Quando um pugilista entra no ringue encostado às cordas, seja física ou psicologicamente, há que arrasá-lo logo. Um murro, dois murros, chão. Knockout. Vitória para o pugilista de calção vermelho. No futebol, o combate é diferente, mas encontra semelhanças em pontos-chave. Hoje, o Benfica entrou em campo sabendo que o seu adversário estava desgastado fisicamente devido à sobrecarga de jogos e viagens nas últimas semanas (Bayern duas vezes e Marítimo para a Taça da Liga em semanas que o Benfica não jogou), agastado psicologicamente (duas eliminações em provas importantes, uma goleada histórica e partindo atrás do Benfica na única prova que pode salvar a época) e com medo do líder do campeonato, como comprovam as alterações que Lopetegui introduziu no onze do FC Porto, tornando-o de cariz substancialmente mais defensivo (Ruben Neves e Evandro por Herrera e Quaresma). Dados os sinais, o Benfica devia e podia ter entrado com a convicção que era possível encostar o adversário e terminar o combate logo ao primeiro assalto. Não o fez. E não se saiu mal.
O Benfica entrou nervoso no jogo. Jesus optou por uma solução mais cautelosa e na ausência de Salvio preferiu fechar o lado direito com um médio de características diferentes das que o habitual titular naquela posição. A vertigem de Ola John foi preterida pelos equilíbrios (teóricos) que Talisca poderia dar. A escolha saiu furada (embora ninguém possa garantir que com o holandês as coisas seriam diferentes) e o Benfica ressentiu-se [muito] da ausência de Salvio. Talvez tenha sido por aqui que o Benfica não conseguiu jogar o seu futebol. Em função disso, juntando ao nervosismo da equipa as mais que prováveis indicações do treinador, o Benfica preferiu um estilo de jogo mais directo, com bola para a frente, muitas vezes sem critério, mas sem colocar em risco a rectaguarda.
E assim o jogo tornou-se feio, com pouca história, fruto da inoperância de ambas as equipas, do pragmatismo encarnado e, a partir de certa altura da segunda parte, da falta de pernas e do desânimo dos azuis-e-brancos. Os minutos foram passando e aquela sensação de que alguma equipa poderia marcar nunca se verificou. Jogo chato, mal jogado, mas que interessava muito mais ao lado do Benfica que ao do Porto. Jackson foi o mais afoito da equipa visitante, com duas oportunidades claras de golo, mas voltou a falhar no momento da verdade, como aliás se tornou hábito sempre que joga contra o Benfica. Talisca, Pizzi (curiosamente os dois elementos com menor rendimento da formação encarnada) e Fejsa tiveram na cabeça e nos pés a oportunidade de fazer golo, mas por falta de pontaria, força e jeito respectivamente, o nulo persistiu no marcador.
Do lado dos treinadores, Jesus levou de vencida o seu homólogo espanhol. Não goleou, mas foi limpinho. Enquanto o espanhol, obrigado a ganhar, preferiu um tridente a meio-campo que não conferiu criatividade nem fluxo de jogo, Jesus, pragmático, fez as escolhas que pelo menos no plano teórico pareciam as mais correctas (Talisca em vez de Ola John no lugar de Salvio) e soube adaptar o plano conforme as incidências do jogo, com Fejsa para fechar o meio-campo em virtude do subrendimento de Talisca e Almeida para tentar ajudar Eliseu pelo lado onde o Porto tentava criar mais perigo, pela frescura e velocidade de Hernâni e pelo cartão amarelo ao açoriano do Benfica.
O Benfica jogou pouco, mas não precisava de ter jogado muito mais. A responsabilidade estava do lado do Porto. E assim, mesmo não dando um grande passo rumo à conquista do campeonato, o Benfica deu um pequeno passo que permitiu aumentar a vantagem face a um Porto que ficou parado. E pior que ficar parado, não só deixou de depender de si próprio para reconquistar o campeonato como também não lhe basta uma derrota do seu adversário directo, precisando de dois desaires. Estamos a três vitórias do bicampeonato e de quebrar em definitivo a hegemonia do Porto. Não vamos fraquejar.