domingo, 30 de dezembro de 2007

Ora então...

... Bom Ano.
E parabéns ao Peão, naturalmente. E aos peões. Não tenho eleitos de 2007. Nem faço balanços, porque sou dada a enjoos e vertigens. Va savoir!
Mas o melhor que me aconteceu em 2007 foi ter conhecido algumas pessoas. O Renato, por exemplo.

O Vinho da Casa não engana

Este último post dos vinhos ao domingo deste ano é dedicado a essa entidade única no Universo Vitivinícula que é o "Vinho da Casa".
Não muito bruscamente, no Verão passado fiz de guia turístico e fui dar a conhecer à minha companheira o Palácio de Queluz. Para equilibrar tão versaillesco monumento tratei de encontrar nas redondezas um restaurante - como hei-de dizer? - mais rústico, para dar a conhecer os contrastes e a diversida da nossa cultura tuga. Encontrei um restaurante de que, miseravelmente, não me lembro do nome, em que a disposição das salas faz lembrar vagamente os pastéis de Belém, com sala após sala, mas em mais pequeno. Os azulejos, também os havia, mas menos eloquentes e explendorosos que nos pastéis, e acompanhados nas paredes de uns quadros made in feira de S. Pedro de Sintra, daqueles que retratam ora umas florzinhas ora umas cenas bucólicas - por assim dizer - banais. Acho que já estais a ver o décor. As meias doses circulavam em travessas inteiras, acompanhadas não de salada ou arroz ou batata frita, mas de salada e arroz e batata frita. Nalguns casos ainda com a opção dumas migas, legumes, feijão, etc... Chegada a altura de escolher o vinho, eu não estava em medida de despachar uma garrafa de Borba sózinho (hélas, ela não bebe, ninguém é perfeito), não só porque conduzir sobre o efeito de 750ml de Borba na via rápida de Ranholas é desaconselhável, mas também porque estou a pôr em prática um programa de racionamento da minha detrioração hepática. Vi-me constrangido a perguntar se não tinham meias garrafas, ao que o empregado respondeu que só se fosse do vinho da casa. Eu quis enfiar-me num buraco; como é que eu não tinha pensado naquilo antes? Com um décor daqueles não havia engano possível, seria seguramente um verdadeiro "Vinho da Casa". Seria e foi. Logo a começar pela côr, era um tinto tão tinto que faz o Bordeaux parecer rosé. O mesmo se pode dizer do paladar, chamar-lhe encorpado é um eufemismo, o correcto mesmo é chamar-lhe carrascão. Carrascão é um termo que me agrada de sobremaneira, a sonoridade é tão sugestiva que se torna descriptiva. Porque raio tantos usam essa palavra com sentido pejorativo é para mim um mistério insondável. Quando um vinho carrascão começa a deslizar pela goela abaixo cria-se logo uma empatia, digo mesmo uma intimidade entre o vinho e o epitélio do esófago. É aquilo a que os franceses chamam uma relação fusional, o vinho agarra-se ali ao esófago com uma força que é bonito de ver, ou melhor, de sentir. É amor ao primeito toque, é verdadeiramente uma emoção forte. As almas mais susceptíveis não suportam o choque. Pode ter por vezes efeitos colaterais como sejam escoriações no referido epitélio. Mas é uma experiência que vai muito para além do sentido do paladar, ou dos cinco sentidos, é toda uma História, uma Cultura de um povo, com todas as suas idiossincrasias reunidos num copo de vinho (ou talvez não...).
Mas o que eu mais gosto no verdadeiro "Vinho da Casa", e foi o caso nesse dia em Queluz, é que me faz lembrar do meu tio Avelino, que é uma lenda viva. Quase toda a vida bebeu "Vinho da Casa", literalmente, vinho feito lá em casa que eu próprio cheguei a pisar. O tio Avelino é uma força da natureza. São míticas as estórias em que meia tonelada de vaca atravessa o pátio completamente espavorida a correr à frente de 1,56m de tio Avelino, que esbraceja e vocifera. Ele, que até tinha fama de ser um pouco rezingão, deu-se conta que é o único homem na aldeia e arredores que passou dos 85, e com um saúde que faz inveja a muito "rapaz" mais novo. Anda bem disposto que nada nem ninguém lhe tira o bom humor, nem as mais que evidentes falhas de memória. No meio disto tudo a única falha a lamentar é o médico que proibiu o tio Avelino de beber não ter sido julgado em Haia.
A todos os Peões, e a todos os leitores, desejo Bom Ano e Bons Vinhos.

sábado, 29 de dezembro de 2007

O balanço possível dos primeiros 362 dias de 2007

Acontecimento Nacional do Ano (pela positiva) - Belenenses na final da Taça

Acontecimento "Ainda não sei se é bom ou mau, mas que é importante é!" do Ano - Tratado (que não é consituicional, e o melhor é nem referir essa palavra) reformador da União Europeia, a que Sócrates prefere chamar Tratado de Lisboa

Acontecimento Político do Ano - Vitória do SIM no referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez

Acontecimento Desportivo do Ano - Qualificação do Belenenses para a Taça UEFA

Prémio Revelação do Ano (mas que só é revelação para quem andava distraído) - Rui Tavares

Figura Nacional do Ano - Jesus

Prémio "era difícil fazer pior que o ano passado, mas consegui", vencedor pelo sexto e penúltimo ano consecutivo - George W. Bush

Blogue do Ano - Sim no Referendo

Prémio Internacional "isto não foi nada, o pior ainda está para vir" do Ano - Nicolas Sarkozy

Acontecimento Desportivo do Ano (pela negativa) - Derrota do Belenenses na final da Taça, e eliminação da Taça UEFA (ex aequo)

Prémio "afinal ainda há políticos de esquerda na Europa, ou pelo menos imita muito bem" - José Luis Zapatero

Prémio "a próxima revolução é aqui" - Evo Morales

Prémio "não merece o Nobel, nem sabe como é que o ganhou, mas agora é tarde demais para lho retirarem" - James Watson

Prémio "as notícias da sua morte foram manifestamente exageradas, o que é uma grande pena" - Pedro Santana Lopes

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Isto não é mais um ranking, apenas coisas boas descobertas em 2007

É isso aí, poupo-vos listagens, até porque apertaram a mancha... Salpico apenas 4 lembranças.
Em primeiríssimo lugar, eis finalmente o grande Luiz Pacheco em "portal oficial não-oficial"!! É um virtual não-usual, pela mão do incansável João Tito. Está lá tudo do autor, excepto peúgas, colheres de pau e bolas-de-berlim. É obra!
Depois, elogie-se a revista A.23, que acelera (auto)estrada fora desde 2006, numa scut sem portagem (por ora). Ao volante está, seguríssimo, o Ricardo Paulouro, da dinastia Jornal do Fundão. Avisam logo que é a verdadeira "isto é uma espécie de magazine", pois é feita em papel, tem boa pinta e boas reportagens! E ainda por cima com alguns n.ºs na Internet: que mais quereis?
Quanto a blogues, são tantos que o melhor é só anunciar um, bom e proveitoso: o Afrodite, um blogue sobre essa fantástica editora e seu mentor, Fernando Ribeiro de Mello, por Ricardo Jorge (será da família do médico?).
Last but not the least, elejo como blogger do ano o Zèd. Esteve em todas, com textos bem esgalhados, sentido posicional e muito fair play!!

A minha lista para os melhores de 2007

Chegados ao fim do ano é comum divulgarem-se inúmeras listas dos melhores disto e daquilo. Em muitos casos os nomes enunciados são quase sempre os mesmos, sobretudo, no que concerne às nacionais. Estas imensas listas, que se repetem invariavelmente, são uma espécie de ritual dos tempos modernos que tentam aprisionar à fugaz memória mediática aqueles que se destacaram pelo que escreveram, ou cantaram, ou filmaram, ou ‘blogaram’…
Algumas (a maioria) são feitas com cumplicidades comerciais e de negócio, outras (as menos mediáticas) são formas mais ou menos bem intencionadas de homenagear um grupo ou uma pessoa. Por exemplo, proliferam na blogosfera listas que valorizam este ou aquele contributo. Nestes casos, quando se trata de aproveitar o pretexto (honesto) para dizer bem e valorizar o outro, parece-me que as listas acabam por ter um certo lado interessante, sobretudo, num país em que raramente se ouve alguém valorizar o esforço de outrem. Sem mais rodeios, queria destacar como os meus melhores de 2007: um projecto jornalístico, alguns blogues que surgiram este ano e, também, uma pessoa.

O jornal é o Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) que se relançou no final de 2006 e que ao longo deste ano publicou, para além dos textos da edição francesa, uma série de artigos nacionais organizados na sua maior parte em dossiês temáticos. São textos de excelente qualidade e de profundo alcance analítico e jornalístico. É, por isso, um projecto único no contexto da imprensa portuguesa e que convém apoiar e incentivar.

Em 2007 surgiram alguns blogues de esquerda que faziam falta ao debate político na blogosfera. Têm prestado um grande contributo na desmontagem de algumas ideias feitas e, sobretudo, têm dinamizado boas polémicas: destaco este, este, este e, é claro, este. E outro que não é novo, mas está renovado.

Quanto à pessoa… fica uma pista: é historiador e fundador de primeira linha deste blogue. Em conjunto realizámos (e ajudamos a realizar) alguns projectos que foram, para mim, muito importantes e gratificantes, e que fizeram de 2007 um ano muito especial. Um abraço e força!

Bem, é esta a minha singela lista. Um BOM ANO para todos e até 2008!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Andando e indo

Faz hoje um ano que este ‘peão’ iniciou a sua caminhada. Passados mais de mil posts publicados e de uns largos milhares de visitas, continuamos a caminhar sem grande preocupação pelo rumo a tomar. Um abraço aos peões e muito obrigado a todos os que passaram por aqui. A marcha continua…

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Novidade musical

Não chegam ao calcanhar de Oscar Peterson (que descanse em paz), mas certamente também contribuíram para o avanço da música contemporânea. Avanço para onde?, perguntam vocês, e bem. Eu também pergunto.

Mas uma coisa é certa, o panorama do hard rock japonês nunca mais foi o mesmo desde que os Loudness entraram em cena. Combinando uma forte componente estética (abrangida por um projecto holístico de combinação entre performances ao vivo, maquilhagem, pós-produção em vídeo) com uma mensagem de alerta contra a violência pós-moderna futurista (com títulos como "Crazy Night", "Soldier of Fortune", "Crazy Doctor", etc.), tomaram de assalto, na década de oitenta do século XX, as indústrias discográfica, cabeleireira, de acessórios e iluminação nipónicas, criando um culto que perdura até aos dias de hoje. Por outro lado, com a crueza das suas letras, questionaram directamente o império económico e cultural norte-americano sobre o país do sol nascente (já agora, o que é que esta expressão quer dizer? lá o sol nunca se põe? deve ser giro) desde o final da II Guerra Mundial.



Helloween? Iron Maiden? Van Halen? Qual quê!! Loudness!

Oscar Peterson (1925-2007), o marajá do teclado

O pianista e compositor de jazz Oscar Peterson morreu este domingo, aos 82 anos. O também pianista e compositor Duke Ellington chamou-lhe "marajá do teclado", em homenagem à riqueza e vivacidade da sua música. Gravou mais de 200 álbuns e tocou com muitos dos grandes do jazz (Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Louis Armstrong, Lester Young, Count Basie, Charlie Parker, Stan Getz, Coleman Hawkins, Dizzy Gillespie, Roy Eldridge, Freddie Hubbard, Modern Jazz Quartet, etc.), ele que era um gigante (1,90m).
Nascido em Montreal (Canadá), o seu pai, um ferroviário, viu na música uma saída para o seu filho negro. E não se enganou. Basta escutar «You look good to me» para sabermos isso.

Bom ano


domingo, 23 de dezembro de 2007

Cachaça, a doce água que passarinho não bebe

A história da cachaça começa no início do século 15. Os portugueses conheceram a cana durante suas viagens à Ásia e não tardaram em levar algumas mudas para a Ilha da Madeira, para, mais adiante, introduzí-la nas novas terras descobertas. Logo em seguida, um gaiato qualquer descobriu que a cana-de-açúcar servia também pra adoçar a vida.

origem da palavra "cachaça" é bastante controversa. Segundo alguns pesquisadores, ela deriva do termo castelhano “cachaza”, uma espécie de vinho que era produzido a partir da borra da uva. No Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, de Silveira Bueno, a palavra cachaça” aparece como sinônimo de porco selvagem (cachaço). Como amaciavam a carne de porco com aguardente, adotaram o nome da porca (cachaça) para designar a aguardente usada para este fim. Entretanto, a versão mais aceita é que ela deriva da “cagaça”, nome dado pelos escravos à garapa azeda, resíduo da produção de açúcar e rapadura que era deixada ao relento em cochos de madeira, usada apenas na alimentação de animais. Como fermentava com facilidade, alguém (que de tolo não tinha nada) provou e descobriu que, além de alimentar animais, o tal líquido era divino e alimentava também a alma humana. E assim, entre 1532 e 1548, na Capitania de São Vicente, é descoberta a cachaça (ou a água que passarinho não bebe).

A partir daí, a cachaça, assim como se fazia com os resíduos da fermentação da uva, começou a ser destilada em alambiques (ou casas de cozer méis). Seu primeiro nome foi “aguardente de cana” e era fornecida aos escravos junto com o desjejum para que pudessem suportar melhor o trabalho nos canaviais. Ou seja, como doping. Com o passar do tempo, o processo para a obtenção desta aguardente foi se aprimorando e até virou moeda corrente para a compra de escravos. O que era bom, ficou bem melhor. Seu consumo cresceu tão rapidamente que a Coroa Portuguesa viu ameaçado o comercio de seu aguardente nacional (a bagaceira) para as colônias. Resultado: em 1635, Portugal proíbe a venda de cachaça no estado da Bahia e, quatro anos depois, tenta proibir a sua produção. Tarde demais... A cachaça tinha se tornada a preferência nacional e se agigantou de tal maneira que ficou totalmente fora do controle das autoridades estabelecidas.

Como se faz uma boa cachaça - De cada tonelada de cana, produz-se de 70 a 120 litros de cachaça (será este o motivo pela devastação da Amazônia?) e o processo industrial é o seguinte: 1) a cana deverá ser colhida sem queima e moída para se retirar a garapa, que passará pelo processo de decantação, onde será separado o resíduo sólido. 2) a garapa vai para tanques de fermentação, onde permanece de seis a 24 horas. Após o período estipulado de fermentação, a garapa passa a ser chamada de “vinho”. 3) estevinho” é direcionado para o destilador (alambiques) onde será aquecido com fogo direto ou indireto. O “vinho” entra em aquecimento, transformando esses gases e vapores em líquido condensado. Pronto, temos aqui a tradicional cachaça e o seu teor alcoólico deverá estar entre 38 e 54 graus. 4) por último, ela será armazenada em tonéis de madeira neutra (para não altera o sabor e a cor da bebida), onde permanece no mínimo por seis meses. Outro processo é deixá-la dormir (como uma linda menina que sonha com as carícias obscenas de um príncipe encantado) entre um e 10 anos em barris de madeira que atuam diretamente no seu gosto e cor: carvalho, bálsamo, amburana, jequitibá, ipê e angelin, são os mais tradicionais.

Os seis mandamentos da boa cachaça - 1) não resseca a boca nem queima a garganta; 2) seu odor tem de ser suave (cheire a cachaça, pois o buquê deve ser agradável e lembrar suavemente o aroma da cana; não deixa bafo); 3) a bebida de qualidade, quando agitada, forma uma espuma e essa espuma deve desaparecer, no máximo, em 30 segundos; 4) despeje lentamente a bebida nas paredes do copo e observe: ela deve escorrer como um fino óleo; 5) verifique contra a luz se o líquido é transparente e não contém impurezas; 6) uma vez aberta, a garrafa deve ser mantida bem fechada para evitar a evaporação (Gazeta Mercantil, São Paulo, 18 maio 2005, p. B-14). Se a cachaça não apresentar estas qualidades, não a beba. Sirva-a apenas aos seus inimigos ou aqueles amigos idiotas que vivem entupindo a sua caixa de correio-eletrônico com spams, supostamente inteligentes, úteis ou engraçados. Em outras palavras, para distinguir uma boa cachaça o pretendente a beberrão deverá ter a visão, o paladar e o olfato bem aguçados, coisas que na terceira dose será impossível manter. Portanto, é prudente testá-la antes das primeiras talagadas pra não reclamar no dia seguinte.

Bem, que conhecemos alguns pormenores da cachaça, vamos realmente ao que interessa de fato. A boa cachaça deverá ser bebida sempre pura (eu disse PURA) e em copos pequenos próprios - dose de 50 ml, sem gelo ou qualquer outra impureza pagã que venha alterar o seu sabor. Além de propriedades divinas, a cachaça tem poderes terapêuticos. É o caso, por exemplo, da caipirinha (veja receita abaixo), que deverá ser feita com uma cachaça de qualidade duvidosa. Segundo a tradição popular paulista (que é tão sábia como a Ciência), a caipirinha é um ótimo antídoto contra a gripe e resfriado. Como confio muito na sabedoria popular, é o meu remédio predileto pra muitos males, principalmente os d’alma. Bem, depois de saborear muitas cachaças, mas antes de perder a capacidade crítica, selecionei aqui algumas de minha preferência.

Velho Barreiro (não confundir com a Velho Barreiro Gold) Com 39°. É uma cachaça bem popular nos bares de São Paulo (a mais consumida pelos trabalhadores braçais). Tem o poder de ser de péssima qualidade, mas é minha preferida pra se fazer caipirinhas. A garrafa com 910 ml. custa apenas R$ 4,00 (1,50). Embebeda-se rapidamente e gasta-se bem pouco. E é a favorita dos estudantes porras-loucas para se fazerfarmácia”, ou seja, um verdadeiro coquetel molotov, composto por cachaça, vodca, vinho tinto, “conhaque” de gengibre e refrigerante gaseificado com sabor artificial de laranja e etc... Bum!

Ypióca - OuroCom 39° é envelhecida dois anos em bálsamo. É bem suave e muito apreciada entre as mulheres (são poucas - o que é lamentável!) que saboreiam uma cachacinha amiga. É a mais exportada pelo Brasil. 910 ml. R$ 9, 00 – € 3,50.

Anísio Santiago Com 44,8º é envelhecida entre seis e oito anos em carvalho e bálsamo. É forte e cheira muito à madeira seca. É a cachaça preferida dos bebedores de uísque e de quem não tem imaginação pra gastar dinheiro. Não fosse o preço, seria uma cachaça de excelente qualidade. 600 ml. R$ 300,00 – 115.

SeletaCom 42º é envelhecida por dois anos em umburana. É recomendada aos que gostam de sabores intensos. Uma cachaça honesta, apenas isto. 600 ml. R$ 12,00 – 4,50.

Germana Com 40° é envelhecida por dois anos em carvalho e bálsamo. É uma cachaça de sabor suave e bem agradável a todos os paladares. Vai bem em coquetéis diversos. 710 ml. R$ 25,00 – 9,50.

Vale Verde Com 40° é envelhecida por três anos em carvalho. É uma ótima cachaça e tem um preço ainda melhor. Poucos a sabem degustar com sabedoria. 700 ml. R$ 35,00 – 13.

Coqueiro - Ouro Com 44° é envelhecida entre um e dois anos em amendoim e carvalho. A sua produção é semi-artesanal e se caracteriza pela sua maciez e toque adocicado. O seu preço depende do humor de seu produtor em Paraty, litoral sul do Rio de Janeiro. Quando estou por pescando, não a abandono. O valor da garrafa com 700 ml. pode variar entre R$ 30,00 e 50,00 – 11,50 e 19.

OBS: Estes preços são válidos para o mercado interno brasileiro.

Receita da caipirinha (pra uma pessoa)

1 limão taiti (de casca fina)
80 ml. de cachaça
2 colheres (sopa) de açúcar de cana
g
elo picado q.b.

Preparo: Primeiro, lave bem o limão, corte-o ao meio no sentido longitudinal e retire o “bagacinho” do miolo, pois o dito cujo amarga um pouco o líquido precioso. Feito isto, volte a cortar (no mesmo sentido do corte original) as duas partes ao meio. Ponha os quatro pedaços obtidos num copo "old fashioned". Acrescente o açúcar e pressione levemente com um pilão de madeira (para que não libere o sumo da casca). Adicione a cachaça. Usando um “mexedor”, envolva o limão com o líquido. Complete com gelo picado. Pronto. Agora é deliciar-se. Mas, cuidado! A caipirinha é muito traiçoeira e derrubou muitos valentões por este mundo afora.

Outros nomes da cachaça - Abrideira, Água benta, Água que passarinho não bebe, Arrebenta peito, Branquina, Birita, Caninha, Cangibrina, Catuta, Cura-tudo, Danada, Dengosa, Desmancha Samba, Ela, Engasga Gato, Esquenta-guela, Fecha-corpo, Gengibrina, Gororoba, Guampa, Januária, Imaculada, Limpa-goela, Lisa, Maçangana, Malunga, Malvada, Mamãe de Luanda, Martelada, Mata-bicho, Morrão, Morretiana, Parati, Perigosa, Pura, Pinga, Raspa-guela, Santinha, Sinhaninha, Suor de alambique, Teimosa, Tira-teima, Uca, Veneno...
.................
Bem, este é o meu último post do ano. A partir de agora desconecto-me do mundo (virtual e real). O verão do Hemisfério Sul me chama e me diz que tenho de tirar as minhas merecidas férias. Ufa! está tudo pronto pra minha pescaria marítima e pedaladas pelas areias do litoral sul de São Paulo. Volto ao final de janeiro. Um abraço enorme a todos os Peões e um Feliz Tudo a todos. Tchau.

sábado, 22 de dezembro de 2007

As “melhores” frases do ano

Científica:

“Sou intrinsecamente pessimista sobre as possibilidades da África porque
todas as nossas políticas são baseadas no fato de que a inteligência deles
é a
mesma que a nossa, quando todos os testes dizem que, na verdade, não é”.
James Watson, geneticista e prêmio Nobel de Medicina.

Internacional:

Por qué no te callas?”
Rei Juan Carlos, da Espanha, ao presidente venezuelano Hugo Chávez,
durante a cerimônia de encerramento da Cimeira Ibero-Americana.

Brasileira:

“Relaxa e goza
Marta Suplicy, ministra do Turismo, sobre a crise aérea brasileira.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Ainda acredita no Pai Natal

Quem quer uma casota arejada e 100% reciclável?

A habitação para jovens tem hoje o seu dia D em Portugal: chegou o T2 de cartão a preços da uva mijona!
É isso aí galera, para o clima «português suave» nada como uma casota ecológica, arejadota e amplamente reciclável.
Não acreditais? Então, é porque não sabeis das novidades: acabaram-se as borlas para a rapaziada. Quem quiser apoio do Estado tem que arranjar um casinhoto T1 pelo máximo de €340 em Lisboa ou €220 no Porto. Quem quiser um T2 (ou T3) nas mesmas cidades só pode ir até €550 e €360, respectivamente (vd. aqui). E por aí adiante. Ou seja, tipo «Missão impossível» mas sem foguetório. Tipo 1% de milagres. Se alguém souber de casas nestas cidades a estes preços de miragem é favor apitar para o blogue Porta 65 Fechada ou para o Plataforma artigo 65 (art.º 65 é o nome do novo programa de arrendamento jovem). A malta jovem agradece.
Péra aí, disseram "impossível"? Não. Agora com as casinhas de cartão já não falta habitação. Etc. & tal… O fim do antigo incentivo ao arrendamento jovem tem assim as suas vantagens: faz subir o espírito engenhocas dos jovens autóctenes.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Jornalismos...

O jornalismo de referência está em crise. O que está a dar é o jornalimo de reverência.

Mais boas notícias para 2008

O Papa aposta em Sarkozy para defender os valores da igreja na Europa. As razões? Valores conservadores, rejeição da Turquia na Europa, defesa da família tradicional, combate ao casamento homossex... Espera aí... Espera aí...

DEFESA DA FAMÍLIA TRADICIONAL??

DEFESA DA FAMÍLIA TRADICIONAL??!!!!!!????

Deixa lá ver: o Nicolas fisgou a Cécilia enquanto oficiava, como presidente da Câmara, o casamento civil dela. Divorciaram-se ambos para casarem. A Cecília, que parece que o tradicionava, pô-lo a andar. Ele, tradicional, quis manter a família. Ela, tradicional, pô-lo a andar segunda vez. Ele ficou combalido, como é tradição, dois meses até conhecer a Carla, célebre mulher tradicional (ai, Carla, Carla, quantas famílias tradicionais já arruinaste e quantas mais irás arruinar?). Sempre a afinfar na tradição, dizem que Nicolas já a pediu em casamento, o qual, se vier a acontecer, será o mais tradicional possível.

Boas notícias para 2008

Ontem foi aprovado na Assembleia Municipal o orçamento da CML para 2008. Apesar da contenção que a actual situação financeira impõe, o novo orçamento inclui verba para a reabertura do Arquivo Histórico. Esta é uma excelente notícia e ficamos à espera da sua concretização nos próximos meses. Após cinco anos de espera, já não era sem tempo!
Entre as actividades prioritárias para 2008 na área cultural, além da reabertura do Arquivo Histórico, saudamos a intenção da CML assinalar uma efeméride com especial importância histórica para Lisboa: o centenário da vitória do Partido Republicano nas eleições municipais de Lisboa (1 de Novembro de 1908). Cerca de dois anos antes da instauração da República em todo o país, Lisboa já era republicana! A cidade deve saber honrar esse legado, promovendo e celebrando activamente os valores da democracia, da cidadania, da igualdade, da justiça e da inclusão social, da educação para todos.
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Imagem: 1ª vereação republicana da CML, 1908 (Joshua Benoliel, AFML)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Prenda de Natal para a Vallera, with LUV

Esta prenda é não só dedicada à Vallera como a uns quadrúpudes especiais que ronronam nas casas dos mais afortunados.
Chama-se Estória do gato e da lua, tem influências de Hugo Pratt e foi realizado por Pedro Serrazina em 1995.

Então, bons saltos para todos! E boa lua cheia!
Nb: mais inf. aqui.

‘Epá’, será que não há saída?


Este debate a propósito de um artigo do jornal Le Monde Diplomatique sobre o estado da Europa (pós-assinatura-do-tratado-de-Lisboa) foi, antes de mais, revelador sobre o estado da esquerda. Depois da interessante apresentação, mas excessivamente consensual, dos intervenientes ficámos todos com a ideia de que pouco espaço de manobra resta à esquerda. O tratado assinado na semana passada representa o último passo decisivo (irreversível?) para a instauração à escala continental de um mercado global. De forma muito sintética, uma das conclusões centrais do debate foi a seguinte: o tratado é, acima de tudo, um instrumento regulador (institui um espaço comum constituído por 27 países) que favorece e enquadra, no interior desse mesmo espaço, a desregulação financeira e económica. Ou, dito de outro modo, o tratado institui definitivamente um modelo de globalização neoliberal de matriz europeia. Os países estão condenados a entrar nesse jogo e pouco mais restará aos partidos e movimentos de esquerda senão lutar pelo referendo e votar contra. Mas, nada de ilusões, poucas (ou nenhumas) serão as consequências do referendo. Aliás, uma das expressões mais usadas no debate foi precisamente a de estarmos (a Europa, a esquerda, a democracia, as economias nacionais…) “condenados”. A esquerda está completamente maniatada, na medida em que ela própria (leia-a a social democracia) teve um papel decisivo na construção desta Europa. Os vários argumentos acabaram naturalmente por culminar numa espécie de inevitabilidade, quase como se tivéssemos alcançado o fim da História.

Num post anterior referi que a esquerda deveria preocupar-se em desnaturalizar a visão neoliberal. Na verdade, o pior que pode acontecer é enredarmos por um discurso que encontra como única saída a naturalização do poder neoliberal. É claro que não há alternativas fáceis, nem sei se será possível empreender por alguma alternativa concreta. No entanto, uma coisa parece-me essencial: a esquerda tem de dar margem para se subverter. Ou seja, não inviabilizar logo à partida um debate em torno de possibilidades, por mais ridículas e inviáveis que estas possam parecer à partida. É importante dar espaço a um certo caos criativo... Não afirmar logo à partida: “isso não é possível”. Por exemplo, não considerar logo como absurda (ou como uma impossibilidade) a mera hipótese de um movimento internacionalista entre as várias esquerdas europeias, que procure pontes de ligação em torno de propostas confluentes que transcendam as particularidades nacionais (e nacionalistas). Por exemplo, não pôr de parte a capacidade reivindicativa e agregadora das diferentes sociedades civis como um elemento a ter em conta na luta contra uma União Europeia que se constrói (impõe?) de cima para baixo. ‘Epá’, talvez haja uma saída…

domingo, 16 de dezembro de 2007

Aguardente de medronho, esse néctar dos deuses

Foi há pouco tempo que comecei a apreciar esta preciosidade, quando, em férias pela costa vicentina, a boa aguardente da casa que concluía a refeição em restaurantes da zona era quase sempre de medronho.
Este néctar tem origem num arbusto ou pequena árvore mediterrânica, o medronheiro ou ervedeiro (Arbutus unedo). Esta é uma árvore que sempre foi aproveitada para outras finalidades: para curtir peles (com os taninos das suas folhas e casca); para lenha; para curar diarreias, desinterias e infecções urinárias (medicina popular); para fazer mel, etc. (vd. aqui).
A aguardente de medronho era já comum no Portugal medievo, mas é provável que recue à presença árabe na Ibéria.
Esta aguardente é feita do seguinte modo:
"O ciclo inicia-se com a apanha do fruto, entre os meses de Setembro e Dezembro, realizada pelo produtor e família, ao que se segue um período de fermentação e a posterior destilação em local próprio. Por fim, a aguardente pode ser logo vendida ou submeter-se a envelhecimento. A fruta é fermentada em tanques de madeira ou barro. A fermentação é natural e dura entre trinta a sessenta dias [há quem diga que o limiar deve ser 15 dias, mas depende da temperatura exterior]. Os tanques devem ser cobertos com frutos esmagados para evitar o contacto com o ar. Depois de fermentado o produto deve ser guardado durante sessenta dias e bem protegido do ar. Uma boa aguardente de medronho é transparente, com o cheiro e o gosto da fruta".
É produzida sobretudo no Algarve, mas também existe no Baixo Alentejo e na Beira Baixa.
No Algarve deve ter 50º de teor alcoólico, em geral deve ter entre 40-50º (vd. aqui).
Foi um produto com relevância económica para as populações da serra algarvia e vizinhas do Baixo Alentejo, mas entrou em crise a partir dos anos 70, com a desertificação e o reforço da legislação específica. Para tentar cercear a crise, surgiu em 1985 a Assoc. dos Produtores de Aguardente de Medronho do Barlavento Algarvio (APAGARBE), reunindo c. de 150 dos 500 produtores locais e que pugna pela valorização e reconhecimento oficiais deste produto (enquanto Denominação de Origem Protegida ou Indicação Geográfica Protegida). No âmbito dum projecto de inventariação das principais áreas de intervenção para a revitalização das produções artesanais do interior algarvio (projecto ARRISCA na Serra do Caldeirão, integrado no LEADER I), foi feita uma «investigação-acção sobre a aguardente de medronho» (1993-2000), estudo conjunto da Univ. do Algarve, Dir.º Regional de Agricultura e Associação In Loco. Seguindo estas pisadas surgiu recentemente o oportuno livro Aguardentes de frutos e licores do Algarve, de Ludovina Rodrigues Galego e Valentim Ribeiro de Almeida (Lx, Colibri, 2007), donde retirei informação para este parágrafo.
Outros espaços que permitem revitalizar este produto são as feiras, encontros e acções de sensibilização.
O 4.º Festival de Gastronomia Serrana de Tavira incluiu na sua ementa este néctar, pela mão de restaurantes serranos (vd. lista aqui). Ou seja, esta aguardente remata bem repastos com pratos como estes: galo guisado, ensopado de veado, lombinhos de porco com passas e mel, cozido à moda serrana e lebre com feijão branco. Mas não só! Até há quem diga que vai bem com bolos e doces de amêndoa e mel, típicos do Algarve.
Também Almodôvar acolheu há 2 semanas a 1.ª Feira do Cogumelo e do Medronho (24-25/XI), dois dos principais produtos da zona.
Por fim, vende-se em várias feiras, como a de Artesanato de Loulé e a Medieval de Silves.
No Verão de 2006 realizaram-se as Jornadas do Mel, Medronho e Medronheira, em Pampilhosa da Serra.
Segundo o jornal Barlavento, a Associação In Loco organizou recentemente uma apanha de medronho em São Bartolomeu de Messines (a 17/XI), "com vista a recriar a tradição que marca as serras do Algarve" e contribuir "para a preservação do património natural e sócio-cultural regional".
Do que retenho, as minhas preferências vão para as seguintes aguardentes:
>A farrobinha (produtor: Carlos Faísca; Querença- Loulé);
>Aguardente de Medronho Velha (produtor: Obras do Caratão; Serra da Estrela);
>Manuel de Sousa Martins (S. Bartolomeu de Messines, que produz tb. um excelente licor de poejo);
>Medronho (produtor: Lidório da C. Jesus, de Tavira; melhora com o tempo, o que é bom sinal!);
>Mourinha (produtor: Herdeiros de José Manuel Mealha Guerreiro; Barranco do Velho, Salir, Loulé, tel.28-9846183).
Foi ainda muito apreciada a Aguardente de Medronho de José Rodrigues Cavaco (Vale de Ôdres, Cahopo, Tavira, o,5l, 45º), com foto aqui.
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Marcas do Algarve que ainda não tive o prazer de provar:
>Castelo de Silves (0,7l: €30; produtor: Baga-Mel; Monchique);
>Guia (€16,8);
>Pizões (0,75l: €30; esgotado na origem [Indústrias Cristina - Portimão], destilação especial para reserva desde 1902; Monchique);
>Sanches & C.ª Lda. (c/caramelo e 2 marcas distintas, uma com rótulo amarelo, a outra preto);
>São Barnabé (0,7l: €18
ou €24; produtor: Leonardo Cabrita; Caldeirão);
>Valverde e Lino (de José Manuel Valverde, de quem dizem que fazia o melhor néctar).
Ainda de Monchique vd. inf. para Cimalhas, Taipas e Monte da Lameira aqui.
Marcas da Beira, da parte de cima (Serra da Estrela):
>Aguardente de Medronho Velha (0,5l: €17,62; produtor: Obras do Caratão);
>Aguardente de Medronho - Obras do Caratão (0,7l: €15,38; produtor: Obras do Caratão).
Marcas da Beira, da parte de baixo (Oleiros):
>Silvapa (0,5l: €15; produzida em Madeirã, concelho de Oleiros).
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A ASAE só fiscaliza a aguardente comercializada, poupando a para consumo próprio, o que é uma boa notícia. O licenciamento das destilarias passou para as câmaras municipais desde 2002 (CM; vd. decreto-lei 238/2000). Vários restaurantes alentejanos estão a deixar de servir aguardente de medronho (da casa) por receio da ASAE :(  Mas se fosse servida como oferta aos bons clientes, já deveria ser permitido, não é?
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PS: era bom que os produtores fizessem mais uso da Internet para divulgar os seus produtos em sites e/ou blogues seus (e/ou de associações como a APAGARBE), até para facilitar a respectiva comercialização e encomenda por interessados. É que as mercearias finas e outros intermediários inflaccionam muito os preços deste tipo de produtos. Foi muito difícil encontrar informação útil na Internet, e a que existe é maioritariamente inserida por intermediários, além de pobre.