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terça-feira, 16 de junho de 2015

Jorge Jesus e o fim de um ciclo

"Cada uno es como Dios lo hizo, y aún peor muchas veces."
Miguel de Cervantes, em El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha


Terminou um ciclo no Benfica. Num clube habituado a mudanças de treinador desde sempre, independentemente do sucesso desportivo, Jorge Jesus foi o treinador que esteve por mais tempo ao leme do comando técnico encarnado desde Janos Biri (1939-1947). Tendo por base um estilo autoritário e apoiado por uma estrutura que disponibilizou mundos e fundos nunca antes vistos para o lado da Luz e que o segurou mesmo nos momentos mais difíceis, Jesus estabeleceu-se e entronizou-se dentro do organograma benfiquista, ganhando admiradores dentro e fora de portas, sem no entanto conseguir estar perto do consenso quanto ao seu valor enquanto treinador.

Não sejamos hipócritas: Jesus é um bom treinador e não deixou de o ser por ter assinado pelo Sporting. Deixou obra feita no Benfica, tanto a nível de títulos conquistados, com a vitória em metade dos campeonatos disputados, score que era o habitual na era pré-1994, mas também no que à mudança de mentalidade diz respeito, com maior exigência pelo culto de vencer, sem esquecer os activos desportivos que valorizou. Dispôs de planteis de grande qualidade, mais precisamente entre 2011/2012 e 2013/2014, mas foi também com um plantel globalmente fraco, com muitas limitações em diversas áreas do terreno, que se evidenciou (precisamente esta época), tendo levado a equipa à conquista do título. Não o disse atempadamente, mas o campeonato conquistado em 2014/2015 tem, mais que qualquer outro, o dedo de Jesus. Foi ele o operário, o engenheiro e o arquitecto do título conquistado. Perdeu 7 titulares em relação ao onze habitual da temporada anterior (ficaram apenas Maxi, Luisão, Gaitán e Lima), perdeu algumas segundas linhas muito importantes (Cardozo e André Gomes por transferência, Sílvio e Amorim por lesão), foram-lhe dados jogadores que em termos qualitativos não chegavam nem perto dos calcanhares dos seus antecessores (excepções honrosas feitas a Júlio César e Jonas) e assistiu a um investimento financeiro histórico do FC Porto, que construiu um dos melhores planteis que me lembro de ver nos azuis-e-brancos. O Benfica investiu muito dinheiro no mercado de transferências, é um facto, mas investiu mal, sobrevalorizando muitos dos atletas contratados e acabando por ter como verdadeiros reforços na real acepção da palavra dois “velhotes” brasileiros que vieram a custo zero. Jesus, no entanto, conseguiu com o plantel que tinha (sem esquecer a “abençoada” eliminação das provas europeias) atingir o topo do futebol português uma vez mais, contra todas as expectativas. Contas feitas, em termos desportivos, o balanço com Jorge Jesus ao leme do Benfica é positivo, ainda para mais se tivermos em conta o padrão habitual de troféus conquistados nos anos que o antecederam. Jesus tem mérito e devemos saber reconhecê-lo.

Mas não esqueço as limitações, os erros e as falhas que o impedem e continuarão a impedir de chegar a um patamar de verdadeira excelência e qualidade. A começar pelas relações humanas. Um treinador, nos dias que correm, mais que um teórico ou um mestre da táctica, tem de ser um condutor de homens. Jesus tentou sê-lo não através do exemplo ou do carisma mas sempre na base da arrogância e de uma disciplina férrea que asfixiava tanto os colegas que com ele trabalhavam como os seus próprios jogadores. As embirrações, a política de filhos e enteados, as atitudes menos dignas e os episódios de guerrilha interna com alguns jogadores são, uns mais que outros, até pelo encobrimento que a Direcção do Benfica sempre tentou dar a estes casos, conhecidos: desde o inqualificável despedimento televisivo de Quim à inexplicável ostracização de Aimar e Nuno Gomes, passando pela embirração constante com Nolito e Capdevila, ao ignorar das virtudes e talento de Bernardo Silva, a guerra que levou ao afastamento (e perda de um campeonato?) de Rúben Amorim, aos misteriosos desaparecimentos de Urreta, Sulejmani e Sílvio, a subutilização de Enzo Pérez (2011/2012) e André Gomes são alguns dos casos mais flagrantes que assim de repente me assaltam a consciência. Quando se ganha, tudo é esquecido. Mas quando se perde, a frustração alastra e a raiva desperta, como ficou bem patente nas reacções de Enzo e Cardozo às finais perdidas em Amesterdão e no Jamor, em 2013. Mesmo com os seus pares, Jesus não teve o comportamento que é expectável e digno de um treinador de futebol, ainda para mais no Benfica. Quantas vezes não foi Raul José, alvo da fúria injustificada e da ira mal digerida de Jesus? E como esquecer o episódio em que Jesus se agiganta, vociferando impropérios contra o apaziguador Shéu, uma lenda viva do clube, com mais de 45 anos consecutivos de casa, sem motivo aparente?

Sendo Jesus um treinador competente no capítulo do treino, há que lhe reconhecer a incompetência na escolha de jogadores ao longo destes seis anos. Se fizermos um balanço no que diz respeito às contratações do Benfica na era Jorge Jesus, verificamos que em termos de qualidade e de rendimento, os jogadores indicados ou escolhidos pelo treinador se revelaram autênticos flops. Se pensarmos nos 20 melhores jogadores que passaram pelas mãos do técnico na sua estadia na Luz, é fácil verificar que nenhum deles veio por indicação de Jesus. E havendo no Benfica uma estrutura profissional de scouting do mais competente que há, nunca percebi a necessidade de dar tanto poder a Jesus numa área de decisão que ele manifestamente não domina. Na minha concepção de futebol moderno, não há a obrigatoriedade de um treinador ser um prospector de talentos. Há gente especializada que fará esse trabalho melhor que qualquer treinador. Cabe ao treinador... treinar. Assim, simples. Sem ostracizar os jogadores que lhe são disponibilizados, como infelizmente aconteceu no Benfica, onde atletas manifestamente de maior qualidade foram preteridos face a outros incomparavelmente inferiores mas que foram trazidos pela mão de Jesus (como se explica a insistência em craques como Emerson, Bruno Cortez, Éder Luís, Ola John ou Artur quando qualquer leigo vislumbrava a existência de melhores opções à disposição do treinador?).

É toda esta arrogância que impede o auto-proclamado mestre da táctica de aprender mais para poder atingir o topo. Para tal, teria de deixar de ser casmurro e querer aprender com os próprios erros e com os outros, algo que sempre teve relutância em fazer. E para atingir o topo tem de cumprir duas metas que sempre teve dificuldade em alcançar na Luz: derrotar os mais fortes e não fraquejar nos momentos decisivos. A primeira premissa é exemplificada com os sucessivos falhanços que teve na Liga dos Campeões, prova na qual conseguiu a qualificação para a fase a eliminar em apenas uma ocasião em cinco tentativas, muito por culpa do parco estudo que fez dos adversários e da incapacidade de adaptação do modelo de jogo num contexto onde encontrava adversários muito mais competitivos do que aqueles da Liga Portuguesa, sem no entanto serem obrigatoriamente melhores que o próprio Benfica. A segunda premissa (fraquejar nos momentos decisivos) ficou bem evidente quando desperdiçou a hipótese de conquistar dois campeonatos nacionais (2012 e 2013), uma Taça de Portugal (2013) e duas Ligas Europa (se bem que aqui não tivesse a obrigação de as ganhar), muito por culpa de uma série de erros já aqui apontados. Em 2012, após ter concordado com as saídas de Enzo Pérez e Amorim, transformou 5 pontos de avanço em 3 pontos de desvantagem no espaço de três jornadas, fruto de embirrações, decisões técnicas muito questionáveis e com um toquezinho simpático das arbitragens. Em 2013 perdeu tudo da forma mais dramática possível, demonstrando uma enorme falta de arcabouço mental para segurar a equipa quando mais precisava de um treinador.

Em 2010, quando se soube que Jesus mantinha conversas paralelas com o seu amigo de longa data Jorge Nuno Pinto da Costa com vista a uma transferência para o FC Porto, afirmei peremptoriamente que Luís Filipe Vieira não deveria ceder à chantagem negocial do treinador e não lhe deveria renovar o contrato se tal implicasse o pagamento de um salário quase incomportável para os cofres da Luz. Vieira decidiu-se pela renovação do treinador campeão, mas teve de lhe oferecer os pedidos 4 milhões de euros anuais que toda a gente sabe que auferia. Fui contra não só pelo facto de ser uma quantia absurda para a realidade do Benfica como também para a qualidade do treinador em questão, mas também porque esta chantagem salarial em nada se coaduna com a forma de ser ou de estar do Benfica. Por mim, Jesus não deveria ter visto o seu vínculo renovado em 2010. Não seria de esperar, até por uma questão de coerência nesta matéria, que adoptasse uma posição diferente neste caso. E não adopto. Luís Filipe Vieira fez bem em não ceder às novas pretensões salariais de Jesus e em não entrar em guerra com o Sporting pelo treinador. Estou totalmente ao lado da Direcção do Benfica nesta matéria. Ainda para mais se tivermos em conta que as visões de projecto futuro da Direcção e do agora ex-treinador para o clube são praticamente antagónicas.

Jesus é passado. As suas vitórias, as suas conquistas, as suas embirrações, as suas casmurrices, os seus erros tácticos, tudo isso é passado. Resolveu ir para o Sporting porque foi a proposta financeiramente mais atractiva, porque se mantém em território nacional, consciente que é das suas limitações enquanto treinador e que o impedem de dar o salto, e porque não tem carácter nenhum, como evidenciou ao longo de seis anos. E se no Benfica houve mais de 100 anos antes de Jesus, muita vida haverá para além dele.

domingo, 15 de março de 2015

Notas do Benfica x Braga

1 - À terceira foi de vez. O Benfica derrotou o Sporting Clube de Braga por 2-0 e reforça a liderança do campeonato nacional. Num jogo que tinha tudo para ser mais complicado, mérito para a estratégia delineada por Jesus e para a qualidade de execução dos jogadores. Estão de parabéns.

2 - Há várias formas de tentar contornar a pressão e os ambientes adversos quando se joga fora. Uma delas é não comparecer à hora marcada para o início da partida. Os jogadores do Braga atrasaram propositadamente a entrada das equipas em campo de modo a "fintarem" o momento do hino do Benfica e do levantar das cartolinas. As imagens da BTV esclarecem que os jogadores do Benfica já se encontravam perfilados para entrar em campo e nem sinal dos bracarenses havia no túnel.

3 - Muito se falou da agressividade, intensidade e vontade dos jogadores do Braga quando defrontam Benfica e Porto. Se dúvidas houvesse, o banco do Braga tratou de mostrar quão provocadores e nojentos são os elementos daquele clube: nem um minuto de jogo e já os suplentes e equipa técnica estavam a rodear e a provocar Eliseu.

4 - A boa preparação para este encontro viu-se nem um minuto de jogo estava decorrido. Assim que o banco do Braga tentou criar problemas e possivelmente arrancar uma expulsão a Eliseu, Samaris e Luisão acudiram rapidamente para tentar afastar todos os colegas daquela zona. O mesmo sucedeu à passagem do 5º minuto, quando após falta sobre Jonas, os jogadores do Braga criaram novo sururu à procura de criar problemas.

5 - Jonas Vieira Pinto. Classe a rodos, descomplica o difícil e tem golo. Vender Rodrigo por 30 milhões e ficar com este rebuçadinho trintão é de deixar qualquer benfiquista com um sorriso de orelha a orelha. E tem tanto de João Vieira Pinto. Até a chuteira, toda preta, é "anos 90". 5 - O campo esteve claramente inclinado. Mas para o lado. É que uma zona do relvado estava a ser pisada por Eliseu e Pardo. E depois ainda entrou o Salvador Agra. Só eu e esta barriguinha é que não conseguimos ser jogadores da bola.

6 - Dois golos com remates de fora da área deve ser quase inédito na Era Jesus. Curiosamente os autores dos golos dão o nome a um episódio bíblico bem conhecido. Ele há coisas…

7 - Samaris e Pizzi cresceram muito nestes meses. O primeiro ainda apresentou algumas precipitações no capítulo do passe, mas esteve bem a nível posicional defensivamente e supreendentemente bem na posse de bola. O segundo, mais discreto hoje, mas muito competente, está a desempenhar uma posição em campo que não conhecia à entrada para esta temporada. Importa lembrar que, em condições normais, nem um nem outro seriam titulares neste Benfica à partida.

8 - Mais uma expulsão. Pouca importa para os nossos rivais se os jogadores são bem ou mal expulsos, mas a mim pouco me importa o que eles pensam. Tantas expulsões contra os adversários do Benfica? Deve ser uma questão de intensidade. Mas da intensidade que os adversários colocam em campo contra o Benfica. Basta analisar o jogo que o Braga fez hoje e o que fez há uma semana contra o Porto.

9 - A equipa está a atingir níveis de confiança e qualidade que permitem ganhar qualquer jogo do campeonato português com maior ou menor grau de dificuldade. Mas o que mais me surpreende é a tranquilidade que a equipa exibe quando colocada sob situações de grande pressão mental. Hoje, tal como ao intervalo em Arouca (onde perdíamos por 1-0), não houve um único sinal de intranquilidade. E isso é revelador do carácter de um campeão.

10 - Segue-se uma complicada deslocação ao Estádio dos Arcos, onde mora uma equipa bem organizada e muito perigosa no contra-ataque. Será, na minha opinião, a deslocação mais difícil que teremos até final da prova. Ganhando aqui, a Via Verde para o título fica aberta. Mas será preciso que a maré vermelha invada Vila do Conde. O apoio dos adeptos no estádio é fundamental.

domingo, 4 de janeiro de 2015

NOTAS DO PENAFIEL X BENFICA

1 - Vitória justa e praticamente sem sobressaltos perante um adversário que dificilmente terá qualidade para se manter na principal divisão do futebol português.

2 - Assustadora a descaracterização da equipa que ocorreu no espaço de um ano. Com um misto de saídas e lesões, o Benfica apresentou hoje um onze que tem uma qualidade individual muito aquém do que é necessário para ser campeão nacional.

3 - Chutão e bola para a frente. Quem tinha saudades do futebol de Quique Flores teve hoje uma bela reminiscência do que foi praticado pelo espanhol no ano em que cá esteve.

4 - Esta moda do lançamento de linha lateral que é despejado sem critério a pontapé para a frente é para continuar?

5 - Lisandro e Maxi, para mim, os melhores do Benfica. O primeiro com vários cortes de grande qualidade e com critério na saída com posse de bola. O segundo, em modo tractor, correu aquele flanco direito de trás para a frente e de frente para trás. Apesar das dificuldades (sobretudo pela falta de ajuda para defender), foi dos melhores.

6 - Ola John, o elo mais fraco. Ao contrário do jogo da Taça da Liga contra o Nacional, onde não mostrou vontade, hoje só mostrou incapacidade. Menos mau. Ainda assim, insuficiente. Saiu-lhe tudo mal.

7 - Pragmatismo. Com um onze com as limitações que este tem, o Benfica teria de ser pragmático. Atacar sem arriscar em demasia, saber defender sem se expor. Fê-lo com a qualidade que havia em campo. E isto bastará em 90% das vezes para ganhar a equipas da qualidade do Penafiel.

8 - Péssimo timing nas substituições. A ganhar 0-2 desde os 78 minutos, contra um adversário medíocre que estava reduzido a dez elementos e com vários jogadores a justificarem mais utilização para ganhar ritmo (no caso de Sulejmani) ou para se estrearem (no caso de Gonçalo Guedes), não se percebe porque motivo a primeira substituição foi efectuada apenas aos… 88 minutos.

9 - Gestão de recursos humanos. O que pensará um jovem com qualidade como Gonçalo Guedes ao ouvir o seu treinador dizer na flash que só o colocou em campo porque havia muitos jogadores lesionados, caso contrário não entraria?


10 - Boa arbitragem. Um golo bem anulado por fora-de-jogo e uma expulsão absolutamente justificada. Esteve mal, assim de repente, num lance em que Cristante usa o cotovelo para parar um ataque perigoso do Penafiel, à entrada da área, perto do minuto 90. Vai haver choradeira da parte de Sporting e Porto durante a semana.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O Pecado da Gula

É mais forte que Jorge Jesus: quando se sente por cima, num jogo ou num campeonato, não resiste a forçar em exagero a nota ofensiva. Será um caso reiterado de arrogância táctica. Há dois anos estava a ganhar ao FC Porto em casa quando Aimar se lesionou. Poderia ter dado consistência ao meio campo mas lançou Rodrigo e passou a ter dois avançados puros no eixo. Perdeu por 3-2. Já este ano, estava a ganhar por 3-1 ao Sporting para a Taça e até a ameaçar goleada. Jogava com três médios puros quando um se lesionou (Amorim). Não resistiu a lançar Cavaleiro e a voltar ao sistema de risco, de quatro atacantes, agravado com o facto de ter trocado o melhor gestor de posse de que dispõe por um jogador propenso à perda de bola. Sofreu dois golos e a eliminatória só foi salva no prolongamento. Em Barcelos, a situação repetiu-se.

Ponto prévio: foi pouco valorizada a exibição do Benfica ante o Gil Vicente. A equipa encarnada está num óptimo momento, os jogadores apresentam uma condição física invejável (ganharam quase todos os duelos num terreno impróprio) e, mesmo com todas as vicissitudes, o resultado normal teria sido uma vitória da equipa da Luz. Ou seja, mesmo tendo o melhor plantel, de longe, a verdade é que Jesus voltou a pôr o Benfica a jogar bem e transformou-o de novo no candidato principal ao título. Só não resistiu, mais uma vez, ao pecado da gula.

Líder da prova e com o FC Porto derrotado na mesma tarde, o Benfica estava por cima no jogo quando fez o primeiro golo, mesmo com menos um homem em campo. Uma leitura realista - que Jesus já teve noutros jogos - recomendava que entrasse Amorim (ou André Gomes, se contasse), reequilibrando a equipa. Não entrou, e foi uma questão de poucos minutos até Cardozo ser chamado. O mal não foi lançar Cardozo com o jogo empatado - opção natural e totalmente justificável -, o problema é que Cardozo ia entrar mesmo em vantagem no marcador (e um homem a menos). Numa equipa que devia baixar linhas, gerir posse e aproveitar espaço, seria o jogador errado na hora errada. A rábula do penálti prova que o paraguaio usufrui de um estatuto que mais ninguém tem no plantel e Jesus deveria ter assumido logo que há uma hierarquia, sem responsabilizar os jogadores por uma decisão que só a ele compete. Que Cardozo tenha atirado e falhado é normal, é futebol.


Carlos Daniel


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DESTAQUES DAS CONTAS A 30 DE SETEMBRO DE 2013

- O Passivo Bancário aumentou 39 milhões de euros face a 30 de Setembro de 2012 (para quem diz que o Benfica está à beira da insolvência, parece que os bancos não concordam);

- Os salários cresceram cerca de 2 milhões no trimestre o que implicou um aumento dos gastos com pessoal de 3 milhões;

- A opção (forçada ou não?) por não alienar jogadores importantes e por proceder à renovação de contratos (só a renovação de Matic custou 4 milhões), implicou o crescimento de salários o que originou um desequilíbrio estrutural ao nível da exploração operacional, o que são notícias muito negativas;

- À excepção do aumento das receitas televisivas, quase todas as outras receitas mostram quedas (ligeira melhoria do "corporate"), incluindo a bilheteira, apesar de mais um jogo disputado para a Liga;

- A renovação dos contratos de patrocínio não implicou o aumento das verbas recebidas, o que contraria todas as renovações levadas a cabo pelos grandes (e menos grandes) clubes internacionais seja a nível de patrocínio técnico (Adidas) seja a níveis dos patrocinadores das camisolas/bancadas (PT, Centralcer) o que revela uma profunda incompetência de quem gere os destinos da Benfica SAD;

- Aliado à incapacidade de aumentar as receitas de patrocínios, o Benfica perdeu a oportunidade de alienar os "naming rights" do Estádio da Luz no início, ou antes do início, duma época em que o estádio vai albergar a Final da "Champions" e portanto estará debaixo dos holofotes e com uma exposição acima do normal, ou seja, perdeu-se a oportunidade de negociar os "naming rights" em alta, sendo que qualquer negociação futura implicará sempre o recebimento de verbas inferiores ao que se poderia receber.

- O aumento das receitas de transmissão televisiva implicou o aumento das despesas de funcionamento, pelo que muito dificilmente os proveitos líquidos da opção BTV conseguirão chegar ao nível da proposta da Olivedesportos (esperemos por ver o impacto a metade do exercício para melhor se aferir dos resultados).

Resumindo, sinais muito preocupantes quanto ao nível da nossa gestão...


Bcool

sábado, 9 de fevereiro de 2013

8 formas de ver a coisa

1. O jogo de amanhã, como todos até ao final da época, é fundamental. Não há outra forma de encarar isto: ganhar. Ganhar amanhã e ganhar os outros 10 até chegarmos ao Dragão em condições de podermos lutar pelo título. 

2. Na televisão fazem-se análises de vários tipos, geralmente análises erradas de tão politicamente correctas. Uma das ideias mais difundidas é a de que o jogo Porto-Benfica não será decisivo. Ora, a menos que o Benfica entre numa espiral de maus resultados (o que estará dependente da forma como Jesus encarar a Liga Europa), não vejo de que forma será possível que Benfica e Porto percam os pontos suficientes até ao clássico do Dragão de maneira a que um deles já chegue lá virtualmente campeão. Claro que a possibilidade de perder pontos até esse jogo é alta, mas para os dois lados. Resta saber qual deles desperdiçará mais. 

3. Qual a situação actual? É simples: o Porto é favorito a ser campeão. Pondo de lado a forma das equipas (que pode variar) e o equilíbrio dos plantéis (que não varia; o Porto tem mais equilíbrio, também por ter agido em Janeiro, ao contrário do Benfica), o simples facto de ter empatado na Luz e poder disputar o jogo do título em casa à penúltima jornada dá-lhe uma vantagem enorme. Muitos, após o apito final do último clássico, suspiraram de alívio - estranhamente, alguns eram benfiquistas. A verdade é que aquele era um jogo que só podia ter dado vitória para o Benfica, se queríamos manter uma percentagem elevada de favoritismo à vitória no Campeonato. Depois há a questão mental: imaginando que o Benfica chega à 29ª jornada a necessitar de uma vitória ou até de apenas um empate, haverá estaleca para não cair perante os traumas históricos das últimas décadas e ao espírito mental do adversário (para não falar das questões arbitrais, que quase sempre decidem os pormenores)? É possível que haja, mas essa não tem existido. O normal será chegarmos ao Dragão e perdermos. Portanto, convém procurar chegar ao clássico com pelo menos 4 pontos de vantagem sobre o Porto.

4. Como?  É simples de dizer, muito difícil de executar: ganhar os jogos todos até lá e esperar por dois tropeções do Porto. Onde? Ponho as minhas fichas todas no jogo de Alvalade - o Sporting, mesmo fragilizado, tende a superar-se neste tipo de jogos, especialmente se chegar a esse clássico com a evolução natural que o facto de agora ter um treinador lhe pode emprestar - e, menos, na Madeira (Nacional e Marítimo) e Coimbra. Um tropeção não é suficiente porque, mesmo perdendo, o Porto chegaria ao clássico contra o Benfica a "apenas" precisar de vitória para chegar à liderança. É pouco provável que o Porto tenha dois ou três deslizes, principalmente porque o Benfica também deverá perder pontos. Resta-nos, portanto, rezar. Pela passagem do Porto aos quartos-de-final (e, se possível, às meias-finais) da Champions - única forma de os portistas aparecerem mental e fisicamente desgastados em alguns destes jogos do campeonato e - heresia tremenda, mas pragmática - não apostar muitas fichas na Liga Europa. 

5. O cenário é dramático? Muito. As probabilidades de vencermos o campeonato são reduzidas, ainda para mais porque não temos plantel para todas as competições. Anteontem escrevi sobre o assunto: defendi que a eliminação na Liga Europa contra o Leverkusen, apesar de toda a tristeza que nos traria, aumentaria, não muito mas um pouco, as nossas possibilidades a nível nacional. Ainda assim, não dependemos de nós. E essa é uma realidade que, por mais que doa e que alguns benfiquistas não queiram aceitar, devemos ter em conta. 

6. Outro cenário, se nas próximas jornadas perdermos pontos e o Porto não: se ainda estivermos na Liga Europa, abandonar a prioridade do campeonato e transferi-la para a competição europeia. É fundamental que quem treina e dirige o Benfica saiba interpretar as condições existentes para o sucesso. Bem sei que isso raramente acontece, mas... deixem-me sonhar. 

7. E as Taças? A de Portugal está bem encaminhada - não é possível aceitar outro cenário que não a vitória no Jamor. A da Liga, dependerá da capacidade que a equipa demonstrar em Braga. O ultimo jogo, e vitória, fizeram superar um trauma que tinha alguns anos com Jesus e provavelmente possibilitou uma entrada em campo com outra mentalidade competitiva. É difícil, mas claramente ao alcance do Benfica. Se ultrapassar o Braga, qualquer que seja o adversário na final (acreditando que ainda há gente decente a decidir as questões burocráticas e jurídicas sobre o «caso Estrutura Exemplar Fez Merda da Grossa»), deverá ser acessível. A conquista das duas Taças no final do ano salvam a época? Não, mas compõem um bocadinho o ramalhete. E se calhar é melhor começarmos a pensar que é isso que ganharemos.

8. "Mas, Ricardo, tu não és benfiquista? Então tens de acreditar, apoiar e dizer que vamos ganhar tudo porque nós somos o Sport Lisboa e Benfica!!!!!"? Apoio - lá estarei no estádio, como sempre -, acredito - por mais exercícios de análise que faça, quando a bola rola eu até acho que somos capazes de ganhar em Glasgow, vejam lá a maluqueira -, só não consigo dizer que vamos ganhar tudo porque somos o Sport Lisboa e Benfica. É precisamente pelo facto de ser do Sport Lisboa e Benfica que tento preservar um mínimo de lucidez.