi muito maior do que o previsto, tardam em chegar quaisquer tipos de sinais de recuperação, muito menos sinais de uma recuperação sustentável. Tudo leva a crer que a destruição se limitou a ser destrutiva.

    Baixar salários, tornar o emprego mais precário e reduzir a taxa de IRC - que são as grandes apostas do actual governo em matéria de competitividade - podem tornar o país mais barato e, por essa via, mais competitivo para certo tipo de investidores, mas não são apostas sustentáveis, porque não apostam no desenvolvimento e na modernização do país.

    Portugal tem atrasos estruturais em matéria de qualificações da sua população e em matéria de stock de capital e de inovação. Porém, uma estrutura produtiva atrasada não se transforma liberalizando as relações laborais e tornando o país mais barato para investidores; aliás, o efeito dessa aposta estratégica, que é a do actual Governo, pode mesmo bloquear qualquer tipo de transformação estrutural, cristalizando o país no seu actual modelo de especialização produtiva.

    O país precisa de investir nas qualificações da sua população jovem e adulta; precisa de investir em ciência e em inovação; precisa de combater a pobreza e a desigualdade; precisa de dignificar o trabalho. O país precisa de políticas públicas que contribuam positivamente para o esforço de superação dos seus principais bloqueios estruturais; não precisa de uma cartilha liberal segundo a qual todos os problemas se resolvem desregulando, privatizando e deixando o mercado funcionar.

    Olhemos para a experiência de sectores que, tendo passado por dificuldades, são hoje casos de sucesso, como o calçado, o têxtil ou a agricultura. A transformação destes sectores envolveu recursos públicos e privados e teve como objectivo aumentar o valor acrescentado nacional. Não foram projectos sacrificiais e miserabilistas, foram projectos de investimento e modernização, foram apostas no futuro - o oposto daquilo que o Governo, todos os dias, e de todas as formas, garante ser a única alternativa para o país

terça-feira, março 17, 2015

Da ética social na austeridade

Paulo Portas defendeu que tem de haver "uma ética social na austeridade e que aqueles que são mais fracos vulneráveis e mais pobres não sejam os sacrificados da austeridade". Os resultados estão à vista:

segunda-feira, março 16, 2015

Portugal regrediu uma década no combate à pobreza

• João Galamba, A necessidade (urgente) de mudança:
    «Com as políticas da actual maioria, Portugal regrediu uma década nos níveis de pobreza, regrediu duas décadas no emprego, regrediu três décadas no investimento e voltou a ter níveis de emigração só comparáveis com a década de 60. Respondendo a António Costa, Passos deixa bem claro por que razão é tão necessário mudar de governo e, sobretudo, mudar de políticas.

    Um dos temas principais da intervenção de António Costa no encerramento das jornadas parlamentares do PS foi a resposta à crise social criada pelas política deste governo. O governo de Passos Coelho (e Paulo Portas) cortou no Rendimento Social de Inserção, cortou no Complemento Solidário para Idosos, cortou nos complementos para quem maior grau de dependência, cortou em tudo o que era política pública de combate à pobreza. O resultado é o que se conhece: Portugal regrediu uma década no combate à pobreza, a pobreza aumentou em todos os segmentos da população portuguesa, com particular gravidade na população mais nova.

    Com o objectivo de combater "a mais dramática de todas as pobrezas, porque nos promete para amanhã não uma sociedade mais justa e mais igualitária, mas a reprodução de uma nova geração de pobreza e um retrocesso duradouro no país", António Costa anuncia um programa para erradicar a pobreza infantil e juvenil. Trata-se de uma prioridade política que vai constar do programa eleitoral do PS.

    A resposta de Passos Coelho é reveladora. Em vez de procurar negar que existe uma crise social criada pelas suas políticas ou, em alternativa, reconhecendo a sua existência mas dizendo que tem feito tudo e tudo continuará a fazer para a combater, Passos Coelho anuncia ao país que não há nada a fazer. Sim, isso mesmo, que não há nada a fazer.

    É espantoso que um Primeiro-Ministro diga que não há nada a fazer quando existe uma crise social que afecta de forma particularmente grave as crianças e os jovens do seu país. Mas foi exactamente isso que Passos Coelho disse: "Ai do governo que pense ganhar o país a prometer o que só depende dos outros. Convido todos os que querem disputar responsabilidades para futuro a dizerem o que podem trazer por si próprios, que não seja pela via europeia".

    Aparentemente, um Primeiro Ministro que corta e pretende continuar a cortar no IRC acha que a pobreza em Portugal só pode ser combatida se a Europa deixar. Desculpas esfarrapadas à parte, Passos critica o PS porque não considera o combate à pobreza uma prioridade. E não considera o combate à pobreza uma prioridade porque esta envolve uma coisa pecaminosa chamada despesa pública. (ignoremos o facto do governo ter substituído despesa pública em prestações sociais por transferências financeiras para as cantinas sociais, que são mais caras e mais ineficazes no combate à pobrezas). Em nome da diabolização da palavra despesa pública, que este governo associa a gorduras e a desperdícios, sacrifica-se um país e uma população. Esta é uma das razões por que é tão urgente mudar de governo e mudar de políticas.

    Outra, talvez a mais importante de todas, é que Portugal não pode ter um Primeiro-Ministro que insista em apresentar como prova de que Portugal está melhor, não factos sobre o seu país e sobre a vida da sua população, mas o que os outros - lá fora - dizem de nós: "Quando até os nossos adversários olham para o futuro com mais esperança é porque de certeza Portugal é hoje um país mais livre, mais confiante e mais optimista no futuro do que aquele que nos legaram em 2011". Ninguém fica mais livre, mais confiante e mais optimista por essa razão.»

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Pobreza, oportunidades e PIB potencial futuro

• Manuel Caldeira Cabral, Pobreza, oportunidades e PIB potencial futuro:
    «(…) Neste artigo discuto o que é que isso revela sobre o ajustamento seguido em Portugal e como é que estes números se articulam com as alterações feitas na política de combate à pobreza extrema. Discuto ainda o impacto que o aumento da pobreza e da sua intensidade vão ter no crescimento económico futuro do nosso país.

    1- Os números divulgados pelo INE desmentem por completo a tese de que o ajustamento seguido em Portugal poupou mais os mais pobres. O número de pessoas abaixo do limiar de pobreza cresceu e voltou a ultrapassar os 2 milhões de portugueses. O rendimento dos que são considerados pobres é também hoje mais baixo (o rendimento do limiar de pobreza é hoje 5% mais baixo do que em 2009). O aumento da desigualdade mostra que a diferença de rendimento entre os mais ricos e os mais pobres aumentou, o que significa que a diminuição de rendimentos foi proporcionalmente maior nos mais pobres. Em 2010, os 10% mais ricos tinham um rendimento 9 vezes superior aos 10% mais pobres, em 2013 este valor subiu para 11 vezes.

    2- O relatório revela também uma degradação das condições de vida dos mais pobres. Estes não só são mais como estão em pior situação. A taxa de intensidade da pobreza, que mede em termos percentuais a insuficiência de recursos da população em risco de pobreza, foi de 30,3% em 2013, registando-se um agravamento de 2,9 p.p. face ao défice de recursos registado em 2012, e de 7,1 p.p. face a 2010.

    Esta evolução pode, em muitos casos, estar ligada à persistência de condições de pobreza extrema mais prolongadas, mas está certamente também associada à diminuição de apoios sociais, em particular dos apoios sociais direccionados ao combate da pobreza extrema.

    O actual Governo reduziu fortemente os apoios directos à pobreza. O número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) caiu 40% face aos valores de 2010, um corte muito superior ao registado nas despesas correntes. O número de pessoas abaixo do limiar de pobreza aumentou 170 mil, o número de beneficiários do RSI diminuiu mais de 200 mil. É importante referir que as contribuições do RSI não são suficientes para retirar os seus beneficiários da pobreza, mas contribuem para que as pessoas em situações de pobreza mais extrema possam ter acesso a um mínimo de sobrevivência, que lhes permita alimentar-se, colocar os filhos na escola. Hoje só 16% das pessoas abaixo do limiar de pobreza têm acesso ao RSI, em 2010, eram quase 30%, e Portugal gastava cerca de 0,4% do PIB com estes apoios - menos de 1% da despesa pública.

    3. Um dos dados mais preocupantes deste relatório do INE é o que refere que o aumento dá pobreza foi particularmente acentuado nas famílias com filhos. O risco de pobreza entre as crianças aumentou 3 pontos percentuais desde 2010, e é mais de 25% superior ao da população em geral. (…)»

sábado, fevereiro 07, 2015

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Empobrecendo desigualmente

• Francisco Madelino, Empobrecendo desigualmente:
    «(…) A população em risco de pobreza é hoje significativamente maior (19,5%), afetando, só no último ano, mais 80 mil pessoas. Desde 2011, mais 160 mil. A diminuição destes valores era uma constante após o Governo de Durão de Barroso. Foi interrompida em 2011.

    Aumentou a desigualdade na distribuição do rendimento, seja comparando os 10% mais ricos com os mais pobres, seja comparando os 20% mais pobres e ricos, neste caso, dois milhões de pessoas de cada lado. As diferenças passaram a ser, respectivamente, de 6,2 e de 11,1 vezes.

    O trabalho, em Portugal, não é uma condição suficiente para deixar de se ser pobre, aumentando a proporção dos trabalhadores em risco de pobreza (10,7%).

    Mais de 25% dos jovens, com menos de 17 anos, portanto um em cada quatro, vive numa situação de pobreza, o que a torna um fenómeno mais perene, injusto e difícil de combater.

    Dentro dos pobres, a intensidade de pobreza aumentou em desfavor dos ainda mais débeis.

    Por fim, quase 11% dos portugueses vive em privação material severa, o que significa uma subida de 2,3 pontos percentuais face a 2011.

    Se, porventura, fixarmos o valor-limite da pobreza no valor de 2009 (cerca de 400€ acima do atual), o risco de pobreza estaria, inclusivamente, em 2013, em 25,9% – 6,4 pontos percentuais acima dos referidos atrás, pois, nos últimos anos, o país verificou uma redução significativa do PIB.

    Estes dados, no seu dramatismo social, provam várias coisas. Que a austeridade afetou mais os mais pobres. Que tornou o país mais desigual. Que, no domínio social, foi um desastre, a par de não ter resolvido os principais desequilíbrios económicos. (…)»

terça-feira, fevereiro 03, 2015

O ensurdecedor silêncio de Diogo Feio


Ontem, no Frente a Frente da SIC Notícias, Fernando Medina decidiu comentar na sua «nota prévia» os dados da pobreza, publicados pelo INE no dia 30 de Janeiro. São números que mostram não apenas um aumento notório da pobreza como também um aumento significativo das desigualdades.

Diogo Feio ouviu a exposição de Fernando Medina em silêncio, sem uma interrupção sequer. Mas a expressão facial do dirigente do CDS-PP revela que não encontrou forma para sustentar a esfarrapada ética social na austeridade.

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Também somos a Grécia

• João Galamba, Também somos a Grécia:
    «(…) O ano de 2013 foi o ano em que o Tribunal de Constitucional travou parte da austeridade desejada por este governo. Aconteceu o mesmo em 2014 e em 2015. Já sabemos que isso ajudou a economia a estabilizar e a sair da recessão. Mas tudo indica que não tenha sido suficiente para pôr termo à crise social criada pelas políticas deste governo. Os cortes no Rendimento Social de Inserção, os cortes no Complemento Solidário para Idosos, e os cortes no Abono de família são uma constante ao longo de todo o mandato e têm um impacto muito significativo na pobreza em Portugal. Todos os anos o Partido Socialista propôs medidas para atenuar a crise social. Neste último orçamento, por exemplo, propusemos aumentar o abono de família e o subsídio social de desemprego. Estas propostas custavam menos de metade da redução da taxa de IRC. O governo, como já o havia feito no passado, chumbou todas as propostas.

    A ideia de que o retrocesso social tinha poderes salvíficos e regeneradores foi aplicada na Grécia, foi aplicada em Portugal, foi aplicada em Espanha, foi aplicada na Irlanda, foi aplicada em Itália, e tem sido aplicada um pouco por toda a Europa. Em maior ou menor grau, é por isso que somos todos a Grécia. É natural que o Primeiro-Ministro se não reconheça este facto. Fazê-lo seria equivalente a reconhecer a sua própria responsabilidade pela existência e pela manutenção da crise social (económica e política) que afeta uma parte significativa da Europa e da qual a Grécia é apenas um caso extremo.»

sábado, janeiro 31, 2015

Costa diz que "mexilhão" é que suportou sacrifícios da crise
(e o INE confirma)


    "A tese que o Governo quis apresentar que neste programa de ajustamento tinha havido justiça social - que aqueles que mais tinham, tinham suportado mais, e aqueles que menos tinham, tinham suportado menos - é uma ideia que é falsa", defendeu António Costa.

    Pelo contrário, sublinhou o líder socialista, "o programa de ajustamento traduziu-se num drama social não só na emigração, no desemprego, mas num aumento significativo da pobreza e das desigualdades".

    "Quase 20% da população portuguesa está em risco de pobreza. Só nos anos de 2012 e 2013 tivemos um aumento de 400 mil pessoas. Tínhamos que regressar a 2003, tínhamos que regressar aos governos de Durão Barroso, para encontrarmos o nível de pobreza que Portugal agora atingiu sob a condução deste Governo", afirmou.

    Costa sublinhou que o risco de pobreza aumentou sobretudo entre os jovens e as crianças, considerando que isso "significa o risco de reproduzir uma nova geração de pobreza e significa cortar à partida a oportunidade que todos têm que ter de realizar plenamente o seu potencial".

    "Estes dados sobre a pobreza revelam bem que o discurso que o Governo procurou fazer de que desta vez não tinha sido o 'mexilhão' a suportar os encargos e sacríficos desta crise é uma tese falsa. Ao contrário do que disse o Governo, têm sido aqueles que menos rendimentos têm que mais têm suportado a política de ajustamento", afirmou.

    O secretário-geral socialista frisou que "ao aumento da pobreza, o Governo conseguiu acompanhar com a asfixia fiscal da classe média", o que é refletido nos dados que revelam que "mais 10% da população empregada está também em risco de pobreza".

    António Costa quis também focar-se na quantificação do aumento das desigualdades fornecida pelo INE: "Aumentaram seis vezes quando se compara entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos, e quando comparamos entre os 10% mais pobres e os 10% mais ricos, a diferença é de 11 vezes favorável aqueles que têm rendimentos mais elevados", disse.

    O líder socialista referiu-se também ao Inquérito à Conjuntura, igualmente revelado pelo INE na sexta-feira, argumentando que contraria a ideia que o Governo quis apresentar de que o programa de ajustamento iria conduzir ao reforço da confiança dos empresários do investimento, "sobretudo, do bom investimento, da indústria para exportação".

    "Aquilo que o inquérito veio dizer é que as perspetivas para 2015 são de redução do investimento", afirmou, sublinhando que a retração será sobretudo na indústria transformadora.

    Costa frisou que os dados mostram que "a grande alteração" do modelo económico "assente na exportação e industrialização" não se se está a verificar.