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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Os cinco problemas do Benfica Europeu

1 - O dinheiro conta. Não há outra lei ou verdade no futebol dos dias de hoje que não seja a do dinheiro. É muito bonito dizer que ganhámos duas Taças dos Campeões Europeus, que somos o clube com mais sócios no mundo, que temos 33 campeonatos e uma águia que desce desde o terceiro anel até ao símbolo do clube em todos os jogos em casa. Nada disso dá dinheiro e muito dificilmente se constroem grandes equipas sem dinheiro. Por isso é que clubes como Zenit, sem história, sem passado, que jogam num campeonato para lá de periférico e num país inseguro e frio conseguem construir grandes planteis, com muita qualidade. E com muito dinheiro, não só se recheiam as contas bancárias dos jogadores como também se constroem grandes projectos desportivos. Uma vez mais, o Zenit (como o PSG ou o Manchester City) são excelentes exemplos disso. Por isso, como é que podemos criticar jogadores como Garay, Javi ou Witsel por terem trocado o Benfica por um clube qualquer com dinheiro?

2 - Qualidade do plantel. Este é o pior plantel do Benfica desde 2010/2011. Não temos um guarda-redes de topo, como na época passada. Jardel é um susto de jogador, sem a mais pequena ponta de qualidade para ser titular num Benfica que se queira "europeu". Almeida é de uma banalidade inigualável. Samaris, Cristante ou quem quiserem não têm ritmo nem cadência para segurar um meio-campo. Talisca, apesar de qualidade, não tem [ainda] o conhecimento essencial do futebol europeu que permita triunfar no imediato nas provas europeias. Lima, Derley, ou qualquer outro avançado no plantel, não têm golo, killer instinct ou qualidade para serem uma referência numa equipa que ambicione mais do que ser relegada para a Liga Europa. Sem jogadores de qualidade é mais difícil que aconteça um "milagre". E este é o espelho real do Benfica. Na Europa "não dá", já vimos. No campeonato nacional "vai dando", ainda que com as dificuldades que se conhecem (triunfos tão suados contra Boavista, Moreirense e Estoril) e com a sorte de os rivais directos se terem reforçado mal (caso do Sporting, cujos centrais são anedóticos) ou de terem uma mistura de dona Urraca com Maria Luís Albuquerque como treinador (caso do Porto).

3 - Incapacidade do treinador. Mas a falta de qualidade dos jogadores não explica tudo. Esta é a 5ª época de Jorge Jesus na Liga dos Campeões. Em 4 anos, passou por uma vez aos oitavos e foi relegado por três ocasiões para a Liga Europa. E ao longo desses anos dispôs de planteis de qualidade mais que suficiente para se apurar para a fase seguinte da competição. Os mesmos Garay, Javi e Witsel que há duas semanas pareciam de um nível estratosférico no Zenit também disputaram a Liga dos Campeões pelo Benfica, tendo passado a fase de grupos por apenas uma vez. E quem diz estes diz Cardozo, Matic, Aimar, Coentrão, etc. Se com ovos de grande qualidade Jesus só conseguiu fazer uma omolete por uma ocasião, não será agora com ovos de qualidade duvidosa que a fará. Acresce a isto o facto de o homem que se auto-intitula de "mestre da táctica" não conseguir perceber, ao fim de 5 anos, que subpovoar o meio-campo em jogos da Liga dos Campeões e jogar bem aberto como costuma fazer contra o Belenenses, o Setúbal ou o Nacional não dá bom resultado. Falta sagacidade. Falta, também a ele, qualidade.

4 - A dor de cabeça nos jogos fora. Jogar fora na Liga dos Campeões é um pesadelo. A derrota de hoje, mais que o resultado, espelha bem a falta de qualidade de jogo e a incapacidade de ter bola, de fazer três passes seguidos e de conquistar o meio-campo nos jogos fora (muito por culpa do subpovoamento abordado no ponto acima). É marca registada de Jesus. E não raras vezes dá mau resultado. Leverkusen é só mais um episódio triste, tal como Paris no ano passado, Gelsenkirchen há uns anos, Tel-Aviv há já algum tempo também. Os jogadores já entram em campo com medo. Gostaria de saber se algum jogador entra com confiança e crença de que pode ganhar o jogo.

5 - A importância do campeonato nacional. Esta é uma falsa questão, um falso problema. Dizer que temos de concentrar as atenções no campeonato em detrimento das provas europeias é uma tontice. No início de Outubro não há espaço para fadiga ou cansaço psicológico. O plantel tem mais de onze jogadores e é possível ir fazendo uma rotação pontual sem grandes oscilações de qualidade. Esta é uma desculpa esfarrapada para tentar justificar um possível falhanço nas provas europeias. Ou acham que as outras equipas que nos ganham na Liga dos Campeões abdicam de uma boa prestação nos seus campeonatos? Claro que não. Se pensam que deveríamos abdicar da Champions só para concentrar atenções nas provas internas, recomendo que escrevam uma carta à Direcção sugerindo a desistência das provas europeias.

Liga dos Campeões

O jogo de mais logo reveste-se de um grau de decisão elevado e de dificuldade máxima. No final do jogo será importante sair da Alemanha, pelo menos, com um ponto e, por outro lado, no seu início será importante ter estofo e estabilidade emocional de Liga dos Campeões.

É de esperar uma entrada fortissima no jogo por parte do nosso adversário. Na realidade, é de esperar uma intensidade altissima até que o jogo esteja encaminhado (se o chegar a estar) ou até que as pernas Alemãs assim o permitam. Como já aqui escrevi, são uma equipa que procura fazer uma pressão alta e intensa sobre o seu adversário, sendo essa a sua grande força defensiva e... ofensiva. Isto é, é na pressão asfixiante que o Leverkusen encontra a sua melhor forma de travar o seu adversário e é dessa pressão e consequente recuperação de bola em zonas avançadas do terreno que nascem os seus lances de maior perigo.

Também como já tinha dito, é no seu meio campo que reside a sua grande força. Um duplo pivô combativo e competente na construção é a base de onde parte o seu melhor futebol (a boa noticia é que Castro não deverá jogar). Na frente há que contar com extremos muito rápidos e finalizadores que procuram muito o jogo interior, seja em acções individuais, seja em combinações com Kissling ou Calhanoglu, sendo este último a sua melhor unidade criativa e dono dos lances de bola parada que executa com muita qualidade.


Mas só há pontos fortes nesta equipa? Não, pelo contrário. A sua grande arma (a pressão alta) é também a sua maior fragilidade, já que procuram pressionar forte e de forma muito concentrada do lado da bola, expondo-se a uma boa e rápida variação do centro do jogo, aspecto que poderia ser explorado por Cristante, o nosso melhor médio a colocar bolas à distância. Em boa verdade, e ignorando o estado de maturação defensiva que o jovem Italiano terá neste momento, veria em Cristante uma excelente opção para o nosso sector médio exactamente por lhe ser fácil explorar o passe longo, seja na mutação de flanco, seja na colocação de bola nas costas dos defesas adversários que são algo lentos e deixam bastante espaço nas suas costas que pode ser explorado em diagonais por Salvio ou Lima.

Porém, parece-me uma impossibilidade que Cristante avance para a titularidade, ainda assim considero que Samaris não deveria ser o eleito para o jogo de hoje. O Grego tem revelado dificuldades evidentes no controlo do espaço entre linhas, zona onde o Leverkusen é fortíssimo. Por isso, não sendo Cristante, preferiria André Almeida para o jogo de hoje.

Por último, será importante não expor Jardel ao jogo, ou seja, evitar faze-lo construir, criando-lhe linhas de passe fáceis ou, em último caso, instruindo-o para bater na frente sem qualquer problema.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Liga dos Campeões



Quando tomei conhecimento do sorteio da fase de grupos da Liga dos campeões, confesso, fiquei apreensivo. Os nomes causaram-me um certo calafrio. O grupo, acontecesse o que acontecesse, seria sempre equilibrado. Naquela altura parecia-me tão natural que qualquer das 4 equipas fosse 1º ou 4º no final dos 6 jogos.

Como é óbvio, aquela primeira sensação de dificuldade decorria de factores essencialmente teóricos, ainda não tinha visto qualquer jogo daquelas equipas durante esta época. Procurei arranjar tempo para ver algo, mas só este fim-de-semana me foi possível faze-lo e só vi o Mónaco e o Leverkusen. Vistos o jogos, cheguei ao final de ambos com melhores perspectivas do que antes.

Mónaco: Organiza-se no 4x3x3 habitual de Leonardo Jardim, procurando apresentar uma ideia de jogo positiva, baseada na qualidade de posse de bola e de ataque organizado. Porém, no plano ofensivo, falta-lhe um verdadeiro organizador de jogo e condutor de bola no sector intermédio. Nenhum dos seus médios habitualmente titulares tem essas características, diria até que os 3 (Moutinho, Kondogbia e Toulalan) são jogadores com características muito similares entre si, ou seja, todos são os designados jogadores da posição 8 e nenhum deles me parece ser o 10 ou sequer o 6 que um meio-campo a 3 necessita. Neste sector é Toulalan quem assume o papel mais defensivo e posicional, estando os restantes 2 mais libertos para tarefas ofensivas e mais responsáveis por uma linha de pressão mais alta. O problema é que Toulalan – que já se encontra na fase descendente da sua carreira – não demonstra capacidade para assumir o papel de médio de equilíbrio de forma segura e capaz, pelo contrário. Este parece-me ser o grande calcanhar de Aquiles da equipa. Toulalan não assegura um posicionamento defensivo capaz (algo que me parece decorrer de alguma incapacidade física) abrindo um espaço muito grande entre ele e a dupla formada por Moutinho e Kondogbia. Sem qualidade táctica neste espaço do terreno o Mónaco expõe os seus centrais às entradas dos médios adversários que aparecem desde trás em posse ou em desmarcação, sendo por aqui que a equipa Monegasca mais sofre. O seu sector mais recuado também não parece ser de extrema qualidade. Aqui há a destacar Ricardo Carvalho e o seu lateral esquerdo Kurzawa como elementos de melhor qualidade. Qualquer que seja o parceiro do central Português (Raggi e Abdennour têm sido os mais utilizados), parece ficar aquém do nível que se seria de esperar. Na lateral direita o mais utilizado é Fabinho, que penso ter um potencial interessante, mas por impossibilidade deste, foi Dirar o utilizado e não acho que seja melhor que o Brasileiro. O tridente ofensivo é, normalmente, formado por Berbatov (ao centro), Ocampos e Ferreira Carrasco (nas alas). Os dois jovens extremos parecem-me muito semelhantes, ou seja, bons tecnicamente, rápidos e irreverentes, mas com um fraco entendimento colectivo do jogo e má capacidade de decisão. Quando são pressionados e obrigados a decidir rapidamente, normalmente falham. Ainda assim, ambos revelam boa capacidade para chegarem a zonas de finalização, normalmente quando a bola parte do flanco oposto ao seu.

Em suma, neste o memento, o Benfica é claramente superior a este Mónaco. Aliás, a equipa francesa parece-me ser a equipa mais fraca do grupo e qualquer outro resultado que não passe pelo 4º lugar, deixar-me-á surpreendido.

Leverkusen: Organiza-se no 4x2x3x1 habitualmente utilizado pelas equipas Alemãs e apresenta uma ideia de jogo muito sustentada na sua capacidade ofensiva. Do meio-campo para a frente são temíveis, mas também são débeis na capacidade defensiva. Fazem lembrar o Benfica de Jorge Jesus dos primeiros 4 anos, ou seja, podem golear com a mesma facilidade com que podem ser goleados. Conseguem momentos de avalanche ofensiva absolutamente impressionantes, mas ao mesmo tempo abrem buracos, não menos admiráveis, na sua defensiva. O guarda-redes (Leno) parece-me ser o melhor elemento do sector mais recuado, sendo que a dupla de centrais (Toprak e Spahic) não parecem “casar” bem um com o outro e são muito débeis a guardar o muito espaço que deixam livre nas suas costas. Curiosamente o melhor central parece-me ser Tim Jedvaj que tem sido adaptado à lateral direita. Mas não se pense que o jovem Croata não ataca, porque é um erro. Ataca e fá-lo com qualidade, ainda que o não faça com extrema quantidade. Na esquerda surge Boenish que, confesso, não consegui avaliar com a profundidade necessária. No sector intermédio surgem as melhores unidades. Um duplo pivô composto por Castro e Bender, dois médios de alta intensidade e boa capacidade de construção, sendo que é Castro quem tem mais liberdade para se chegar a zonas de finalização. Na posição 10 aparece o dono de todos os lances de bola parada (e fá-lo com qualidade) de nome Hakan Calhanoglu. É por este jovem Turco que passam os lances de maior perigo da formação Alemã. Dono de uma boa meia-distancia e de uma capacidade de progressão com bola e bom entendimento do espaço e do tempo. Não me parece que seja possível estancar o ataque Alemão sem controlar eficazmente este jogador. Nas alas surgem Oztunali e Bellarabi, dois jogadores com uma rapidez assinalável e boa capacidade para chegarem a zonas de finalização com qualidade. Para as alas há ainda a considerara o Sul-Coreano Heung-Min Son que me parece ser o melhor destes 3. Rápido, remate fácil, excelente capacidade técnica e, como é habitual nos jogadores asiáticos, grande capacidade de sacrifício para o trabalho colectivo. Na frente surge o mortífero Kiessling. Um ponta-de-lança, literalmente, da cabeça aos pés. Um avançado que respira como ninguém entre os centrais, seja no choque, seja na velocidade e no espaço.

Em suma, será sempre um adversário complicado, mas parece-me ao nosso alcance. Sem ver o Zenit e tomando-os como principais favoritos ao apuramento, penso que o Leverkusen poderá ser o nosso principal adversário na luta pela outra vaga de apuramento.

Se quisermos ter hipóteses de apuramento para a próxima fase é essencial que consigamos vencer os dois jogos com o Mónaco (algo que me parece perfeitamente alcançável) e vencer o jogo que temos em casa com os alemães. Frente ao Zenit em casa e ao Leverkusen fora é imperioso, pelo menos, não perder. Se não formos capazes de fazer isto, então não somos mesmo equipa de Liga dos Campeões.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Uma noite alemã na vida do Delegado Fagundes

O Delegado Fagundes não pregou olho a noite inteira, uma dor que lhe subia pelas costas em jeito de queda de água só que ao contrário, um veneno sangue acima até à ponta da nuca, e outra, em refluxos, que lhe aquecia os órgãos até ao gargantil. Podia ser que as duas picadas - uma, provavelmente consequência dos pesos brutos que ajudou a carregar até ao balneário do clube (equipamentos, chuteiras, toalhas, um conjunto de chávenas e bules, sacos de desporto, bandeirinhas e uns toros de madeira); outra, quase de certeza uma vingança do próprio corpo ao exagero alcoólico com que a si mesmo se brindou na noite passada. Parecia que as duas dores se tocavam no cocuruto do esférico craniano e ali se deixavam ficar, aos sapateados com o cérebro do pobre Fagundes. 

 Tudo isto aconteceu numa madrugada longa, noite que nunca acaba, enquanto a esposa ressonava o hino do Benfica, ou o que lhe pareceu o hino do Benfica, nervoso que estava a antecipar o jogo de mais logo. Não sabemos ao certo, e não queremos injustamente suspeitar das maleitas do sujeito, se aqueles lamentos com que no dia seguinte alimentou o pequeno-almoço de ovos e chouriço foram apenas fruto de uma hesitação-ansiedade ou se de facto ocorreram, graves, no corpo de Fagundes. Mas podemos, porque ao relato do próprio tivemos acesso nos dias posteriores, contar a confusão de sentidos que a demência nocturna espalhou pela mente do Delegado. 

 Foram horas de suplício, atirado para uma contínua escolha de jogadores e tácticas, substituições a meio do encontro, dicas a dar aos jogadores, cálculos sobre a temperatura do relvado, o cheiro da grama, se estaria molhado ou seco, as dúvidas sobre o adversário, quem jogaria, quem não. 

 “É possível que entre com o Kulkov de início, ganho capacidade de ter a bola e agressividade no miolo, mas quero garantir que o jogo não cai num adormecimento de meio-campo, tenho de encontrar uma fonte de contra-ataque, vai o Paneira na ala e o João Pinto fica no apoio ao Yuran. Sim, mais coisa menos coisa é isto” 

 E - depois de decididas estas e outras, várias, questões técnico-tácticas de superior importância - punha-se a contar com os dedos os onze jogadores que faria alinhar no jogo.  

“Então, temos: Neno, Abel Xavier, o Abel deixa-me na dúvida, aparece bem no apoio ao ataque mas tenho medo das investidas alemãs, pronto, então ponho-o mas se notar desequilíbrios tiro-o ao intervalo. Neno (e fechava o punho, só com o mindinho em riste), Abel Xavier, William, Helder, Schwarz…” 

 A mulher por esta altura atingia em estranhos sons o que lhe parecia clara e inequivocamente ser o refrão: “Seeeeeeeeeer Beeeeeeeeeeenfiquiiiiiiista é ter na alma…” e estragava-lhe a composição do onze – impossível raciocinar de modo metódico quando Luís Piçarra aparecia a interromper a prelecção do raciocínio. Desistia e acompanhava a música, fazendo pequenos compassos com a defesa toda do Benfica a tocar piano na barriga. Primeiro Neno, Helder e Schwarz, ao mesmo tempo, num tocar de jazz, forte e sólido; depois, só William e Abel Xavier, enquanto o dedo do meio se esticava por um bemol mais acentuado. 

 O sono pesado da esposa encontrava um novo refúgio e os sons acalmavam. Voltavam as dores de Fagundes e as dúvidas existenciais – umas e outras no meio daquele pensamento alucinante e o onze do Benfica que nunca mais se decidia, já estavam os jogadores cansados, sentados num balneário conversando sobre o tempo quando Fagundes finalmente se decidiu, agora mais ríspido e pouco disponível para roncos conjugais e dores provavelmente fictícias. 

 “Sem mais demoras: Neno, Abel Xavier, William, Helder, Schwarz, Paneira, Kulkov, tenho de ver se de manhã vou comprar o pão e o frango para o jogo dos putos. Três sacas de pão, espero que o Pereira tenha anotado o pedido, este gajo já no dia anterior a irmos jogar ao Tramagal deixou-me na mão, cabrão do bêbado, esquece-se de tudo. O puto Figueiredo tem uma lesão no joelho que não sei se vai dar para entrar de início, se calhar temos de meter o Chico, mas foda-se ficamos sem meio-campo, que o gajo só quer atacar e depois vêm os pais dos outros foder-me a cabeça com as cunhas e os interesses. Qualquer dia cago nisto.” 

 O Delegado Fagundes, por mais que se compenetrasse, não conseguia finalizar o onze. Eram sempre problemas e assuntos prementes, lógicas e pensamentos que lhe vinham de mansinho naquela noite de dores e insónia. Levantava-se, acendia cigarros, fingia que tinha sede para sair da cama e ia abrir o frigorífico mas não tirava nada, ficava só a olhar as coisas nas prateleiras frias: três pimentos, um pacote de leite, frango, uma garrafa de coca-cola, três minis Sagres, ketchup, mostarda e massa de pimentão. Queria ter fome para inventar ofícios, mas acabava por se abandonar, uma e outra vez, à cama onde ainda se ouviam gemidos e roncos de um sono que lhe pareciam, estaria louco?, a voz de ave canora do Hino do Benfica. 

 Deitava-se e olhava o tecto branco. À noite as sombras pintavam-lhe pedacitos escuros que se assemelhavam a jogadores distribuídos por um campo de futebol e ele começava finalmente a regressar ao metódico reflectir de uma táctica ideal. 

 “Neno, Abel Xavier, William, Helder, Schwarz, Paneira, Kulkov, Rui Costa, Isaías, João Pinto e Yuran” 

 Ficou com as duas mãos completas e outra que lhe apareceu para confirmar o onze, só com o mindinho outra vez em riste para o tecto branco. Olhou o dedo, estranho e deformado, lembrou-se que era com aquelas mãos e dedos que teria de ir buscar a comida para os putos e guiar a carrinha do clube e lavar os equipamentos e preparar os grelhados para a festa da aldeia e depois, se ainda tivesse tempo, acariciar as mãos da esposa e pedir-lhe, com jeitinho, que cantasse o Hino do Benfica. Não a dormir, mas depois disto:



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Coisas incómodas que fazemos por esquecer

1. O Benfica está de rastos fisicamente - o que era totalmente previsível, menos para os tontinhos do "apoio". 

2. Com um plantel já de si desequilibrado e sem opções, o que faz a Direcção do Benfica em Janeiro? Retira a Jesus Bruno César e Nolito. Genial.

3. Os últimos jogos do campeonato - num dos quais houve um empate, mas podiam ter sido só vitórias, não é isso que importa - demonstram, A QUEM QUISER VER, as fragilidades físicas de grande parte dos jogadores do Benfica. Daqueles que têm sido utilizados constantemente por não terem alternativas reais. Repetem-se os erros, ano após ano.

4. Uns tontinhos que para aí andam a escrever banalidades dizem que as más exibições da equipa não se devem à incapacidade física. Porquê? Porque a equipa "acabou o jogo a massacrar". Recuso-me a comentar tamanha imbecilidade. Os tontinhos vão continuar a dizer até final de época que a equipa está forte fisicamente - é a única forma de não terem de justificar a incompetência de quem dirige o Benfica. E eles são óptimos na sua conveniente cegueira.

5. A única forma de sermos campeões passava pela eliminação contra o Leverkusen e a passagem do Porto aos quartos-de-final/meias-finais da Champions. Passando (como é muito possível), as probabilidades não diminuem; desaparecem por completo.

6. Quando saiu a notícia da possível exclusão do Porto da Taça da Liga, escrevi isto. Continuo à espera (e já lá vão uns anos) de saber o que faz o Benfica neste apoio inequívoco a um corrupto. Um dia todos perceberemos. Quando já for tarde.

7. Quase sem opções para as posições 6 e 8, continuamos sem recrutar à equipa B o único jogador disponível para ser alternativa a uma delas. Por mais que faça grandes jogos, marque golos e demonstre, semana após semana, que o facto de ele não ser chamado prende-se com tudo menos com critérios desportivos.