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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Benfiquistas com Voz – Bernardo Deu o Mote


Vamos aqui todos ser directos e honestos com tudo isto.

É ou não é verdade que nos últimos 15 anos criou-se uma mentalidade acrítica no Sport Lisboa e Benfica? Parece-me um facto incontestável.

Sim há pequenos focos críticos. Há alguns espaços que promovem o pensamento critico. Mas na generalidade criou-se no Benfica a mentalidade do “apoia”.

Uma grande maioria, incluindo os dirigentes e os meios de comunicação do clube (à cabeça a BTV), fomenta uma ideia de guerra, de nós contra os outros. E assim cria-se uma realidade onde os benfiquistas devem elogiar o que é seu e denegrir o que é dos rivais. O sentido critico dos benfiquistas passa a ser exclusivo dos clubes adversários.

Perdeu-se até a noção do que significa apoiar. Apoiar o clube é ignorar e/ou defender o que de errado é feito por quem nos dirige? Ou é também apontar esses erros e exigir melhorias e mudança?

Estamos a falar de um clube do qual os adeptos sempre, mas sempre mesmo, se gabaram de ser democrático ainda quando o país vivia uma ditadura. Um clube onde os adeptos sempre gabaram a pluralidade de ideias. Um clube onde os adeptos sempre apontaram o dedo aos métodos do Pinto da Costa, incluindo os seus métodos pouco democráticos de gestão.

Mas nos últimos 15 anos tudo mudou. Parece que passámos a viver mais os programas televisivos do que o próprio clube. Importante não era o representante benfiquista analisar com qualidade a actualidade do seu clube. Não. Importante era que batesse muito no adversário, fosse com verdades ou com mentiras descaradas. Quantas vezes não nos foi dito “não deviam discutir essas coisas publicamente, é dar armas aos rivais”? Quantas vezes?

No final da época não é altura de se discutir o clube. Porquê? Porque se ganhou então devemos reconhecer o mérito. Ou então porque se perdeu e não é o momento de bater mas sim de apoiar.
O arranque da época não é o momento de debater o clube. Porquê? Porque não podemos desestabilizar. Temos de apoiar para começarmos bem.
A meio da época não é o momento de debater o clube. Porquê? Pelos mesmos motivos do ponto anterior. É momento de apoiar e deixar as criticas para o final da época. Mas como já se sabe... também o final da época não é o momento para debater o clube.

Sim, esta foi a mentalidade que Luís Filipe Vieira instaurou no benfiquismo.

Os adeptos não devem ser ouvidos. Os adeptos não devem ter massa critica. Os adeptos simplesmente servem para encher o estádio e dar receitas de merchadising. O papel dos adeptos é ser fonte de receita e fonte de motivação para os atletas.

Aqueles adeptos que se atreverem a pensar o clube, a se preocuparem e a discutirem o seu clube, esses adeptos não são verdadeiros adeptos.

- Anti-benfiquistas
- Dragartos
- Vale e Azevedistas
- Velhos do Restelo
- Abutres
- Garotões
- Tachistas

Etc, etc e etc.

São demasiados os episódios em que vemos quem está no clube atacar os adeptos. Os ataques na BTV, os ataques do Pedro Guerra, os ataques no Jornal O Benfica, os ataques do José Nuno Martins, os insultos do presidente do clube, as tentativas de agressão do presidente do clube, a(s) agressão(ões) do presidente do clube e os ataques de outros membros da direcção.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” foram feitas alterações estatutárias que retiraram voz e poder aos sócios. Alguém se lembra de Manuel Damásio? Alguém se lembra de como ele saiu da presidência do Sport Lisboa e Benfica?

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” foi criado um canal de propaganda onde sócios críticos são rebaixados e até insultados.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” o vice-presidente Nuno Gaioso sentiu-se confortável o suficiente para dizer o seguinte aos sócios em plena Assembleia-Geral do clube:

- Os vossos votos não nos interessam porque vocês não percebem nada do assunto.
- O maior activo do Benfica é o presidente Luís Filipe Vieira.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” a actual direcção do Benfica conseguiu colocar os benfiquistas a ter de pagar mais 1/3 que os rivais para assistirem aos jogos da sua equipa.

Sob o lema “O Benfica é dos sócios” esta direcção dirigida por Luís Filipe Vieira tentou utilizar o dinheiro do clube para garantir as suas reformas e encher os bolsos dos seus amigos e companheiros de negócios, numa OPA totalmente escandalosa – desde os motivos apresentados, aos beneficiários e ao método de financiamento.

Esta direcção comporta-se há mais de 15 anos como se o Benfica fosse deles, deles dirigentes. E não dos sócios. E os sócios permitem isso. Permitem isso porque permitem não ter voz. Permitem isso porque agem como agentes de censura desta direcção. Permitem isso porque permitem que não se discuta o clube.

Vamos ter eleições em Outubro. Ainda não começou a campanha eleitoral. E o que já vemos por esta internet fora? Propagação de mentiras, de fake news, sobre os vários candidatos. A máquina de propaganda de Vieira – Hugo Gil e companhias – já anda a montar o seu pequeno espectáculo.

Nos últimos 5 dias são as mais variadas informações com que me deparo sobre os candidatos. E quando questiono as pessoas que vejo partilhar essas informações sobre as mesmas elas nunca têm a fonte da sua informação, nunca têm o sustento. Leram por aí. Afirmam que num canal a figura X disse Y. Afirmam com convicção. Mas quando questionadas se viram tal afirmação... não viram.

E foi nisto que Vieira transformou a democracia do Benfica. Qualquer opositor irá ser enxovalhado na praça pública e quase sempre com mentiras. Irá ser insultado. Irá ser conotado ao Porto ou ao Vale e Azevedo. Serão sempre aventureiros que nunca fizeram nada pelo Benfica e agora querem vir retirar dividendos do trabalho da actual direcção.

Muitos adeptos com este discurso nem sequer se apercebem que andam tão perdidos nessa narrativa que acabam por apelar ao fim das eleições no clube, ao fim da Democracia do Benfica.

Se ninguém se deveria poder candidatar. Se ninguém poderia sequer poder criticar. Então isto é o quê?

E como sempre temos a BTV a tomar a opção de não realizar debates, de não participar no processo eleitoral.

Como é que os benfiquistas aceitam isto? Como é que se aceita que a televisão de um clube paga pelos adeptos do clube, simplesmente ignore o acto eleitoral? As eleições de um clube não são um momento crucial da sua existência? Então como pode o canal do clube se fechar às mesmas?

Chega a altura das eleições e a BTV fecha a discussão do clube. Corta um espaço de divulgação do clube. O canal do clube promove a não pluralidade de ideias, o pensamento anti-democrático, a não discussão do clube, o não viver o clube. O canal do clube fecha as portas e as janelas aos seus adeptos. Afasta os benfiquistas das decisões da vida do clube. Mais uma vez, tira voz aos benfiquistas.

Já sabemos que Vieira não debate. À imagem de Pinto da Costa. Estratégia que aprendeu com o seu mentor. Vieira só dá entrevistas, entrevistas controladas. Entrevistas bajuladoras. Entrevistas onde possa exercer o seu monólogo sem contradição. Porque Vieira não aceita o sentido critico no Benfica, não aceita ser contrariado. Vieira não aceita debater o Benfica e o seu trabalho. Mais uma vez, corta a voz, corta a discussão, corta o pensamento e a análise critica aos benfiquistas. Vieira esconde-se para não se expor. Vieira esconde-se para não colocar o seu poder em cheque.

E os benfiquistas vão continuar a aceitar isto?





terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Ética, Honestidade, Respeito, Solidariedade, Desportivismo – Valores Fundadores sem “mas”

Não quero me prolongar ao longo da semana a falar sobre o assunto. Mas hoje, só hoje, terei de voltar a ele.
Um jogador de futebol abandonou o relvado no decorrer de um jogo. Um episódio triste que trouxe consigo muitos outros que não consigo que me sejam indiferentes.

O Futebol em Portugal já há muito tempo que não é paixão. Aqueles valores de desportivismo, solidariedade e até de rivalidade são cada vez mais raros neste desporto cada vez mais movido a ódios.
Perante um ódio racial, algo impensável numa sociedade como a nossa e mais especificamente no contexto desportivo, o que vemos são vozes de outros ódios levantarem-se. São ódios combatidos e alimentados por mais ódios e ódios e mais ódios.
E enquanto cidadão, enquanto amante do Jogo e enquanto benfiquista, não posso não dizer nada enquanto vejo outros falharem constantemente com o seu dever de cidadãos.

Quem temos a relativizar o caso são, na sua minoria, adeptos do Vitória Sport Clube – os prevaricadores – e, na sua maioria, adeptos do Sport Lisboa Benfica – porque a vítima foi um jogador equipado com a camisola do Futebol Clube do Porto. E ao contrário seria igual. 
Mas atenção, isto não é demonstração do que são os adeptos benfiquistas. Não. Isto é demonstração do que são os adeptos do nosso futebol. Vivem de guerras.

Como é possível que tanta mas tanta gente se tenha apressado a transformar este incidente num Benfica-Porto? Como?

Um atleta abandou um jogo, uma competição, enquanto este decorria devido a insultos racistas. Já aconteceu lá fora e cá dentro a crítica foi unanime. Agora acontece cá dentro e é o que vemos.
Relativiza-se o caso, desvaloriza-se a situação, porque outros jogadores – das suas cores clubísticas – foram também em tempos alvos de insultos racistas. Desvaloriza-se porque adeptos rivais insultam os das nossas cores clubísticas. “No pasa nada” porque adeptos de azul e branco já foram multados por racismo.
E isto é só mesquinho. O que esta gente não entende é que não está em causa o Porto, não está em causa o resultado desportivo, não está em causa os adeptos e dirigentes portistas. Está em causa sim um atleta que sentiu necessidade de abandonar o terreno do jogo.

O Vitória Sport Clube não é um clube racista. Os seus dirigentes não se cansam de o dizer. O facto de um conjunto de idiotas terem tido um comportamento racista isso não personaliza o próprio clube. O que vincula o clube são as suas acções e o Vitória Sport Clube como um clube não racista, como clube interessado no combate ao racismo, só terá um caminho: Ajudar as autoridades a identificar os prevaricadores e agir disciplinarmente contra os mesmos. Quando os adeptos falham aos valores do clube cabe também ao clube agir em conformidade.

Agora quatro pontos que me sinto obrigado a responder depois de tudo o que vi escrito:

1. Prévios comportamentos de ódio e violência: Infelizmente o futebol vive disso. Os constantes insultos aos árbitros. Os constantes insultos aos jogadores. Os constantes insultos aos adeptos adversários. Uma cultura que está enraizada no adepto de futebol. É a cultura do “Filho da Puta” quando um guarda-redes bate um pontapé de baliza. É tudo condenável mas ninguém quer saber. Como ainda mais condenável são os actos de violência que todas as semanas acontecem ao redor dos jogos. Tudo isto deve ser condenado no momento e nunca mais esquecido. Agora, nada disto deve servir como desculpa nem como arma de arremesso para casos futuros. A bola de neve da ignorância não pode rolar infinitamente num “o que vem deles é condenável e o que é nosso é desculpável”.
Por mais chocante que seja a imagem do adepto do Benfica a sangrar no autocarro, alguém me consegue explicar porque tem essa imagem de andar a ser atirada contra este caso Marega? Uma pessoa foi violentamente agredida. Outra pessoa foi alvo de insultos racistas. Uma coisa justifica a outra? Uma coisa suaviza a outra? Um idiota de um adepto portista atirou uma pedra contra um adepto benfiquista. Um atleta do Porto foi insultado, com base na cor da sua pele, por adeptos do Vitória de Guimarães. Onde está a relação dos dois casos? Uns idiotas da claque do Porto fizeram um cântico deplorável sobre o avião da Chapecoense. Que tem o atleta Marega a ver com isso? Que tem a cor da sua pela a ver com isso?
Não há ódios bons e ódios maus. Não há espaço para irresponsabilidades. E todos aqueles que desvalorizam este caso, tal como todos aqueles que vão sempre desvalorizando tudo o que é feito pelos da sua cor clubística, são uns irresponsáveis incapazes de assumir os seus deveres cívicos. 
Repito. Isto não é sobre o FCP. Não é sobre o Pinto da Costa. Nem sobre o Jota Marques. Não é sobre os Superdragões e não é sobre o Sérgio Conceição. Isto nada tem a ver com as pessoas que vivem e gravitam naquele clube. Isto nada tem a ver com aqueles que sistematicamente atacam o Benfica. Nada. Vocês estão a fazê-lo ser, mas não é. Isto é sobre um jogador que teve de abandonar o relvado no decorrer de um jogo. Nada tem a ver com o vosso inimigo nem com as vossa guerras.

2. Política e hipocrisia: Sim há muita hipocrisia no Futebol e na política. De todos os clubes e políticos que se manifestaram quantos não o fizeram só para ficar bem na fotografia? Quantos irão realmente fazer algo sério para mudar o estado lastimável em que está o futebol português? Poucos ou nenhum. Sim é verdade. Mas hipocrisia também é alguém auto-intitular-se contra o racismo e contra a violência mas depois fazer as suas condenações variar consoante a cor clubística.

3. Reacção do Sport Lisboa e Benfica: Este foi um dos temas que também surgiu em debate. Como aconteceu com um atleta do Porto, então o Sport Lisboa e Benfica nem tinha de se pronunciar. Na verdade, foi o longo silêncio do clube que levou a esta teoria. Quem achou que o clube não tinha de se pronunciar fê-lo porque o clube simplesmente ainda não tinha reagido. É a regra simples da clubite - tudo o que é feito no nosso clube é de apoiar. Cada posição invertida e contraditória é de concordar.
Claro que o Sport Lisboa e Benfica ia e tinha de reagir. Há o lado político e há a imagem do clube. Um acontecimento de racismo no campeonato português, com todos os canais e jornais a falar do assunto, com os media internacionais e os políticos portugueses a abordar a situação, como poderia o maior e mais representativo clube de Portugal não dizer nada? Ainda para mais até os silêncios comunicam e a mensagem que esse passaria era de uma enorme falta de cultura desportiva e social.

Portanto sim o clube tinha de reagir e reagiu. E sim o clube tinha de condenar os acontecimentos no Afonso Henriques e... não o fez.
Faltou decência a quem lidera o Sport Lisboa e Benfica para fugir ao estúpido Benfica-Porto já criado por vários dos seus adeptos e até por produtos da sua comunicação - Hugo Gil e Boaventura por exemplo. Um vídeo genérico, reciclado e nem uma palavra sobre os acontecimentos em questão. Nem uma palavra de solidariedade para com o atleta. 
E foi nisto que estes dirigentes transformaram o Sport Lisboa e Benfica. Estes dirigentes que trouxeram para o clube hábitos e culturas de outros tempos e de outros clubes e que fortemente as têm enraizado dentro do benfiquismo.

“O Sport Lisboa e Benfica repudia veementemente os actos de racismo verificados hoje no jogo do Vitória SC – FC Porto. O clube solidariza-se com o atleta Moussa Marega e disponibiliza-se para de uma vez por todas se tomarem medidas que permitam criar um futebol saudável para todos, independe da sua cor clubística e principalmente da sua cor de pele.” 
Tão tão simples.

4. Ser benfiquista: Claro que depois também surgiram as normais acusações de falta de benfiquismo. É o “ou estás contra eles ou estás contra nós”. Para estas pessoas ser benfiquista é odiar tudo o que tenha a ver com o Porto ou com o Sporting. Ser benfiquista é querer que a equipa ganhe seja por que meios for. Ser benfiquista é defender os criminosos de vermelho e branco e atacar qualquer um, criminoso ou não, de azul ou verde.
A todos vocês que fazem do benfiquismo algo tão perverso só vos posso dizer que isso não é benfiquismo, isso é pura idiotice.
Não entro em medições de benfiquismo. A própria definição de “ser benfiquista” é muito ampla. Para mim tem bases que não podem nunca ser abaladas. Para mim benfiquismo é algo que está alicerçado em duas vertentes: Vitória e Valores. Assim vejo o benfiquismo como um querer que o clube vença sempre mas sempre e somente sendo fiel aos seus valores fundadores.
Ontem li gente defender que o Benfica tem é de ganhar jogos e não se preocupar com questões sociais. Li gente dizer que o Benfica tem de ganhar seja como for e porque meios for. 
Era eu bem mais novo quando via Pinto da Costa criar uma máfia de poder para beneficiar o FCP garantindo-lhes vitórias com muito jogo sujo. Para meu espanto, perante tão evidente conspurcação da competição, via os adeptos portistas assobiarem para o lado. Só lhes interessava ganhar. E para meu orgulho via os adeptos benfiquistas recusarem algum dia ganhar daquela forma. “Somos diferentes” dizíamos todos. Poucos anos depois percebi o quanto eram frágeis essas convicções. E hoje em dia é vermos a quantidade de benfiquistas que defendem que importante é ganhar, não importa como.
Ignorar os valores que criaram e fizeram crescer este clube para mim nunca será benfiquismo. Lutar constantemente contra quem coloca os valores do clube em causa, sejam rivais ou dirigentes do próprio clube, é para mim, e sempre será, a obrigação de qualquer benfiquista.

Portugal não é um país racista. Contudo isso não significa que não exista racismo em Portugal. Existe. É histórico e arrasta-se por gerações.

Hoje em dia podemos até debater sobre o que é racismo e se só existe num sentido. Muito do que a sociedade vê como sendo racismo não o é. São exageros, são hipocrisias, são posturas de u, politicamente correcto. O que não invalida a sua existência e o seu histórico. Nós das novas gerações não vivemos os piores momentos deste flagelo. Nós deste país à beira mar plantado não temos total noção das repercussões do racismo. Nós caucasianos deste Portugal percebemos a sociedade actual mas não entendemos a dor que muitos de outra cor e de outra nacionalidade trazem consigo. Não entendemos e muitos de nós nem tentamos respeitar.

Existe racismo nos dois sentidos? Existe. Contudo são de gravidades diferentes. E isso não há como negar. Não é possível apagar o histórico, a dor e a selvajaria que tanto marcou a humanidade. Não ver isso é querer ser cego em proveito próprio.

É verdade que tal como muitos têm repetido, o que se sucedeu ao Marega não é um caso único. Não é um caso único em Portugal. Não é um caso único num estádio de futebol. Mas apesar de muitos agirem como se isso desvalorizasse o sucedido, a verdade é que só lhe dá ainda mais importância. É por não ser único que urge ainda mais agir. É por não ser único que não podemos continuar todos a assobiar para o lado. O vosso argumento, mesmo que se recusem a o admitir, é somente baseado em clubite. Esqueçam isso. Sejam melhores.

A arte do insulto é uma constante no mundo do futebol. Todos os jogadores e adeptos estão sujeitos e habituados ao insulto. Infelizmente é verdade. Chama-se filho da puta a um jogador e corrupto a um árbitro como se diz olá a um conhecido. É inadmissível mas é verdade. Contudo esta verdade em nada se contextualiza no mundo do preconceito pela cor da pele. Não misturem coisas que não podem ser misturadas. Há insultos gerais, insultos para todos. E depois há os insultos que só visam aqueles de raça negra. E se um caso é pura falta de educação o outro é já descriminação. Determinadas ofensas e determinados ruídos só se fazem na direcção dos jogadores negros. E é neles que vivem essas memórias que despoletam dores do passado, vergonhas de uma história não há muito tempo escrita. E isso tem de ser totalmente irradiado.

Moussa Marega resolveu abandonar o terreno de jogo. Isto é o que torna esta situação diferente. É um mote. Um mote que deve ser seguido. Este exemplo deverá ser seguido por todos os jogadores que sofrerem insultos racistas durante um jogo de futebol. E quando todos começarem a seguir o exemplo de Moussa Marega, quando colegas e adversários tomarem a mesma atitude, aí finalmente teremos políticos e dirigentes, aí finalmente teremos todos vocês odiadores, a mudar drasticamente a sua passividade e a melhorar o desporto e a sociedade nacional.

Há valores que ou temos ou não temos. Não existe meio termo. Existe fingir que temos. Isso existe. Não podemos ser pessoas dignas às vezes. Não podemos ser honrados mas só quando dá jeito. Não podemos ser éticos mas só quando saímos beneficiados. 
Aqueles valores que todos aparecem a defender são valores que se vivem e não que se repetem em frases ocas. Ser absolutamente contra o racismo é ser absolutamente contra o racismo. Não é dizer que se é e depois colocar um “mas” à frente. Não há “mas”. É no “mas” que vocês se perdem.

Existe racismo em Portugal. Existe racismo no desporto. Existe preconceito à cor da pele. E neste futebol podre, de dirigismo podre e de adeptos que nada gostam do jogo, existe um enorme racismo clubístico. 

Agora deixo a palavra para os nossos políticos, para os nossos dirigentes e para os nossos ministros. 

Façam acontecer.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Os Nossos Ferem-nos e os Outros Aproveitam-se


O que se está a passar no nosso Benfica é vergonhoso. Aliás, há anos que o é.

Esta pessoas que andam no futebol acham que nada lhes toca. Que o Futebol é um mundo à parte.

E até parece ser. Porque o cidadão João não é a mesma pessoa que o adepto João. A cidadã Maria não é a mesma pessoa que a adepta Maria.

No Futebol onde deveriam imperar os mais altos valores de desportivismo, respeito, solidariedade e camaradagem, neste mundo olhado e seguido por milhões e que devia ser um exemplo de comportamento para todas as crianças, é onde todos largam toda a educação e valores segundo os quais cresceram.

O que importa são as cores. As cores definem quem é o bom e quem é o mau. Não são os seus comportamentos. Não é a pessoa em si.
Se é da nossa cor é dos nossos. Se é dos nossos é dos bons. Se não é dos nossos é dos maus.


O futebol português é uma guerra de clubites onde os cidadãos se estragam, os clubes se arruínam, as pessoas se magoam e os dirigentes aparecem para recolher os espólios.

O sentimento de impunidade que existe nos clubes é alimentado pela existência de milhares de adeptos que vivem mais a guerra de clubes do que o desporto em si.

Os adeptos largam dos seus valores, da sua cidadania, dos valores que fundaram o clube, para darem a cara por um dirigente sobre quem nada sabem, para se sacrificarem por alguém que os usa como escudo em proveito próprio e que não se coíbe de lhes mentir, manipular e enganar.

O que se passa dentro do Benfica é vergonhoso, foi permitido e motivado pelos seus adeptos e assim o continuará a ser.

Porque ao adepto benfiquista importa mais o Porto e o Sporting do que o próprio Benfica. Tal como acontece em todos os outros clubes.


Somos gente que não percebe que quem faz mal ao nosso clube é quem lá anda dentro. Os nossos dirigentes ferem-nos e os nossos rivais desfrutam dessas feridas.

Vamos continuar todos a ser intoxicados pela comunicação oficial e oficiosa da Direcção do nosso clube? Vamos continuar a assobiar para o lado? A permitir que lesem o clube que amamos? A permitir que nos enganem?

O futebol irá melhorar quando os adeptos deixarem de estar de costas para o seu clube. Passamos tanto tempo a apontar o dedo e a olhar para os outros que não nos apercebemos que entretanto virámos as costas ao nosso amor.

Os benfiquistas têm de resolver o problema que têm em casa. Todos estes processos e suspeições têm de ser analisados, visados e valorizados pelos benfiquistas. Estamos a falar da nossa casa.

Os sportinguistas têm de lidar e enfrentar o que o antigo presidente deles lhes fez e o que o processo Cashball indicia.

Os portistas já há muito deveriam ter reconhecido o que se passou na altura do Apito Dourado e retirado consequências disso.

Mas todos, todos sem excepção, só se preocupam com a casa dos outros, bem manipulados pela comunicação criminosa dos seus dirigentes.

Hoje a Comunicação de um clube serve apenas um propósito: Alimentar os seus adeptos com mentiras para que estes travem as guerras dos dirigentes e ocultem o que de grave vai na sua casa.

Em todos os clubes os adeptos invocam ser Diferentes. Constantes frases do género “Se acontecesse no meu clube agiríamos de forma totalmente diferente”. Mas depois todos agem de forma igual. Todos.

O Ministério Público avançou com uma acusação gravíssima contra o nosso clube - o E-Toupeira.
Qual a reacção de muitos e muitos adeptos benfiquistas?

Uns falaram sobre o sorteio da Liga sem realmente estarem interessados em saber a verdade sobre o assunto.

Outros desataram a reproduzir algo que um candidato à presidência do Sporting disse. Reproduzir e deturpar.

Outros irão falar do penalty mal assinalado por falta do Yebda sobre o Lisandro.

Incomoda demasiado. Dói demasiado. Envergonha demasiado lidarmos com os nossos problemas. E tudo continuará esta merda. E o Benfica continuará sem ser defendido. E todos continuarão a ser iguais.

E não, não é verdade que tomos somos inocentes até prova em contrário.

Somos de um clube num país onde mais de metade da população veste a nossa camisola.
Temos uma Direcção que ao longo destes anos tem promovido as boas e próximas relações com várias pessoas e cargos de poder.
Temos um presidente que é o maior apoiante do presidente da Federação, tal como andou a segurar o guarda-chuva ao Oliveira.


E o que dizemos? Contra tudo e contra todos.

Os rivais estão contra nós.
Os restantes adversários estão contra nós.
A Liga está contra nós.
A Federação está contra nós.
A PJ está contra nós.
O Ministério Público está contra nós.
O Governo está contra nós.
Os Tribunais estão contra nós.
A Constituição está contra nós.
A Uefa está contra nós.
A FIFA está contra nós.
A UNICEF está contra nós.
Os Direitos Humanos estão contra nós.
O Vaticano está contra nós.

Está tudo contra nós.


“Contra tudo e todos” – Diz o adepto benfiquista e também o sportinguista e também o portista. Dizem todos.
Não somos diferentes. Pelo menos não o demonstramos.

Preocupemo-nos em cuidar da nossa casa, em curar as nossas ferias e em respeitar o nosso clube. Quando o fizermos os nossos rivais não terão sangue nosso para chafurdar.

Aí sim seremos superiores. Seremos melhores. Seremos novamente Gloriosos.

Esta acusação do MP envergonha qualquer ponta de benfiquismo.

No Benfica que eu sonhava enquanto criança não havia lugar a situações destas e muitos menos a tamanho desinteresse dos seus adeptos.


Eu enquanto aluno que fui, trabalhador que sou, cidadão deste país e do mundo, adepto e sócio deste clube que amo e pai que pretendo vir a ser, não posso nunca ser cúmplice deste tipo de trampa só porque é cometida por gente que se esconde por detrás das cores que eu envergo.

Não há cimento, não há vitórias e não há chavões que se sobreponham ao Sport Lisboa e Benfica.

E por aqui me fico.



terça-feira, 6 de março de 2018

Seriedade

Desde há muitos anos a esta parte, com maior ou menor disponibilidade laboral e pessoal para expressar as minhas ideias, que uma das batalhas que venho travando é a luta pela existência de um conjunto de figuras idóneas, sérias e honestas a dirigir os destinos do Sport Lisboa e Benfica. E se em várias ocasiões não me coibi de apontar o dedo a Luís Filipe Vieira e à trupe da qual se rodeou, foi precisamente por não confundir quem está a servir (ou a servir-se) (d)o Benfica daquilo que é a matriz e os valores do maior clube português.

E se a presunção de inocência é um direito importante que assiste a todos os indivíduos, não é por existir que nos devemos esconder atrás dela para não analisar criticamente os indícios preocupantes de actividades ilícitas praticadas por este conjunto de pessoas pouco recomendáveis que dirigem o Sport Lisboa e Benfica. Infelizmente, é mesmo assim: o Benfica é dirigido por um grupo de pessoas pouco recomendáveis, em nada melhores ou moralmente superiores aos dirigentes de Sporting ou FC Porto.

O Benfica, o meu Benfica, não é e não pode ser o refúgio ou protecção para a prática de actos ilegais. Que sejam investigados até ao tutano. E que se forem culpados, que seja a Justiça a fazer aquilo que os adeptos do Benfica já deviam ter feito há muito tempo: correr com esta gente que arrasta o nome do Benfica para a lama.

domingo, 3 de setembro de 2017

Não-Competitividade Cultural

O tema da falta de competitividade do campeonato português não é novo e nem sequer é uma inovação do Manuel Machado.

As condições que o treinador do Moreirense tem para trabalhar a sua equipa são tremendamente inferiores às que Rui Vitória tem no Benfica?
São. Daí existir a designação “Clubes Grandes”.

Isto nem sequer é uma peculiaridade portuguesa.

Qualquer campeonato tem este crescente fosso entre os Grandes e os não-Grandes.

As notas do Monopoly são usadas no futebol com mais entusiasmo do que pelas crianças em frente ao tabuleiro. O petróleo inundou os relvados. Os mercados asiáticos, norte-americanos e árabes são cada vez mais uma realidade, mas só para alguns, para os mais conceituados - os chamados “Grandes”.

O que temos em Portugal é um desnivelamento feito por baixo.

Um clube com um orçamento de 2M tem mais dificuldades em competir com um de 80M do que um clube com orçamento de 40M tem com um de 300 ou 400M.

Claro que o Manuel Machado fala porque perde (e perde muito).

Fala porque anda há anos nisto e ainda não conseguiu convencer ninguém. Fala porque apesar de ser o único treinador em Portugal que teve a tão reclamada “estabilidade para trabalhar” conseguiu colocar a sua equipa no caminho da despromoção.
O Manuel Machado fala porque não consegue ganhar um jogo com a equipa que na época passada conquistou a Taça da Liga após eliminar tanto o Porto como o Benfica e como o Braga.

O Manuel Machado não consegue chegar a um Grande e isso, naturalmente, expõe a ferida aberta.

O campeonato português é competitivo? Sim e não. É competitivo em grupos. Não é competitivo no global.

Há competitividade entre os três grandes. Há competitividade entre os restantes do top 10. Há competitividade na região da linha de água.

Não acredito que alguma vez isto mude. Não me consigo convencer que alguma vez iremos ver o 4º a menos de 10pts do campeão. Não acredito que poderá haver um campeonato em que os Grandes escorreguem em pelo menos 1/3 dos jogos.

É uma questão cultural. Neste país não há espaço para diminuir o desequilíbrio entres os clubes. Faz parte das raízes deste Portugal.

Antes de falarmos em dinheiro temos de falar em adeptos. A massa adepta de um clube é a questão fulcral e muitos dirigentes parece que não o percebem.

A maior fonte financeira de um clube não é um negócio pontual que faça, não é uma venda, um empréstimo nem um favor.

A entrada externa de dinheiro só vem colmatar as carências mais visíveis e no imediato. Não resolve nada. Não cria nada.

Um clube não é pequeno ou Grande consoante a sua capacidade financeira.

Dinheiro e títulos são uma consequência da sua grandeza.

Os Grandes são-no pelos milhões de pessoas que fazem vibrar. Os Grandes são Grandes porque os seus adeptos os elevam.

O Benfica é o Maior não porque ganha mais, não porque vende mais, mas porque é aquele que mais mexe com o país – A maioria de Portugal canta de vermelho e branco.

A falta de competitividade no nosso Futebol é só um reflexo desta questão cultural. É muito residual o número de adeptos dos não-Grandes.

Quem tem mais adeptos enche mais os estádios, consegue melhores acordos publicitários, faz mais receitas com merchandising, tem maior influência na comunicação social e também nos órgãos de decisão.

São os adeptos que mandam no futebol porque são os adeptos que o financiam. 

Um clube sem expressão nunca irá ter voz na Liga. Terá sempre de se fazer representar pelo Grande de vermelho, verde ou azul.

Apesar de estar convencido que nunca iremos ter grandes mudanças neste paradigma cultural, fui chamado à atenção, por outro escriba aqui do tasco, para o exemplo do Braga.

O improvável não é impossível. Tornar o improvável realidade exigiria uma competência e dedicação dos dirigentes portugueses que não lhes reconheço.

É crucial um clube conhecer a sua localidade. Conhecer e ser reconhecido.
O regionalismo só é antiquado quando já foi esgotado. É o primeiro passo para o crescimento de um clube.

Um Vitória de Setúbal nunca vai mover paixões em Bragança se primeiro não conquistar o coração do Bonfim.

Um clube não pode nunca abdicar da sua localidade nem da sua história. Para entusiasmar aqueles que o podem sentir, tem de viver onde está e o que já foi.

O Futebol é acima de tudo um desporto de paixões, recordações, nostalgia e emoções.

Nem há uma necessidade clara de roubar adeptos aos Grandes. Há muita gente que não liga à bola. É gente que não se importa com a redondinha mas que pode vibrar com a sua região e com a emoção de memórias que consigo são partilhadas.
Seriam aqueles adeptos que antes de se apaixonarem pelo jogo se apaixonariam pelo clube.

O Vitória de Guimarães é aquele que mais se aproxima dos Grandes.
Já tem a base adepta e se for bem dirigido tem todas as condições para consolidar algum sucesso desportivo: cativo no top 7 da Liga, participações na Liga Europa, competir esporadicamente pelo top 3 e disputa anual por um lugar na Final de uma das taças.
É crucial que o clube se saiba fazer valer pelos seus afiliados.

O Braga já é um exemplo diferente. É um clube que foi primorosamente conduzido pelos seus dirigentes. Perceberam o clube, exploraram o seu contexto e alcançaram tudo – Adeptos, Sucesso Desportivo e Euros.
O que falta ao Braga é continuidade. Necessita fidelizar uma maior falange de seguidores.
Há fome de sucessos na Pedreira. O António Salvador soube elevar o clube mas não mostra capacidade para dar o salto necessário. Neste momento o clube carece de um projecto desportivo e as anuais trocas de treinadores têm travado a sua afirmação como 4º Grande.

Há outros clubes pelo território nacional que podem ganhar uma voz.
Darei só alguns exemplos.

Chaves, Marítimo e Farense são clube com todas as condições para trabalharem a região de modo a crescerem com o apoio dos seus.
Sei bem as dificuldades que o Farense enfrenta mas o Algarve é um vasto terreno que pode ser conquistado. Não sendo pelo Farense que seja pelo Olhanense. Ou então pelo agora promovido Portimonense.

Boavista, Leixões, Belenenses, Académica e Setúbal. Clubes que têm história no futebol português.
São clubes que podem e precisam despertar os sentimentos daqueles que de algum modo já vibraram com os seus feitos.
Aqui os dirigentes têm de ser contadores de histórias. O presidente deve criar uma epopeia de memórias estoicamente declamada ao coração do povo.

Os clubes têm de se fazer sentir!

Já o Rio Ave é um exemplo de competência por excelência. Clube super bem dirigido mas sem nenhuma das matérias primas crucias para fazer crescer a sua influência demográfica. Um clube equilibrado, sem grandeza mas com total competência. Está no limite do seu potencial e isso denuncia não só o trabalho feito nos Arcos como também as limitações do clube.

Vivemos num Futebol onde só existem 3 clubes. Só se fala de três clubes. Só se noticiam 3 clubes. Só se representam 3 clubes.
Os outros têm de arranjar forma de contrariar esta tendência.

É importante os dirigentes perceberem que aqueles dezenas de milhares que conseguem em alguns bons negócios – amigáveis, patrocínios, vendas – devem ser prioritariamente investidos nos seus adeptos. Não é em jogadores nem em negociatas.
Investir na base de apoio garante retribuição a triplicar.

Aumentar a competitividade global da nossa Liga sem extraordinárias injecções de capital nos clubes menores é possível? É.

É possível mas improvável. Não acredito mas pode acontecer.

Exige competência mas acima de tudo dedicação.
Dedicação ao clube.

Não acredito mas que seria bonito seria.




domingo, 27 de agosto de 2017

No mundo dos neandertais

Calculo que estejam preocupados quanto baste com o plano desportivo do Benfica. Ou talvez sejam dos mais indulgentes e nada do que se está a passar mereça alarido. A mim, moderadamente pessimista, as minhas preocupações transportam-me ao que se passou este fim-de-semana em Paços de Ferreira.

Durante o intervalo do jogo que opôs Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães, dois adeptos do Benfica, avô e neto, que se deslocaram com as cores e símbolos do seu clube à Mata Real para ver o jogo na bancada central, foram publicamente denunciados pelos adeptos vitorianos pelo "delito clubístico" e subsequentemente expulsos sob coacção verbal e física por parte dos adeptos pacences.

Pergunto-me se é este o futebol que queremos. Se queremos um futebol onde grunhos expulsam famílias. Onde a intimidação vence a ordem pública. Onde as forças de autoridade não actuam e as entidades responsáveis pela organização das provas não castigam. Onde a comunicação social não denuncia este tipo de atitudes (numa pesquisa rápida, apenas o MaisFutebol deu destaque a este triste episódio).

Se já é suficientemente selvático o que se verifica quando um adepto do Sporting ou Porto leva camisola ou cachecol do seu clube para a Luz (e o mesmo se aplica quando um adepto do Benfica leva símbolos do seu clube a Alvalade ou Dragão), é ainda mais incompreensível o que se passou ontem na Mata Real, com dois clubes com os quais o Benfica não tem qualquer rivalidade. Que as autoridades sejam céleres a multar e punir os infractores. Sob pena que os neandertais tomem conta das bancadas.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Como melhorar e tornar mais justa a venda de bilhetes para os jogos fora?

À medida que a época se aproxima do seu epílogo, cresce o interesse dos adeptos do Benfica em conseguir bilhetes para as deslocações aos campos dos adversários. É grande a vontade de fazer parte do mar vermelho, de assistir in loco à caminhada para a conquista de um campeonato e, quem sabe, festejá-lo até de forma mais ou menos inesperada. Para evitar as confusões já verificadas em anos anteriores, para que não se repitam as tristes cenas ocorridas aquando da venda de bilhetes para o último derby em Alvalade, proponho três mudanças/modelos de venda de bilhetes que pretendem tornar a venda mais ordeira e mais justa.

1. Presença de elementos da segurança do Estádio da Luz para controlo das filas. Com os vários episódios de confusão, com autênticos cenários medievais no que à formação de filas e respeito pelas mesmas diz respeito, a Direcção do Benfica já deveria ter destacado os elementos que fazem a segurança do complexo da Luz para manterem a ordem nas filas. Em última análise, a venda de bilhetes decorre dentro do espaço pertencente ao Sport Lisboa e Benfica, pelo que assegurar o bom funcionamento e o cumprimento das regras nesse mesmo espaço deveria ser uma preocupação dos dirigentes do clube.

2. Venda de acordo com o número de anos de filiação. Da mesma forma que os adeptos com mais anos de associados têm direito a mais votos, o número de anos de filiação também poderia permitir prioridade na aquisição dos bilhetes fora. Seria uma recompensa pelo número de anos dedicado ao pagamento de quotas. Assim, a título de exemplo, poderia existir um escalonamento com prioridade de aquisição aos sócios com mais de 20 anos de filiação, seguindo-se os de 15-19 anos de associado, os de 10-14 anos de ligação, 5-9 anos e por fim menos de 5 anos.

3. Número de jogos assistidos fora. Uma forma de premiar os adeptos mais fiéis, que acompanharam persistentemente a equipa ao longo da temporada, seria dar-lhes prioridade na aquisição de bilhetes. Deste modo, sócios com 10 ou mais jogos assistidos fora teriam prioridade, seguindo-se os que foram a 5-9, 3-4 e por fim menos de 3.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Doentio

Na antecâmara do derby, fora das quatro-linhas, faleceu uma pessoa vítima de atropelamento na sequência de uma rixa entre adeptos de Benfica e Sporting supostamente afectos a claques dos respectivos clubes. Penso que importa analisar este caso não só pelo facto de ter ocorrido um homicídio mas também pelo aproveitamento do mesmo que adeptos e dirigentes têm tentado tirar para branquear épocas de insucesso, desculpabilizar culpados e para demonstrar o que não são.

O falecido, que me custa catalogar como sendo adepto de futebol, era afecto à Fiorentina e com ligações às claques do Sporting. Ter-se-á deslocado a Portugal para "viver" o clássico juntamente com um grupo de adeptos organizados do Sporting (alguém sabe se iria sequer ao jogo?) à sua maneira. E é nesta estranha forma de vida que gostaria de reflectir um pouco: o que estariam os adeptos do Sporting a fazer naquele local, àquelas horas, na véspera de um derby? Não foram seguramente ver as vistas, passear com as famílias nem terminar faixas, coreografias ou estandartes. Estavam ali com um de dois propósitos: vandalizar murais e infraestruturas fora ou mesmo pertencentes ao complexo da Luz ou para uma rixa previamente combinada com adeptos afectados a claques do Benfica. Se foi a primeira, a inexorável precipitação de eventos é de lamentar mas não pode nem deve surpreender ninguém, pois este é o modus operandi de uma escumalha sem ocupação independentemente se serem vermelhos, verdes ou azuis; se foi a segunda, a lamentar só mesmo não ter havido mais estropiados, uma vez que estes indivíduos que se dizem adeptos de um clube não são mais do que adeptos de uma organização que, legal ou não, serve para encapotar um conjunto de práticas que não são, de todo, legais.

E é precisamente sobre a legalização das claques que me debruço. Pese embora não ter doutoramento na matéria, gostava que claqueiros, dirigentes desportivos e governantes me explicassem quais os benefícios práticos da legalização das claques. O futebol ficou pacificado? Diminuíram os crimes de elementos dessas mesmas associações? Que se saiba, não. Uma medida sem tradução prática e que na prática não serve para mais a não ser para os "ilegais" continuarem a cometer as suas ilegalidades e os "legais" perpetrarem as mesma práticas com a suprema lata de acusarem os "ilegais" de não estarem legalizados.

E quando estas acusações se estendem aos presidentes, pior o caso fica. De Bruno de Carvalho já não se espera nada de construtivo, positivo ou digno para o futebol português. As mais recentes declarações onde, de forma abjecta, tenta tirar proveito do falecimento de alguém para atacar uma instituição como o Benfica são a prova disso mesmo. Com a agravante do triste espectáculo da entrega da coroa de flores aos membros de uma claque organizada como forma de mostrar solidariedade para com a morte do italiano, para inglês (e câmara de televisão) ver, uma vez que a mesma coroa de flores seria depositada no lixo comum no dia seguinte. Por outro lado, a postura de Luís Filipe Vieira, por aí tão elogiada, merece vários reparos, a começar pelo proteccionismo que a direcção do Benfica continua a dar aos adeptos das claques no que à aquisição de bilhetes diz respeito, como se viu aliás para o jogo de Alvalade.

Já se sabe que a justiça, no futebol português, é um conceito muito arbitrário e que reflecte essencialmente o benefício do clube de cada adepto. A pacificação do futebol nacional é um mito e uma ilusão que se encontram muito longe de ser cumpridos. Com adeptos, dirigentes clubísticos e dos organismos reguladores do futebol nacional e com governantes como estes, diria mesmo que tal será impossível. São estes os responsáveis pelo estado doentio que se vive no futebol português.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

O Circo de Pina

O espectáculo de desonestidade intelectual de José de Pina é tão constrangedor que até nos deixa a ter de concordar com Manuel Serrão: é de facto uma exibição circense de grande monta.

A verdade é que 99 por cento dos adeptos, sejam de que clube for, são iguais a José de Pina: só superam a sua idiótica paranóia nas análises aos lances em que os seus clubes são prejudicados com a sua idiótica desculpabilização nas análises aos lances em que os seus clubes são beneficiados. Nada disto é novo. Só tem mais graça porque expõe ao total ridículo um adepto do Sporting, clube cuja grande maioria de adeptos acha genuinamente estar a ser perseguida por um invisível esquadrão vindo de Saturno que estabelece contacto com os árbitros através de uma linguagem cifrada com o maldoso intuito de prejudicar os sportinguistas.

E assim começa aqui, neste exacto post, uma rábula que perdurará por muitos anos e que, sendo eu um adepto intelectualmente honesto (uma raridade, bem sabemos), sinto ser minha obrigação criar: frases sobre José de Pina em vários contextos, sempre vendo o que mais ninguém vê e nunca vendo o que toda a gente vê.

Quando José de Pina pede um BigMac, queixa-se sempre que o hambúrguer tem chocolate a mais.


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Boçalidade

A reacção da maioria dos sportinguistas à piada de Marisa Matias explica muita coisa sobre os adeptos de futebol - no Benfica ou noutro clube seria exactamente igual. O futebol é amado maioritariamente por gente demasiado doente para rir de si própria.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Não Matem o Futebol


O Futebol moderno caminha cada vez mais para o vazio emotivo.
São poucos os que ainda se permitem a comentar este desporto sem a superficialidade de visão de um Clube enquanto Empresa.

Clubes não são empresas.

Já basta termos os dirigentes, os empresários, os fundos e muitos outros profissionais a ver o Futebol como um fenómeno empresarial, os adeptos como clientes e os jogadores como activos.

Agora também os adeptos caiem nesta superficialidade. Cada vez mais parece não ser permitido ao adepto sentir e são os próprios que impões esta proibição, inspirados numa cultura que vem dos porta vozes de outros interesses.

Hoje um adepto não pode sentir uma derrota ou um mau jogo do seu clube. Não pode ficar irritado e vociferar aquilo que o chateou. Não. Hoje o adepto tem de apoiar. Tem de se controlar e apoiar. Tem de confiar no trabalho dos profissionais do Clube. Ser uma voz de descontentamento e protesto é prejudicar o clube, os dirigentes, treinadores e jogadores.
Aliás, hoje a sua equipa não joga bem ou mal. Hoje a sua equipa joga com nota artística ou de forma pragmática.

Hoje um adepto não se pode sentir traído por saídas de treinadores ou jogadores. Muito menos se forem para clubes rivais. O adepto não se pode revoltar com essas situações. Por vários motivos: porque isto é o Futebol (é?), porque o clube é maior que qualquer um (ou que todos juntos) e porque só interessa quem cá fica.
Até pode ser tudo verdade mas e o sentimento? E a emoção?

Hoje um adepto não pode idolatrar jogadores, não pode valorizar aqueles minutos futuros em que irá ver certos craques a envergar o manto sagrado do seu clube. Hoje o que importa são os milhões. Hoje não se pode idolatrar ao ponto de se afirmar "Nem por todo o dinheiro do mundo!”. Não. Hoje é tudo à base dos valores de Mercado.

Uma proposta milionário por um jogador de 31 anos? A ordem é para se vender.
Onde está a paixão? Onde está a Mística? Onde está a magia de ver aquele craque brilhar com a bola envergando o nosso manto na nossa casa? Quem sabe quantificar o valor de tudo isto? Quem consegue ignorar estes valores?

Milhões, milhões e milhões.

Nem vou discutir o modo como esses milhões entram no clube. Nem vou discutir a percentagem que entra no clube. Nem vou discutir o como 10M hoje não são o que eram há 10 anos.

Quero sim discutir outros valores, os valores desportivos e emocionais.

Não temos de aceitar nem de gostar de qualquer venda que o valor, muitas vezes ligeiramente, a justifique.

Um jovem jogador que praticamente não jogou na equipa principal é vendido por 15M. Bons números. E o resto? Além do potencial de valorização, há o desaproveitamento desportivo, há a o prazer que nos é negado de ver tal jogador evoluir no nosso clube até chegar ao Estádio da Luz e brilhar perante e para todos nós.

Um experiente jogador chega ao clube e quase imediatamente se torna ídolo das bancadas. Pela sua personalidade, pela sua classe, pela sua qualidade e pelos seus golos.
Como é que podemos chegar ao final da época e aplaudir uma possível venda fosse por 10 ou por 15M?
Só interessam os milhões?

Nunca fui fã do Jorge Jesus. Apesar disso a sua saída para o Sporting incomodou-me. Foi uma facada nos muitos milhares de benfiquistas que o idolatravam e cantavam o seu nome. Não era seu admirador mas sou benfiquista e portanto também eu senti esta facada dada a milhares.
Nenhum jogador está acima do clube. Poucos são os que se imortalizam no Benfica. Mesmo assim, se for confirmada a ida do Maxi para o Porto, irei sentir mais esta facada. E esta bem mais funda.
20 Milhões pelo Jonas é imenso. Apesar disso cito os meus colegas de blog: “Por favor não vendam o Jonas”.

Sentir e sofrer fazem parte do crescimento e fortalecimento. Andar feito barata tonta a evitar a mágoa e a mudar de opinião conforme sopra o vento, é uma futilidade que não me interessa.

O Futebol é o que é devido ao sentimento dos adeptos. Muitos dirigentes querem superficializar o Futebol. Muitos dirigentes querem ignorar a importância deste sentimento.
O adepto não pode ir nessa cantiga.

Deixem-me sentir e... Sintam porra!


domingo, 7 de dezembro de 2014

É nos valores que mais dói

A glória do glorioso nasceu, cresceu e viveu com base numa mística alimentada por vitórias e sustentada pelos valores.

Os valores são o pilar que eleva as vitórias à glória.

É nos valores que mais dói. É nos valores que mais de nós fica a nu. É nos valores que construímos o nosso carácter.

Faz-me confusão. Faz-me muita confusão.

Estamos no presente. Estamos sempre no presente. O futuro é sempre amanhã. O futuro longínquo ou o futuro breve é sempre amanhã. Nunca chega. É um espaço temporal de sonhos e inalcançável.

É fácil deixar para depois, é fácil prometer para mais logo, é fácil comprometer-nos com um espaço temporal que não o Agora. É que amanhã estamos de novo no presente, estamos novamente a fabricar o futuro, estamos em adaptação à situação perante nós e em ilusão com o que está para vir.

Faz-me muita confusão como alguém consegue viver em constante contradição. Como conseguem essas pessoas olhar-se no espelho sem peso na consciência?

São milhares de pessoas que tanto no Futebol como na Sociedade fazem hoje as suas acusações, manifestam as suas crenças e estabelecem as suas posições mas que amanhã já estão em plena contradição. Uma contradição que para elas não existe. Limpa-se o passado, vive-se o presente e aponta-se ao futuro.
Os valores são adaptados consoante os acontecimentos e intervenientes. Recorre-se à desculpabilização facciosa, pouco trabalhada e ponderada para justificar o injustificável mas que permite libertar a consciência moral de quem se ilude. A desculpa nem tem de ser boa, basta existir e ser fácil de repetir.

Hoje acusamos o rival. Hoje gabamo-nos de sermos diferentes. Hoje afirmamos que nunca compactuaríamos com tais comportamentos no nosso clube. Amanhã tudo isto muda. Amanhã é o novo presente e ontem o antigo presente, um passado que não interessa considerar.
O que ontem era verdade hoje já não é bem assim. O que hoje é verdade amanhã logo se verá.

“O nosso rival é corrupto e os seus adeptos deviam ter vergonha, temos orgulho de ser de um clube diferente que nunca segue esses caminhos!” Ontem sobre o assunto A.

“Não podemos ser anjinhos. Foi por querermos ser diferentes que nos deixámos comer todos estes anos. Temos de nos proteger a qualquer custo para ganharmos. O que interessa é a vitória.” Hoje sobre o assunto A.

“O nosso rival é corrupto e os seus adeptos deviam ter vergonha, temos orgulho de ser de um clube diferente que nunca segue esses caminhos!” Perspectiva para amanhã sobre o assunto B.

Quando esta gente se senta e faz uma retrospectiva dos seus dias, do que foram dizendo e fazendo… como não ficam com a cabeça a andar à roda? Como aceitam colocar em causa a sua integridade moral e agir contra a sua personalidade e carácter? Bem sei que nem reparam, tanta é a desculpabilização ilusória, mas mesmo assim…

É um mal social, é um mal no Futebol e infelizmente é um mal que afecta profundamente o nosso Benfica.

Perceber o presente como futuro só olhando ao passado mas para muitos só se deve olhar em frente e não viver no passado. É um fugir ao que fomos e dissemos antes, uma desresponsabilização das nossas acções e palavras e uma protecção à consciência.