Este blogue teve o seu tempo. Foi um blogue
interventivo, à esquerda, de opinião e debate de ideias. Em vários momentos
inovou, muito devido a alguma ousadia, ao espírito de convergência, ao humor e a
uma forte preocupação em fundamentar argumentos, o que nem sempre sucede no
espaço público. Por isso, pela intensidade e qualidade do trabalho da equipa,
foi elogiado por outra parte da blogosfera e considerado seu interlocutor,
tanto à esquerda como à direita, o que é o reconhecimento mais gratificante (e
justo) para quem anda ou andou nestas lides. Resultou da confluência de bloggers vindos de muitos outros
blogues, uns pessoais outros colectivos. Era um blogue tão aberto e que sentia
tanto a urgência do debate de ideias que a certa altura chegou a debates
dilacerantes que levaram alguns a afastar-se. Entretanto, com os compromissos
profissionais e pessoais da maioria, o blogue perdeu o sentido para que fora
criado. Não vem mal ao mundo por isso. Outros blogues e fóruns se sobrepuseram
e aí estão a dar cartas, perdão, posts.
É assim mesmo. A preocupação cívica e participativa que animou este espaço
continua presente em muitos dos seus colaboradores, alguns estão agora noutros
blogues, em movimentos cívicos e/ou políticos, em carreiras especializadas que
envolvem debate de políticas públicas, etc. O que significa que as preocupações
de outrora se mantêm: um mundo melhor, mais justo, aberto e fraterno.
Há algum tempo que estava para escrever este texto,
como justificação mínima aos leitores pela paragem do Peão. Nada foi
combinado entre os bloggers que ainda
aqui escreviam, cada vez mais espaçadamente. Houve intenções de renovação mas
que barraram nos compromissos profissionais, familiares e/ou na falta de disponibilidade
pessoal. Contudo, creio que vou ao encontro do entendimento de todos ao dar
esta explicação. Vamo-nos encontrando por aí. Quem quiser, pode dizer na caixa
de comentários por onde anda. Então, bons debates! E bom 2014!!!
PS: e porque o Peão sempre fez questão de apostar
no humor, deixo-vos com uma citação relativa à presente quadra da autoria de um
antigo Presidente da República, conhecido pelas suas intervenções charadísticas
e cujo espírito conformista infelizmente faz lembrar o de outro ocupante do
cargo…
Citação antológica de passagem de ano do PR Américo
Tomás, 1.º discurso do 2.º mandato:
“Decorreu célere, como os
que o precederam, o ano que acabou de sumir-se na voragem do tempo. Outro o
substituiu, para uma vida igualmente efémera. Nesta mutação constante,
afigura-se haver agora um fenómeno de visível incongruência, pois, quando tudo
se processa a ritmo que se acelera constantemente, pareceria lógico que de tal
circunstância resultasse um aparente alongamento no tempo e não precisamente o
inverso”
in Segundo mandato na chefia do Estado – Mensagens e alguns discursos do
senhor almirante Américo Thomaz
(Lisboa, Sec.ª de Estado da Informação e
Turismo, 1972, p. 17)