Existe um clube que é o maior do seu país. Ou pelo menos era. Um clube que em meados do século passado já tinha ganho tudo o que de mais importante havia para ganhar a nível nacional e a nível internacional.
Os anos 60, 70 e 80 foram marcados pelo sucesso desportivo, com títulos europeus e reconhecimento nacional e além fronteiras.
Nos anos 90 perdeu-se a hegemonia. Dois campeonatos nacionais apenas, a ascensão do grande rival da segunda maior cidade do país, um campeonato ganho por quem nunca tinha ganho nada e até o velho rival da capital teve oportunidade de voltar a ganhar alguma coisa.
Desvirtuou-se a mística. Um clube ganhador passou a ser um clube de acomodados e no qual o "sucesso desportivo" passou apenas a ser um chavão dito por pseudo-mestres da gestão desportiva que não sabem o que é necessário para ganhar.
Os sócios escolheram um presidente megalómano. Um homem da área dos negócios que soube cativar os adeptos com promessas e obras para inglês ver.
Nestes anos, foram treinadores atrás de treinadores. Alguns quase nem aqueceram o lugar. Os poucos que venciam algo de importante não ficavam para a época a seguir. Os que não venciam recebiam guia de marcha, mesmo que fossem amigos do presidente.
Nesses anos, o ódio em relação ao maior clube cresceu em todo o país. Inexplicavelmente. Ou então não. É que, apesar de nada ganhar, o clube e os seus dirigentes continuaram numa atitude de sobranceria incompreensíveis, qual "Rei vai nu" achando que passeia as mais belas vestes.
E por falar em sobranceria, o que dizer dos adeptos? Adeptos arrogantes, desconhecedores do jogo, que acham ano após ano que têm a melhor equipa sem perceberem que uma equipa é muito mais do que o conjunto de onze jogadores.
Gastou-se dinheiro a rodos. Muito dinheiro mal gasto em muita gente sem qualidade. Muito dinheiro mal gasto sem critério. Muito dinheiro mal gasto sem se aproveitar a "prata da casa", inclusivamente alguns bons jogadores que saíram da formação, obtendo-se resultados fracos para o investimento feito.
Um clube onde todos falam, onde todos têm algo para dizer. Desde o presidente até à senhora das limpezas, passando por um ou outro notável que não sabe quando falar e quanto estar calado.
Um clube que é controlado pelas vontades de um dos jornais da capital, onde os directores e editores são unha com carne com o mais altos quadros do clube.
Um clube onde a oposição é uma anedota feita no Facebook, nos blogs e nos fóruns.
Um clube onde os adeptos acham que manifestação de descontentamento é assobiar os jogadores, culpar os treinadores e manter os presidentes.
Este é o retrato do Real Madrid. Mas alguém pensou que poderia ser outro clube?