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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Portugal | Tarjas do Chega retiradas. Discussão sobre OE prossegue

Notícias ao Minuto

O último dia de discussão do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) foi perturbado por uma ação de protesto do partido populista de direita radical Chega, que colocou tarjas na Assembleia da República como forma de protesto ao fim do corte de 5% dos vencimentos dos políticos.

Apesar dos pedidos de suspensão dos trabalhos, os deputados decidiram a favor da continuação dos trabalhos.

Recorde-se que, na soma dos quatro dias de votações na especialidade, foram aprovadas 243 propostas de alteração, neste OE que foi marcado por um número recorde de propostas entregues, superando as 2.100.

Para esta sexta-feira de manhã, decorre o debate das normas que os partidos decidirem avocar, seguindo-se o encerramento do processo orçamental com as intervenções dos partidos e Governo e a votação final global, que já tem viabilização garantida através da abstenção do PS.

Portugal | ELES SÃO NAZI-FASCISTAS, QUAL É A DÚVIDA?


As ações e a imagem esclarecem. Basta. Já chega! (PG)

ATAQUE DO CHEGA NA AR! ELES SÃO NAZI-FASCISTAS, qual é a dúvida dos portugueses?*

Aguiar-Branco acusa Chega de "vandalização política" do património; OE vai a votação final com mais 300 milhões de despesa

Aguiar-Branco repudia cartazes do Chega e diz que serão retirados: "É uma vandalização política"

"Não tem a ver com liberdade de expressão, mas respeito", começa por afirmar o presidente da Assembleia da República, sob os aplausos dos deputados do PSD e alguns do PS, condenando a ação da bancada do Chega, que colocou cartazes contra o fim do corte dos salários no interior e exterior do Parlamento.

Aguiar-Branco avisa que se Chega não retirar cartazes afixados no exterior serão os bombeiros a retirá-los. "Lamento, repudio e é incumprimento das regras da defesa do património nacional", insiste, sob os protestos do Chega.

Segundo o PAR, é uma "vandalização política" de São Bento, que é património nacional.André Ventura pede a palavra para sair em defesa de uma ação política para condenar o fim dos cortes dos salários imposto pela troika. "Não podemos ter OE que não aumenta pensões e aumenta o salário dos políticos. Sempre é melhor do que quando as bandeiras LGBT estavam espalhadas”, atira.

Uma vez, mais, Chega usa palavra "vergonha" e põe tarjas na varanda do Parlamento contra fim do corte nos salários dos políticos

“OE2025 aumenta salários dos políticos. Vergonha”. Foi com esta frase e a palavra que muito repete que o Chega imprimiu tarjas que colocou em quatro janelas da Assembleia da República antes da votação final global do Orçamento do Estado. 

O Orçamento do Estado para 2025 não decreta um aumento dos salários dos políticos, mas decide eliminar um corte salarial de 5% que existia desde há mais de uma década, até antes da chegada da troika ao país, nos salários dos dirigentes do Estado.

Ver Mais

Diogo Cavaleiro

Parlamento “tem de fazer uma reflexão sobre a forma como organiza o trabalho do orçamento”, diz ministro das Finanças

TIAGO MIRANDA

Joaquim Miranda Sarmento admite que o período de tempo para discussão orçamental em Portugal é inferior ao de outros países, e que o Parlamento deve analisar as normas das propostas de alteração. Documento é votado esta sexta-feira

Ler Artigo

Margarida Coutinho

Pedro Carreira Garcia

Pensões, salários dos políticos, IVA das touradas e RTP: as vitórias do Governo e da oposição no último dia de votações do Orçamento

Luís Montenegro, Miranda Sarmento e Leitão Amaro no debate sobre o Orçamento do Estado

No último dia de votações do Orçamento do Estado na especialidade, o PSD/CDS foram os partidos que conseguiram aprovar mais propostas como o descongelamento dos salários dos políticos e a redução do IVA dos bilhetes das touradas a 6%. Também o PS conseguiu fazer valer a sua proposta para os aumentos das pensões

Liliana Valente

Orçamento vai a votação final com mais €300 milhões de despesa

Depois de um processo conturbado, Pedro Nuno Santos conseguiu uma vitória no Orçamento com as pensões

José Fonseca Fernandes

Votação final global do Orçamento decorre esta sexta-feira no Parlamento. Medidas aprovadas pela oposição deverão estar no limite da margem orçamental

Eunice Lourenço

Debate encerra hoje

Depois de meses de debate público e de um mês de debate parlamentar, o Orçamento do Estado para 2025 vai hoje a votação final global. Os discursos de encerramento e a votação final estão marcados para as 10h, mas irá atrasar porque antes devem ainda ser votadas normas do OE que foram votadas ontem em comissão e que os partidos queiram ainda voltar a votar em plenário.

Uma vez aprovado, o articulado do OE ainda terá mais umas semanas de trabalho técnico para que os serviços da Comissão de Orçamento e Finanças (COF) harmonizem todas as alterações aprovadas na especialidade. Só depois de feita a redação final é que seguirá para promulgação pelo Presidente da República.

O Chega votou contra na especialidade, tal como a IL, o BE e o Livre, mas a proposta do PSD e CDS foi aprovada com a abstenção do PS e do PCP.

O partido liderado por André Ventura quis aproveitar o tema e colocou tarjas nas janelas do Parlamento, não só com a frase, mas com imagens de Luís Montenegro, primeiro-ministro e líder do PSD, e de Pedro Nuno Santos, líder socialista, com notas à sua frente. Segundo a CNN, também no corredor do Chega estiveram cartazes, já entretanto retirados.

LER MAIS EM Expresso

* Título PG

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Portugal - Odair Moniz: “Extrema-direita quer fazer dos polícias carne para canhão”

A V Conferência Nacional do Bloco de Esquerda teve início na manhã deste sábado no Porto (ver fotogaleria) e no discurso de abertura Mariana Mortágua não passou ao lado do tema que dominou a atualidade nos últimos dias, prometendo que o Bloco não descansará “enquanto houver injustiça”.

“Odair Moniz foi morto e não mereceu ainda o respeito da verdade: era um carro roubado, mentira; tinha uma faca na mão, mentira. Passou um traço contínuo, foi morto, aconteceu o que nunca podia ter acontecido”, sublinhou a coordenadora do Bloco, prometendo que “não descansamos enquanto houver injustiça” e que já este sábado o Bloco marcará presença na manifestação para exigir verdade e justiça por Odair Moniz. E fá-lo-á “porque essa é a nossa identidade. O antirracismo está inscrito no nosso código genético. Ninguém pode ser tratado como mercadoria porque somos todos a mesma gente, somos todos a nossa gente, e todos queremos liberdade”, prosseguiu.

Quanto às “provocações” da extrema-direita a propósito do tema, que já levaram o Ministério Público a abrir um inquérito por suspeitas de vários crimes a André Ventura e ao seu líder parlamentar, Mariana Mortágua diz que a intenção do Chega é “fazer dos polícias carne para canhão” e “montar-lhes uma armadilha para seu proveito eleitoral”.

“Os políticos da extrema direita incitam a polícia a disparar para matar, querem transformar agentes em criminosos enquanto se sentam confortavelmente no Parlamento e nos estúdios de televisão a criar a sua farsa. Não serão ouvidos, essa ameaça mortal não é a segurança em democracia”, sublinhou, contrapondo que “ninguém em Portugal deve viver com medo” e que “o nosso povo, merece ser unido pelo respeito e viver em paz”.

Num discurso em que o tema dominante foi a guerra e o neoliberalismo que desestruturou as sociedades e serviu de ninho à extrema-direita, Mariana Mortágua reivindicou o “projeto radical de liberdade” que é o socialismo em resposta ao momento em que “o capitalismo mostra a sua face mais selvagem e autoritária”. Um projeto que não se confunde com o dos Verdes alemães que “aceitam que se dispare sobre crianças” em Gaza, o dos liberais holandeses “que se submetem à extrema-direita” ou o dos trabalhistas ingleses que “pedem a Meloni conselhos para combater a imigração”, e que por isso fazem todos “parte da mesma política sinistra” do capitalismo atual.  Mas que também não se confunde com quem à esquerda “quer ver Putin como chefe da resistência ao mau imperialismo”, prosseguiu, pois para o Bloco “é tão imperialista o tirano que ocupa a Palestina como aquele que invade a Ucrânia, que nega a soberania de um povo e que bombardeia a sua população”.

Esquerda.net

sábado, 12 de outubro de 2024

MELONI E A FALÁCIA DE ULTRADIREITA LIGHT

Já no meio do mandato, primeira-ministra italiana preservou a democracia formal – mas desmonta direitos, aparelha a TV pública e quer mais poder com reforma política. UE normaliza seu governo — e vê sua brutalidade como referência no “controle migratório”

Jaime Bordel Gil*, em El Salto | Outras Palavras | Tradução: Rôney Rodrigues

Dois anos após a sua vitória nas eleições de 25 de setembro de 2022, Giorgia Meloni está no meio do seu mandato. O seu balanço, embora não tão transformador quanto ela gostaria, alcançou algumas conquistas importantes para a direita radical italiana. Além das mudanças que está conseguindo implementar no país, a grande vitória de Meloni até agora é ter normalizado a convivência com a extrema direita no poder.

Na Itália, esta normalização está ocorrendo há décadas, quando, na década de 90, Silvio Berlusconi confiou pela primeira vez na Liga do Norte e na Aliança Nacional para governar. Esse governo das três direitas é uma réplica daquele que hoje se encontra no Palácio Chigi. Com a diferença de que, desta vez, são os Irmãos da Itália de Meloni, herdeiros da Aliança Nacional, que lideram o Executivo como a primeira força, muito maior que a Liga de Salvini e a Força Itália do falecido Berlusconi.

Na Itália, ter a extrema direita sentada na cadeira do Executivo não é novidade. Na verdade, a própria Meloni já era ministra em 2008 – a mais jovem da história italiana – no terceiro governo de Berlusconi. Mas ainda permanecia uma instância de normalização da direita radical que nenhum outro partido tinha alcançado com tanto êxito antes: a Europa.

Embora tenham sido aceites dentro das suas fronteiras, a extrema direita sempre esteve isolada nas instituições europeias, onde muitos países continuaram a vê-los com maus olhos, apesar de participarem no Executivo italiano. A Europa também foi um assunto inacabado de Matteo Salvini quando ele coliderou o chamado “Governo Nacional-Populista” com o Movimento 5 Estrelas em 2018. Então Salvini escolheu o confronto com as instituições comunitárias e assumiu a arena internacional como um campo de batalha. Não importava se se tratava de um desembarque de Open Arms ou de negociações orçamentais em Bruxelas: tudo era uma oportunidade para atacar a UE, os burocratas e as elites europeias.

Meloni entendeu isso de uma forma radicalmente diferente. Em termos gramscianos, passou-se de uma guerra de movimentos para uma guerra de posições. O confronto direto que Salvini impunha foi substituído por uma tática que procura inocular ideias de extrema direita na UE de uma forma mais lenta, mais escondida e, por enquanto, eficaz.

Ao contrário de Salvini, Meloni não entrou em conflito com Bruxelas nas negociações orçamentais, nem fez grande alarido nos seus dois anos à frente do Executivo, mas tentou cultivar uma imagem de parceira confiável. E aos poucos, discurso após discurso e reunião após reunião, foi introduzindo as suas ideias nas instituições europeias. Da questão da imigração à exclusão do aborto entre os direitos mencionados no documento final da última cúpula do G7. E para muitos, as ideias de Meloni já não soam como as de uma pessoa ultra-perigosa, mas sim como as de um parceiro com quem há coisas a aprender sobre questões como a gestão da imigração.

A hegemonia gramsciana falava em conquistar o bom senso da época, e Meloni está garantindo que medidas que há não muito tempo eram consideradas de extrema direita sejam hoje entendidas como sensatas e coerentes. Se ainda há muito tempo não ficávamos chocados com o fato de o governo moribundo de Rishi Sunak ter enviado para Ruanda imigrantes irregulares recém-chegados ao solo britânico, hoje o fato de Meloni assinar um acordo semelhante com a Albânia não faz soar o alarme para ninguém na União Europeia. Um reflexo fiel disso é a visita de Alberto Núñez Feijóo [político espanhol de direita], que há apenas dois anos, quando a líder dos Irmãos da Itália venceu as eleições, teria evitado por todos os meios uma foto como a que decidiu tirar na semana passada. A direita radical de Meloni ainda não tem capacidade para conquistar a Europa, mas aos poucos vai capturando o “bom senso” da União Europeia.

domingo, 23 de junho de 2024

TORNAR A EUROPA GRANDE NOVAMENTE

Luc Vernimmen, Bélgica | Cartoon Movement

O governo populista da Hungria anunciou na terça-feira que a sua próxima presidência da União Europeia será realizada sob o lema “Tornar a Europa Grande Novamente”.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Na Europa, a direita soberana vence, mas nada muda. Von Der Layen reina em Bruxelas

Piero Messina | South Front | # Traduzido em português do Brasil

Na Europa tudo mudou e nada muda. Aqueles que esperavam que o voto europeu fosse capaz de mudar a postura da Velha Europa em relação ao dossiê Ucrânia/Rússia podem ficar tranquilos. Nada vai mudar. As eleições para o Parlamento Europeu decorreram exactamente como o “The Economist” tinha previsto, dez dias antes da votação. A direita soberana vence, mas não de forma esmagadora. A bíblia do globalismo financeiro intitulou a edição do passado dia 30 de maio: “As três mulheres que moldarão a Europa”. Uma referência clara à Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, à Primeira-Ministra italiana Giorgia Meloni e à líder da direita soberana francesa, Marina Le Pen.

Na realidade, há e haverá cinco mulheres no comando da Europa na próxima legislatura, que terá início em meados de Julho. O poder rosa da política europeia deve ter em conta Roberta Metsola, presidente do parlamento de Bruxelas que almeja a reconfirmação e Kaja Kallas, a primeira-ministra da Estónia que aspira a tornar-se Alta Representante da UE para a política externa. Kallas é um dos mais ferrenhos defensores das questões pró-Ucrânia e anti-Rússia na Europa.

Foi o próprio Economist quem ditou a agenda política sobre o rumo que a Europa deveria seguir. A revista turbocapitalista propriedade das famílias Rothschild e Elkann lembra à elite europeia que “Num mundo perigoso, a confortável velha Europa encontra-se numa posição alarmante. A guerra mais sangrenta no continente desde 1945 ocorre na Ucrânia, enquanto a Rússia representa uma ameaça ao ciberespaço, a partir dos países bálticos. Se Donald Trump regressar à Casa Branca, poderá minar a NATO, a base da segurança europeia. A economia do continente é vulnerável aos choques causados ​​pela política industrial e pelo proteccionismo noutros locais. Os populistas eurocépticos estão a ganhar terreno nas sondagens.”

Para enfrentar estes perigos, a Europa precisa – continua o sermão do Economist – de “liderança coerente a nível europeu. Deve também manter os extremistas fora do poder. O sucesso depende em parte das escolhas de três mulheres: Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, e Marine Le Pen, a principal populista francesa.”

Quem sabe por que razão, no editorial do semanário britânico, não houve qualquer menção ao presidente francês Emmanuel Macron e ao primeiro-ministro alemão Olaf Scholz? Na redação londrina certamente terão uma bola de cristal precisa e funcional para prever o futuro.

Vamos tentar perceber os dados e qual será o equilíbrio futuro do Parlamento Europeu. Em toda a Europa, a direita e a extrema-direita estão a avançar fortemente, ao ponto de causar terramotos políticos em muitos países. Em França, o Presidente Emmanuel Macron está a enviar o país para eleições antecipadas. Um movimento desesperado. Na Alemanha, a extrema direita da Alternative für Deutschland (Afd) ultrapassa o Partido Socialista do Chanceler Olaf Scholz. Na Alemanha, de acordo com as primeiras projeções, a maioria dos assentos foi para o Partido Popular Europeu, mas em segundo lugar ficou a extrema direita da Alternative für Deutschland (Afd), que ultrapassou o Partido Socialista do Chanceler Olaf Scholz. O mesmo vento direito na Grécia. Em França, o sucesso das projeções nas eleições europeias do Rassemblement national de Marine Le Pen levou o Presidente Emmanuel Macron a dissolver imediatamente a Assembleia Nacional (o parlamento francês) e a convocar novas consultas, que terão lugar em duas voltas, em 30 de junho e 7 de julho, para formar um novo governo. O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, também decidiu demitir-se depois do seu partido, os Liberais, de acordo com as projeções iniciais, ter alcançado um resultado decepcionante nas eleições europeias.

O novo Parlamento Europeu será, portanto, deslocado ainda mais para a direita, mas não muito em comparação com a estrutura actual, que não deverá colocar em risco a clássica aliança governamental entre populares, socialistas e liberais. Em Bruxelas há quem esteja mesmo convencido de que os jogos dos famosos “cargos de topo”, ou seja, os quatro principais cargos da UE, já terminaram, com Ursula von der Leyen a caminho da reconfirmação como o cargo de maior prestígio, o de Presidente da Comissão. Mas o que explode as coisas é o que está a acontecer no universo variado da direita europeia, em particular em França e em Itália. E aqui entra em jogo a vontade das cinco mulheres que poderão moldar o futuro próximo da Europa.

A primeira é a já citada von der Leyen. A “Rainha do Berlaymont”, (o edifício que alberga o executivo da UE), parece ter saído fortalecida das eleições europeias. O seu partido, o PPE, não só triunfou nas urnas, mas também reforçou a sua posição como fazedor de reis em Estrasburgo. No Parlamento Europeu, o Partido Popular tem os números necessários para poder dar as cartas, escolhendo de vez em quando se pretende alavancar a aliança formal com socialistas e liberais (e talvez com os Verdes), ou se se associa a acordos de bastidores com o certo, em particular com o ECR do Primeiro-Ministro italiano Giorgia Meloni, como já aconteceu nos últimos anos. Uma Eurocâmara com maiorias variáveis ​​foi o projecto de Manfred Weber, o político alemão que lidera o PPE, e o voto europeu parece ter colocado todas as peças no lugar para ele, incluindo o enfraquecimento do peso do Presidente francês Emmanuel Macron.

Precisamente os problemas de Macron, ao lidar com eleições antecipadas nas semanas quentes em que os cargos de topo poderiam ser decididos, poderiam abrir o caminho para von der Leyen: o líder transalpino tinha mostrado reservas sobre a hipótese de um segundo mandato para o alemão, e correu o boato de que o seu candidato à liderança da Comissão era Mario Draghi. O colapso do consenso nas eleições europeias, no entanto, não parece dar-lhe espaço para os seus conhecidos jogos políticos de bastidores, como os que em 2019 levaram à eleição de von der Leyen (em detrimento de Weber, designado pelo PPE).

Se Von Der Leyen continuar a ser a “rainha do Berlaymont”, o quadro dos outros cargos importantes na UE poderá facilmente ser montado até ao final do mês. A atual presidente do Parlamento, Roberta Metsola, também do PPE, deverá ser reconfirmada. Os liberais poderiam obter a nomeação do Alto Representante da UE para a política externa, estando a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, entre os maiores apoiantes da Ucrânia. Para fechar o puzzle, a posição socialista, a do presidente do Conselho Europeu, que iria para o português António Costa.

Este esquema, dizem em Bruxelas, poderia favorecer negociações rápidas entre as forças políticas e os governos da UE, e evitar longas negociações e tensões dentro do bloco, num momento em que a Europa precisa de unidade face à guerra na Ucrânia e ao risco de encontrar Donald Trump. no comando dos EUA em poucos meses. Mas a direita europeia está em crise e quer ter o seu peso na arquitectura do poder da UE. É por isso que todos os olhares estão voltados para Giorgia Meloni e Marine Le Pen. A líder italiana tem ao seu lado o facto de ser primeira-ministra e, portanto, de ter um voto a gastar na mesa que mais conta para decidir os cargos de topo, a do Conselho Europeu. Le Pen quer explorar o sucesso eleitoral nas eleições europeias, o possível bis na votação antecipada em França e as boas relações com Meloni (mas também com o holandês Geert Wilders) para influenciar os jogos de Bruxelas.

Nada mudará, portanto, nas estratégias anti-humanistas e belicistas da União Europeia. Na política externa, Bruxelas continua a ser um fiel vassalo da Aliança Atlântica, num momento extremamente delicado da relação com a Rússia. A nível político interno, a nova estrutura política inalterada continuará a prosseguir as políticas que estão a demolir o sector agrícola e a activar caminhos de digitalização social cada vez mais invasivos. Os votos dos cidadãos europeus, como sempre, contam pouco ou nada.

MAIS SOBRE O TEMA, em South Front:

Onda de direita na Europa, uma reação à subserviência da UE à OTAN

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terça-feira, 11 de junho de 2024

Estratégia dos EUA para a China obscurecida por atmosfera política tóxica...

Estratégia dos EUA para a China obscurecida por atmosfera política tóxica em meio às eleições que se aproximam

Global Times | # Traduzido em português do Brasil

O Presidente dos EUA, Biden, declarou recentemente numa entrevista que acredita que a economia dos EUA pode competir com o seu principal rival global, a China. Ele expressou que devido a uma crise de envelhecimento e a uma cultura de xenofobia que leva à redução da força de trabalho, a economia da China está “no limite”.

É importante notar que esta não é a primeira vez que o presidente dos EUA espalha o boato do colapso económico da China. Em agosto de 2023, num evento político de angariação de fundos, Biden referiu-se à China, a segunda maior economia do mundo, como “uma bomba-relógio”. 

Um político norte-americano de alto escalão está tão obcecado em "atacar" repetidamente a economia chinesa, mas não teme que as suas afirmações se revelem infundadas no futuro? 

Não temos vontade de discutir as perspectivas da economia da China com Biden, uma vez que as suas “afirmações” já se tornaram uma linguagem dramática desligada da realidade. Então, que tipo de atmosfera política levaria a tais declarações?

Em primeiro lugar, esta é uma táctica política comum conhecida como “othering” ou “comparação negativa”, na qual os líderes e os principais políticos tentam fazer com que o seu próprio país pareça bom, criticando ou minimizando as conquistas de outro país.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Cartilha sobre desinformação da USAID: Censura global em nome da democracia

Alan MacLeod* | Mint Press News | # Traduzido em português do Brasil

Em relatório da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) descreve como a agência governamental tem encorajado governos, plataformas tecnológicas, meios de comunicação social e anunciantes a trabalharem em conjunto para censurar grandes áreas da Internet. A “cartilha sobre desinformação” de 97 páginas, obtida pela empresa conservadora America First Legal ao abrigo da Lei da Liberdade de Informação, pretende combater notícias falsas. No entanto, grande parte do foco da organização parece estar em evitar que os indivíduos encontrem informações online que desafiem as narrativas oficiais e levem a um maior questionamento do sistema em geral.

O documento apela à regulamentação dos videojogos e dos painéis de mensagens online, afastando os indivíduos dos meios de comunicação alternativos e voltando-os para sites mais amigos da elite, e que os governos trabalhem com os anunciantes para paralisar financeiramente as organizações que se recusam a seguir as linhas oficiais. Além disso, destaca grupos de verificação de factos apoiados pelo governo, como o Bellingcat, o Graphika e o Atlantic Council, como líderes na luta contra a desinformação, apesar do facto de esses grupos terem ligações estreitas com o Estado de segurança nacional, o que constitui um conflito de interesses esmagador. .

A notícia de que uma agência governamental está promovendo tal programa é bastante preocupante. Contudo, veremos também como a própria USAID promoveu notícias falsas para pressionar a mudança de regime no estrangeiro.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Angola | Populismo e Kamanga -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Lei de Combate à Actividade Mineira Ilegal está desde hoje a ser discutida na especialidade pelos deputados da Assembleia Nacional. Os parlamentares são chamados a acabar com a maquineta que destrói a economia angolana, há décadas. O Executivo reconhece que a kamanga é controlada por “grupos criminosos organizados”. Já todos sabíamos mas agora também sabe quem governa. Mais vale tarde do que nunca.

Todos viam os milhões de garimpeiros, ano após ano, exaurindo as zonas diamantíferas. Roubos a céu aberto, como sempre com o apoio dos sicários da UNITA e o barulho do condecorado de João Lourenço, Rafael Marques. As riquezas nacionais a saque, à vista desarmada. Mas a turma da “recuperação de activos” só vê as contas bancárias e os bens de quem acumulou capital no âmbito das políticas de Estado, lançadas quando passámos do regime socialista para o capitalismo. Pita Grós e os seus sequazes queriam que os bens do Estado Socialista passassem para a posse dos macacos, leões, elefantes ou mesmo hienas, ainda que estas gostem mais da podridão.

Intervalo. Jonas Savimbi lançou a UNITA no Leste de Angola em Março de 1966. Poucos meses depois o balão estava cheio, graças à demagogia e ao populismo. Os militantes e activistas do MPLA ficaram preocupados mas a direcção deu um sinal de confiança: Calma, em breve o povo vai perceber que a demagogia não liberta ninguém. O balão vai esvaziar e o Galo Negro acaba. 

O balão esvaziou. Mas os sicários continuaram em grande, combatendo ao lado da tropa portuguesa contra a Independência Nacional. Savimbi, demagogo, populista, era sobretudo um traidor. Continuou a sua rota da traição.

João Lourenço entrou na Cidade Alta com uma agenda populista e cavalgando a onda da demagogia. Não hesitou em encostar o MPLA às cordas. Excrementou o seu antecessor, José Eduardo dos Santos. Colocou em camaradas o rótulo de corruptos e ladrões. O povão exultou. Na sua ingenuidade, acreditou que os “marimbondos” iam ficar sem nada e os pobres com tudo! Como aconteceu com Savimbi em 1966. Nesse tempo as populações perceberam que Toka, Iko, Xietu, Dilolwa, Kapango, Bula, Dangereux, Vunda e tantos outros é que tinham razão. O demagogo populista acabou sem honra nem glória numa mata do Lucusse.

terça-feira, 12 de março de 2024

A palavra populismo é uma prenda para a extrema-direita

A palavra populismo é uma prenda para a extrema-direita: razões para deixarmos de a usar

Esta palavra mascara a ameaça, exagera a sua ligação aos sentimentos populares, coloca-a como se falasse em nome do povo e exonera as responsabilidades das elites nas crises. Por Aurelien Mondon e Alex Yates.

Desde a invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, até à revolta semelhante no Brasil em 2023, os políticos de extrema-direita estão a infringir os ideais democráticos em todo o mundo. Se queremos realmente enfrentar o desafio que representam, temos de deixar de os tratar como atores legítimos e democráticos e, em vez disso, vê-los como a ameaça que realmente são.

Uma parte muito importante deste esforço é também um passo bastante simples. Temos de deixar de nos referir às políticas de extrema-direita como "populistas".

Nos anos mais recentes, a investigação séria sobre o populismo chegou a um certo consenso que torna claro que este é secundário, na melhor das hipóteses, na definição de qualquer tipo de política. As duas principais escolas de pensamento(link is external) discordam amplamente sobre se o populismo é uma ideologia fina que envolve um elemento moralista (ao colocar um povo "puro" contra uma elite "corrupta") ou se é simplesmente um discurso que constrói um povo como sendo contra uma elite, sem qualquer outra especificidade ligada a esses dois grupos.

No entanto, ambas concordam que o elemento populista de qualquer movimento é secundário em relação à política e à ideologia. Os partidos de esquerda e de direita podem ambos utilizar uma retórica populista, mas isso pouco nos diz sobre a forma como efetivamente governam.

Mas o populismo tornou-se, no entanto, uma palavra da moda. Inúmeros académicos surfaram esta onda em busca de financiamento e de citações, muitas vezes sem trabalhar devidamente a literatura sobre o tema(link is external).

Para além da prática académica pobre, a utilização descuidada da palavra também teve um impacto negativo no discurso público em geral. Estas quatro consequências devem convencê-lo a deixar de usar a palavra "populista" para descrever alguém que, na realidade, é apenas um extremista de direita.

1. Mascara a ameaça que a extrema-direita representa

Não deveria constituir surpresa que muitos políticos de extrema-direita, desde Jean-Marie Le Pen, em França, até Matteo Salvini(link is external), em Itália, tenham abraçado o termo “populismo”. Mesmo quando é usado pelos seus adversários como um insulto, os políticos de extrema-direita preferem o termo a outros mais precisos, mas também mais estigmatizantes, como “extremista” ou “racista”.

Isto pode ser testemunhado, por exemplo, na série de seis meses de 2019 do Guardian sobre “o novo populismo”(link is external). Na maioria das vezes, a palavra populismo foi usada nesta série para descrever políticas muito mais sinistras do que a simples oposição entre a elite e o povo. Personalidades políticas como Steve Bannon são muito melhor descritas como extrema-direita ou direita radical. Estes termos não são apenas mais precisos, mas tornam a ameaça que representam muito mais clara do que o obscuro “populismo”.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Portugal | 2024, ano de viragem?

2024 poderá ser um ano de viragem, ou não. Resta à esquerda ter a inteligência de saber lidar com as expectativas de milhões de portugueses e portuguesas que querem comemorar os 50 anos do 25 de Abril com esperança.

Adelino Fortunato* ! Esquerda | opinião

2024 irá ser um ano recheado de atos eleitorais para diferentes órgãos de poder político em dezenas de países, fazendo dele o ano eleitoral mais global da história. O ano que acaba de começar poderá confirmar tendências de mudança na opinião pública mundial que se veem revelando no período mais recente e que apontam para uma adesão crescente a ideias conservadoras e a uma ascensão de forças políticas de extrema-direita. Entre outras coisas, nomeadamente o enfraquecimento ideológico de toda a esquerda, as fraturas políticas e sociais introduzidas nas sociedades contemporâneas pelas políticas neoliberais, ao fim de quatro décadas de aplicação, criaram insatisfação e desespero em muitas camadas da população mundial e abriram espaço à crise de representação política hoje dominante.

A tradicional preponderância dos chamados partidos do centro, que no pós-guerra representavam uma maioria esmagadora de eleitores, está a ser corroída e desafiada pela emergência de polos de protesto à sua direita com capacidade para marcar a agenda política, mesmo quando não integram coligações de governo, como acontece nos Países Baixos, em França, na Alemanha ou na Áustria. Noutros casos, como em Itália, Eslováquia e Hungria a extrema-direita chegou mesmo ao poder e vai desenvolvendo o seu projeto de desvalorização das liberdades democráticas associadas aos sistemas políticos desses países.

Não haverá, sob a influência destes partidos, uma revolução fascista ao estilo do que aconteceu nos anos 30 do século passado. As sociedades contemporâneas são muito diferentes, não há desemprego massivo, nem qualquer ameaça de tomada de poder pelas classes mais exploradas ou oprimidas em nome do socialismo, como aconteceu, de facto, na época que se seguiu à revolução russa de 1917. Em vez disso, como diz o jornalista do Expresso Daniel Oliveira, trata-se de fazer “uma reforma contra a democracia”. Isto é, de fazer ajustamentos incrementais regressivos nos atuais regimes políticos, conservando a sua fachada “democrática”, mas reduzindo substancialmente a sua legitimidade.

Tudo isto vai estar em jogo nos próximos confrontos eleitorais. Desde logo nas eleições de junho para o Parlamento Europeu, a extrema-direita poderá vir a transformar-se numa das principais famílias políticas e a ter uma influência significativa na arquitetura e nas decisões da União Europeia. É uma espécie de ironia do destino, tendo em conta os propósitos iniciais deste grande espaço económico e político. Mas, e sobretudo, nas eleições presidenciais americanas de novembro, com a hipótese de Trump vencer. Teríamos de novo uma tentativa de subversão da separação de poderes, de enfraquecimento da autonomia do poder judicial, de controlo dos meios de comunicação e a instrumentalização descarada do aparelho de Estado para servir interesses privados e pessoais. E pior que isso, certamente.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Portugal/PSP: Líder do PSD sugeriu que o Chega pode estar na origem dos protestos

Montenegro avisa polícias que "ninguém está acima da lei" e faz apelo: "Espero que terminem as ameaças e haja bom senso"

Luís Montenegro considera que as forças de segurança têm responsabilidades acrescidas e não devem "perder a razão". Líder do PSD apontou ainda o dedo às "forças políticas extremistas e populistas".

Luís Montenegro reagiu de forma particularmente dura aos mais recentes protestos organizados pelas forças de segurança. Lembrando que “num Estado de Direito ninguém está acima da lei”, Montenegro sublinhou que “os agentes das forças de segurança, que têm como missão essencial justamente cumprir a lei, fazê-la respeitar e garantir a segurança dos cidadãos, não podem perder a razão mesmo quando têm razão por aquilo que estão a perder”. “Espero que terminem as ameaças e haja bom senso”, apelou.

O líder do PSD sugeriu ainda — de forma indireta — que o Chega pode estar na origem destes protestos das forças de segurança. “Espero também que não haja forças políticas extremistas e populistas a estimularem este tipo de excessos. A segurança dos cidadãos é demasiado importante para que os partidos se ponham a brincar com o fogo.”

O presidente do PSD disse esperar que o Governo “tenha capacidade de diálogo” para travar o protesto das forças de segurança, considerando que a situação é “muito grave” e o executivo socialista “é o principal responsável”. “Espero que o Governo tenha capacidade de diálogo para suster esta escalada, que não é boa para ninguém. Não é boa para os cidadãos e também não é boa para quem está a protestar”, afirmou hoje Luís Montenegro.

Na sua opinião, “o que se passa nas forças de segurança é muito grave e não pode ser silenciado”. “O Governo é o primeiro e o maior responsável. Criou uma desigualdade enorme com o aumento de suplemento de missão à Polícia Judiciária, face à situação que se vive na Polícia de Segurança Pública (PSP) e na Guarda Nacional Republicana (GNR). Um erro que não explicou nem justificou, numa postura de arrogância, de silêncio e de indiferença. Um erro imperdoável”, disse.

Nas declarações aos jornalistas, considerou que a reação dos agentes da PSP e da GNR “é legítima e é justificada”, mas o “erro imperdoável do Governo não dá o direito aos agentes das forças de segurança de violarem a lei, de criarem indisciplina e de provocarem um sentimento de insegurança nas populações”.

Rui Pedro Antunes | Observador com Lusa

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Quando os pobres votam na direita

Nuno Ramos de Almeida | Diário de Notícias | opinião

O historiador Thomas Frank tem, na edição dos seus livros em francês, duas obras traduzidas com títulos provocadores. Uma sobre a razão por que os pobres votariam na direita e a outra sobre os motivos por que os ricos passaram a votar à esquerda. Nestes textos, muito baseados na situação dos EUA, relata-se o abandono das classes populares por parte dos partidos da esquerda moderada em troca de agendas menos ligadas aos direitos sociais e mais conectadas com os direitos individuais e as múltiplas agendas identitárias.

Num estudo coordenado por Thomas Piketty sobre a relação entre as desigualdades sociais e os resultados eleitorais em 50 países “democráticos” (Clivagens Políticas e Desigualdades Sociais) verifica-se que há em muitos países desenvolvidos uma evolução: antigamente, as classes trabalhadoras tendiam a votar à esquerda e os patrões, ricos e licenciados à direita. Hoje, verifica-se que os licenciados votam à esquerda e que parte das classes trabalhadoras já não vota, ou não o faz à esquerda. Isso coincidiria com várias circunstâncias: o abandono por parte da esquerda do terreno popular e da defesa das classes trabalhadoras e a passagem de reivindicações “materiais” para “pós-materiais”, enquanto se multiplicam novas lutas de caráter identitário que tornam invisível o conflito de classes. Como alguém dizia, “a classe social não foi morta, ela foi enterrada viva”. 

Obviamente que é necessário fazer uma política que tenha em conta as identidades, mas isso não significa reduzir a política a uma soma de identidades cada vez mais próxima da individualidade. 

Este processo de individualização e perda de referentes coletivos tem a ver com uma alteração da realidade económica e social: a desindustrialização do mundo desenvolvido, a criação de empregos por plataformas, em que dezenas de milhares de pessoas, a fazer a mesma coisa, parecem todas isoladas, em que todos têm laços cada vez menos estáveis, em que há uma certa liquidificação da sociedade. 

Mas tudo isto também foi fruto de uma vitória ideológica. Num célebre artigo em 1939, Friedrich Hayek defende que se deveria entregar a condução da política monetária a uma organização supranacional. Propõe a criação de instituições supranacionais como forma de, na prática, retirar ao controlo democrático o funcionamento da economia. 

Na altura, esta vontade era amplamente minoritária mesmo no seio da social-democracia e da direita moderada, em que o pensamento keynesiano era dominante. Mas até aos anos 70 os pensadores neoliberais e as classes proprietárias, interessadas em reduzir a força dos sindicatos e dos trabalhadores na distribuição do rendimento, construíram uma nova hegemonia. Como afirmava um dos seus defensores mais conhecidos, Milton Friedman, fizeram com que o politicamente impossível se tornasse o politicamente inevitável.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

A Europa está cada vez menos democrática (Portugal também)

Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião

O populismo que avança a grande velocidade na Europa não é a Democracia a funcionar, como pretendem convencer-nos os que resumem a Democracia ao direito de votar. No limite, é a Democracia a funcionar mal. De cada vez que o povo de um qualquer país decide dar a vitória a um partido populista, à Esquerda e à Direita, intolerante com a diferença, não respeitador das minorias, é a Democracia desse país que é profundamente afetada, mas é também o projeto europeu que se assemelha cada vez mais àquilo que quer combater.

Um barómetro publicado o mês passado, encomendado pela Open Society Foundations, depois de ouvir mais de 36 mil pessoas de 30 países, muitos dos quais europeus, mostrava que "35% dos inquiridos com idades entre os 18 e os 35 anos consideram que ter um líder forte é uma boa forma de governar um país". Os jovens acreditam cada vez menos na Democracia porque ela não se mostra capaz de resolver problemas como as desigualdades sociais e as alterações climáticas, falando de problemas antigos, ou a habitação, problema mais recente. Sendo jovens, a grande maioria nasceu e viveu em democracia e, querendo fazer o contraponto, 42% dos inquiridos entre as camadas mais jovens consideram que um regime militar é uma boa forma de governar um país.

Um outro estudo, feito pela Universidade de Amesterdão e partilhado com o jornal The Guardian, diz-nos que um terço dos europeus vota em partidos antissistema. O estudo foi conhecido há duas semanas, mas a análise foi realizada em 2022, em 31 países. Nas eleições desse ano, um em cada três votos foram em partidos populistas, da Esquerda e da Direita.

A Europa foi acrescentando populistas, políticos antissistema, que visam quebrar a unidade no apoio às medidas de combate às alterações climáticas ou, como é o caso da vitória do populista de Esquerda Robert Fico na Eslováquia, pôr em causa o apoio à Ucrânia, que o mesmo é dizer pôr em causa o combate pela liberdade.

A independência do poder judicial, a liberdade de imprensa, a defesa dos direitos das minorias são apenas alguns dos parâmetros essenciais para avaliar a saúde da democracia e o que sabemos é que ela tem estado a dar sinais de enorme fragilidade em muitos países da Europa. Não há país que escape a esta onda populista, mas ela tem, por estes dias, um crescimento no centro e norte da Europa que tem tudo para se transformar num tsunami eleitoral nas eleições europeias de junho.

A Europa solidária com os refugiados e necessitada de imigrantes para manter a economia a funcionar é pasto para a Extrema-Direita. A Europa do BCE no combate à inflação, com a necessária subida das taxas de juros, é um bebedouro para a Extrema-Esquerda. A Europa aliada de Kiev, com a ajuda de milhares de milhões no esforço de guerra ucraniano e com as sanções à Rússia a pesarem na perda de poder de compra da maioria da população, é um banquete para a Extrema-Direita e para a Extrema-Esquerda.

Já não é uma questão de ser otimista ou pessimista - a longo prazo tudo se resolve -, mas é inevitável que o ataque ao sistema democrático se intensifique. Há demasiada gente descontente com um sistema que não encontra soluções para os principais problemas e ninguém as convence que as soluções apresentadas pelos extremistas não resolvem coisa nenhuma.

O mundo está mais perigoso. A Europa tem cada vez mais governos populistas, o Parlamento Europeu ficará também mais radical. Há uma probabilidade alta de Trump regressar à presidência dos Estados Unidos. Putin mantém-se firme, à espera que o tempo desgaste as opiniões públicas ocidentais e leve os seus governos a forçarem Zelensky a negociar a paz com perda de território. A Democracia vai passar um mau bocado, até que uma larga maioria das pessoas, já tendo experimentado pau e cenoura, se recorde do que nos ensinou Winston Churchill: "A democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros."

*Jornalista

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Revelado: um em cada três europeus vota agora contra o sistema -- gráficos

Exclusivo: a análise dos resultados em 31 países no ano passado revelou que 32% dos votos foram atribuídos a partidos populistas, de extrema-esquerda ou de extrema-direita

Jon Henley, correspondente europeu | The Guardian | # Traduzido em português do Brasil

Quase um terço dos europeus votam agora em partidos populistas, de extrema-direita ou de extrema-esquerda, mostram os estudos, com um amplo apoio à política anti-establishment a surgir em todo o continente, num desafio cada vez mais problemático para a corrente dominante.

Uma análise realizada por mais de 100 cientistas políticos em 31 países concluiu que nas eleições nacionais do ano passado um recorde de 32% dos eleitores europeus votaram em partidos anti-establishment, em comparação com 20% no início da década de 2000 e 12% no início da década de 1990.

A investigação, liderada por Matthijs Rooduijn, cientista político da Universidade de Amesterdão, e partilhada exclusivamente com o Guardian, também descobriu que cerca de metade dos eleitores anti-establishment apoiam partidos de extrema-direita – e esta é a percentagem de votos que mais está a aumentar. rapidamente.

“Há flutuações, mas a tendência subjacente é que os números continuem a aumentar”, disse Rooduijn. “Os partidos tradicionais estão perdendo votos; os partidos anti-establishment estão ganhando. É importante, porque muitos estudos mostram agora que quando os populistas asseguram o poder, ou influenciam sobre o poder, a qualidade da democracia liberal diminui.”

Num sinal de até que ponto a ascensão da extrema-direita nativista e autoritária deslocou a política da Europa para a direita, os investigadores consideraram classificar vários dos partidos de centro-direita mais conhecidos do continente como extrema-direita limítrofes.

“Conversamos muito sobre a reclassificação dos conservadores do Reino Unido, do VVD de Mark Rutte na Holanda, dos Les Républicains na França e do ÖVP na Áustria”, disse Rooduijn. “No final não o fizemos porque o nativismo não era o seu foco principal. Mas poderemos no futuro.”

A PopuList foi lançada há cinco anos em parceria com o Guardian . Este ano, identifica 234 partidos anti-establishment em toda a Europa, incluindo 165 partidos populistas (a maioria de extrema-esquerda ou de extrema-direita). Classifica 61 partidos como de extrema-esquerda e 112 como de extrema-direita (a maioria, mas não todos, populistas). (VER GRÁFICOS A SEGUIR)

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Governo da Polónia em pânico depois que um populista rural se aliou à oposição

Andrew Korybko* | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Supõe-se que o interior seja um dos eleitorados mais confiáveis ​​do PiS, mas isso não pode mais ser dado como certo. Os eleitores rurais devem agora escolher se querem continuar apoiando o PiS devido aos seus valores socioculturais comparativamente mais conservadores ou desertar para o PO por solidariedade aos seus amados fazendeiros.

Foi recentemente avaliado que “ o partido governante da Polônia está fazendo das eleições de outono uma questão de segurança nacional ”, particularmente por meio de sua campanha de alarmismo sugerindo que a oposição da Plataforma Cívica (PO) está supostamente planejando implementar um Pacto Molotov-Ribbentrop pós-moderno. O mais recente desenvolvimento desta narrativa de guerra de informação ocorreu no fim de semana, dias após o líder populista rural Michal Kolodziejczak, do movimento AGROunia, ter decidido aliar-se ao PO.

A TVP, com financiamento público, publicou dois artigos consecutivos citando funcionários atuais e antigos que descreveram esta medida como alegadamente uma ameaça à segurança nacional da Polónia. Em seu artigo no sábado sobre como “ simpatizante de Putin se une à oposição polonesa antes das eleições de outubro ”, o veículo difamou Kolodziejczak como “pró-russo” por dar uma entrevista ao serviço polonês do Sputnik. Eles então amplificaram os ataques do primeiro-ministro e do vice-ministro da Defesa contra ele.

O primeiro tuitou que “Você traiu o campo polonês. Agora você tem um simpatizante de Putin na lista. A quem você serve?”, enquanto este último afirmou que “ele [Michał Kołodziejczak] está 100% alinhado com as políticas pró-russas anteriores do chefe do PO, Donald Tusk”. No dia seguinte, domingo, a TVP publicou um artigo sobre como “ polonesa aliado 'poderia ser usado pelo Kremlin': general ”, que citou o ex-chefe das forças especiais da Polônia, general Roman Polko. Aqui está o que ele disse:

“Há uma agressão russa contra a Ucrânia, em tal situação todos devemos mostrar grande solidariedade e responsabilidade por nossa segurança comum. Quaisquer ações desestabilizadoras certamente desacreditam este homem e o colocam nas fileiras dos 'idiotas úteis' do Kremlin ou mesmo daqueles que agem a favor de Putin.

Na minha opinião, como oficial militar, alguém como Kołodziejczak é realmente 'uma grande praga' e uma ameaça à nossa segurança, porque em uma situação de crise difícil, esse é um homem que divide [as pessoas] e pode ser usado objetivamente pelo Kremlin."

O partido governante da Polónia, “Lei e Justiça” (PiS), está em pânico porque esperava que a proibição da maior parte das importações agrícolas ucranianas na Primavera e sua decisão de manter essa política após o término do acordo da Comissão Européia no próximo mês lhes garantisse o apoio dos agricultores. As eleições de meados de outubro estão se preparando para ser extremamente desafiadoras para os governantes, daí seu interesse em reunir o maior número possível de grupos de interesse em torno deles, a fim de aumentar suas chances de permanecer no poder.

Em vez de apreciar a recente mudança de política do PiS, Kolodziejczak aparentemente quer puni-lo por agir tarde demais, depois que seu atraso já infligiu imensos danos aos interesses dos agricultores. Supõe-se que o interior seja um dos eleitorados mais confiáveis ​​do PiS, mas isso não pode mais ser dado como certo. Os eleitores rurais devem agora escolher se querem continuar apoiando o PiS devido aos seus valores socioculturais comparativamente mais conservadores ou desertar para o PO por solidariedade aos seus amados fazendeiros.

Isso pode mudar o jogo se reduzir ainda mais a vantagem estreita do PiS sobre o PO e permitir que o partido anti-establishment da Confederação emerja como o rei do próximo governo. The Economist citou recentemente seu vice-líder, que disse a eles que “pode ​​fazer um acordo para apoiar um governo minoritário”, o que poderia privar o PiS de seu desejado terceiro mandato. Não é de admirar que o partido no poder esteja fazendo de tudo para atacar Kolodziejczak, já que ele pode ser o responsável por sua derrota.

*Analista político americano especializado na transição sistêmica global para a multipolaridade

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

PORTUGAL DE BOSTA A BOSTA

Bom dia. A seguir o Curto do Expresso por Miguel Prado. Do Página Global saiba que hoje não nos atrevemos a escrevinhar uma seca longa como outras que anteriormente já expusemos à prova da paciência dos leitores. Uff!

Dito isso vimos respeitosamente alertar para a ordinarice do título que nos atrevemos a inscrever acima e a razão de assim acontecer. Simples: com tanta agitação social, com tantas reformas de miséria, com tantos ordenados igualmente de miséria, com tanto desprezo e desrespeito aplicado pelo governo de António Costa pelos portugueses, com tantas tendências esclavagistas e antidemocráticas que os mesmos têm cometido, com tanta miséria crescente provocada pelo atual governo falsamente autodenominado socialista, etc., etc., por isso legitimamente indignados, considerámos 'mexer' no título do Curto e adaptá-lo à realidade desta Lusitânia tão desesperada, tão miserabilizada, tão mal governada e onde os ricos estão a ficar muito mais ricos e os pobres mais pobres. O costume feito dos governos para ricos, para esclavagistas soberbos e saudosistas antidemocráticos... Por tudo isso o Costa passou a Bosta, um trocadilho sem intenção ofensiva mas antes um grito de alerta à realidade com que os portugueses vão descobrindo e suportado nefastamente o dia-a-dia. O falso socialismo do autodenominado PS não é mais nem menos senão um xuxialismo desbragado que governa à direita em tirocínio ditatorial... Importa saber que este terrível regime imposto desde há cerca de 5-6 anos quando fôr substituído, dará lugar a uma governação ainda muito mais à direita caso os eleitores portugueses continuem a eleger a direita ressabiada do costume ou a ainda mais extrema direita, dita nova no quadro parlamentar. 

Caminhamos para uma loucura pseudo democrática? Tudo indica que sim. De Bosta a Bosta, sem ventania mas sim com pezinhos de lã eis para onde Portugal e os portugueses cegamente estão a caminhar. Por favor, não atirem mais bosta para as ventoinhas. Apesar disso tenhamos cuidado com a ventania que só não derruba as elites já enraizadas e bem seguras, fixas no conforto proporcionado pelas falsidades, corrupções, conluios, nepotismos e atropelos aos justos direitos e respeito devidos a milhões de cidadãos portugueses explorados e cada vez mais oprimidos. De Bosta em Bosta a democracia, a justiça e a liberdade democrática estão a voar para outras paragens que não Portugal.

O Curto a seguir. Curta. Vá ler.

MM | PG

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