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quarta-feira, 14 de julho de 2010

O que vale mais para a CPLP: a democracia ou os interesses?

Carta Aberta dirigida aos Chefes de Estado da CPLP

Exmos. Senhores,

No próximo dia 23 de Julho, decorrerá em Luanda mais uma Cimeira de Chefes de Estado dos países da CPLP. Um dos pontos da ordem de trabalhos será a decisão sobre a admissão da Guiné Equatorial como membro efectivo da CPLP.
Considerando que este assunto é importante para o futuro de uma organização como a CPLP, várias organizações da Sociedade Civil de Portugal, Moçambique e Guiné Bissau, juntaram-se na subscrição de uma carta aberta dirigida aos Chefes de Estado dos países da CPLP. Na sequencia da elaboração dessa carta, a Plataforma Portuguesa das ONGD optou por criar uma petição on-line, de modo a reforçar a sua posição e expor esta problemática ao máximo de pessoas possível.

Petição Guiné Equatorial Na CPLP Não!

Organizadores da carta aberta e da petição: Plataforma Portuguesa das ONGD

Opinião e notícias: «Trocar petróleo por princípios» (editorial do jornal Público); «Ditador africano promete reformas para garantir adesão à CPLP», por Jorge Heitor; «CPLP deve rejeitar [proposta de adesão da] Guiné Equatorial, defende Alegre»; «A ditadura de Obiang», por Gerhard Seibert.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Acordo Ortográfico: não dói nada e não é bicho-de-sete-cabeças

vallera, conforme o prometido, vai aqui umas linhas sobre o Acordo Ortográfico.

Ao contrário do que acontece em Terras Brasilis, o Acordo Ortográfico da língua oficial portuguesa tem gerado muita polêmica em Portugal, com alguns fazendo dele um bicho-de-sete-cabeças. Da minha parte, não defendo esta como sou favorável a uma reforma ortográfica bem mais radical, de maneira tal que venha a reduzir a sua enorme dificuldade de aprendizado [#], passando pela abolição quase total dos grafemas e a uniformização gráfica de sons rigorosamente iguais.... Bem, mas este não é o objetivo deste post.

Miminimalista, o Acordo Ortográfico pretende apenas aproximar tanto quanto possível a língua portuguesa escrita dos países lusófonos, eliminando as diferenças entre a norma brasileira e a de Portugal (e africana), mas preservando e respeitando a sua essência: o falar e o vocabulário de cada país ou região. Esta revisão é fundamental à medida que aproxima a língua escrita da língua falada (no caso lusitano, com a eliminação das consoantes mudas que não funcionam como diferencial). Não vejo qualquer sentido lógico que uma língua secular mantenha duas (ou mais) diferenças ortográficas quando elas não correspondem a uma divergência real na sua oralidade.

Na história da Liguística, não existe nenhuma ortografia que tenha se consagrado pela tradição e se mantido intacta por seculus seculorum. Ao contrário. Ao longo dos tempos, todas as formas escritas das línguas ocidentais passaram por inúmeras reformas. Portanto, não faz qualquer sentido acusar esta reforma de ser apenas uma renuncia ao “português de Portugal” em favor do “português tupiniquim”, mesmo porque o Acordo é bilateral. A língua não deve ser tratada como um dogma ou como um objeto-de-uso-pessoal deste ou daquele cidadão.

Creio que a oposição portuguesa mais ferrenha ao Acordo vai além dos “puristas” de plantão e/ou conservadores. Ela reside fundamentalmente no mero capricho de uns poucos e, principalmente, no desinteresse dos editores portugueses, que não desejam reeditar seus títulos e temem, sobretudo, a concorrência brazuca no mercado de livros didáticos e técnicos, tanto em Portugal como na África, uma vez que a grafia africana obedece à norma portuguesa. aqueles que o criticam apenas pela dificuldade que as pessoas terão em se adaptar à nova ortografia não têm muita razão, pois as muitas mudanças feitas (no português e noutras línguas) demonstram o contrário. No final, dá tudo certo e não dói nada.

Do lado brasileiro, a coisa é bem mais maquiavélica: o seu uso político na África lusófona como fonte potencial de bons negócios. O argumento em defesa de intercâmbios cultural, artístico e acadêmico não passa de pura retórica demagógica - para não dizer hipocrisia. Na verdade, o interesse do Brasil não vai além da busca de novos mercados para seus livros, seus softwares e outros ponto.com. Detalhe: se hoje há essa diferença na ortografia lusófona é porque o Brasil não cumpriu com o que foi acordado em 1945, pois sempre se considerou o verdadeirodono” da língua e fez dela o que bem entendeu. É no mínimo estranho que agora se empenhe tanto pra que este Acordo entre em vigor em todos CPLPs (?).

Repito mais uma vez: não sou contra o Acordo em questão apesar dessas lamentáveis manobras ardilosas. A minha crítica fundamental gira em torno dos interesses velados que estão por detrás dele. A língua portuguesa (ou qualquer outra) não pode e não deve ser um mero instrumento que vise apenas as relações comerciais como quer o governo brasileiro, ou como propriedade de um dono como desejam alguns portugueses. Qualquer revisão da língua portuguesa deve estar sempre acima de quaisquer interesses escusos e vaidades. A língua é como umorganismo vivo” e como tal está sujeita a transformações. Impedir este processo é ir contra a própria natureza. Se não fosse essa "evolução", estaríamos nos comunicando agora em galaico-português.
.....................

[#] Desde sempre, o ensino da língua portuguesa não vem atingindo seu objetivo mais elementar: levar o aluno ao domínio da norma culta e dar-lhe condições de atender às exigências formais de um texto escrito. Oras bolas, será então que todos os professores são assim tão despreparados? Ou será que não é a falta de coerência da gramática normativa a grande vilã do aluno e do professor ? Bem, ficam aqui estas duas perguntas.


segunda-feira, 3 de março de 2008

Os falares da língua de Luís de Camões

Gosto de sentir a minha língua

roçar a língua de Luís de Camões.”

Caetano Veloso

Assim como as grandes línguas do Ocidente, o Português não é uma língua totalmente homogênea. Por ser difundida em vários países e pela vasta extensão territorial do Brasil, ela ganha nuances próprias de cada região (ou país), característica que torna o falar português mais dinâmico. A diferença lexical não faz da língua portuguesa mais pobre (contrariando a tese de muitos tradicionalistas). Ao contrário, enriquece-a. Faz dela um belíssimo mosaico de falares e a torna mais viva do que nunca. Na cançãoLíngua” (veja letra aqui e o vídeo aqui), Caetano Veloso faz uma incursão pelos dois lados do Atlântico e cria um ponto imaginário, onde Camões, Pessoa, Guimarães Rosa, Glauco Mattoso e os cantores populares se encontram num coro de vozes uníssonas. que é assim, vamos então a essa maravilhosa diversidade. Abaixo, alguns registros de áudio dos muitos falares da língua portuguesa. Ah, peço uma atenção especial ao trasmontano. Ai que rico é. Bem meiguinho, não é?

Portugal:

Açoriano (ouvir) - Açores

Alentejano (ouvir) - Alentejo

Algarvio (ouvir) - Algarve

Alto-Minhoto (ouvir) - Norte de Braga

Baixo-Beirão; Alto-Alentejano (ouvir) - Centro de Portugal

Beirão (ouvir) - Centro de Portugal

Estremenho (ouvir) - Regiões de Coimbra e Lisboa (pode ser subdividido em lisboeta e coimbrão)

Madeirense (ouvir) - Madeira

Nortenho (ouvir) - Regiões de Braga e Porto

Transmontano (ouvir) Trás-os-Montes

África:

Caboverdiano (ouvir) - Cabo Verde

Guineense (ouvir) - Guiné-Bissau

Luandense (ouvir) - Provincía de Luanda


Moçambicano (ouvir) - Moçambique

Santomense (ouvir) - São Tomé e Principe

Timorense (ouvir) - Timor-Leste

Brasil:

Fluminense (ouvir) - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo

Nordestino (ouvir) – Alguns estados do nordeste

China:

Macaense (ouvir) – Macau.

PS. Para obter um material mais amplo sobre o assunto, consultar o Centro de Linguística da UL.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Quando a língua não é a nossa pátria*

Quando foi feito, em 1990, o acordo da reforma ortográfica do português previa a ratificação de todos os países da CPLP para entrar em vigor. Porém, em julho de 2004, devido a dificuldade de alguns membros em conseguir aprová-lo, foi decidido, em um encontro em São Tomé e Príncipe, que bastariam apenas três países conseguirem a ratificação em seus Congressos para que o acordo entrasse em vigor. O Brasil ratificou em 2004, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, respectivamente, em fevereiro e dezembro do ano passado.
O problema é que até agora Portugal tem se mostrado resistente à unificação ortográfica. Alega, entre outras coisas, que tem sido pressionado pelas grandes editoras portuguesas que têm medo de competir com as brasileiras. Argumento que não engulo, pois apesar da eterna crise em que vive mergulhado o mercado editorial brasileiro, muitas editoras estrangeiras estão se instalando aqui em busca de melhores resultados financeiros. A espanhola Santillana, que já é dona da Moderna (especializada em livros didáticos), comprou 75% da Objetiva. Da Espanha também vieram a Planeta e a Oceano. Os franceses também não perderam tempo. Caíram aqui de mala e cuia com a Larousse e a Vivendi, que comprou a Ática e a Scipione. Em suma: existem pelo menos 10 editoras estrangeiras operando no país e entre as sete maiores, cinco são estrangeiras. E não há qualquer entrave legal para que as editoras lusas venham pra cá abocanhar uma fatia de mercado, que apesar de ter apenas 25% (45 milhões – ver dados completos – e lamentáveis - abaixo[1]) de sua população de 180 milhões de habitantes com capacidade de ler textos mais complexos, chega a ser muito mais viável economicamente que a maioria dos países da União Européia.
Como se pode constatar, os editores portugueses não precisam temer as editoras brasileiras mas sim as estrangeiras, principalmente as espanholas. Por isso, acredito eu, a hesitação do governo luso em ratificar o acordo não passa pela questão econômica ou mercadológica. Na verdade, Portugal não quer é mesmo se render ao seu conservadorismo linguistíco, pois será o país que mais terá de se adaptar à reforma ortográfica propostas pelos signatários do acordo.
Eu, particularmente, gostaria que a discussão dessa reforma não se limitasse apenas e tão somente a questões econômicas e mercadológicas, mas que servisse de reflexão pra se corrigir as injustiças sociais que existem nos países membros da CPLP. É um exercício de pura ficção imaginar que haja unificação de uma língua quando a exclusão social tira o direito do indivíduo de acesso pleno à educação e a outros meios culturais. Também não podemos deixar de considerar as diferenças culturais e linguísticas que existem nos países lusófonos da África, que têm em sua língua materna o seu maior meio de comunicação entre os seus iguais. Por fim, os dados abaixo confirmam que pouca diferença fará uma reforma ortográfica aqui no Brasil. Eles servem de exemplo também de como poderia ser mais rentável (se esse é o caso) se nos países lusófonos a educação fosse uma prioridade de seus respectivos governos. Só poderemos afirmar que a língua é nossa pátria quando o analfabetismo for totalmente erradicado. Caso contrário, teremos sempre duas pátrias coexistindo num mesmo território onde o conceito de Pátria vai por água abaixo. E esse é o caso do Brasil.
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[1] Segundo o Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional, obtido a partir de pesquisa da ONG Ação Educativa, em 2003, 8% da população brasileira, com idade entre 15 e 64 anos, é analfabeta, e c. 30% não conseguem localizar informações simples em uma frase. Outros 37 % só localizam informações em texto curto. Já os que conseguem estabelecer relações entre textos longos somam apenas 25%.
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* Manolo Piriz