1 - O dinheiro conta. Não há outra lei ou verdade no futebol dos dias de hoje que não seja a do dinheiro. É muito bonito dizer que ganhámos duas Taças dos Campeões Europeus, que somos o clube com mais sócios no mundo, que temos 33 campeonatos e uma águia que desce desde o terceiro anel até ao símbolo do clube em todos os jogos em casa. Nada disso dá dinheiro e muito dificilmente se constroem grandes equipas sem dinheiro. Por isso é que clubes como Zenit, sem história, sem passado, que jogam num campeonato para lá de periférico e num país inseguro e frio conseguem construir grandes planteis, com muita qualidade. E com muito dinheiro, não só se recheiam as contas bancárias dos jogadores como também se constroem grandes projectos desportivos. Uma vez mais, o Zenit (como o PSG ou o Manchester City) são excelentes exemplos disso. Por isso, como é que podemos criticar jogadores como Garay, Javi ou Witsel por terem trocado o Benfica por um clube qualquer com dinheiro?
2 - Qualidade do plantel. Este é o pior plantel do Benfica desde 2010/2011. Não temos um guarda-redes de topo, como na época passada. Jardel é um susto de jogador, sem a mais pequena ponta de qualidade para ser titular num Benfica que se queira "europeu". Almeida é de uma banalidade inigualável. Samaris, Cristante ou quem quiserem não têm ritmo nem cadência para segurar um meio-campo. Talisca, apesar de qualidade, não tem [ainda] o conhecimento essencial do futebol europeu que permita triunfar no imediato nas provas europeias. Lima, Derley, ou qualquer outro avançado no plantel, não têm golo, killer instinct ou qualidade para serem uma referência numa equipa que ambicione mais do que ser relegada para a Liga Europa. Sem jogadores de qualidade é mais difícil que aconteça um "milagre". E este é o espelho real do Benfica. Na Europa "não dá", já vimos. No campeonato nacional "vai dando", ainda que com as dificuldades que se conhecem (triunfos tão suados contra Boavista, Moreirense e Estoril) e com a sorte de os rivais directos se terem reforçado mal (caso do Sporting, cujos centrais são anedóticos) ou de terem uma mistura de dona Urraca com Maria Luís Albuquerque como treinador (caso do Porto).
3 - Incapacidade do treinador. Mas a falta de qualidade dos jogadores não explica tudo. Esta é a 5ª época de Jorge Jesus na Liga dos Campeões. Em 4 anos, passou por uma vez aos oitavos e foi relegado por três ocasiões para a Liga Europa. E ao longo desses anos dispôs de planteis de qualidade mais que suficiente para se apurar para a fase seguinte da competição. Os mesmos Garay, Javi e Witsel que há duas semanas pareciam de um nível estratosférico no Zenit também disputaram a Liga dos Campeões pelo Benfica, tendo passado a fase de grupos por apenas uma vez. E quem diz estes diz Cardozo, Matic, Aimar, Coentrão, etc. Se com ovos de grande qualidade Jesus só conseguiu fazer uma omolete por uma ocasião, não será agora com ovos de qualidade duvidosa que a fará. Acresce a isto o facto de o homem que se auto-intitula de "mestre da táctica" não conseguir perceber, ao fim de 5 anos, que subpovoar o meio-campo em jogos da Liga dos Campeões e jogar bem aberto como costuma fazer contra o Belenenses, o Setúbal ou o Nacional não dá bom resultado. Falta sagacidade. Falta, também a ele, qualidade.
4 - A dor de cabeça nos jogos fora. Jogar fora na Liga dos Campeões é um pesadelo. A derrota de hoje, mais que o resultado, espelha bem a falta de qualidade de jogo e a incapacidade de ter bola, de fazer três passes seguidos e de conquistar o meio-campo nos jogos fora (muito por culpa do subpovoamento abordado no ponto acima). É marca registada de Jesus. E não raras vezes dá mau resultado. Leverkusen é só mais um episódio triste, tal como Paris no ano passado, Gelsenkirchen há uns anos, Tel-Aviv há já algum tempo também. Os jogadores já entram em campo com medo. Gostaria de saber se algum jogador entra com confiança e crença de que pode ganhar o jogo.
5 - A importância do campeonato nacional. Esta é uma falsa questão, um falso problema. Dizer que temos de concentrar as atenções no campeonato em detrimento das provas europeias é uma tontice. No início de Outubro não há espaço para fadiga ou cansaço psicológico. O plantel tem mais de onze jogadores e é possível ir fazendo uma rotação pontual sem grandes oscilações de qualidade. Esta é uma desculpa esfarrapada para tentar justificar um possível falhanço nas provas europeias. Ou acham que as outras equipas que nos ganham na Liga dos Campeões abdicam de uma boa prestação nos seus campeonatos? Claro que não. Se pensam que deveríamos abdicar da Champions só para concentrar atenções nas provas internas, recomendo que escrevam uma carta à Direcção sugerindo a desistência das provas europeias.