Frutos serôdios do novembrismo

Manuel Raposo — 24 Novembro 2024

Primeiro objectivo do golpe: retirar às classes trabalhadoras capacidade de intervenção política para disputar a autoridade do Estado e dos governos

Quarenta e nove anos depois, no que respeita à História, está tudo dito e provado acerca do 25 de Novembro. O que resta discutir, e por isso se volta ao assunto todos os anos, é a questão política, isto é, o curso que o golpe imprimiu à vida do país – pela razão de que, ao derrotar o movimento popular de 74-75, o golpe abriu caminho, não apenas à destruição das principais conquistas revolucionárias, mas também, por isso mesmo, à reconstituição das forças sociais e partidárias mais reaccionárias da sociedade portuguesa. A anatomia política do golpe tem, portanto, de ser feita sob a luz do momento em que hoje estamos; do ponto de chegada e não tanto do ponto de partida de há 49 anos. A actualidade do assunto reside aqui.


Amesterdão: fascismo e sionismo de mãos dadas

Editor / Anis Raiss — 18 Novembro 2024

Amesterdão. Polícia tenta arrancar bandeira da Palestina das mãos de uma manifestante.

Os desordeiros israelitas que tumultuaram Amesterdão em 6 e 7 de novembro, foram rapidamente tratados pelos meios ocidentais como vítimas de antissemitismo. Protegidos pela Mossad, que os acompanhou desde a chegada à cidade, acharam que podiam impor a sua lei terrorista rasgando bandeiras palestinas, entoando cânticos racistas e agredindo cidadãos árabes. Sentiram-se, num primeiro momento, capazes de transpor para solo holandês o que o seu governo e as suas forças armadas fazem impunemente na Palestina. Enganaram-se: a resposta rápida e musculada dos cidadãos de Amesterdão deu-lhes uma lição que lhes vai seguramente ficar marcada na memória e no corpo.


OE2025, tanto barulho por nada

Manuel Raposo — 5 Novembro 2024

Uma combinata entre PS e PSD para chamar a si todo o debate

O debate prévio sobre o Orçamento do Estado tinha já várias semanas de duração, com ameaças de ruptura de parte a parte entre PSD e PS, quando o ministro dos Assuntos Parlamentares resumiu o sentido de tão acesa polémica dizendo “andamos no fundo a dizer a mesma coisa”. O mais caricato da situação está ainda no facto de toda a discussão se ter travado sem que fosse conhecido o conteúdo do OE, só recentemente apresentado para debate na Assembleia da República. Mais do que novela, como foi dito, tratou-se de uma farsa de baixo nível.


Quem insiste em apoiar o Ocidente…

Editor / O Comuneiro — 31 Outubro 2024

O genocídio não é uma doença de Israel, mas de todo o império ocidental, de que Netanyahu é, nesta hora, herói e paladino supremo

Quem insiste em apoiar o Ocidente na sua luta existencial deve saber que está a apoiar a guerra permanente, o fascismo, o genocídio e, em última instância, a extinção da humanidade. Estas palavras, da introdução ao número de outubro da revista O Comuneiro, abrem caminho a um conjunto de artigos que vão desde a abordagem das características do imperialismo na sua fase contemporânea até à história da violência e da desigualdade a que as mulheres têm sido submetidas.


Mais justiça, menos polícia!

Urbano de Campos — 26 Outubro 2024

Os factos. Um cidadão que regressa a casa de noite é morto por uma patrulha da polícia com duas balas no peito disparadas à queima roupa. Para matar, portanto. O comando da PSP emitiu de imediato um comunicado dizendo que a vítima ameaçara os polícias com uma faca.

A vítima, porém, não estava armada. O próprio agente implicado nos disparos desmentiu o comunicado, confessando à Polícia Judiciária que a vítima estava desarmada. Tratou-se, portanto, de um assassinato a sangue frio e não de uma reacção em legítima defesa. O comando da PSP, agindo por antecipação, mentiu – no que só pode ser entendido como uma tentativa de encobrir o crime.


Hezbollah prepara guerra popular de longa duração

Editor / Leila Ghanem — 16 Outubro 2024

“Líbano e Palestina estão a passar pelo período mais sério e decisivo de nossa história”

A brutalidade dos ataques na Palestina e no Líbano, a extensão dos actos de guerra, o desplante terrorista de quem não olha a regras, a impunidade diante das condenações internacionais, tudo isto somado à fanfarronice dos dirigentes de Israel, se for tomado pela aparência e pelo efeito imediato, corre o risco de convencer muita gente de que este novo nazismo encarnado por Israel e patrocinado pelos EUA é imbatível. Olhado o assunto pela base, contudo, é nossa opinião que Israel empreendeu uma fuga em frente na tentativa de evitar o afundamento de um Estado, de natureza colonial, tornado insustentável pelas alterações de forças que o mundo e o Médio Oriente têm presenciado.


A missão que o imperialismo exige de Israel

Manuel Raposo — 7 Outubro 2024

Manifestação em Teerão. O Irão atacou Israel com mísseis balísticos em 1 de outubro

“Direito de defesa” é a frase obrigatória que precede o discurso de qualquer dirigente do mundo ocidental acerca de Israel, reproduzida como um eco interminável por todos os jornalistas e comentadores de serviço. Na verdade, trata-se de uma palavra de código para significar o direito de ataque e a impunidade conferidos pelos EUA e pela a União Europeia aos dirigentes sionistas para exercerem o seu mandato terrorista no Médio Oriente. Decorrido um ano de guerra genocida na Palestina, seguido da aplicação do mesmo método ao Líbano e de ameaças de estender a guerra ao Irão, cabe perguntar que articulação existe entre as palavras vãs dos dirigentes ocidentais e os actos concretos de Israel.


Amílcar Cabral: nosso herói também

Editor — 20 Setembro 2024

A ideia corrente de que o golpe dos Militares de Abril nos libertou da ditadura peca pelo facto de colocar na sombra o papel, esse sim decisivo, dos movimentos de libertação anticoloniais que durante treze anos fustigaram o colonialismo português. Foi a luta armada, travada com sacrifício de, seguramente, muitas centenas de milhares de combatentes africanos, que, ao libertar do jugo colonial os novos países, fez ruir o fascismo português. A democracia portuguesa de 1974 é fruto dessa luta levada a cabo por africanos.

Um dos esquecidos é Amílcar Cabral. Nascido em 12 de setembro de 1924, foi um dos grandes ideólogos das independências africanas e o mais destacado dirigente político da guerrilha na Guiné-Bissau que viria a terminar na independência da Guiné e de Cabo Verde.


“1984” em 2024

Manuel Raposo — 23 Agosto 2024

Em Gaza, quem resiste é terrorista, quem chacina exerce direito de defesa, diz o Ministério da Verdade

Quando George Orwell escreveu o seu romance mais famoso, acredita-se, teria em mente caracterizar o regime estalinista, ou ter-se-ia inspirado nele ou naquilo que à época se dizia dele. Mas a qualidade e a perspicácia da obra, pode hoje constatar-se, ultrapassa em muito essa real ou suposta intenção dirigida à URSS de então. “1984”, quarenta anos depois, sobrevive como retrato do nosso dia a dia.


A hora dos chacais

Manuel Raposo — 31 Julho 2024

Kamala Harris em Jerusalém com Netanyahu, 2017. Conhecidos de longa data

Quando confrontada com o ataque de Israel a Beirute, em 30 de julho, que matou um comandante do Hezbollah, a primeira declaração de Kamala Harris foi repetir o slogan “Israel tem direito a defender-se”. Horas depois, Israel matava pelo mesmo processo o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, que se encontrava em Teerão. Numa frase, Kamala Harris disse tudo sobre si própria e a sua candidatura para quem queira entender como são as coisas: deu luz verde a Israel para prosseguir as provocações ao Líbano e ao Irão, mostrou que não se distingue do seu patrono Biden, e confirmou o interesse crucial dos EUA na guerra promovida pelos sionistas – tenha ela a extensão que tiver, arrisque o que arriscar e adopte os métodos que adoptar. 


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