Mostrar mensagens com a etiqueta racismo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta racismo. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 7 de junho de 2011

Os parisienses são capazes de tudo!

«Bonecos Estrunfes vivem num regime estalinista e racista», por Cláudia Carvalho

Antoine Buéno é um professor francês que publicou agora um livro “Le Petit Livre Bleu: Analyse critique et politique de la société des Schtroumpfs”, onde faz uma análise sobre os bonecos azuis, investigando a história dos Estrunfes, as mensagens subliminares de cada personagem, o dia-a-dia das histórias. No seu estudo, o autor garante ter encontrado vários valores totalitários.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tintin no Congo vai a tribunal por racismo: está certo?

O livro de banda-desenhada Tintin no Congo, feito por Hergé em 1931, vai ser julgado num tribunal belga por acusação de teor racista. O pedido partiu dum cidadão congolês e visa a retirada do livro das prateleiras destinadas às crianças, pelo menos. A sessão foi marcada hoje para 30 de Setembro. Já foi censurado no Reino Unido e uma biblioteca pública norte-americana colocou-o sob reserva de pedido. Será que se justifica?

Apesar de ser fã do Hergé, concordo com este pedido concreto. Os adultos que quiserem que o comprem para os seus filhos. Já discordo de fitas amarelas a denunciar conteúdo atentatório. Mas há mais. Para quem quiser saber o resto pode ver aqui.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SOS Racismo festeja 20 anos

E tem festa em grande!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Caderno de memórias coloniais

Porque a história do colonialismo português tem sido um dos meus temas de estudo e investigação, estou atenta ao que se vai publicando nesta área. Também procuro ler os livros de memórias e os romances históricos sobre o período colonial que vão aparecendo. Interessam-me, particularmente, as memórias, pois abordam as expriências de vida, as emoções, o quotidiano, aspectos que as fontes documentais oficiais,  regra geral, não reflectem.

Por estar atenta a essa literatura autobiográfica ou memorialística sobre África, escrita por portugueses que regressaram à antiga metrópole depois das independências africanas, posso dizer que Caderno de memórias coloniais (Coimbra, Angelus Novus, Dez. 2009), de Isabela Figueiredo (autora do blogue Novo Mundo), é um livro fora do comum. Ao contrário da esmagadora maioria da «emergente literatura dos 'retornados'» (como lhe chamou Sheila Khan), é um exclente livro em termos literários. E esse será o melhor motivo para ler e recomendar a obra. Acresce que consegue dar um contributo significativo para a desconstrução de uma imagem hegemónica e monolítica das vivências dos colonos portugueses em África. A partir das memórias de infância e adolescência, trabalhadas literariamente, somos confrontados com a sua visão do sistema colonial, do racismo, da sexualidade, do «retorno», da sociedade portuguesa... Como pano de fundo e elemento catalizador, a sua relação com o pai; figura que, para ela, a partir de certa altura, passou a personificar o colonialismo. Não obstante a educação e os valores cristãos que sempre lhe transmitiu.

O colonialismo português paternalista do pós-II Guerra Mundial, que a um ideário humanista (fundado numa suposta vocação ecuménica dos portugueses) continuava a aliar uma prática de violência, discriminação e exploração dos africanos, ganha corpo neste livro.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A deriva filo-fascista ainda mal começou...

sábado, 17 de outubro de 2009

Importa-se de repetir? - parte II

Só em jeito de adenda ao post anterior: Beth Humphrey e Terence McKay - a quem um juiz do Lousiana negou o casamento por serem um casal "inter-racial" - casaram-se mesmo. Bastou irem pedir a outra freguesia (literalmente, foram pedir a uma outra juíza de uma vila vizinha, e esta aceitou casa-los). Entretanto Beth e Terence apresentaram queixa contra Keith Bardwell, o primeiro juíz que lhes tinha negado o casamento.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Importa-se de repetir?

Um juíz do Louisiana recusa casamentos a casais inter-raciais. E - surpresa das surpresas - o dito cujo juíz diz que não é racista, que até tem montes de amigos negros, e que até concordam com ele. Ele acha simplesmente que os casais inter-raciais não duram muito tempo. E mais, os filhos desses casais sofrem muito por serem mestiços, porque não são aceites nem pela sociedade branca nem pela sociedade negra (de caminho ficamos a saber que na cabeça desta gente há uma sociedade branca e outra negra). Mas esperem lá, o presidente dos EUA não é filho de um casal inter-racial?

terça-feira, 30 de junho de 2009

...e os motins da banlieue (2005) foram há tanto tempo que já ninguém se lembra.

Um estudo publicado recentemente mostra que um negro em França (ou pelo menos em Paris) tem quase 8 (OITO!) vezes mais de probabilidade de ser interpelado pela polícia do que um branco, e um árabe 6 (SEIS!) vezes mais. Embora as interpelações presenciadas pelos investigadores (mais de 500) tenham decorrido sem problemas, os membros de minorias étnicas interpelados queixaram-se do carácter repetitivo das mesmas. Ainda para mais sabe-se que interpelar com base na pertença a um grupo étnico nem sequer é eficaz na prevenção da delinquência. O que é curioso é que em França não há estatísticas oficiais que tenham em conta critérios étnicos, porque seria, note-se, uma forma de discriminação. Interpelar preferencialmente negros e árabes não é discriminação, mas fazer estatísticas que o demonstrem já o é. Faz todo o sentido. Sobretudo quando a própria polícia, em resposta a este estudo, alega "basear-se em critérios empíricos incontornáveis", sempre gostaria de conhecer esses estudos empíricos, já que as estatísticas étnicas oficiais são proibidas.
Entretanto nas banlieues os episódios de conflitos com as forças da ordem vão-se multiplicando. Claro que se se voltarem a repetir os motins seremos todos apanhados de surpresa.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Uefa adota “tolerância zero” contra o racismo no futebol

293675_biglandscape Ufa! Finalmente a Uefa tomou uma medida um pouco mais efetiva contra o racismo no futebol. Ontem, a entidade realizou a sua 3ª conferência “United Against Racism”, onde discutiu o tema visando a adoção de algumas punições mais severas, que não sejam somente aquelas multas (ir)risórias que os milionários clubes europeus pagam com um puta sorriso no rosto e tudo fica na mesma. Ficou decidido que os árbitros deverão adotar medidas de “tolerância zero”. Entre as punições previstas, estão a interrupção do jogo e a equipe que tiver o torcedor racista será considerada derrotada por 3 a 0. Aianda é pouco, mas já é alguma coisa. Mais.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Humanidade sem raças?

Humanidade sem raças Este é o título do livro onde o geneticista Sérgio D. J. Pena desmistifica o conceito de “raças, cujos excertos destaco. "Não existem 'raças' humanas.Elas são produto da nossa imaginação cultural, um conceito empregado não só para estudar populações, mas também para criar esquemas classificatórios que parecem justificar a dominação de alguns grupos por outro”(...) “A Bíblia nos apresenta os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Morte, Guerra, Fome e Peste. Com os conflitos na Irlanda do Norte, em Ruanda e nos Bálcãs, no fim do século passado, e após o 11 de Setembro, a invasão do Afeganistão e do Iraque e os conflitos de Darfur no início do século 21, temos de adicionar quatro novos cavaleiros: Racismo, Xenofobia, Ódio Étnico e Intolerância Religiosa.” Leia aqui a resenha e o livro poderá ser comprado aqui.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sexo: Feminino. Nacionalidade: Brasileira.

schafe Foram justamente estes dados do bilhete de identidade que levou a advogada brasileira a ser cruelmente torturada por um grupo de skinheads neonazistas suíços. Paula Oliveira estava grávida de 3 meses de gêmeas e terminou por perder os bebês. Depois de ser barbaramente agredida a socos e chutes por mais de 15 minutos, cortaram-lhe o corpo inteiro com estiletes a até “escreveram” em sua barriga e pernas a sigla SVP (Scheiz Volks Partei – em português, Partido Popular da Suíça). Este partido é composto por grupos de ultradireita e xenófobos e centra toda a sua campanha eleitoral em temas populistas, onde o imigrante do país é seu principal alvo de ataque. Mais detalhes e imagens desta selvageria aqui.

Imagens: Um dos cartazes de campanha eleitoral do SVP, onde uma ovelha negra é expulsa do país por outras brancas, com o texto: "Pela expulsão de estrangeiros criminosos. Criar Segurança". Infelizmente, este não é um ato isolado de xenofobia. Abaixo, um vídeo sobre a onda de xenofobia e racismo que se alastra pela Europa.

Adendo - Finalmente um jornal europeu escreve sobre o assunto: Este episódio está a gerar alguma tensão diplomática entre a Suíça e o Brasil. Ainda de acordo a agência noticiosa brasileira, o caso ganhou contornos políticos depois de a cônsul-geral do Brasil em Zurique, Vitória Clever, ter constatado que a polícia local não abriu nenhuma investigação ao sucedido nem sequer tentou identificar os autores do ataque.



domingo, 18 de janeiro de 2009

Porque será que ainda existe racismo?

Em França a polícia pode interpelar uma pessoa sem precisar de uma justificação para o fazer, são os "coltrôles au faciès". Não existem dados oficiais sobre estas interpelações, um polícia nem sequer tem que preencher papel algum. No entanto CRAN (Conseil Répresentatif des Associations de Noirs) solicitou uma sondagem à CSA sobre a incidência, e a conclusão foi que os membros das minorias visíveis são duas vezes mais controlados pela polícia do que a média da população. Infelizmente não é muito surpreendente, mas fica a demonstração de que as interpelações arbitrárias pela polícia resultam em discriminação, e mesmo em racismo institucional. O CRAN, lançou a semana passada uma campanha de sensibilização para o problema, e fez vir dos EUA um sósia de Barack Obama para realizar o vídeo que está ali abaixo. A campanha tem sido um sucesso pelo menos da internet, segundo o presidente do CRAN, Patrick Lozès, o vídeo foi visto 160000 vezes em dois dias. Note-se que o CRAN não deseja o fim do "contrôle au faciès", mas propõe que um polícia que interpele uma pessoa seja obrigado a preencher um relatório indicando os detalhes e - sobretudo - a justificação para a interpelação. É uma proposta, na minha humilde opinião, bastante razoável, pretende-se apenas responsabilizar o polícia. Uma medida idêntica foi adoptada do Illinois quando Obama era senador, e foi uma das experiências que inspirou a proposta do CRAN, ainda segundo Lozès. De notar também que a chefia da Polícia acolheu favoravelmente esta campanha, tal como os meios político (com a excepção do ministro da Imigração e Identidade Nacional Eric Besson).
Curiosamente, quando o CRAN lança esta iniciativa e quando Obama se prepara para tomar posse, a revista Science publicou um artigo científico em que se analisa o comportamento de indivíduos que presenciam actos de racismo. O ponto de partida do estudo é uma aparente contradição das sociedades actuais: se por um lado o racismo é hoje em dia geralmente condenado e fortemente reprimido, por outro lado os actos racistas continuam a fazer parte do nosso quotidiano. A conclusão principal do estudo que explica, pelo menos em parte essa contradição, é que geralmente alguém que testemunhe um acto de racismo reage muito mais passivamente do que pensaria reagir. Entre a reacção que uma pessoa diz que teria caso presenciasse um acto de racismo, e a reacção que ela efectivamente tem, vai uma distância considerável. Infelizmente, mais uma vez não surpreende, mas a prova empírica vale ouro. E sim, o racismo ainda existe...



sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Nós aqui em França, no combate ao racismo, estamos muito à frente dos EUA

A ministra do Interior, Michèle Alliot-Marie, anunciou esta semana a nomeação Pierre N'Gahane para Prefeito (vagamente equivalente do Governador Civil) do departamento "Alpes de Haute-Provence". Quem sabe se no afã de não se ficar atrás da Obamania reinante, e para demonstrar que em França também temos governantes negros, o comunicado do oficial faz questão de precisar que se trata do primeiro Prefeito negro da República Francesa. E vai daí os media fazem coro a anunciar a nomeação do primeiro Prefeito negro da República (Le Parisien, RTL, JDD, Le Point, Le Post, etc... etc...). Simplesmente não é o primeiro Prefeito negro, honra lhes seja feita o Nouvel Obs reparou que houve vários anteriores, N'Gahane é pelo menos o quarto. A diferença, se é que é uma diferença, é que os anteriores são oriundos das Antilhas, entre os quais se encontra uma mulher, Marcelle Pierrot (na foto), enquanto que N'Gahane é oriundo de África. E nem sequer é o pimeiro prefeito oriundo da imigração, é apenas o primeiro prefeito negro oriundo da imigração, como aliás o próprio Ministério do Interior veio rectificar. Esta pequena estória suscita-me várias questões/comentários:
- Será N'Gahane apenas uma vítima da discriminação positiva? O Ministério do Interior e próprio vêem-se obrigados a gastar o seu tempo a explicar que não, que é apenas uma questão de mérito. Se é verdade - e deixando de lado o "pormenor" do anúncio ser feito no dia seguinte à vitória de de Obama - porque razão é o Ministério do Interior quem faz questão de frisar tratar-se do primeiro prefeito negro (o que ainda por cima é falso)?
- Qual é a diferença entre negros das Antilhas e negros Africanos? Sobretudo tratando-se apenas de uma questão de mérito, para quê distinguir o que quer que seja?
- Se é por uma questão de discriminação positiva, e se é para "responder" à vitória de Obama, note-se que 1) Há uma pequena diferença entre presidente dos EUA e Prefeito dos "Alpes de Haute-Provence" 2) Obama não precisou de discriminação positiva para ser eleito presidente dos EUA.
- E como é que um comunicado do ministério aprece reproduzido por essa imprensa fora sem que a verificação dos factos mais elementares seja feita? Na circunstância apenas um facto, um só, e basta ir ver nas páginas intitucionais, há prefeitos negros actualmente em funções, e no caso de Marcelle Pierre nomeada em 2007, que não foi assim há tanto tempo e não é segredo de estado (para minha grande decepção até o Rue89 se esqueceu desse pormenor, apesar da notícia ter a qualidade habitual).
- E o que dizer do comentário da ministra da Justiça Rachida Dati: "Talvez que Obama se tenha inspirado no governo francês"?
- E o que dizer do comentário de Patrick Ollier, deputado da UMP (partido do governo): Se não houve candidatos "de cor"(sic) eleitos nas últimas eleições é "porque eles não tinham um nível à altura das eleições"?
Via Milton Dassier

terça-feira, 21 de outubro de 2008

E na Europa?

Para quem cresceu no mito de que os EUA eram a pátria dos conservadores de direita, reaccionários e racistas, a situação actual pode parecer paradoxal senão mesmo inverosímil. Os EUA estão perto de eleger para presidente um afro-americano, de esquerda*. O terramoto político da semana foi esse afro-americano ter recebido o apoio de um outro afro-americano, de direita, ex-comandante das forças armadas, e ex-'Secretary of State'. Olho para a Europa liderada por Sarkozys, Berlusconis e Kaczyńskis, e pergunto-me em que país do velho continente será possível um dia aquilo que hoje é possível nos EUA.
* - por comparação com o panorama político europeu actual.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Um muçulmano pode ser presidente dos Estados Unidos?

Além do apoio a Obama, Colin Powell dá nessa entrevista uma lição de ética ao partido republicano. A forma como muitos republicanos instumentalizam o rumor de Obama ser muçulmano (cf. o segunda vídeo e a resposta desastrada de Mc Cain : “he’s a decent family man”) é vergonhosa e Powell aponta-o de forma clara.

Colin Powell




"He's an arab!"

sábado, 31 de maio de 2008

O Maio de 67

O mês Maio de 1967 foi marcado por uma enorme contestação nas ruas, contra o poder francês, na época de De Gaulle. Não em Paris, mas nas Antilhas Francesas, em particular em Pointre-à-Pitre, na Guadeloupe. As razões do protesto eram um misto de reivindicações políticas relacionadas com a autonomia, de reivindicações laborais em particular dos trabalhadores da construção e de revolta contra vários episódios de discriminação racial. As Antilhas francesas eram e são constituídas por uma população quase totalmente negra ou mestiça, descendente de escravos. Mas eram na época recorrentes práticas dignas do Apatheid. Contrariamente ao que se passou em França em 1968, os manifestantes Guadeloupeanos tiveram direito a repressão com fogo real, e intervenção do exército. Houve vários mortos.

Fica aqui o segundo episódio, de oito (todos disponíveis no Dailymotion), de um documentário sobre o Maio de 67 (Mé de 67, em crioulo)


terça-feira, 8 de abril de 2008

Boicotar ou não boicotar?

Em 1968 atletas negros norte-americanos, do Olympic Project for Human Rights, quiseram boicotar os Jogos Olímpicos da cidade do México, em protesto contra a participação da África do Sul do Apartheid e em defesa dos direitos civis nos EUA. O Boicote não se concretizou. Em vez disso, Tommy Smith e John Carlos, membros do OPHM, receberam as suas medalhas com os pés descalços, um punho erguido calçado de uma luva negra e a cabeça baixa. Foi um dos actos de protesto de maior impacto que me consigo lembrar, fizeram mais pelas causas que defendiam do que qualquer boicote.
Imaginem o que seria se Pequim, este ano, fosse invadida por dezenas ou centenas de Tommys Smiths e Johns Carlos.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Por falar em racismo

Coisas destas ainda acontecem. A história passou-se com William Gallas, jogador de futebol titular da selecção francesa, e foi contada pelo próprio num programa de televisão. De passagem por Paris para jogar pela selecção francesa Gallas reuniu-se com a família e amigos, e quis celebrar a ocasião com Champanhe. Foi a uma loja no 16° bairro (a zona mais cara de Paris), e quis comprar 8 garrafas de Champanhe da melhor marca. O vendedor recusou sob o pretexto que apenas se podia vender duas garrafas de cada marca por cliente. Pequeno pormenor: Gallas é negro. Gallas saiu da loja e pediu ao chauffer para ir ele comprar as 8 garrafas de Champanhe. Pequeno pormenor: o chauffer era branco. Conseguiu comprar as garrafas de Champanhe sem problemas. Gallas regressou então à loja e confrontou o vendedor com a situação. A resposta do vendedor: "Desculpe, não o reconheci". Moral da história: racistas sim, mas para figuras públicas abrimos excepções.
Gallas apresentou queixa contra o vendedor e a loja.

O Poeta da Negritude

"mais l'œuvre de l'homme vient seulement de commencer
et il reste à l'homme à conquérir toute interdiction immobilisée aux coins de sa ferveur
et aucune race ne possède le monopole de la beauté, de l'intelligence, de la force
et il est place pour tous au rendez-vous de la conquête"(1)

Aimé Césaire, Cahier d’un retour au pays natal (1956)

(este post é uma promessa antiga à Cláudia)

Voltando ao episódio do rev. Wright que parece ter causado mossa na corrida de Barack Obama para a Casa Branca. Afinal o que tem o rev. Wright de tão escandaloso? Do tempo que tive nos EUA (que foi bastante, e adorei) uma das imagens que me ficou foi, quando assisti a um jogo da NBA, ver adeptos negros, que provavelmente pagaram com metade do ordenado o seu bilhete, levantarem-se, tirarem o chapéu, e com a mão no lado esquerdo do peito ouvir o hino dos EUA. Ficou para mim como um mistério insondável na natureza que negros, num país onde o racismo é quotidiano, onde as desigualdades socio-económica entre negros e brancos são gritantes, onde foi preciso passar por uma guerra civil para abolir a escravatura e onde nem sequer a promessa dos dois acres e uma mula foi cumprida, que negros, dizia eu, respeitem e sintam esse país como a sua pátria. Custa-me a perceber que cause tanta indignação que o rev. Wright diga "God Damn America!". Não temos que subscrever o que ele diz, mas a reacção da virgem ofendida soa-me a hipocrisia.

Este episódio fez-me reler o magnífico "Cahier d'un retour au pays natal" de Aimé Césire, o poeta da negritude. O Cahier é uma poema sublime, e ao mesmo tempo um murro no estômago, brutal, que deixa qualquer um encostado às cordas. É todo ele atravessado pela questão identitária da negritude. O que é ser negro? O que há de comum a todos os negros? A sua história, o seu sofrimento, a sua sorte. Há claro, quase nunca explicitado, o sentimento do branco como o inimigo e o culpado do sofrimento do negro. Mas por vezes o dedo apontado ao branco vem à tona. Com cinismo: "Parbleu les Blancs sont de grands guerriers, / Hosannah, pour le maitre et pour le chatre-negre! / Victoire! Victoire! / vous dis-je: les vaincus sont contents!"(2) Com rancor: "Ecoutez le monde blanc / horriblement las de son effort immense / ses articulations rebelles craquer sous les étoiles dures / ses raideurs d'acier bleu transperçant la chair mystique / écoute ses victoires proditoires trompeter ses défaites / écoute aux alibis grandioses son piètre trébuchement / Pitié pour nos vainqueurs omniscients et naïfs!"(3)

É claro que o discurso identitário pode levado longe demais, e correr riscos. O próprio Césaire se questiona: "Mais quel étrange orgeuil tout soudain m'illumine?"(4) É esse orgulho que pode lavar a pisar o risco. Não temos que concordar com tudo. Mas alguém pode negar o sofrimento negro? Alguém pode negar a escravidão? Alguém pode negar o direito a indignar-se contra esse sofrimento? E apontar o dedo a quem o causou? E, mais importante ainda, alguém acredita que sem este sentimento alguma vez teriam os negros alcançado metade do que alcançaram nas suas lutas pelos direitos civis?

E no entanto, a mesma pena que incita ao orgulho negro, apela à tolerância e à convivência entre raças, como na frase que coloquei em epígrafe.

Aimé Césaire é originário da Martinique, que tal como a Guadeloupe e a Guiana Francesa, é um departamento ultramarino francês nas Caraíbas e cuja população é numa enorme maioria negra ou mestiça, descendente de escravos. Nos anos 1930 Césaire, estudante brilhante, foi para Paris estudar e conseguiu um lugar na elitista Ecole Normale Supérieure. Aí conheceu Léopold Senghor (primeiro presidente do Senegal independente) de quem se tornou amigo pessoal, amizade que durou até à morte de Senghor. Césaire, Senghor e outros inciaram então o movimento intelectual que denominaram a "Negritude". Foi pelo, pelo menos em França, o primeiro movimento intelectual de negros para defesa dos negros, com um real impacto junto dos brancos. Editaram jornais e revistas em que falavam das questões raciais, e publicaram as suas obras literárias. O Cahier foi publicado pela primeira vez em 1939, sendo revisto mais tarde, e re-publicado em 1956. Aimé Césaire, como Senghor, teve também uma vida política activa, e com uma longevidade assinalável. Foi deputado no Assembleia Nacional no pós-guerra, participando à redefinição dos departamentos regionais franceses, e foi maire de Port-de-France, a capital da Martinique, durante 56 (cinquenta e seis) anos. É ainda maire honorário. Com 95 anos continua ainda intelectualmente activo, de uma lucidez impressionante (foi um crítico particularmente certeiro de Sarkozy antes das eleições). E é sobretudo uma referência incontornável para os antilheses.

Sim, o orgulho negro pode ser levado longe de mais, mas sem ele, e sem negritude, nada teria mudado, e nunca teria existido qualquer movimento anti-racista. Aimé Césaire e Jeremiah Wright são diferentes, muito diferentes, mas o sentimento é muito parecido.

O Cahier d'un retour au pays natal, é uma obra-prima, e é de facto um murro no estômago. Absolutamente essencial para (tentar) perceber o ponto de vista de um negro, por impossível que seja a quem não é negro percebê-lo. Foi logo de início e é ainda hoje uma obra emblemática, em França, em África, e até nos EUA. Começa assim: "Au bout du petit matin... / Va-t-en, lui disais-je, gueule de flic, guele de vache, va-t-en je deteste les larbins de l'ordre et les hannetons de l'esperance."(5)



tradução (possível):
(1)"mas a obra do homem apenas agora começou
e falta ainda ao homem conquistar todas as interdições fixadas nos resquícios do seu fervor
e nenhuma raça possui o monopólio da beleza, da inteligência, da força
e é um lugar para todos o encontro marcado com a conquista"
(2) Oh Céus os brancos são grandes guerreiros, Hosanah para o mestre e para o capado-negro! Vitória! Vitória! digo-vos eu: os vencidos estão contentes!"
(3) Oiçam o mundo branco horrivelmente exausto do seu imenso esforço / as suas articulações rebeldes sucumbir sob as estrelas duras / a sua rigidez de aço azul trespassa a carne mística / ouve as suas vitórias pérfidas aclamar as suas derrotas / ouve dos álibis grandiosos o seu miserável tropeçar / Piedade pelos nossos vencedores omniscientes e ingénuos
(4) Mas que estranho orgulho tão subitamente me ilumina?
(5) Ao cair da aurora... / Desaparece, dizia-lhe eu, focinho de bófia, focinho de vaca, desaparece detesto os labirintos da ordem e os escaravelhos da esperança.

quarta-feira, 12 de março de 2008

"Se Obama fosse um homem branco, ele não estaria nesta posição."

Sentenciou Geraldine Ferraro, a primeira mulher a concorrer à vice-presidência dos Estados Unidos, em 1984, e que integra a campanha de Hillary, em entrevista ao jornal The Daily Breeze of Torrance, publicada na última sexta-feira, numa clara manifestação racista. É assim que a senhora Clinton pretende vencer as primárias norte-americanas?

Adendo:

Agora quem decide são os superdelegados

Mesmo com a vitória de ontem no Mississipi, Obama dificilmente conseguirá os 2.025 delegados necessários para ser indicado candidato à presidência da República pelos democratas. O mesmo vale para Hillary Clinton. Ou seja: as primárias que restam não decidirão absolutamente nada e tudo ficará nas mãos dos superdelegados. As primárias do Partido Democrata são compostas por 4.049 delegados, sendo que 3.254 sãocomuns” e 796 são superdelegados. Qual a diferença entre eles? Delegados "comuns" votam de acordo com a escolha popular, enquanto superdelegados votam de forma independente, sem a obrigação de votar num ou noutro pré-candidato. Do total destes superpoderosos "eleitores", cerca de 500 não declararam voto, enquanto aproximadamente 200 apóiam Clinton e em torno de 100 estão com Obama. Em outras palavras, as primárias democratas poderão ser decididas pelo voto indireto. Que raios de democracia é esta