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segunda-feira, dezembro 10, 2012

Afectividade, é isso

Sempre achei que Marques Mendes, ao acabar os seus dias na TVI 24, estava a passar ao lado de uma grande carreira. Basta ler a obra que em tempos publicou para observar a originalidade e a profundidade do seu pensamento estratégico. Infelizmente, poucos foram os que, para além de Joaquim Coimbra (do BPN e do Sol), de Isaltino Morais (de Oeiras) ou de Passos e Relvas (da famosa ONG), tiveram ensejo de conhecer as suas ideias e lhe darem asas para as expressar.

Com efeito, só um espírito muito atento ao pulsar da sociedade poderia entender que o principal problema do Governo é a sua incapacidade de transmitir afecto, quando aumenta um imposto, corta um apoio social ou prepara legislação para despejos ou despedimentos mais céleres. Como é que ninguém antes de Marques Mendes tinha reparado que o problema que embaraça a acção do Governo é a falta de afectividade? Descoberto o grão que emperrava a engrenagem, tudo agora irá correr sobre rodas para o Governo, porque os ministros irão ostentar um novo pin na lapela. Este:

domingo, novembro 11, 2012

Adeus, Urso de Ouro

É realmente triste que o produtor Marcelo e o realizador Moita de Deus não tenham qualquer hipótese de ganhar o Urso de Ouro do Festival de Berlim. E também não devem poder ganhar o Urso de Prata. Quem sabe, talvez o Urso de Latão.

Confesso que não consegui ficar indignado com a feia atitude dos alemães, que vetaram a exibição pública do filme de Marcelo e Moita de Deus. Se a razão da recusa alemã foi não terem gostado da ideia de que o povo alemão é pouco solidário, que é alegadamente passada pelo filme, acho que é um acto de “censura” inaceitável. Mas para além dessa crítica, a verdade é que o filme é de um Kitsch e de um mau gosto confrangedores, que contrasta vivamente com o vídeo elegante e de bom gosto que foi mandado fazer quando a Finlândia ameaçava inviabilizar a ajuda a Portugal.

Moral da história:

Que Marcelo finja que leu livros que se limita a apalpar com os dedos nas homilias dominicais (e, quem sabe, nas arguições universitárias), vá que vá. Que Moita de Deus enfie um capacete na sua tola monárquica e ande por aí com uma bandeira azul a trepar pelos telhados no intervalo das suas aventuras na comissão política do PSD, vá que vá. Mas, por favor, não se metam naquilo que não conhecem. Cinema e publicidade são assuntos sérios para gente realmente criativa e com bom gosto. Se quiserem contribuir, abram os cordões à bolsa e façam a única coisa que está ao seu alcance: ajudem a financiar um filme, mas não metam lá o bedelho.

domingo, outubro 14, 2012

Acta do Conselho de Ministros da próxima segunda-feira

Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb

A fazer fé nos jornais de ontem e de hoje, o Governo já não está partido em dois: estilhaçou-se. A um canto, temos o ministro das Finanças — e Passos Coelho, fascinado com as derivadas dos modelos de Gaspar; a um outro canto, os chamados ministros “independentes”, cujo porta-voz é Paulo Macedo, alçado a expert fiscal, comprovando que, no reino dos cegos, quem tem um olho é rei; ao lado, a quota mendista, que também aparenta ter sempre coisas para dizer, muito embora ninguém perceba exactamente o quê; o próprio Dr. Relvas anda por ali angustiado a murmurar que assim não lhe dão tempo para fazer as privatizações; e Portas, “cujas intervenções provocaram incómodo no ministro das Finanças”, continua a saltitar entre os pingos da chuva, seguido pelos seus dois funcionários no Governo.

Com a displicência de quem pode regressar à burocracia europeia quando lhe aprouver, Vítor Gaspar partiu para uns dias de repouso em Tóquio nas vésperas de apresentação do Orçamento do Estado, não sem antes ter deixado a todos estes cábulas um trabalho de casa para o fim-de-semana: “Encontrem gorduras no Estado se não querem que eu lance a bomba atómica.”

Não é uma tarefa difícil imaginar o que irá ocorrer no Conselho de Ministros extraordinário de segunda-feira. Enquanto Passos Coelho poderá aproveitar o tempo para ir completando o inventário dos bens abusivamente utilizados por uma das suas 11 secretárias pessoais em São Bento, Vítor Gaspar insta, pausadamente, os seus ministros a lerem, em voz alta, as façanhas que constam dos trabalhos de casa:
    Álvaro: “Posso ser eu a começar? Estive a ver com atenção os números do desemprego e concluí que os subsídios ainda são suficientemente estimulantes para que essa malandragem prefira andar a passear do que a trabalhar. Vou reduzi-los ainda mais e estou a pensar mesmo eliminá-los se esses indolentes persistirem na mandriagem. Por outro lado, proponho a suspensão da actividade da Carris até ao termo do programa de ajustamento e, para não ser acusado de falta de equidade, ou lá como isso se diz, já mandei elaborar um despacho para manter também a frota dos SCTP nas oficinas.”

    Dr. Cassola Relvas: “Eu não posso cortar os apoios à juventude e aos nossos autarcas, porque vêm aí as eleições e é preciso gente para colar cartazes. Mas tenho uma proposta alternativa a fazer pelo lado da receita: dêem-me carta-branca para fazer ajustes directos que eu até privatizo as pedras das calçadas, não sem antes concessionar temporariamente tudo para tornear as mariquices do Eurostat.”

    Nuno Crato: “Sendo a crise uma oportunidade, é altura de darmos o passo que falta: o fecho das escolas públicas. Assim, quem tiver condições, inscreve-se num colégio particular; a quem não puder, abrimos de par em par as portas do ensino profissional. Já a minha avó dizia que é de pequenino que se torce o penino. Se fizermos isto, até poderemos aumentar ligeiramente a dotação que é dada às escolas do ensino particular.”

    Aguiar Branco: “Tal como queremos parecer um bom aluno junto da União Europeia, também não posso aceitar que renunciemos a participar nas missões da NATO na Bósnia e no Afeganistão. Porém, num momento de rara inspiração, encontrei uma solução para reduzir drasticamente a factura das Forças Armadas — e não, não é fazer um aluguer de longa duração para o Arpão e o Tridente. Estão preparados? Então, é assim: a troco de uma contribuição simbólica, confiarmos à Brigada de Infantaria Mecanizada “Extremadura” XI, localizada em Badajoz, a defesa do país, podendo assim acabar com o ramo do Exército. Alguém se opõe?”

    Mota Soares: “Cá por mim, o RSI vai à vida de uma vez por todas. E os apoios sociais em geral serão substituídos por refeições ligeiras nas misericórdias, para o que já aqui tenho na pasta um projecto de protocolo a aprovar quanto antes. Escusado será dizer que o Ministério, por dever patriótico, continuará a dar ordens para que o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social não deixe de comprar dívida pública, assim credibilizando o país perante os credores externos.”

    Assunção Cristas: “Começo por recordar que fui o primeiro membro do Governo a fazer uma reforma estrutural: a abolição do uso da gravata. Não tendo eu tempo para me dedicar aos assuntos do Território e do Mar, proponho que estas pastas sejam eliminadas da orgânica do Governo, entregando-as à iniciativa privada num projecto-piloto.”

    Paula Teixeira da Cruz: “Refiz o mapa judiciário, dispondo-me a mandar encerrar todos os tribunais fora das capitais de distrito. No entanto, porque quero ser lembrada como mais uma amante do Ministério Público, entendo que deverá ser criado um DIAP em cada esquadra do país.”

    Miguel Macedo: “O meu plano consiste em colocarmos no regime de mobilidade especial todos os agentes da PSP e da GNR com mais de 50 anos, o que os levará a pedir a aposentação. A partir de então, quem quiser segurança, paga-a. Não foi o Senhor Eng. Ângelo Correia que no nosso projecto de alteração da Constituição da República incluiu uma norma que permitiria às empresas de segurança privada a possibilidade de revistar cidadãos em locais públicos? Esse é o caminho que deveremos trilhar e aprofundar para manter a segurança de pessoas e bens. Que ninguém se atreva a pensar que se pretende acabar com as polícias, até porque não me esqueço que os corpos policiais estão incumbidos de proteger os membros do Governo.”

    Paulo Macedo: “Não quero ser recordado como o ministro da Saúde que fez regredir a esperança de vida em Portugal. Com todos os cortes que já fiz no Serviço Nacional de Saúde, só me resta parafrasear um político que tem andado pouco aparecido: «Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos doentes.»”

    Paulo Portas: “Se me perguntam se quero cortar nas despesas? Claro que quero. Se me perguntam se eu tenho uma opinião diferente? Tenho uma opinião diferente. Se me perguntam se eu defendo que há outros caminhos. Defendo um outro caminho: a devastação da Função Pública, porque essa não é a minha praia.”

sexta-feira, outubro 12, 2012

Da série “O (des)governo” (1)

Duas leis que ajudam a compreender o actual (des)governo:
    1. Nixon's Rule
If two wrongs don't make a right, try three.
    2. Hanlon's Razor
Never attribute to malice that which is adequately explained by stupidity.

quinta-feira, outubro 04, 2012

O partido do contribuinte entrou numa espiral fiscal

- Eu não posso desgastar-me. Fazes tu o discurso em nome do Governo.

Mota Soares encerrou, por parte do Governo, o debate das moções de censura. A dado momento, apelidou de “despesismo social” os autores das moções de censura.

Descontada a circunstância de o ministro da Solidariedade e da Segurança Social se assumir como uma espécie de ajudante de Gaspar no ministério ao qual cabe dar apoio social, o discurso de Mota Soares revela o desnorteamento que tomou conta da coligação de direita (e, em particular, do CDS, partido do contribuinte). É que, há pouco mais de três meses, o mesmo Mota Soares, para justificar um défice em roda livre, dizia o seguinte: “É normal que, num tempo em que há crise económica e financeira, que tem reflexos sociais, que a despesa social possa aumentar. É exactamente o sinal de que, do ponto de vista da Segurança Social, há uma cobertura para os casos de maiores dificuldades”.

Estamos, portanto, num momento em que a situação das famílias carenciadas teve um alívio tão grande que não se justifica haver “uma cobertura para os casos de maiores dificuldades”. Só pode ser isso.

terça-feira, outubro 02, 2012

Sem sombra de inteligência

Carla Hilário Quevedo, no Sol

Justiça seja feita à TSF e a Carlos Vaz Marques - o 'Governo Sombra' (agora também na TVI) é um programa de espírito livre, que não responde, nem teria de responder, a qualquer equilíbrio partidário. Tem um comunista-capitalista, um exemplar da direita trauliteira e um dos últimos exemplares da direita inteligente. Só por coincidência, portanto, ficou de fora alguém da área do PS, já nem sendo isso digno de registo, tal é a banalidade da situação.

Mas, é claro, há sempre pessoas que conseguem ver mais longe. É o caso de uma colunista do luminoso Sol e que nos blogues assina como Bomba. Inteligente, imaginem.

Diz a Bomba que o facto de a esquerda estar em minoria é "uma raridade no panorama" do debate e comentário português.

Assim é, de facto. Veja-se o mais famoso programa de debate da televisão portuguesa, 'Quadratura do Círculo', em que a esquerda (Pacheco Pereira e Lobo Xavier) está bem mais representada que a direita (António Costa). Ou veja-se, no mesmo estilo do 'Governo Sombra', o 'Eixo do Mal', em que dois perigosos esquerdistas (um da ala PSD tradicionalista, outro do eixo Boliqueime/Travessa do Possolo) enfrentam um solitário direitista (Daniel Oliveira). Ou  atente-se nos dois mais vistos (omnipresentes, por estes dias) comentadores televisivos, ambos ex-presidentes dessa perigosa agremiação esquerdista que dá pelo nome de PPD/PSD.

É, de facto, uma vergonha que o debate político em Portugal esteja dominado pelo esquerda. Valha-nos a coragem da denúncia - e porque não dizê-lo? da inteligência - da Bomba. No pasaran, Carla.