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quarta-feira, 15 de maio de 2024

Atenção! A partir de agora vão aterrar muitos mais trafulhas no velho aeroporto de Lisboa

Bom dia. A seguir acontecerá o Curto do Expressso. Antes, pela lavra PG, abordaremos santidade, negociatas, governantes 'ponderados' ou laxistas com falta de tim-tins para decidirem em prole da maioria a que chamam eleitores (de manipulações eleitorais) ou povo. Esses, os plebeus, são quem arcam com a 'sustentabilidade' de grandes viduxas e ostentações semelhantes aos parasitários da realeza a que chamam agora república e outros epítetos para povinho ver e chorar por mais, repletos que estão de estupidez, ilusões e falsidades político engenhosas e massacrantes.

Alcochete. Terra Santa e de latifúndios, os Salvação (Silva) Barreto sabiam disso e os Motta também, esses últimos próximos de D. Afonso Henriques. Muitos outros de tempos antanhos também sabiam. Fidalgos e famílias ricaças bordejavam as margens do rio Tejo e nem faluas faltavam para transporte a abastecer os Olivais e muita da Lisboa. Agora naquelas bandas disseram que planeiam instalar um aeroporto. Ao fim de mais de cinquenta anos ‘dótores’ de pensamentos rastejantes e imundos da corrupção, da partidarite, das indecisões, da lentidão cerebral e das buscas incessantes de lucros conspurcados finalmente decidiram onde será o aeroporto. Agora, o novo aeroporto de Lisboa será em terras pisadas pelo Santo Padre Cruz desde 1800 e tantos...

Aeroporto em Alcochete, assim está decidida a negociata. Primeiro usado para terrenos da Força Aérea, agora um mega aeroporto para Lisboa na outra banda. Muito antes de tudo isso foram terrenos férteis que alimentavam a capital e arredores. Eram também águas e terras de abrigo de aves migratórias e de vagabundos, alguns fugidos à lei. Á volta dos latifúndios monstruosos grassava a fome e a pobreza em contraste com a opulência da monarquia e de famílias fidalgas que se roubavam umas às outras na proteção das ilhargas da realeza. O Santo Padre Cruz levava as suas avante e protegia e alimentava (na pedincha aos podres de ricos) os paupérrimos esfomeados. Más acções e ganâncias derrotadas pela bondade de um só homem que para tantos era santo.

Teremos aeroporto (talvez) ali. Políticos de hoje assim decidiram, aconselhados por técnicos, por mega empresas sorvedoras de contrapartidas que os portugueses desconhecerão. O roubo naquelas terras e as negociatas continuam, agora até com vastos interesses estrangeiros à mistura. Eles lá sabem. Eles é que são os donos disto tudo.

Basta de conversa fiada. Santo foi o Padre Cruz, amigo dos pobres. Robin dos Bosques na pedincha aos ricos para matar fomes e salvar vidas sofredoras desses tais plebeus a quem chamam povo desprezado, explorado, oprimido e roubado por ladrões engravatados e altaneiros no exercício de cargos cujos desempenhos são quase sempre maus ou, no máximo, medíocres. "Olhem a minha barriguinha e os meus bens materiais", dizem de si para si, como 'pai nosso' para o sucesso das suas lides de venha a eles e os outros que se lixem. Os outros, aqueles que sustentam seus interesses de sucessos pessoais e familiares.

'Vos arrenego´, dizia o Santo Padre Cruz que pairará naquele aeroporto. Se ali for instalado. Pois, mas só operacional daqui por dez ou mais anos. As negociatas serão longas e as locuptações também. O costume.

Do Padre Cruz, a fechar. Só um cheirinho a recordar. Ele pairará naquele anunciado aeroporto. Talvez faça das dele... Milagres.

"Francisco Rodrigues da Cruz, dito o Padre Cruz (Alcochete, 29 de julho de 1859 — Lisboa, 1 de outubro de 1948), foi um sacerdote católico português, que alcançou uma enorme fama de santidade em vida ao ponto de ser conhecido popularmente como o Santo Padre Cruz." – dos anais históricos do conhecimento.

Aviso: Atenção, atenção! A partir de agora vão aterrar muitos mais trafulhas no velho aeroporto de Lisboa para se governarem com a construção do novo aeroporto Luís de Camões (convém que ao menos seja um zarolho a ver mal as negociatas em catadupa). 

O Curto, do Expresso, a seguir para quem vier por mal ou bem. Viva o laxismo dos políticos, dos governantes a transbordar de loas sempre sabujos de povos de mil raças e mil dores.

Adiante que se faz tarde. O Curto, por Pedro Lima. Atire-se a ele.

MM | Redação PG

Portugal | HABEMUS AEROPORTO

Henrique Monteiro | HenriCartoon

sábado, 27 de abril de 2024

Portugal | Ex-ministro Galamba sobre caso Influencer: "acabarei por ser inocentado"

O ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, disse esta sexta-feira que acredita que vai ser inocentado no processo Influencer e discorda que a procuradora-geral da República, Lucília Gago, deva prestar esclarecimentos no Parlamento.

"Estou de consciência perfeitamente tranquila em relação a tudo o que fiz, sei tudo o que fiz, sei também tudo o que não fiz. Sei como é que este processo vai acabar: ou com o arquivamento ou, se existir acusação, acabarei por ser inocentado", disse João Galamba, em entrevista à CNN Portugal.

O antigo ministro e secretário de Estado dos executivos de António Costa referiu também que ainda não foi ouvido no âmbito do processo que provocou a queda do Governo do PS, apesar de já ter apresentado "um requerimento" com esse propósito "imediatamente a seguir às buscas" de que foi alvo a 7 de novembro.

João Galamba, que é arguido no processo, defendeu que Lucília Gago não tem de prestar quaisquer esclarecimentos na Assembleia da República. "A senhora procuradora[-geral da República] não responde perante o Parlamento, não é politicamente responsável por isso. Não me parece que seja correto e não me parece que seja a sede própria para este tipo de comunicação", considerou.

João Galamba, que partilhou o governo com o atual líder do PS garantiu ainda que não fala com Pedro Nuno Santos "desde maio de 2023".

"Já fomos mais próximos, digamos assim. Não [tenho] de todo [falado com ele]. Não me disse nada nos últimos meses, nem no dia das buscas", assegurou o ex-governante, que diz ainda ter-se afastado da política devido ao seu estatuto processual de arguido e que, agora, vai prestar assessoria internacionalmente na área da energia.

João Galamba é um dos arguidos no processo relacionado com os negócios do lítio e hidrogénio verde. Segundo a PGR, estarão em causa os crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência. A investigação visa as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas), um projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines e o projeto de construção de "data center" desenvolvido na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade "Start Campus".

Jornal de Notícias com agências | Imagem: João Galamba | Miguel A. Lopes/Lusa/arquivo

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Angola | Britânicos Apanham o Comboio -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O ministro britânico Richard Benyon foi ao Palácio da Cidade Alta dizer ao Presidente João Lourenço que o Reuni Unido “está interessado em trabalhar de forma directa no Corredor do Lobito” para saquear as riquezas da Zâmbia e da República Democrática o Congo. O porto do Lobito vem mesmo a calhar. Grande negócio! Angola investiu milhares de milhões no Caminho-de-Ferro e Benguela, desde o canal ferroviário até às estações e material circulante. A República Popular da China foi parceira deste projecto milionário.

Os comboios começaram a apitar entre Lobito e o Luau. Uma vitória estrondosa do Executivo Angolano e do seu parceiro asiático. As infra-estruturas reconstruídas mais as que foram construídas de raiz, puseram de pé a “mina de dinheiro” que esteve durante cem anos nas mãos de estrangeiros. Tinha chegado a vez de os angolanos usufruírem daquela riqueza, de valor inestimável. O qual não. As mafias do costume, os colonialistas de sempre, agora com falinhas mansas e disfarçados de parceiros, vão abocanhar tudo e deixam uns trocos na mão estendida de João Lourenço.

A criação do CFB no tempo de Robert Williams deu makas mundiais em Lisboa. O governo estava a oferecer tudo e mais alguma coisa ao abutre que já se empanturrava com as riquezas da Zâmbia (Rodésia do Norte) e do Congo Belga. Um sindicato de bandidos para rapinar o mais possível. De Londres chegaram ordens aos lacaios de Lisboa para darem ao mentor do projecto, tudo o que ele quisesse. A monarquia portuguesa, de joelhos ante os seus senhores, obedeceu. 

O Directório Republicano rasgou vestes em público contra a submissão do governo da coroa. O poeta Guerra Junqueiro, irado, escreveu textos onde referia a Inglaterra como “uma impúdica bacante”. Não adiantou nada. Em 1903 o governador Cabral Moncada inaugurava a ponte ferroviária sobre o rio Cavaco (Benguela) e logo a seguir foi ao Lobito lançar a primeira pedrada na construção do porto do Lobito, que iniciou as operações comerciais em 1928. E o Robert Williams a facturar à custa dos portugueses e dos angolanos. 

Em 28 de Novembro de 2001, o contrato de concessão assinado com Portugal chegou ao fim. O Estado Angolano tomou posse do Caminho-de-Ferro de Benguela, com todo o seu património. Mas entre 11 de Novembro de 1975 e essa data os sicários da UNITA tinham partido tudo. Até pequenos pontões foram pelos ares. Os comboios não circulavam. O canal ferroviário estava totalmente destruído. As estações ferroviárias tiveram a mesma sorte. Não ficou pedra sobre pedra. As obras no âmbito da Reconstrução Nacional estavam programadas mas o criminoso de guerra Jonas Savimbi iniciou uma rebelião armada em finais de 1992 e nada foi feito.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Angola | Buracos nas Estradas e na Rádio – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Dala Tando recebia jornalistas da Empresa Edições Novembro ao serviço das Direcções Provinciais do Norte, para acções de formação. Mais jovens da Redacção Central que davam os primeiros passos no Jornalismo. Profissionais de grande valor, empenhados em melhorar os seus conhecimentos. Recordo, entre outros, Isidoro Natalício, na época director provincial e sabia mais do que eu. Um jovem tão promissor que hoje está na sua cadeira, Manuel Fontoura. Ou Jaquelino Figueiredo hoje director do Zaire. Numa das incursões à capital do Cuanza Norte fomos via Golungo Alto, pela Picada da Trombeta, acabada de ser asfaltada. Uma pista! 

Alguns meses depois regressámos a Dala Tando para nova sessão de formação. A estrada estava a esburacada e a vegetação tinha invadido a fita de asfalto. Entre Novembro e Maio caíram grandes aguaceiros, a água não se escoava porque as valetas estavam infestadas de capim e arbustos. O sol ardente amolecia o asfalto e como a água não era escoada, infiltrava-se. Os grandes camiões, carregados com muitas toneladas, faziam o resto. Grandes crateras tornavam a via praticamente intransitável.

No regresso a Luanda escrevi um texto de opinião no qual defendi a criação de brigadas de manutenção permanente. A Junta Autónoma das Estradas, durante a administração colonial, dividia as vias em “cantões” e contratava cantoneiros que vigiavam diariamente as faixas de rodagem e as valetas de escoamento da água. Na estação da Chuva essas valas de drenagem tinham de estar desobstruídas. Caso contrário a água ficava estagnada nas faixas de rodagem. Mesmo assim existiam zonas, nas “baixas”, que depois dos aguaceiros viravam piscinas. Era necessário escoar a água imediatamente com bombas. Se aparecia uma falha no asfalto era imediatamente tapada. 

Bastava fazer o mesmo com as excelentes estradas que estavam a ser reconstruídas depois de 2002. Na Picada da Trombeta era facílimo criar as brigadas de manutenção porque entre o Zenza do Itombe e o Golungo Alto existem muitas aldeias e vilas. As autoridades locais podem mobilizar mão-de-obra e assumir essa responsabilidade nas suas áreas de acção. Construir uma estrada e abandoná-la quando abre ao trânsito, é criminoso! Uma via não tem horário de funcionamento. Está s aberta, ininterruptamente. A manutenção tem de ser permanente. 

Se não existir manutenção há buracos que evoluem para crateras em pouco tempo. As estradas ficam intransitáveis depois da longa estação da Chuva, que vai de Setembro a Maio. São muitos meses de inundações. Muitos meses de capim a invadir as vias. Muitos buracos que se não forem logo tapados viram crateras.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Portugal | A VER PASSAR AVIÕES

Alcochete

Na balança temos uma escolha inviável e uma escolha com futuro. Porque é que ainda há dúvidas? A resposta é simples. 

Nuno Cavaco | AbrilAbril | opinião

Segundo muitos especialistas é mais fácil acreditar numa mentira, ou numa imprecisão, do que numa verdade complexa. Dizem-nos que andamos há décadas para escolher o local do novo aeroporto e que mais vale escolher mal do que não escolher. Nada mais falso. Já escolhemos e escolhemos bem pelo menos duas vezes. Com estudos, com rigor, com profissionalismo. E escolhemos mal, uma vez.

Quando escolhemos mal, escolhemos sem estudo e sem discussão pública. Foi-nos dito que não havia alternativa, que era assim ou não era. Só depois da escolha é que se fez um estudo, não de forma independente, como deveria ser, mas um estudo condicionado para que à partida permitisse que a escolha fosse justificada. Um estudo que apresentou mais de 150 medidas mitigadoras que agora não são contabilizadas nos custos do aeroporto que ainda hoje é apresentado como mais barato. 

A solução Montijo em todos os trabalhos sérios foi considerada inviável. Em qualquer estudo de impacte ambiental sério, a existência de mais de 150 medidas mitigadoras é motivo para mandar a localização para o «lixo».

Alcochete foi a melhor escolha por duas vezes. Uma melhor escolha em aspectos que deveriam ser óbvios: capacidade de expansão, impacto económico, menos impactos ambientais e integração com o transporte ferroviário.

Na balança temos uma escolha inviável e uma escolha com futuro. A questão que se coloca é porque é que ainda há dúvidas? A resposta é simples.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Angola Vai à Lua e a Marte -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Sem duas margens não há passagem. Sem a montanha não há rio. Lá nas Boas Águas (Tchicala Tcholohanga) está a mãe dos rios Cubango (Okavango) e Cunene. O rio Cuanza é filho do Chitembo, Bié. Tantas margens. Tantas passagens. Quando éramos miúdos procurávamos a Génese nas águas mansas do grande Cunene, ainda fio de água pura no início do seu longo caminho de mil quilómetros até Ruacaná. 

Afinal o primeiro Homem estava resguardado, pensativo, num rochedo da montanha. Um raio fendeu a pedra e das suas entranhas saiu o nosso Papá. Das profundezas do rio emergiu Choya para deslumbrar o nosso Pai Fety. 

Nesse tempo de férias grandes sem horário nem calendário aprendemos esta mensagem do barqueiro: Amol’osonge, lilongisa okuywila asiña avali: Esiña limosi hoyokilo. Ó cria do songue aprende a nadar: Uma só margem não é passagem. 

 A “bíblia” que nos apresenta a Génese está escrita em Umbundu:

Suku wa lulika omanu vatete. Alume vakuãlã va tunda vesenje. Va sanga ovombanda akuãlã. Wa tete wa tambula umbanda wokuloa. Wavali wowu wokutãhã. Watatu wa tambula unune Wokusakula wakuãlã wa linga ukongo. Eteke limue ukongo wa enda okuyeva konele yolui, yu wa linga ukongo.

Eteke limue ukongo wa enda okuyeva konele yolui, yu wa mõlã cimue ci lisenga vovava, wa ci kuata, wa ci kuta lolondovi kuenda wa ci limgisa upika waye.

Oco ukai watete. Eci ukongo wa tiuka kocilombo caye wo kuela yu wa linga ukai waye. Kovaso yoloneke we mina yu wa cita. Omala vaye akai vatatu va linga akai valume vatatu vakuavo.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Portugal | BEM VISTO


 Henrique Monteiro | HenriCartoon

O FINAL DO FIM E OS POLÍTICOS LUSOS EMPATA VOOS E POUSOS

Expresso Curto para dar e lavar. Bom dia. Raquel Moleiro é a arquiteta da prosa de hoje. Aborda o final do governo de Costa que o judicialismo estruturado e alcaponizado conseguiu derrubar. Por isso existem os que consideram que a ação é comparável a um golpe de estado. Terão razão?

Além dessa cena de horror, que mais parece engendração de extrema-direita saudosista do salazar-fascismo hoje há o tema do aeroporto que estudiosos e sábios anunciaram dever ser instalado em Alcochete. Por ali só pode ser abençoado pelo Padre Cruz, dito santo que adorava aquela região a sul do Tejo e namorada de Lisboa. Cruz ia de Lisboa para lá atravessando o Tejo em Faluas e pousava a sua santidade numa herdade de onde se aprimorava a olhar a capital à míngua e a gozar as férias que ocupava pelas manhãs a oferecer comida aos pobres e famintos, que eram muitos. Proporcionalmente agora são muitos mais. O Banco da Fome da tia Isabel Jonet encarrega-se disso e de ser uma prestimosa colunável, ignorando a máxima do criador da obra do mundo em seis dias da semana porque o domingo era de descanso e oração... A máxima dizia "que a tua mão esquerda não saiba o que a tua mão direita oferece aos pobres e necessitados". Isso eram outros tempos. Mais decentes, menos hipócritas, nada colunáveis.

Mas isso não interessa nada, consideramos. O que interessa mesmo é o novo aeroporto de Lisboa talvez em Alcochete. Que esse tal venha a existir aqui ou ali já leva mais de 50 anos de atraso para ser construído por via de decisão dos políticos ronceiros e empata voos e pousos. Esses tais são peritos em agir parados, paradinhos, devagar, devagarinho e/ou nunca agir até às tantas verem naquilo lucros e receitas de toda a espécie provindos por debaixo dos panos, pela socapa... Mas alegadamente muito transparentes - para papalvos acreditarem. "Ai os dótores dos cifrões são tramados a levar o nosso guitarro", dizem os plebeus. E sim. Assim tem sempre acontecido, desde que o mundo é mundo. Ser político e/ou apaniguado é uma profissão de estalo e de regalo... para uns quantos eleitos pela surra e de segredos dos deuses... Pois.

Adiante. Vão ao Curto aqui já a seguir. Bom dia e bons voos... rumo à miséria da maioria. É fome de tudo e de três em pipa. Dizem e vimos. Até se cheira. Omessa!

MM | Redação PG

À espera do fim 

Raquel Moleiro, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia.

Antes do mais, deixo-lhe o convite para a nossa conversa com assinantes hoje, às 14h. Sobre o "PS: os candidatos e as promessas", com David Dinis e Vítor Matos. Pode inscrever-se aqui.

Amanhã, às 12h, irá realizar-se mais um “Visitas à redação”, exclusivo para assinantes. Inscreva-se através do mail [email protected] e venha conhecer o seu jornal.

Hoje é o dia final inteiro de António Costa à frente do Governo. Amanhã, depois do Conselho de Ministros, talvez mais para a tardinha, Marcelo Rebelo de Sousa vai exonerar o primeiro-ministro, um mês exato após a sua demissão, e assim destituir formalmente o executivo. Esperou-se pela aprovação do Orçamento de Estado, por votações importantes para o PRR, e agora entra-se em gestão corrente, só para atos estritamente necessários, de prática inadiável.

Nas últimas semanas, quase que por milagre ou talvez contágio eleitoral, desfizeram-se (ou afrouxaram-se) nós setoriais que, acreditava-se, ficariam politicamente enrodilhados para todo o sempre. Depois do acordo com os médicos, do recuo no aumento do IUC, ontem avançou-se na resolução de dois novelos históricos sem aparente ponta de esperança por onde se lhes pegar: a localização do novo aeroporto de Lisboa – na pasta das Infraestruturas - e a recuperação integral do tempo dos professores – no domínio da Educação.

A avaliação da Comissão Técnica Independente defende que o Campo de Tiro de Alcochete é o melhor local para o aeroporto definitivo, com a continuidade do Humberto Delgado até que a nova infraestrutura esteja em pleno funcionamento. Vendas Novas é também uma opção viável, mas não a melhor por envolver expropriações, e Santarém e Montijo foram descartadas por questões económicas, ambientais e de navegabilidade aérea.

O relatório irá agora para consulta pública durante 30 dias, mas António Costa não quer deixar a questão totalmente pendurada com a sua saída e, na última reunião ministerial, vai aprovar uma resolução que obriga a ANA (concessionária) a avançar com obras de melhoria do atual aeroporto da Portela, orçadas em 300 milhões de euros, para que aguente a espera da sucessão. E bem precisa. No ranking da AirHelp foi considerado o quarto pior do mundo, numa lista de 191.

“Percebem a minha inveja de não ser eu o decisor político”, lamentou o primeiro-ministro durante a apresentação do relatório. O ‘ok’ final não será seu, mas numa tentativa de controlar a narrativa futura aproveitou para deixar recados aos sucessores que, têm, no seu entender, “o dever de respeitar a avaliação técnica da CTI”. E há razões para receios. Ainda as conclusões estavam a ser lidas publicamente e já o líder do PSD, e candidato às legislativas, anunciava que ia constituir um grupo de trabalho para debater o tema, revelando não aceitar como definitivo o encerramento da questão, que leva apenas 54 anos de estudos, decisões e indecisões. Só a construção do novo aeroporto, orçada em €8 mil milhões, soma mais sete anos à cronologia.

Também longa vai a luta dos professores pela recuperação dos seis anos, seis meses e 23 dias de tempo de serviço. Mas o fim do governo de António Costa deu aos docentes pelo menos 75% de esperança de alcançarem, em breve, o tão ansiado rendimento em atraso.

Metade do alento vem do PSD, que já confirmou o cumprimento dessa reivindicação caso venha a formar Governo, e 25% foi acrescentado ontem pelo ainda ministro da Educação, João Costa, em entrevista à Renascença. Apoiante declarado de Pedro Nuno Santos, afirmou que, caso o candidato socialista seja cabeça de lista às legislativas e as ganhe, será esse também o caminho a seguir. “Disse sempre que a reivindicação dos professores é justa e legítima. Se houver uma gestão, que espero venha a ser liderada por Pedro Nuno Santos enquanto primeiro-ministro, que consiga dar resposta a isto, obviamente que fico muito contente”. O ¼ de incerteza chega em caso de vitória de José Luís Carneiro, uma opção de continuidade dentro do PS.

Esvaziada a causa que tornou as escolas palco de greves sucessivas nos últimos tempos, talvez então os resultados escolares se tornem o foco central da Educação. O desempenho dos alunos portugueses de 15 anos nos testes PISA, que envolveu em 2022 um total de 81 países e regiões e quase 700 mil jovens, piorou nos últimos anos. Seja comparando com o último teste, realizado em 2018, seja olhando mais para trás, a partir da tendência na última década. O declínio verificou-se nas três matérias avaliadas - Matemática, Leitura e Ciências -, principalmente nas duas primeiras. E a pandemia não explica tudo.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Angola | País Jovem e Velhos Donos -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Angola tem um grande povo que ao longo de séculos lutou pela Liberdade e nesse percurso aprendeu a fazer das fraquezas forças. Das derrotas, o ponto de partida para novas vitórias. Do sofrimento, a procura permanente da felicidade. Das injustiças, a disposição para novos combates pela dignidade.

Este povo escreveu a sua História com sangue e sacrifícios sem nome. Ao longo dos anos tem conseguido tudo o que se propõe conquistar. Para este percurso não ser interrompido, as novas gerações têm de ir mais além do que foram as anteriores gerações de mártires, heróis anónimos e grandes dirigentes. Nos nossos dias temos de ser protagonistas das mais saborosas vitórias e conquistas. O 11 de Novembro é a maca indelével desse percurso vitorioso.

Os angolanos deram exemplos de coragem e abnegação ao mundo. Derrotaram o colonialismo. Destroçaram o “apartheid”. Ajudaram a subir bem alto as bandeiras do Zimbabwe, da Namíbia e da África do Sul. Sabem o que são povos irmãos e conhecem como ninguém os valores da solidariedade e da fraternidade. O 11 de Novembro que hoje comemoramos resulta dessa sabedoria colectiva.

Os angolanos têm mostrado que, apesar das insuficiências naturais de quem foi colonizado durante cinco séculos, jamais aceitaram a submissão. Grandes potências mundiais coligaram-se para nos submeter. Confiaram demasiado nas suas máquinas de guerra, nas suas armas sofisticadas, na sabotagem económica, na subversão interna, pagando a peso de ouro traições que eram apresentadas sob a bandeira da democracia. Até 2017 falharam estrondosamente. Os angolanos descobriram, nas palavras de Agostinho Neto, que contra milhões ninguém combate e se combate, perde. O 11 de Novembro é símbolo eterno desse combate.

Este povo grandioso e com uma História exemplar, que demonstrou ao longo dos séculos um amor acrisolado à liberdade e independência, está entre os primeiros na galeria dos construtores da democracia. Por isso não merece que no seu seio cresçam seres híbridos, inqualificáveis, aos quais não assenta um só adjectivo, mesmo negativo. O 11 de Novembro tem hoje e sempre teve muitos inimigos. E está sob fogo amigo há seis anos.

Falo dos que hipotecam os angolanos à causa da traição e da insídia. Dos que foram capazes de vender a terra que os viu nascer, os ventres que lhes deram o ser, os seios que os amamentaram. Sim estou a falar da UNITA e dos seus inesperados parceiros que se juntaram em bloco aos inimigos da democracia, ainda que se intitulem democráticos. A UNITA e o Bloco Democrático são inimigos do 11 de Novembro.

Este povo heróico não merecia que tantos erguessem as suas armas de aluguer contra a Independência Nacional, proclamada por Agostinho Neto faz hoje 48 anos. Angola não merece que alguns dos seus filhos se juntem ao banditismo internacional e conspirem contra a democracia angolana em sinédrios de deserdados da honra e seres humanos sem coluna vertebral. Quando se juntam, viram mabecos. Mordem até a pátria se esvair em sangue. E se ninguém enfrentar a matilha, é o fim. Todos sabemos que já estivemos a ponto de perecer. O grande patriota D. Alexandre do Nascimento lançou esse grito ao mundo. Ninguém respondeu.

domingo, 16 de julho de 2023

Angola | CAMINHO-DE-FERRO DE BENGUELA -- Artur Queiroz

A Mais Valiosa Joia de Angola Oferecida ao Desbarato

Artur Queiroz*, Luanda

O Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) é a estrada mais curta entre o Oceano Atlântico e a África Central profunda, sem frente de mar. Uma brochura belíssima da empresa, profusamente ilustrada com aguarelas do artista angolano Neves de Sousa, faz a apresentação da maior obra pública alguma vez foi realizada no nosso país, citando um relatório assinado pelos administradores Robert Williams e General Joaquim José Machado (delegado do Estado Português junto da empresa), engenheiro militar e que foi director do Serviço de Obras Públicas de Angola. Uma estação no Bié (Camacupa) foi baptizada com o seu nome, a Vila General Machado.

O relatório afirma que “graças ao caminho-de-ferro, Lourenço Marques (Maputo) e Durban forneceram uma saída para as minas do Rand; Os campos da Rodésia (Zimbabwe) exportam os seus produtos pelo porto da Beira. Dentro de meses Katanga pode exportar o seu cobre, aos milhares de toneladas, pela Baía do Lobito, graças ao Caminho-de-Ferro de Benguela”.

O outro autor do relatório é assim apresentado: “A concepção do Caminho-de-Ferro de Benguela e o desenvolvimento da Baía do Lobito são devidas a um escocês. Sir Robert Williams, a quem foi conferido o título de “Varonet” em 1928, pela sua acção no desenvolvimento de África durante 50 anos. Foi Williams quem descobriu os jazigos de cobre na Katanga e quem prolongou a secção do Caminho-de-Ferro do Cabo ao Cairo, desde Broken Hill até ao Congo Belga, alcançando por conseguinte para os produtos da Rodésia o valioso mercado da Katanga e criando tráfego para os mesmos Caminhos de Ferro”.

Robert Williams embarcou a primeira vez em Aberdeen com destino a África em 1881 e durante alguns anos foi sócio Cecil Rhodes em diferentes empresas mineiras em Kimberley e no Rand. Desta sociedade nasceu o projecto Caminho-de-Ferro do Cairo ao Cabo. A ideia era escoar todos os minérios saqueados entre os grandes rios Zambeze e Congo (Zaire). Angola estava no trajecto. Mas isso só era possível transferindo o eixo do Lago Tanganica para Angola/Congo Belga. Neste ponto entra o Almirante Gago Coutinho que se empenhou em integrar o rio Zambeze na colónia de Angola.

O almirante pioneiro nos voos transatlânticos (a Marinha também voava!) fez o desenho da fronteira Leste de Angola, entre o bico da Luiana e o início do saliente do Cazombo. O trabalho do traçado devia ter igualmente um técnico britânico mas Londres confiou no trabalho de Gago Coutinho. Os sobas locais levaram-no ao território do Alto Zambeze e mostraram-lhe a “flor do cobre”, pedras verdes belíssimas. Aquelas flores mostravam fortes indícios do metal, na época muito valioso. 

Quando Portugal negociou com a Bélgica a permuta do Vale do Mpozo com o território da Lunda (Tratado de Loanda), o almirante deu instruções para que os negociadores exigissem todo o território que corresponde hoje ao saliente do Cazombo, porque assim o rio Zambeze passava a correr em Angola e a colónia ficava com grandes reservas de cobre. Juntou uma carta dos solos que ele elaborou secretamente. Até hoje aquela riqueza continua inerte. 

Pode ser que o Grupo Carrinho ou a Construtora Omatapalo, dando expressão à sua filantropia, estejam interessados em aumentar o PIB de Angola para o dobro. Apenas os artesãos usam a “flor do cobre” para fazer colares e outros adornos. Nos anos 60 fiz uma reportagem sobre as populações ribeirinhas do Zambeze em Angola. Conheço bem a terra das flores do cobre!

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Angola | O COMBOIO TRANSPARENTE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Presidente João Lourenço foi ao Lobito abrilhantar a festa da entrega do Corredor do Lobito a um consórcio multinacional. No seu discurso afirmou que Angola mostrou ao mundo que é possível entregar infraestruturas vitais a estrangeiros, com toda a transparência. 

Portugal entregou a Robert Williams o Caminho-de-Ferro de Benguela. Lisboa também falou de transparência mas o zé povinho chamou-lhe uma traição, uma capitulação ante Inglaterra, “essa impúdica bacante” como lhe chamava o poeta Guerra Junqueiro. Enfim, Angola só abdicou da joia por 30 anos. Transparência. 

Uma criancinha foi levada pelo papá ao desfile real porque sua majestade ia vestir um manto belíssimo, nunca antes visto. Quando a carruagem real passava no meio da multidão, todos diziam embasbacados: O manto real é belíssimo. É belíssimo. 

Quando a carruagem chegou junto da criancinha e seu papá, o miúdo disse espantado: O Rei vai nu! O rei vai nu! E ia mesmo O monarca era tão vaidoso, tão tolo, tão arrogante que exigiu ao alfaiate uma fatiota única, jamais vista. Depois do rei reprovar mil modelos, o pobre homem pediu a sua majestade que se despisse, todo nu! Fingiu que lhe vestiu um manto fabuloso. Ele viu-se ao espelho e murmurou: Este sim é um traje digno de mim. E foi nu para o meio da multidão.

Eu sou como a criancinha e ouso perguntar: Angola precisava de entregar as infraestruturas nacionais do Corredor do Lobito a um consórcio multinacional? Não tem 250 milhões de dólares para investir? Precisamos mesmo da esmola do Joe Biden? Precisamos mesmo da Trafigura? Não temos figuras nacionais para fazer o mesmo, isto é, meter ao bolso o dinheiro dos lucros? Não temos uma empreiteira disponível para ganhar dinheiro, precisamos mesmo da empresa do fascista Paulo Portas da UNITA? 

Transparência é, sem dúvida, o Presidente João Lourenço citar os EUA e a intervenção de Joe Biden na cimeira do G7 quando disse que o Corredor do Lobito é estratégico. Muita transparência, obrigatório reconhecê-lo, é citar o anúncio de Joe Biden na cimeira dos ricaços: Vamos investir 250 milhões de dólares no Corredor do Lobito.

Mais transparência não há. Porque investir 250 milhões de dólares em 30 anos no Corredor do Lobito é mais ou menos o que os EUA investem por mês na guerra contra a Federação Russa por procuração passada à Ucrânia.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Angola | BANDOLEIROS EXIGEM O CONTRADITÓRIO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Saúde não é o hospital e medicamentos, isso é o fim da cadeia. Saúde é com a governação local. Se os municípios tratarem da água potável, do saneamento básico, das condições de habitabilidade, da condição alimentar, da educação das pessoas, teoricamente os profissionais de saúde podem passar para o desemprego. 

Calma, não comecem a xingar-me. Isto foi dito por Bornito de Sousa, antigo Vice-Presidente da República. Um dos jovens que no seio do MPLA lutou pela mudança de regime. Não é um radical muito menos sonha com o fim do Estado, da família e dos deuses. Eu digo o mesmo mas de outra maneira. Esqueçam isso de inaugurarem hospitais em cada bairro. A aposta tem de ser nos cuidados primários. Se o Presidente da República inaugurar todos os dias um centro de saúde em cada quarteirão de cada bairro, basta um grande hospital no Norte, na Grande Luanda, no Centro e no Sul. 

A aposta nos cuidados primários reforçados com saúde oral e saúde materno-infantil fez de Cuba o país com melhor assistência do mundo. Angola pode seguir o mesmo caminho porque além de cana-doce também tem petróleo e outras matérias-primas valiosas que os nossos irmãos cubanos não têm.

Angola precisa de infinitamente mais escolas e muito menos mão-de-obra na política. Precisamos de uma boa rede de estradas e da sua manutenção. Como já provámos que nem capinamos as valetas, a solução é contratar empresas privadas para fazerem esse trabalho. E se for caso disso, o pagament6o é feito com a introdução de portagens.

Angola precisa de mais professores qualificados e remunerados com salários decentes. Nenhum país do mundo tem ensino de qualidade se em vez de salários derem esmolas aos professores de todos os graus de ensino. Há dinheiro para alcavalas, mordomias e gastos sumptuários. Mas não há disponibilidade orçamental para pagar decentemente aos professores. Mais uma greve à vista, ao nível do ensino superior público.

Angola tem de cuidar das camadas mais desfavorecidas da população. O Mundo Rural está ameaçado pela desertificação humana. Muitos municípios já mergulharam na morte social. Este problema só se resolve com políticas centradas no combate à pobreza, num plano geral de extensão rural como já aconteceu nos municípios do Bailundo e Andulo, antes da Independência Nacional. O assistencialismo, as esmolas do Kwenda, nada resolvem. Mas é esse o caminho que estamos a seguir no que diz respeito às políticas de protecção social nos grandes centros urbanos e no Mundo Rural. 

Os problemas de Angola têm raízes muito fundas. O Manifesto do MPLA, redigido em 1956, faz uma análise perfeita aos malefícios do colonialismo. E aponta caminhos. Em 1961, tudo mudou. Lisboa decidiu mesmo fazer de Angola uma “terra de brancos” e apostou tudo nessa política. Mas expandiu o ensino a todos os níveis. Pequenas vilas do interior passaram a ter escolas primárias e do ciclo preparatório. Algumas até o ensino liceal e técnico. E em 1962 chegaram as escolas superiores. A maioria negra aproveitou a oportunidade. Em 1968 a luta armada sofreu um fortíssimo impulso, graças a essa juventude instruída. 

A guerra destrói tudo, mesmo que paralelamente nasçam todos os dias grandes prédios, construam centenas de quilómetros de estradas asfaltadas, nasçam milhares de empresas agrícolas, comerciais e industriais. A guerra absorve todas essas riquezas e alimenta-se de vidas humanas, quase todas jovens. Foi assim desde 4 de Fevereiro/15 de Março de 1961. Em 25 de Abril de 1974 caiu o regime colonialista.

O cessar-fogo só aconteceu em Setembro. Negociações para a Independência Nacional, só em Janeiro de 1975. No primeiro aniversário do 25 de Abril a guerra regressou a Angola. Invasores estrangeiros puseram em marcha operações militares para impedir o 11 de Novembro de 1975. Guerra mais sangrenta do que nunca. Mais destruidora do que nunca. Durou até ao Acordo de Nova Iorque, que foi uma espécie de rendição do regime de Pretória.

A guerra continuou em força, a partir de Outubro de 1992 e só parou em 2002. O plano de longo prazo (até 2050) é muito bom. Mas tem um problema. É curto. Porque para remover os escombros da guerra, para refazer o que foi destruído, para cuidar das pessoas de acordo com o Programa do MPLA, lá para 2100 fica tudo resolvido. Criticar o Executivo sem ter em conta esta realidade é injusto. Mas o governo do MPLA não pode ignorar o seu programa eleitoral e trocar o socialismo democrático pelo neoliberalismo da Dona Vera e do Vilar Bicudo. 

O governo do MPLA tem de adoptar políticas sociais que respondam às necessidades básicas da maioria da população. Os que não têm trabalho certo, não têm salário digno, não têm habitação, não têm transportes públicos. Não têm cuidados primários de saúde nem acesso fácil à educação. O programa até 2050 precisa paralelamente de políticas que respondam às necessidades quotidianas. Provavelmente não temos massa crítica para isso. Nem nervo financeiro. Mas as populações, no mínimo, têm de saber que o governo está preocupado com os seus problemas e tem soluções de emergência para resolvê-los.

O secretariado executivo da UNITA atirou-se ao porta-voz da Polícia Nacional porque denunciou as acções terroristas dos seus dirigentes, à boleia das manifestações do passado sábado. A denúncia do oficial da polícia foi documentada com imagens de deputados e dirigentes do Galo Negro envolvidos em acções terroristas. É claro que as palavras do denunciante foram mais simpáticas e resumiram tudo a “desordem e arruaça”. Apesar da simpatia, os criminosos de guerra ficaram indignados!

Os criminosos de guerra que combateram ao lado dos colonialistas portugueses e dos racistas da África do Sul emitiram um comunicado onde dizem que a UNITA “é o partido fundador da Democracia em Angola”. Os assassinos dos cercos do Huambo ou do Cuito, os que mataram os seus próprios dirigentes com violência inaudita, os que queimaram mulheres nas fogueiras da Jamba dizem que respeitam os “marcos do Estado de Direito Democrático”. 

Os criminosos de guerra clamam por um “jornalismo credível e independente”. Acham que quem deu tempo de antena à Polícia Nacional tinha que cumprir o contraditório. As autoridades anunciam a prisão de um bandido. É preciso dar também a palavra ao preso! Acham que a Polícia Nacional tem de ser confrontada com os bandidos do Galo Negro. 

*Jornalista

terça-feira, 9 de maio de 2023

Portugal | FOI PENA, FOI

Fernanda Câncio | Diário de Notícias | opinião

Em 47 anos de democracia, vimos tantas formas de presidir como os eleitos (a presidência é função quase sem guião), e muitos conflitos entre governos e presidentes - alguns particularmente violentos. Vimos muita coisa penosa; esta foi mais uma.

Há muita falta de memória na política, disse uma vez Jorge Coelho. Na verdade há em geral, em todas as esferas, públicas e privadas, falta de memória. Quer porque as pessoas esquecem genuinamente, quer porque se fazem esquecidas.

Daí que, quando ouvi e li tanta gente a qualificar a reação do primeiro-ministro à sugestão do PR de que exonerasse um ministro, e a posterior reação do PR, como algo de gravidade e tensão nunca vista no relacionamento institucional entre estes dois cargos, me tenha perguntado se seria a única a lembrar o conflito entre Eanes e Sá Carneiro (com o então primeiro-ministro a acusar publicamente o presidente de "desejo insaciável de poder", e "oportunismo", a descrevê-lo como o "cúmulo do cinismo, da hipocrisia e da ambição pessoal", e a imputar-lhe "mediocridade"). Ou a forma como Soares fez a vida negra aos governos de Cavaco Silva. Ou, mais recentemente, o insuperável episódio das "escutas de Belém", com um assessor de Cavaco a municiar um jornal com suspeitas mirabolantes de "vigilâncias" perpetradas pelo governo e o presidente a pedir, à beira das legislativas, "limpeza" policial aos seus gabinetes.

Não, não faltam na democracia portuguesa episódios rocambolescos - para usar uma expressão muito repetida durante estes dias - nem conflitos acesos, com imputações inclusive insultuosas, entre primeiros-ministros e presidentes. Por outro lado, não falta, também, evidência de que cada locatário do palácio de Belém interpreta e reconfigura as funções da presidência, nomeadamente até onde vai no que respeita a interferência na esfera da governação - podendo ser pacífico concluir que, de um modo geral, irá até onde o deixarem ir.

Tem sido quase sempre, mesmo quando PR e PM advêm da mesma área política (veja-se Cavaco/Passos, uma coabitação não isenta de conflito), um jogo de medição de forças, de avanços e recuos, aquele a que temos assistido ao longo dos 47 anos que se contam desde que (em 1976) se elegeu democraticamente um presidente e uma Assembleia da República. E é normal: sendo o cargo de presidente destituído de poderes efetivos (para além, já se sabe, do de dissolver o parlamento), quem o desempenha tenta encontrar uma forma de não ser apenas uma espécie de figura majestática, e, invariavelmente, acaba a pisar, com maior ou menor afinco e perversidade, os calos do governo.

domingo, 2 de abril de 2023

Portugal | PARQUE ESCOLAR

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Parque Escolar foi a empresa escolhida pelo governo para a construção de habitação pública com o dinheiro do PRR. Sim, leu bem. A Parque Escolar, cuja mera invocação deveria causar taquicardia ao contribuinte, que encheu os bolsos ao muito fiel amigo de José Sócrates - Santos Silva do Grupo Lena -, que também deu uma ajudinha à mui regimental Mota-Engil, que tem um dívida de 1,4 mil milhões de euros e não apresenta contas há 6 anos, que está há um ano sem presidente do conselho de administração e sem presidente do conselho fiscal. Portanto, para que serve a bazuka? Para a rede cacique e nepotista do Partido Socialista, inclusive para limpar o passivo da Parque Escolar.

Ou seja, trata-se de uma empresa criada por Sócrates, quando António Costa era o número dois do governo, que fez orgias com os dinheiros públicos - um custo inicial de 940 milhões que, em 3 anos, já estava nos 3,2 mil milhões - que (como disse a própria ministra da Educação da altura) "foi uma festa" para o país e para a arquitectura, e sobre a qual ainda decore uma investigação por suspeitas de corrupção. Trata-se de uma construtora que edificou escolas com luxos supérfluos (como candeeiros Siza Vieira ou revestimentos a mármore), inclusive com custos de manutenção e funcionamento insuportáveis.

É isto que é a Parque Escolar. A mesma que nem sequer construiu todas as escolas previstas até 2023, que deixou durante anos alunos a levarem com chuva ou outras indignidades na cabeça (quem se lembra da miséria no Monte da Caparica?) que, por exemplo, em mais de uma década, não consegue acabar a António Arroio e agora vai construir habitação pública? A mesma que justificou as suas fundas derrapagens orçamentais e de prazos com a "dificuldade generalizada na mobilização de meios"?! A culpa sempre mais solteira que a carochinha.

Bom, como há escolas em contentores provisórios há mais de 40 anos - os chamados galinheiros - também devemos ter estes fogos construídos lá por 2100. Ou 2101. Talvez agora com madeiras nórdicas e vidros italianos.

Mas alguém que esclareça: a Parque Escolar é a única disponível? Será? Certo é que, em 2022, esta empresa deu por concluída a sua empreitada, sendo agora apenas encarregue da manutenção dos edifícios escolares reabilitados, que passaram a ser propriedade da mesma, o que implica que as escolas paguem uma renda anual de 500 mil euros.

Aliás, logo lhe foi encontrada nova missão: reconstrução de escolas na Ucrânia. De resto, as histórias mirabolantes da Parque Escolar são um maná. Em março de 2018, a sede do Ministério da Educação mudava para um edifício da Parque Escolar. Depois, o governo entregou o antigo prédio ao Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior, para construção de residências universitárias e outros equipamentos. Até hoje.

Esse plano tinha previsto para uma primeira fase a disponibilização de mais de 12 mil camas até 2022 aproveitando edifícios devolutos ou do Estado. No entanto, até agora a tal ex-sede continua fechada, casa de ratos, heroínomanos e sem-abrigo. Ou seja, tudo serviu para encher mais uns bolsos, e cavar o buraco negro.

Não se admirem se, em 5 anos, o Tribunal de Contas declarar que a Parque Escolar ainda não construiu uma única casa. O esquema para o fartar vilanagem último e final está montado com os primos e amigos do Animal Feroz. Que bela maioria absoluta.

*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia

quinta-feira, 16 de março de 2023

Portugal | GALAMBA, MARCELO E O ATIVISMO PATRONAL

José Soeiro | Expresso | opinião

Aos patrões não lhes basta que as margens de lucro aumentem, provocando a inflação. Não lhes basta a contração do salário real, que é a sua solução e também a resposta recessiva do Governo ao aumento dos preços e o maior fator de agravamento das desigualdades. Os patrões querem, ainda, que nada possa ser decidido no mundo do trabalho sem a sua outorga. Mobilizam-se contra algumas das regras que podem trazer mais exigência de respeito nas leis do trabalho, invocando uma espécie de direito de veto que a Constituição não lhes atribui

Se quisermos um pequeno retrato do mundo do trabalho em Portugal, olhemos para o que se passa com os bares dos comboios da CP. O Estado, que detém a empresa, externalizou o serviço para um privado. Este, por sua vez, não cumpre o contrato e não pagou aos trabalhadores os salários de fevereiro. Os clientes não têm acesso ao serviço e os trabalhadores, que desesperam há semanas sem trabalho e sem qualquer rendimento, continuam acampados frente às estações de Santa Apolónia e de Campanhã. O concessionário empata e o governo não resolve. Há enquadramento legal para encontrar uma solução, rescindindo o contrato com a empresa externa e incorporando os trabalhadores na CP, mas não há vontade política. Existem leis para proteger as pessoas, mas elas não bastam para que exista justiça. No Parlamento, o PS chumbou até a ida do ministro Galamba para esclarecer a situação, impedindo a responsabilização de quem tem poder e desprezando a aflição dos trabalhadores.

Enquanto isto acontece, as confederações patronais mobilizam-se contra algumas das regras que podem trazer mais exigência de respeito nas leis do trabalho. Invocando uma espécie de direito de veto que a Constituição não lhes atribui, rasgam as vestes porque o Parlamento aprovou algumas normas sem o acordo da “concertação social”. Não basta aos patrões terem celebrado com o governo e a UGT um “acordo de rendimentos” que fixa uma meta de aumentos salariais (5,1%) muito aquém do que já se perdeu para a inflação e que, mesmo assim, a maioria das empresas nem sequer cumpre (os últimos dados da DGERT revelam que os contratos coletivos negociados em janeiro, que em princípio preveriam aumentos, abrangem 46776 trabalhadores, uma percentagem ínfima de quem trabalha em Portugal). Não lhes basta que as margens de lucro aumentem, provocando a inflação. Não lhes basta a contração do salário real, que é a sua solução e também a resposta recessiva do governo ao aumento dos preços e o maior fator de agravamento das desigualdades. Os patrões querem, ainda, que nada possa ser decidido no mundo do trabalho sem a sua outorga.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

AGRESSORES E DESTRUIDORES DE ANGOLA SÃO AMIGOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Orçamento Geral do Estado (OGE) 2023 foi aprovado, esta segunda-feira, na generalidade com 117 votos a favor, 80 contra e quarto abstenções. Como a UNITA tem 90 mandatos, dez deputados andavam a passear no dia da votação ou as tratar de sabotagens. O documento fica pouco tempo na especialidade porque os sicários do Galo Negro não têm ideias nem propostas. Está resolvido.

O Presidente João Lourenço está triste por ver a degradação dos grandes estádios de futebol, construídos para o Campeonato Africano das Nações. Outras infra-estruturas desportivas importantíssimas estão igualmente degradadas. Face ao descalabro, disse o Presidente da República: “Não deve ser o Estado a gerir as infra-estruturas desportivas, no entanto, espero que nos ajudem a encontrar as melhores soluções para invertermos o quadro. Precisamos de ideias para ver se saímos da situação em que nos encontramos hoje”.

Sua excelência estás mais Chicago Boy do que os ditos cujos. Quem disse a sua excelência que o Estado não pode gerir as infra-estruturas desportivas? Pode e deve. O que não pode é abandoná-las. O que não pode nunca, é permitir que os responsáveis pelos equipamentos desportivos deixem apodrecer tudo e se limitem a receber os vencimentos e as mordomias.

O Estado não pode ter uma Secretaria de Estado de Desporto que, pelos vistos, só serve para enfeitar. Não pode, de forma nenhuma, deixar as infra-estruturas desportivas sem um orçamento. O que não pode é deixar andar. O Estado, nesta e noutras matérias, não pode ser negligente como tem sido. Os privados só ajudam se lhes for garantido um porco gordo e depois devolvem um chouriço.  

Entreguem as infra-estruturas desportivas aos clubes através de contratos onde fica incluída a obrigação da manutenção permanente. Paguem-lhes por esse serviço. Além da manutenção, os clubes, ao abrigo dos contratos, são obrigados a criar escolas de formação desportiva. Garantir o acesso ao desporto às crianças e jovens. Está garantido.

sábado, 10 de dezembro de 2022

Primeiro avião de bandeira timorense começa a operar em 2023 em várias rotas

O proprietário da empresa timorense Aero Díli disse hoje que o primeiro avião de bandeira timorense começa a voar em 2023 em várias rotas, num investimento de 10 milhões de dólares (9,5 milhões de euros).

O avião, um A320, “está na inspeção geral na Malásia. Deveremos arrancar no mês de janeiro com o lançamento. Estamos a planear as rotas e à espera das autorizações finais do Governo. Queremos fazer Díli-Darwin [norte da Austrália], Díli-Singapura, Díli-Indonésia, Díli-Filipinas e Díli-China, dependendo do mercado”, disse Lourenço de Oliveira em entrevista à Lusa.

“O avião está em modelo de ‘leasing’, já com um pagamento inicial de garantia para dois anos. Será uma operação comercial normal, mas queremos oferecer preços mais competitivos do que os atuais”, explicou.

Dono de dois casinos em Díli e com investimentos em aquacultura e agricultura, entre outros, Lourenço de Oliveira tem no último ano operado parte das ligações aéreas entre Díli e Bali, na Indonésia, utilizando um modelo de charter com aviões das empresas Air Asia e Sriwijaya Air.

Uma experiência, garante, que lhe permite “conhecer bem o mercado” e que permitirá aplicar “preços competitivos” com a operação da Aero Díli.

O sonho de ter um avião de bandeira timorense começou há cerca de seis anos quando Lourenço de Oliveira decidiu ele próprio tirar o curso de piloto, comprando depois três pequenas avionetas para viagens domésticas em Timor-Leste.

TIMOR-LESTE INAUGURA PORTO DE ÁGUAS PROFUNDAS NA BAÍA DE TIBAR

Desde dia 30 de novembro que Timor-Leste tem operacional o seu porto de águas profundas, na Baía de Tibar. O novo porto, a primeira parceria público-privada (PPP) do país, tem como objetivo melhorar o serviço logístico de Timor-Leste e responder à evolução do setor marítimo-portuário.

Entre os objetivos desta nova infraestrutura portuária está aumentar a atratividade de Timor-Leste na região da Ásia-Pacífico e acelerar a economia regional, bem como o desenvolvimento económico do país, transformando-se num hub de transhipment naquela região.

Localizado a 12 km da capital, Díli, exigiu um investimento de 490 milhões de dólares, levou quatro anos a construir, tem um cais de 630 m de comprimento, fundos de -16 metros, equipamentos de movimentação de última geração, nomeadamente dois pórticos (STS) e quatro pórticos de cais (e-RTG), o porto de Tibar Bay está preparado para receber navios de até 7.500 TEU e pode manusear mais de 200.000 TEU por ano.

Ao abrigo da primeira PPP de Timor-Leste, a Bolloré Ports detém a concessão do novo terminal por um período de 30 anos. “Estamos satisfeitos com a conclusão deste grande projeto, o maior até à data em Timor-Leste. Sentimo-nos honrados pela confiança do governo timorense e fizemos todos os possíveis para a satisfazer. Estamos presentes no país há muitos anos e orgulhosos desta nova contribuição para a economia local. Juntos, vamos desenvolver as atividades do porto de Tibar Bay com a ambição de o posicionar como uma infra-estrutura de referência na região Ásia-Pacífico”, disse na inauguração Philippe Labonne, CEO da Bolloré Ports.

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