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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

O curioso (e pouco conhecido) “Centrão” europeu

Ele reúne da social-democracia aos conservadores brandos. Seu projeto essencial é defender os “mercados”. Dirige a Comissão Europeia — porém com solavancos. Ultradireita avança e blocos de esquerda mostram outros horizontes políticos

Flavio Aguiar | Outras Palavras | # Publicado em português do Brasil

Existe um “Centrão” na Europa? Existe, embora com um sentido diferente do brasileiro. No nosso país a palavra designa um grupo enorme de parlamentares no Congresso Nacional que, entra governo, sai governo, fisiologicamente negociam apoios, favores, verbas e orçamentos em proveito próprio.

O que existe na Europa é um agrupamento de partidos e blocos designados na mídia como centro-direita, centro e centro-esquerda, que, de eleição em eleição, domina o cenário político em diferentes combinações e coalizões. Fazem parte dele partidos considerados conservadores, como o Renaissance de Emanuel Macron na França ou a União Democrata Cristã na Alemanha, liberais, como o FDP (de Freie Demokratische Partei) na Alemanha, os partidos social-democratas ou até alguns socialistas. Governam de acordo com uma cartilha liberal na economia, cultuam uma austeridade fiscal ao lado de programas sociais mais ou menos moderados, manifestam preocupações ambientais, ao lado de um protecionismo agrário em alguns casos, guardam uma fidelidade à Otan e mais recentemente manifestam uma vigorosa hostilidade à Rússia, apoiando vigorosamente o governo de Kiev na guerra contra Moscou. 

Este bloco central da política europeia sofreu alguns abalos, sobretudo na França e na Alemanha.

sábado, 12 de outubro de 2024

MELONI E A FALÁCIA DE ULTRADIREITA LIGHT

Já no meio do mandato, primeira-ministra italiana preservou a democracia formal – mas desmonta direitos, aparelha a TV pública e quer mais poder com reforma política. UE normaliza seu governo — e vê sua brutalidade como referência no “controle migratório”

Jaime Bordel Gil*, em El Salto | Outras Palavras | Tradução: Rôney Rodrigues

Dois anos após a sua vitória nas eleições de 25 de setembro de 2022, Giorgia Meloni está no meio do seu mandato. O seu balanço, embora não tão transformador quanto ela gostaria, alcançou algumas conquistas importantes para a direita radical italiana. Além das mudanças que está conseguindo implementar no país, a grande vitória de Meloni até agora é ter normalizado a convivência com a extrema direita no poder.

Na Itália, esta normalização está ocorrendo há décadas, quando, na década de 90, Silvio Berlusconi confiou pela primeira vez na Liga do Norte e na Aliança Nacional para governar. Esse governo das três direitas é uma réplica daquele que hoje se encontra no Palácio Chigi. Com a diferença de que, desta vez, são os Irmãos da Itália de Meloni, herdeiros da Aliança Nacional, que lideram o Executivo como a primeira força, muito maior que a Liga de Salvini e a Força Itália do falecido Berlusconi.

Na Itália, ter a extrema direita sentada na cadeira do Executivo não é novidade. Na verdade, a própria Meloni já era ministra em 2008 – a mais jovem da história italiana – no terceiro governo de Berlusconi. Mas ainda permanecia uma instância de normalização da direita radical que nenhum outro partido tinha alcançado com tanto êxito antes: a Europa.

Embora tenham sido aceites dentro das suas fronteiras, a extrema direita sempre esteve isolada nas instituições europeias, onde muitos países continuaram a vê-los com maus olhos, apesar de participarem no Executivo italiano. A Europa também foi um assunto inacabado de Matteo Salvini quando ele coliderou o chamado “Governo Nacional-Populista” com o Movimento 5 Estrelas em 2018. Então Salvini escolheu o confronto com as instituições comunitárias e assumiu a arena internacional como um campo de batalha. Não importava se se tratava de um desembarque de Open Arms ou de negociações orçamentais em Bruxelas: tudo era uma oportunidade para atacar a UE, os burocratas e as elites europeias.

Meloni entendeu isso de uma forma radicalmente diferente. Em termos gramscianos, passou-se de uma guerra de movimentos para uma guerra de posições. O confronto direto que Salvini impunha foi substituído por uma tática que procura inocular ideias de extrema direita na UE de uma forma mais lenta, mais escondida e, por enquanto, eficaz.

Ao contrário de Salvini, Meloni não entrou em conflito com Bruxelas nas negociações orçamentais, nem fez grande alarido nos seus dois anos à frente do Executivo, mas tentou cultivar uma imagem de parceira confiável. E aos poucos, discurso após discurso e reunião após reunião, foi introduzindo as suas ideias nas instituições europeias. Da questão da imigração à exclusão do aborto entre os direitos mencionados no documento final da última cúpula do G7. E para muitos, as ideias de Meloni já não soam como as de uma pessoa ultra-perigosa, mas sim como as de um parceiro com quem há coisas a aprender sobre questões como a gestão da imigração.

A hegemonia gramsciana falava em conquistar o bom senso da época, e Meloni está garantindo que medidas que há não muito tempo eram consideradas de extrema direita sejam hoje entendidas como sensatas e coerentes. Se ainda há muito tempo não ficávamos chocados com o fato de o governo moribundo de Rishi Sunak ter enviado para Ruanda imigrantes irregulares recém-chegados ao solo britânico, hoje o fato de Meloni assinar um acordo semelhante com a Albânia não faz soar o alarme para ninguém na União Europeia. Um reflexo fiel disso é a visita de Alberto Núñez Feijóo [político espanhol de direita], que há apenas dois anos, quando a líder dos Irmãos da Itália venceu as eleições, teria evitado por todos os meios uma foto como a que decidiu tirar na semana passada. A direita radical de Meloni ainda não tem capacidade para conquistar a Europa, mas aos poucos vai capturando o “bom senso” da União Europeia.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

O Declínio do Ocidente. A “Cúpula da Guerra” do G7 -- Manlio Dinucci

Manlio Dinucci* | Global Research | # Traduzido em português do Brasil

A Cimeira do G7 sob a presidência italiana, organizada pelo Governo Meloni na Apúlia, proclamou como prioridade “a defesa do sistema internacional baseado na força da lei”, declarando que “a guerra de agressão russa à Ucrânia minou os seus princípios e desencadeou uma instabilidade crescente, visível nos vários focos de crise.”

Isto foi declarado pelo G7, onde seis membros (Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália) são grandes potências da OTAN, eles explodiram a guerra na Ucrânia contra a Rússia, e o Japão, o principal parceiro da OTAN no Leste Asiático contra China, foi adicionado.

Bilhões de euros pagos por nós. Eles alimentam a guerra e a corrupção na Ucrânia.

A encenação idílica com que foi apresentada esta Cimeira não pode esconder que se trata de uma cimeira de guerra.

Os Estados Unidos assinaram um pacto militar de 10 anos com a Ucrânia e o G7 concedeu um empréstimo de 50 mil milhões de dólares para ajudá-lo a comprar mais armas. Um empréstimo será reembolsado com juros acumulados sobre 300 mil milhões de dólares em activos russos depositados principalmente em bancos europeus e congelados. Os ministros da defesa dos 6 países do G7 pertencentes à NATO decidiram simultaneamente fornecer à Ucrânia mais ajuda militar significativa e atribuir 43 mil milhões de dólares por ano para continuar a alimentar a guerra no coração da Europa.

Na mira do G7, não está apenas a Rússia, mas toda a organização BRICS, este ano sob a presidência russa, que passou de 5 para 10 membros e está em desenvolvimento: há mais de 30 países que querem aderir. Já hoje o produto interno bruto dos BRICS ultrapassa o do G7 e as previsões para 2024-2029 indicam um crescimento económico dos BRICS, particularmente da China, de 44% em comparação com 21% do G7. Não sendo capaz de impedir o desenvolvimento dos BRICS com instrumentos económicos, o G7 tenta manter o seu domínio com instrumentos militares.

O Papa Francisco foi convidado para o G7 na Apúlia para dar uma aparência de paz a esta cimeira de guerra.

Aqui o Papa Francisco encontrou-se com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky , sem dizer uma palavra sobre o facto de estar a perseguir a Igreja Ortodoxa Russa na Ucrânia, a partir da qual a Igreja Ucraniana levou a cabo um cisma, funcional à guerra contra tudo o que é russo.

*****

Este artigo foi publicado originalmente em italiano na Grandangolo, Byoblu TV.

* Manlio Dinucci,  autor premiado, analista geopolítico e geógrafo, Pisa, Itália. Ele é pesquisador associado do Centro de Pesquisa sobre Globalização (CRG).

Imagem em destaque: Atribuição: União Europeia

A fonte original deste artigo é Global Research

Direitos autorais © Manlio Dinucci , Global Research, 2024

sexta-feira, 14 de junho de 2024

História de duas cimeiras… o belicismo elitista do G7 e o BRICS multipolar de pacificação

Agora deveria ser um momento de diplomacia para pôr fim à loucura da guerra por procuração da OTAN na Ucrânia. Mas os fomentadores da guerra dos EUA, da UE, do G7 e da NATO não têm tais escrúpulos em escalar as hostilidades fúteis para um apocalipse nuclear.

Strategic Culture Foundation, editorial | # Traduzido em português do Brasil

Esta semana proporcionou uma justaposição instrutiva de cimeiras. Em Itália, os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais convocaram o Grupo dos Sete (G7), enquanto na Rússia os países BRICS realizaram uma cimeira profissional para os seus ministros dos Negócios Estrangeiros.

O G7 tornou-se um termo abreviado para o domínio elitista do Ocidente sobre a economia mundial. Por outro lado, o grupo relativamente novo conhecido como BRICS pode ser visto como um fórum progressista e uma voz para a maioria global. Enquanto o primeiro está a murchar com a irrelevância, o segundo está a crescer constantemente em importância para o autêntico desenvolvimento internacional.

Houve um tempo em que os EUA e um grupo de nações capitalistas ocidentais (incluindo o Japão) eram vistos com respeitabilidade e com uma aura de liderança global. O apogeu do poder económico e político ocidental diminuiu em linha com a falha sistémica do capitalismo liderado pelos EUA como modelo a ser imitado pelo resto do mundo. A presumível autoridade moral destas nações também diminuiu à medida que a sua reputação de hipocrisia e arrogância insuportável cresceu.

Na verdade, o G7 tornou-se uma caricatura do poder. Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, a Itália, o Canadá e o Japão são vistos como sendo governados por extorsionistas egoístas, contribuindo pouco para o desenvolvimento global. A sua suposta superioridade é insustentável e parece ridícula. O grupo representa uma camarilha neocolonialista cuja exploração das finanças e dos recursos naturais de outras nações é uma obscenidade e um grilhão ao potencial abundante para o desenvolvimento mundial.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

6 patos mancos e Giorgia Meloni: conheça a turma do G7 de 2024 -- Politico

A reunião desta semana dos líderes do G7 em Itália parece mais uma última ceia do que uma demonstração do poder ocidental.

HANNAH ROBERTS , ZI-ANN LUM , KYLE DUGGAN , MATT BERG , ERIC BAZAIL-EIMIL E TIM ROSS | em Politico | # Traduzido em português do Brasil

ROMA – Com a guerra na Ucrânia já no seu terceiro ano, e os partidos de extrema-direita a atacarem os centros de poder da Europa e do Médio Oriente em chamas, o mundo democrático precisa urgentemente de uma liderança forte do G7 esta semana.

Continue sonhando.

A cimeira do G7 na estância costeira de Borgo Egnazia, no sul de Itália, apresenta, sem dúvida, a reunião de líderes mais fraca que o grupo reuniu em anos. A maioria dos participantes está distraída por eleições ou crises internas, desiludida por anos no cargo ou agarrada desesperadamente ao poder.

O francês Emmanuel Macron e o britânico Rishi Sunak estão ambos a travar campanhas eleitorais antecipadas que convocaram como últimos esforços para reverter a sua situação em declínio.

O alemão Olaf Scholz foi humilhado pelos nacionalistas de extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu no fim de semana passado e poderá em breve ser deposto.

Justin Trudeau, primeiro-ministro durante nove anos no Canadá, falou abertamente sobre abandonar o seu trabalho “louco”.

O japonês Fumio Kishida está enfrentando suas classificações pessoais mais baixas antes de uma disputa de liderança no final deste ano. 

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Eleições UE 24 | Macron o Vendedor de Fisgas -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As eleições para o Parlamento Europeu acabaram com o sonho dos belicistas e traficantes de armas. Vários países da União Europeia elegeram deputados que são contra a guerra na Ucrânia. Não aceitam as negociatas de armamento. Desaprovam o envio de milhares de milhões para os nazis de Kiev. Estão contra os pacotes de sanções impostas à Federação Russa. Ontem o mundo estava a um passo do abismo da guerra nuclear. Hoje os eleitores europeus tiveram a inteligência de votar contra os falcões que se alimentam de sangue e morte.

A tragédia está afastada. Mas a situação política na Europa é trágica. O Partido Popular Europeu e a “família” Socialista no novo Parlamento são a favor da guerra na Ucrânia até ao último ucraniano. Assumem uma russofobia primária e profundamente reaccionária. Cuidado com os russos! Eles querem ocupar os nossos países e matar as democracias! 

A estupidez humana não tem limites. Ninguém no seu perfeito juízo quer conquistar pela força das armas um continente exaurido. Falido. Que há muitos anos vive dos latrocínios em África. A Europa hoje é um fogo de vista. Uma ilusão. Um engano de alma. Os líderes europeus gastam os últimos cartuchos numa guerra que já perderam. Como quem joga na roleta os últimos tostões.

Os partidos de esquerda na Europa não são capazes de assumir a defesa da paz. Temem que se o fizerem são logo apontados como pró Putin. O clima vigente é muito próximo daquele que existia quando Hitler partiu para a II Guerra Mundial. E as forças democráticas fingem que na Ucrânia não há uma guerra contra a Federação Russa, por procuração passada aos nazis de Kiev, pelo estado terrorista mais perigoso do mundo.  

Os belicistas europeus temiam que o negócio da guerra na Ucrânia fosse prejudicado com a eleição de Trump nos EUA, mais lá para o fim do ano. Comportam-se como cachorros amestrados fazendo piruetas num circo medíocre. O negócio da morte acaba antes. Estas eleições para o Parlamento Europeu reduziram a subnitrato (merda de pássaro marinho) os serventes dos EUA que queriam dar um passo mortal para o abismo da guerra.

Emanuel Macron foi cilindrado nas eleições de ontem. O seu partido teve apenas 15 por cento dos votos. O partido da extrema-direita da senhora Le Pen registou mais de 31 por cento. O belicista de Paris foi forçado a anunciar, ainda ontem à noite, a dissolução da Assembleia Nacional e a convocar eleições legislativas para 30 de Junho. Queria matar russos e morreu ele politicamente. A corda da guerra na Ucrânia partiu pela França! 

A Europa belicista teve uma queda brutal. A coligação do chanceler Scholtz levou uma tareia eleitoral ainda pior do que Macron. Ficou em terceiro lugar. Ganhou de uma forma esmagadora a CDU de Ângela Merckel, aquela política que teve a coragem de denunciar a vigarice dos Acordos de Minsk: “Foi para enganar os russos enquanto a NATO armava a Ucrânia”. No segundo lugar ficou o partido que é frontalmente contra a guerra na Ucrânia e Sholtz foi despejado para o terceiro posto. Se tiver um pingo de dignidade ainda hoje vai para Kharkiv fazer a guerra que tanto quer.

As forças anti guerra na Itália também esmagaram nas eleições. O mesmo em praticamente todos os países do Leste europeu, que pertencem à União Europeia. A aventura belicista na Ucrânia do estado terrorista mais perigoso do mundo e seu braço armado OTAN (ou NATO) está a chegar ao fim. A corrida louca para o abismo foi travada pela força do voto popular. Só loucos em último grau acreditam que podem derrotar numa guerra, a maior potência militar do mundo. E que tem o maior arsenal nuclear. 

De pé, firmes como diarreia, só ficaram os portugueses. O Partido Socialista ganhou elegendo oito deputados. É a favor da guerra na Ucrânia custe o que custar e até ao último ucraniano. A coligação AD (governo) ficou em segundo lugar e também quer guerra. Ainda agora o primeiro-ministro Montenegro despachou 129 milhões de euros para os nazis de Kiev matarem russos. 

A única força que exige a paz na Ucrânia pela via diplomática (CDU) elegeu um deputado! Pobres portugueses. Têm sempre a canalha fascista e colonialista pronta a metê-los em “perigos e guerras esforçados” como escreveu o genial Camões. Hoje é o Dia de Portugal e do poeta que compôs as mais belas trovas na “doce medida velha”. Hoje mesmo vão começar as comemorações dos 500 anos de Camões. 

Nas eleições portuguesas só foram votar 37 por cento dos eleitores inscritos. Os políticos ficaram muito felizes porque a abstenção nas eleições anteriores foi de 69 por cento! Com abstenções a este nível não há democracia. Apenas aldrabice e ilusionismo. Quem é eleito com um terço dos eleitores inscritos não tem, não pode ter, legitimidade popular. Mas eles ainda não perceberam que as eleições em Portugal estão a ficar muito parecidas com as do ditador Salazar. 

No seu discurso oficial do Dia de Portugal Camões e Comunidades Portuguesas, Marcelo Rebelo de Sousa glorificou os combatentes da Guerra Colonial. Desenterrou o Portugal do Minho a Timor. Sem complexos. Os nazis de Telavive também não têm complexos. Bombardearam o campo de refugiados de Nuseirat, na Faixa de Gaza, para libertarem quatro reféns, mataram 400 civis, a esmagadora maioria crianças e mulheres. Feriram 800 dos quais muitos continuam a morrer por falta de assistência médica. Mais de 400 estão mutilados. Biden, Blinken e Austin felicitaram os genocidas de Israel

O trio formado para comandar a “guerra contra os russos” por procuração passada à Ucrânia está estraçalhado. Menos mal. Macron ficou desempregado e agora só pode mandar fisgas para a Ucrânia, Sholtz caiu de primeiro para o terceiro lugar. Só falta os eleitores norte-americanos porem fraldas a Biden e empurrá-lo na cadeira de rodas. Esse também vai ao charco. O problema é que para o seu lugar está apontado um nazi assumido e tresloucado. O ocidente alargado está cada vez mais perigoso.

* Jornalista

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Lembrança do Dia da Vitória, por que as elites ocidentais querem esquecer

Muitos cidadãos comuns em todo o mundo, incluindo nos Estados Unidos e em toda a Europa, estão unidos à Rússia na homenagem adequada ao Dia da Vitória.

Strategic Culture Foundation, editorial | # Traduzido em português do Brasil

O historiador russo Roman Shumov captou habilmente o significado sublime do Dia da Vitória. Ele escreveu esta semana: “Para os russos, o 9 de maio não é apenas uma celebração do triunfo militar – é uma celebração da vitória sobre a morte”.

Esta semana, a Rússia e as nações aliadas celebraram o Dia da Vitória com o esplendor e o respeito habituais exibidos na Praça Vermelha de Moscovo. Por toda a Rússia, e em menor escala também noutros países europeus, houve comemorações em homenagem aos soldados e civis que deram as suas vidas para derrotar a Alemanha nazi em Maio de 1945.

Quando a Alemanha nazista se rendeu oficialmente em 9 de maio, o povo da União Soviética fez o sacrifício mais doloroso e crucial para obter a vitória. Ainda não há um número exato, mas estima-se que entre 27 e 30 milhões de cidadãos soviéticos morreram na Grande Guerra Patriótica (1941-45). Cerca de 10 milhões desse total eram soldados do Exército Vermelho, sendo os restantes civis que morreram através de um sofrimento inimaginável de violência e privação. Foi o seu sacrifício colectivo e heroísmo face à barbárie que finalmente impôs a derrota ao Terceiro Reich nazi. É justo que a Batalha de Berlim tenha sido a última resistência do regime de Hitler e que o hasteamento da bandeira soviética sobre o Reichstag tenha sido o momento icónico de triunfo.

A contribuição para derrotar a Alemanha nazista por parte de soldados americanos, britânicos e outros voluntários de nações ocidentais não foi insignificante. Mas a “segunda frente” que se abriu com o desembarque na Normandia em Junho de 1944 é ridiculamente exagerada por Hollywood e pela propaganda narcisista ocidental egoísta. Os tão adiados desembarques do Dia D foram uma parte relativamente suplementar aos enormes danos que o povo soviético já havia infligido à Frente Oriental a partir de junho de 1941. Entre 80 e 90 por cento das baixas militares alemãs ocorreram em numerosas batalhas fenomenais, desde Stalingrado a Kursk, Odessa a Kiev e muitos mais.

A derrota da Alemanha nazi não foi apenas um triunfo militar incrível, foi uma vitória sobre a morte, e não apenas para os russos, mas para a humanidade como um todo. A Segunda Guerra Mundial foi o maior e mais hediondo acontecimento dos últimos séculos, se não dos últimos dois milénios. O genocídio industrializado de milhões de civis, o bombardeamento massivo de cidades e o lançamento de bombas atómicas sobre inocentes produziram entre 70 e 100 milhões de mortes. A destruição da vida foi sem precedentes.

Indiscutivelmente, a Segunda Guerra Mundial pode ser considerada o evento mais catastrófico e maligno da história da humanidade. Assim, da mesma forma, a vitória sobre os perpetradores também deveria ser elevada à honra do evento libertador mais importante. E nunca se deve esquecer que o povo soviético tem a honra de garantir em grande parte essa vitória para a humanidade.

É preciso também lembrar que a Segunda Guerra Mundial e o regime nazista não aconteceram por acaso misterioso e aleatório. Foi o culminar da política, da economia e da rivalidade imperialistas. A Alemanha nazi foi construída pelo capital ocidental na década de 1930, durante um colapso do capitalismo ocidental, para servir os interesses imperiais de destruir a União Soviética e qualquer alternativa socialista emergente.

É certo que, eventualmente, as potências ocidentais se aliaram à União Soviética (no final da guerra, deve notar-se), mas essa aliança em tempo de guerra foi meramente remendada para eliminar um regime nazi considerado desonesto que tinha crescido para pôr em perigo os interesses ocidentais. Ou seja, o envolvimento das elites ocidentais na Segunda Guerra Mundial foi uma questão de conveniência e não uma necessidade imperativa baseada em princípios. A prova disso é a subseqüente e repentina traição das potências ocidentais, que se tornaram hostis ao seu aliado soviético durante a guerra assim que a Segunda Guerra Mundial terminou e o início da Guerra Fria, durante a qual as potências ocidentais recrutaram remanescentes nazistas para lutar secretamente contra a União Soviética. . Alguns dos primeiros recrutas da CIA e do MI6 britânico foram fascistas ucranianos e bálticos que colaboraram com o regime nazi.

Hoje, a Rússia presta sincero respeito aos inúmeros heróis que derrotaram a Alemanha nazi e libertaram a Europa do fascismo. É revelador que, com o passar do tempo, haja apenas um vergonhoso silêncio oficial nos Estados Unidos e em toda a Europa sobre este acontecimento histórico. É evidente que quase não há celebrações da vitória do Primeiro de Maio oficialmente convocadas no Ocidente. As razões para o silêncio ocidental estão a tornar-se claras, embora nefastas.

Falando no evento do Dia da Vitória em Moscovo, o Presidente russo, Vladimir Putin, teve razão ao repreender as potências ocidentais por “distorcerem a verdade” sobre o conflito mais importante da história.

As elites ocidentais e os seus meios de comunicação controlados não reconhecerão o papel inimitável da União Soviética na derrota da Alemanha nazi. Eles estão cegos pela Russofobia e pelos seus objectivos de propaganda de tentar demonizar a Rússia.

As elites ocidentais, por necessidade, também devem enterrar a verdade histórica de que a Segunda Guerra Mundial nasceu do conflito imperialista. A Alemanha nazi foi impulsionada não apenas pelo seu ódio fanático aos judeus, aos eslavos e ao comunismo, mas também pela conquista colonial dos recursos alheios.

Foi uma apropriação de terras, tal como as potências ocidentais exploram África e o Sul Global em busca de recursos até hoje. Um exemplo são as tropas dos EUA que ocupam ilegalmente a Síria enquanto transportam camiões de petróleo para fora do país árabe para enriquecer as empresas petrolíferas americanas e Wall Street.

Os mesmos objectivos coloniais que sustentaram o Reich nazi continuam a impulsionar as guerras geradas pelos Estados Unidos e pelos seus aliados ocidentais. Todas as guerras em que estas potências se envolveram nas últimas oito décadas desde o final da Segunda Guerra Mundial são impulsionadas por cálculos e luxúria imperialistas, embora encobertas por mentiras ultrajantes, como a defesa da democracia ou dos direitos humanos. No seu discurso do Dia da Vitória, Putin acertou em cheio quando disse que a ordem mundial hegemónica ocidental é uma ordem de privilégios coloniais elitistas que é ocultada pela incitação de conflitos e tensões internas.

Os Estados Unidos e a sua conspiração de parceiros ocidentais devem distorcer não apenas as origens da Segunda Guerra Mundial, mas todas as guerras posteriores. Pois no centro de todas as guerras dos tempos modernos está o mal da conquista de estilo colonial.

Para este fim, é inteiramente apropriado, senão deplorável, que as potências ocidentais oficiais não tenham tempo ou inclinação para celebrar o Dia da Vitória. Claro, eles não suportam. Pois fazê-lo de qualquer forma genuína seria expor a sua própria culpabilidade, não apenas na guerra mais hedionda da história, mas em muitas outras que se seguiram. É por isso que devem falsificar a Segunda Guerra Mundial, a vitória soviética e, na verdade, a actual guerra por procuração da NATO na Ucrânia.

Era preciso rir muito de Steve Rosenberg, o pomposo hacker da BBC chamado fraudulentamente de Editor da BBC para a Rússia, que escreveu com presunção depreciativa sobre o evento do Dia da Vitória em Moscovo: “Na Rússia de hoje, as autoridades não estão apenas a recordar o passado. Eles estão transformando isso em uma arma, para tentar justificar o presente.”

As circunstâncias mais reveladoras de hoje são que os Estados Unidos e os seus lacaios imperiais na NATO estão a transformar totalmente em arma um regime neonazi na Ucrânia que venera o Terceiro Reich e os seus crimes genocidas. Outra circunstância consistente é que as mesmas potências ocidentais (que fantasiosamente se autodenominam democracias) estão a transformar totalmente em arma um genocídio contra o povo palestiniano por um regime sionista fascista concebido em 1948 como um bastardo do colonialismo ocidental que promove o Holocausto Judeu.

E então, esta semana, temos o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, Lord [sic] David Cameron, a tentar soar todo Churchilliano e portentoso, alertando num discurso que: “De Tallinn a Varsóvia, de Praga a Bucareste, um calafrio desceu mais uma vez sobre a Europa. continente."

Alguém deveria dizer a Cameron, que é o rico descendente de comerciantes de escravos britânicos, que a frieza que ele imagina pode ter algo a ver com o facto de a Grã-Bretanha fornecer aos neonazis ucranianos mísseis de longo alcance que, segundo Cameron, deveriam ser apontados à Rússia.

Hoje, os estados ocidentais estão constantemente a assumir a forma fascista que sempre tiveram, ao reprimirem manifestantes pacíficos contra o genocídio em Gaza e ao armarem um regime nazi na Ucrânia.

A celebração do Dia da Vitória na Rússia é incomparável em seu significado com qualquer outra data histórica da história moderna. À medida que os Estados ocidentais se transformam em fascismo, é mais importante do que nunca celebrar e compreender plenamente o acontecimento pelo seu significado contemporâneo. Muitos cidadãos comuns em todo o mundo, incluindo nos Estados Unidos e em toda a Europa, estão unidos à Rússia na homenagem adequada ao Dia da Vitória.

É por isso que as elites e os governantes ocidentais prefeririam esquecer a história. É alcançá-los e expor sua criminalidade.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Londres revelou suprimentos secretos de mísseis italianos Storm Shadow para a Ucrânia

South Front | # Traduzido em português do Brasil

A Itália juntou-se à lista de países que fornecem à Ucrânia mísseis Storm Shadow. Na sua entrevista ao The Times, o Secretário de Estado da Defesa britânico, Grant Shapps, confirmou que, juntamente com Paris e Londres, Roma está a preparar os seus mísseis de cruzeiro SCALP EG/Storm Shadow para fornecer à Ucrânia para os ataques na retaguarda russa, em particular na Crimeia.

“Acho que Storm Shadow é uma arma extraordinária. A Grã-Bretanha, a França e a Itália estão a preparar estas armas para uso, em particular, na Crimeia ocupada”, disse o responsável britânico.

Shapps também observou que o Reino Unido pretende acelerar a produção de mísseis Storm Shadow, não só para satisfazer as suas próprias necessidades, mas também para fornecer mais mísseis à Ucrânia.

Anteriormente, a transferência do Storm Shadow da Itália para a Ucrânia não foi anunciada oficialmente. No entanto, não há informações de que Roma tenha fornecido secretamente suprimentos militares ao exército ucraniano há muito tempo.

O Storm Shadow é um míssil de cruzeiro desenvolvido pelo Reino Unido em conjunto com a França com alcance de mais de 250 quilômetros. Lançado de aeronaves de combate, o míssil disparado desce próximo ao terreno, o que dificulta sua detecção pelas forças de defesa aérea inimigas.

Os mísseis SCALP EG/Storm Shadow estão em serviço nas forças armadas italianas há décadas. Segundo dados oficiais, a Itália adquiriu cerca de 200 desses mísseis em 1999. Não é informado quantos deles podem ser fornecidos à AFU. É pouco provável que a Itália consiga atribuir mais de 10-15% destas armas à Ucrânia.

Ler/Ver em South Front:

Ucrânia atacou Luhansk com mísseis Storm Shadow

Versão naval do sistema de defesa aérea Pantsir acionou com sucesso o míssil Storm Shadow

Imagens de satélite confirmaram que mísseis Storm Shadow erraram alvos em Sebastopol, Crimeia

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

A Europa descobre-se sem rumo e sem líderes

Envolvido pelos EUA na guerra e incapaz de agir com autonomia, continente enfrenta crise energética, pobreza e inflação. Scholz, Macron e Draghi perderam-se. Crise de liderança abre espaço perigoso para ascensão da ultradireita

Maria G. Zornoza* no Público | em Outras Palavras | Tradução: Maurício Ayer | # Publicado em português do Brasil

Olaf Scholz afunda nas pesquisas. Emmanuel Macron está enfraquecido após as últimas eleições legislativas. Mario Draghi renunciou. Os escândalos de Boris Johnson o forçaram a recuar. Pedro Sánchez enfrentará eleições no próximo ano. E desde o início de seu mandato, Joe Biden se vê abatido por uma profunda falta de popularidade. O Ocidente enfrenta uma crise de liderança.

Como pano de fundo, a Europa vive um dos seus momentos mais complicados desde o fim da Guerra Fria. Com 8,9%, a Zona do Euro registrou uma taxa de inflação recorde em julho. A crise energética se agrava. Recentemente, a Rússia anunciou o terceiro corte no fornecimento de gás nas últimas semanas, que começará em 31 de agosto. E, nesse cenário, a guerra na Ucrânia completará em breve seus primeiros seis meses, sem nenhum sinal de uma conclusão à vista.

O vácuo de liderança entre os aliados transatlânticos já se fazia sentir às vésperas do início da invasão russa da Ucrânia. Na Alemanha, a saída da histórica chanceler alemã Angela Merkel deu lugar a um opaco Olaf Scholz. Em 24 de fevereiro, Macron estava a dois meses das eleições presidenciais em seu país, que acabou vencendo contra a extrema direita. A OTAN cochilava em busca do sentido da vida. E os Estados Unidos ainda arrastavam a crise de reputação e credibilidade após o desastre no Iraque e a retirada do Afeganistão.

Macron é o presidente ocidental que mais conversou com o inquilino do Kremlin desde o início da disputa. Ele é um dos poucos que mantêm a linha telefônica aberta. Ambos apoiaram recentemente a necessidade de enviar uma missão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) à usina ucraniana de Zaporizhia, a maior da Europa e sob controle do exército russo.

Mas o principal interlocutor da Rússia para negociar qualquer aspecto da guerra continuam sendo os Estados Unidos. Apenas quatro dias antes de a Rússia invadir seu vizinho ucraniano e com os tambores da guerra batendo alto, Macron tentou em uma conversa telefônica com Putin acertar uma reunião entre o presidente russo e Joe Biden em Genebra. “Para ser sincero, eu ia jogar hóquei no gelo, estou falando com você do ginásio onde vou começar meus exercícios físicos. Primeiro vou consultar os meus assessores”, respondeu Putin, em conversa registrada pelo Washington Post.

A linha direta do Eliseu com o Kremlin gerou desconforto na Ucrânia e entre os países orientais e bálticos, que apostam no máximo isolamento de Putin. E zero diálogo. Durante a guerra, o eixo franco-alemão não desfrutou de sua tradicional influência e liderança na mesa do Conselho Europeu. E a situação de fraqueza é especialmente notável em Berlim.

Alemanha é talvez o país mais exposto à atual crise energética e à potencial crise econômica. Durante a última década, a locomotiva alemã apostou boa parte de sua demanda energética em hidrocarbonetos russos. E agora deve enfrentar o duplo desafio de reconhecer seus erros e a falta de uma estratégia de longo prazo e lidar com os cortes intermitentes de gás orquestrados pela gigante estatal Gazprom.

A posição do chanceler também é enfraquecida pelos diferentes postulados entre seus parceiros de coalizão, Verdes e Liberais, que têm criticado muito o posicionamento inicial “morno” do presidente no que se refere ao envio de armas à Ucrânia. Nos últimos dias, Scholz foi atingido por um escândalo por possível favorecimento a uma instituição financeira quando era prefeito de Hamburgo.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Em Jerusalém, a «Conferência para a Vitória de Israel» ameaça Londres e Washington

Thierry Meyssan*

A «Conferência para a vitória de Israel - os colonatos garantem a segurança: voltar à Faixa de Gaza e ao Norte da Samaria» não era uma simples reunião de supremacistas judaicos. Um rabino, condenado em Israel a prisão perpétua pelos seus crimes, pronunciou-se nela em nome dos sucessores do grupo Stern que assassinou os dirigentes britânicos da Palestina do Mandato. Foi uma declaração de guerra contra os Anglo-Saxões. Ao participar neste evento, o Primeiro- Ministro, Benjamin Netanyahu, ameaçou Washington e Londres. O Presidente Joe Biden interditou imediatamente qualquer colecta de fundos e transferência de dinheiro para estes extremistas. É a primeira vez que os Estados Unidos aplicam sanções contra Israelitas.

A CONFERÊNCIA PARA A VITÓRIA DE ISRAEL

Há duas semanas, um acontecimento festivo com estrelas da canção foi organizado no Centro Internacional de Congressos de Jerusalém. Intitulava-se « Conferência para a vitória de Israel – os colonatos garantem a segurança : voltar à Faixa de Gaza e ao Norte da Samaria ». Nele participaram 12 Ministros em exercício, entre os quais o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu.

Todavia, nenhuma figura política, nem mesmo o Ministro da Segurança, Itamar Ben Gvir, teve direito às ovações frenéticas que saudaram o Rabino Uzi Sharbaf; um personagem agora central no debate israelita (israelense-br), embora desconhecido no exterior. Através da sua presença, ele reavivou entre os participantes a esperança de redimir o que consideram ser o «pecado» da retirada dos colonatos judaicos de Gaza, em 2005.

Nas horas que se seguiram, Yaakov Margi (Shas), Ministro da Proteção Social e Assuntos Sociais, declarou que os seus colegas deveriam ter « reflectido » antes de se terem dirigido a este circo.

O chefe da Oposição, Yair Lapid, deplorou que Benjamin Netanyahu, « que antigamente estava no centro do campo nacional tenha sido arrastado sem rumo pelos extremistas », tenha «tocado o fundo do poço».

O General Benny Gantz declarou que esta conferência era «um insulto à sociedade israelita em tempo de guerra. Isto prejudica a nossa legitimidade no mundo e os esforços visando criar um quadro para o regresso dos nossos reféns». A propósito da participação do Primeiro-Ministro, prosseguiu : « Aquele que dança e divide, não decide, e aquele que se cala e se deixa levar, não é líder ».

No dia seguinte, o Presidente Joe Biden, como que assustado pelo regresso de um velho demónio, assinou um decreto proibindo a alguns colonos extremistas viajarem para os Estados Unidos e, acima de tudo, interditando qualquer colecta de fundos e qualquer transferência de dinheiro em favor dos homens do Rabino Uzi Sharbaf. Estas sanções aplicam-se não somente nos Estados Unidos, mas também em todos os bancos estrangeiros que tenham interesses nos Estados Unidos, quer dizer, em última análise, em todo o Ocidente político [1].

Além disso, a Administração Biden, que até agora apoiava discretamente o massacre em Gaza ao fornecer obuses e outras munições, começou subitamente a buscar uma saída para a crise. O Secretário de Estado, Antony Blinken, partiu para uma nova digressão pelas capitais da região, e desta vez com propostas.

Por que é que a aparição do Rabino Uzi Sharbaf na frente do palco provocou, pois, tais reações ? Para compreender isto é necessário um olhar para trás, desde 1922. Com efeito, no seio do movimento sionista revisionista, existe um grupo ainda mais fanático que não hesita em atacar os Anglo-Saxões.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

A crise moral da Europa: a UE é um parceiro direto no genocídio israelita em Gaza?

Ramzy Baroud * | Palestine Chronicle | # Traduzido em português do Brasil

Este não é um simples caso de duplo padrão ocidental. Israel vê a Europa como um lacaio, embora a Europa, colectivamente, tenha um peso económico significativo.

A Europa permaneceu em silêncio quando Israel começou a atacar a sitiada Faixa de Gaza com o tipo de ferocidade que só poderia levar a um genocídio. Na verdade, a Europa permaneceu em silêncio quando a palavra “genocídio” rapidamente substituiu a anterior referência à “guerra Israel-Hamas”, iniciada em 7 de Outubro.

Aqueles que estão familiarizados com o discurso político e a acção da Europa em relação a Israel e à Palestina já devem perceber que a maioria dos governos europeus sempre esteve do lado de Israel.

Contudo, se isto for inteiramente verdade, o que podemos fazer com os últimos comentários do Chefe da Política Externa da União Europeia, Josep Borrell, quando pareceu atacar Israel em 23 de Janeiro,  acusando - o de “semear ódio por gerações”?

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Extrema-direita ganha poder na UE via coligações

Efi Koutsokosta & Isabel Marques da Silva | Euronews – 10.06.2023

A ascenção da extrema-direita na União Europeia (UE) é uma tendência que se está a traduzir na participação em cada vez mais governos de coligação com os partidos de centro-direita.

O caso mais recente da capacidade da extrema-direita em chegar ao poder ocorreu na Finlândia, com o partido nacionalista "Os Finlandeses", que fez uma campanha eleitoral baseada numa agenda anti-imigração e eurocética, a entrar no governo após três meses de negociações.

Neste momento, a extrema-direita lidera ou integra executivos em três Estados-membros da UE: Itália, onde lidera, e Suécia e Finlândia onde faz parte de coligações como centro-direita.

O Partido Popular espanhol, conservador, fechou uma série de acordos de coligação, a nível regional e local, com o partido de extrema-direita Vox. As eleições legislativas estão marcadas para 23 de julho.

De recordar que na Hungria e na Polónia os governos de direita assumiram posturas autoritárias e nacionalistas,  há quase uma década.

Migração, crise económica, ameaça russa, são alguns dos temas que têm contribuído para o desenho desta tendência segundo os analistas políticos.

"Muitos eleitores estão bastante desiludidos com os partidos políticos convencionais. E parece que estamos a atravessar uma nova crise globalizada. Tivemos a crise financeira, as consequências económicas da pandemia, a guerra na Ucrânia e a crise do custo de vida", explicou, à euronews, Cathrine Thorleifsson, professora de Antrologia Social, na Universidade de Oslo.

"Em tempos de crise, alguns destes partidos populistas de extrena-direita encontram soluções bastante simples para estes problemas complicados, prometendo proteger o povo e a soberania contra as ameaças, reais e percecionadas, do exterior", acrescentou Cathrine Thorleifsson.

Extrema-direita poderá ganhar mais voz no Parlamento Europeu

A um ano das eleições europeias, as sondagens indicam que os partidos moderados de direita, tais como democratas-cristão, sociais-democratas e liberais, deverão perder lugares para a extrema-direta no Parlamento Europeu.

A campanha poderá ser ainda mais desafiante para as bancadas de centro-esquerda e ecologista.

"Um resultado eleitoral mais forte de forças extremas empurrará os moderados numa determinada direção, colocando-a sob pressão. Será que isso conduzirá ao fim da UE? Penso que não é isso que vai acontecer, mas pode tornar as coisas mais difíceis a nível europeu", avisa Janis Emmanouilidis, diretor-executivo adjunto do centro de estudos EPC, em Bruxelas.

"Isto acontece numa altura em que é necessário um nível de ambição mais elevado no que diz respeito à resposta da UE aos muitos desafios transformacionais que enfrentamos, nomeadamente a geopolítica - basta olhar para a Ucrânia e para a ordem internacional -, mas também o que tem a ver com a transformação ecológica e digital", referiu Janis Emmanouilidis.

O caso de Espanha está a gerar grande interesse. Aquela que é a quarta maior economia da UE assumirá a presidência do bloco no segundo semestre do ano.

Nota PG sobre extrema direita em Portugal:

A acompanhar o texto acima de Euronews datado de há pouco mais de seis meses expomos imagens de André Ventura, do Chega (extrema direita lusa), a exibir em manifestações e no congresso do Chega a saudação nazi. Ele diz que não mas o certo é que as imagens confirmam. Se aquilo não é a saudação nazi o que é? Mas quem será capaz de perante evidências se deixar enganar? Por fim da Ucrânia também expomos os nazis... Assim não existe engano possível digam o que disserem. A internacional nazi avança na UE numa tática concertada e que já é mais que evidente.

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domingo, 21 de janeiro de 2024

Maria Madeira, a primeira artista timorense a participar na Bienal de Veneza

Maria Madeira é a primeira artista de Timor-Leste a representar o país na Bienal de Veneza e a Itália leva uma instalação sobre a luta da mulher timorense na ocupação Indonésia, durante a qual "usaram o corpo".

Para Maria Madeira, o convite para estar na Bienal de Veneza, que se realiza em abril, apoiado pelo Governo timorense, foi um "orgulho" e uma "honra", mas tem também outro significado.

"Para mim, um timorense estar na bienal demonstra que Timor-Leste já está pronto para estar no mundo internacional da arte e cultura. É um passo para a Maria, mas um 'big leap' [grande salto] para a arte e cultura de Timor-Leste", afirmou à Lusa a artista timorense.

Para Maria Madeira, o que falta em Timor-Leste não é talento, mas "pontos de referência", o conhecimento da arte no mundo, e a presença na bienal vai "abrir as portas para a futura geração de artistas timorenses".

A instalação que vai apresentar em Veneza conta a história das mulheres timorenses e da sua luta durante a ocupação indonésia, através dos símbolos, métodos e materiais da cultura timorense.

"Na bienal vou fazer uma instalação que fala do que aconteceu às mulheres timorenses durante a ocupação indonésia, as atrocidades, os abusos, a luta da mulher timorense. Os homens timorenses, os guerrilheiros, usaram as armas para lutar, a mulher usou o corpo e vou mostrar isso na bienal", explicou.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

O que ficará de fora da UE?

A tendência de os europeus se tornarem uma minoria na Europa sob a maioria muçulmana parece impossível de ser revertida e é amplamente reconhecida.

Richard Hubert Barton* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

“Hordas de migrantes irregulares da África Subsariana” chegaram à Tunísia, “com toda a violência, crime e práticas inaceitáveis ​​que isso implica”. Esta é uma situação “antinatural” e parte de um plano criminoso concebido para “mudar a composição demográfica” e transformar a Tunísia em “apenas mais um país africano que já não pertence às nações árabes e islâmicas”. - Presidente tunisino Kasir Saied em 21 de fevereiro de 2023

Mobilidade cosmopolita e migração à vista

A primeira tentativa decisiva de inundar a Europa com migrantes maioritariamente muçulmanos ocorreu em 2012. Em Janeiro desse ano, a liderança cosmopolita e não eleita da UE avançou com a sua integração programada no EUROMED. Primeiro, um seminário em Barcelona sob o lema: Guerra e Paz no século XXI. A Primavera Árabe ocorreu um ano depois . Durante o seminário, o Enviado Especial da UE, Bernardino Leon, instou a UE a oferecer uma “nova relação” aos países árabes que passaram pela Primavera Árabe. Esta nova relação deveria basear-se na igualdade de tratamento entre a União Europeia e os parceiros árabes. Na presença do primeiro, Alto Representante para a Política Externa e de Segurança Comum na Europa, Javier Solana, Leon garantiu à Tunísia que lhe será concedida uma relação semelhante a outros países europeus fora da UE, como Noruega, Islândia e Suíça.

Este impulso foi ainda reforçado em Fevereiro de 2012 por uma conferência de imprensa em Bruxelas. Isto aconteceu para dar informação e significado ao encontro do Primeiro-Ministro da Tunísia, Hamadi Jebali (o mesmo que anunciou aos seus compatriotas que possivelmente estariam no Sexto Califado) e do Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso. Este último, no seu comunicado de imprensa, mencionou uma série de prioridades a serem tratadas. Significativamente, um deles envolveu a retoma do diálogo sobre mobilidade e migração.

sábado, 30 de dezembro de 2023

A bagunça que eles fizeram em 2023 -- Patrick Lawrence

No exterior e em casa, a ideologia governou os EUA

Patrick Lawrence* | Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

Consideremos juntos o ano que passou e cheguemos a algumas conclusões sobre onde ele nos deixa quando entramos em outro. Podemos começar com dois acontecimentos recentes que, a olho nu, nada têm a ver um com o outro. 

A primeira delas diz respeito ao que o regime de Biden chama de Operação Guardião da Prosperidade. O Pentágono descreveu isto na semana passada como uma coligação de cerca de 20 países que concordaram em ajudar os EUA a proteger o tráfego comercial no Mar Vermelho dos ataques de drones montados pelos rebeldes Houthi no Iémen, que - vejam o mapa - sufocam o sul do país. final desta importante passagem marítima. 

OK, agora vamos voltar nossas mentes sempre ágeis para outro dos acontecimentos noticiosos da semana passada.

Na última terça-feira, 19 de dezembro, a Suprema Corte do Colorado decidiu que Donald Trump está desqualificado para concorrer à presidência nas primárias republicanas do estado quando esta votação for realizada no próximo ano. Foi uma decisão de 4 a 3 num tribunal cujos sete membros foram todos nomeados por governadores democratas. Citando a 14ª Emenda , os juízes consideraram que Trump era culpado de participar numa insurreição em 6 de janeiro de 2021, quando os manifestantes protestaram contra o resultado oficial da eleição em novembro anterior e abriram caminho, para sua aparente surpresa, para as câmaras legislativas. do Congresso dos EUA. 

Por mais distantes que esses desenvolvimentos possam parecer um do outro, eu os leio como duas metades de um todo. Se os considerarmos desta forma, eles dizem-nos exactamente onde estamos à medida que 2023 dá lugar a 2024. Ao examinarmos os detalhes, a história contada é a de declínio imperial no exterior e de decadência institucional a nível interno. 

Pode não ser imediatamente evidente que os dois estão ligados, mas um reflete o outro, na minha opinião. O império está em colapso, o imperium apodrece por dentro: esta é a nossa circunstância, em nada menos que preto e branco, à medida que o que é verdadeiramente um annus horribilis chega ao fim.

domingo, 3 de dezembro de 2023

'Falta de visão estratégica' da Europa é razão por que 'a Rússia está vencendo' a Ucrânia

O fracasso da tão apregoada contra-ofensiva de Kiev, que resultou em enormes perdas de mão-de-obra e de armamento da NATO, juntamente com o enorme “fardo” financeiro de apoiar o regime do Presidente Volodymyr Zelensky, têm provocado a “fadiga da Ucrânia” tanto nos EUA como na Europa.

Svetlana Ekimenko | Sputnik Globe | #Traduzido em português do Brasil

Um Ocidente letárgico acorrentado ao “ fatalismo, à complacência e a uma chocante falta de visão estratégica ” é a razão pela qual a Ucrânia está a perder contra a Rússia, especulou o The Economist .

O presidente Vladimir Putin “ parece que pode vencer ” – esse é o surpreendente pronunciamento feito pelo meio de comunicação. A realidade de que a contra-ofensiva fracassada e as lutas internas do regime de Kiev mais do que sugerem isso.

O presidente da Rússia é creditado pelos autores por ter “ adquirido suprimentos militares ” com previsão, forjado fortes laços com o Sul Global , que o Ocidente alienou, e, o mais importante, “ minar a convicção no Ocidente ” de que a Ucrânia pode emergir do conflito. conflito vitorioso.

Afirmando o óbvio, a revista admitiu que a contra-ofensiva da Ucrânia “ estagnou ” e prevê que no próximo ano a Rússia estará “ numa posição mais forte para lutar ”. As forças armadas da Rússia, afirmou, terão à sua disposição mais drones e granadas de artilharia, enquanto o seu exército “desenvolveu tácticas de guerra electrónica bem-sucedidas contra algumas armas ucranianas ”.

sábado, 2 de dezembro de 2023

O GERME DA AUTODESTRUIÇÃO DA EUROPA

Celso Japiassu* | Forum 21 | # Publicado em português do Brasil

Assim como Marx diagnosticou que o capitalismo trazia consigo o germe da própria destruição, a União Europeia trouxe também consigo o pensamento conservador e os partidos e movimentos de direita que ameaçam sua existência.

A ideologia da extrema direita europeia professa a crença em um nacionalismo radical e se caracteriza pela xenofobia, o racismo, o ódio aos imigrantes, a islamofobia e o anticomunismo, além do antissemitismo, a homofobia, a misoginia, o autoritarismo, o desprezo pela democracia e a eurofobia, ou euroceticismo.

Tudo o que vai na contramão dos valores apregoados pela União Europeia.

Há uma ameaça rondando a Europa e o seu projeto de união. Trata-se do que se convencionou chamar de Euroceticismo, ou a descrença na União Europeia. Um preocupante sinal de alarme foi a vitoriosa campanha do Brexit promovida pela extrema direita do Reino Unido. Pode ter sido apenas o início de um processo que pode conduzir à destruição. Alimentado pelos partidos da direita, o movimento que pretende desfazer a união de 27 países do continente tem também os seus defensores à esquerda, embora em menor número e que, por razões diferentes, não acreditam numa Europa Unida.

Os partidos conservadores de direita fazem oposição por acreditarem que a União Europeia compromete a soberania e a identidade nacionais; os de esquerda a acusam de ser uma organização neoliberal, de não ter legitimidade democrática e transparência e de servir aos donos do capital em prejuízo dos trabalhadores. 

A verdade é que as pesquisas periodicamente realizadas pelo Eurobarômetro, órgão pertencente à União Europeia, informam que sua popularidade tem decrescido desde 2007 e hoje encontra-se abaixo de 50 por cento. O prestígio mais baixo era no Reino Unido, Letônia e Hungria. Em 2016, os piores índices se apresentavam no Reino Unido, Grécia, França e Espanha. Foi nesse ano que se realizou o referendo do Brexit. Nos anos recentes a confiança cresceu um pouco pela queda no desemprego e o reaquecimento da economia que arrefeceu com a pandemia do coronavírus e que agora se recupera.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

As duas guerras do Ocidente: EUA têm como alvo a Europa e também o Médio Oriente

Manlio Dinucci | GlobalResearch | em South Front | # Traduzido em português do Brasil

Estamos envolvidos em duas guerras, na Europa e no Médio Oriente, que têm consequências cada vez mais graves para as nossas condições de vida e segurança.  

Na frente europeia , o que o Wall Street Journal chama de “um dos maiores actos de sabotagem na Europa desde a Segunda Guerra Mundial” foi levado a cabo em Setembro de 2022: os Estados Unidos, ajudados pela Noruega e pela Polónia, explodiram o Nord Stream, o principal gasoduto que transporta gás russo barato para a Alemanha e daí para outros países europeus.   A dinâmica desta acção em tempo de guerra foi reconstruída, com base em provas precisas, pelo jornalista norte-americano Seymour Hersh e por uma investigação alemã. 

O secretário de Estado dos EUA,   Blinken, classificou o bloqueio do Nord Stream como “uma enorme oportunidade estratégica para os próximos anos” e destacou que “os EUA tornaram-se o principal fornecedor de gás natural liquefeito para a Europa”, gás pelo qual nós, cidadãos europeus, pagamos muito mais do que o que costumávamos importar da Rússia. 

Ao mesmo tempo, os EUA estão a transferir para a Europa o enorme custo da guerra da NATO na Ucrânia contra a Rússia. A Comissão Europeia está a preparar o caminho para a próxima entrada da Ucrânia na UE, com a consequência de que seremos nós, cidadãos europeus, quem pagará o enorme défice ucraniano.

Na frente do Médio Oriente, a União Europeia apoia a guerra através da qual Israel, com o apoio dos Estados Unidos e da NATO, ataca a Palestina e alimenta um conflito regional que visa em particular o Irão.   A Itália, que está ligada a Israel por um pacto militar desde 2004, forneceu os caças nos quais os pilotos israelitas são treinados, que bombardeiam Gaza massacrando civis, e apoia os militares israelitas de várias maneiras. Em troca, o primeiro-ministro Netanyahu prometeu ao primeiro-ministro Meloni que a Itália se tornará um centro energético para desviar para a Europa o gás que Israel enviará através do gasoduto EastMed. 

A secção do campo de gás offshore, da qual Israel reivindica propriedade exclusiva, está localizada em grande parte nas águas territoriais do Território Palestiniano de Gaza e da Cisjordânia.

Ler/Ver em South Front:

Europa na luta para armar Kiev

A Europa dá luz verde às negociações de adesão à Ucrânia, fechando os olhos aos direitos das minorias dos russos

AS DIREITAS RADICAIS NO PARLAMENTO EUROPEU

Riccardo Marchi* | Diário de Notícias | opinião

A vitória inesperada do partido PVV de Geert Wilders nas eleições holandesas de 22 de novembro trouxe à tona novamente o debate sobre o crescimento da direita radical na Europa. O resultado holandês segue-se à conquista da liderança do governo italiano por Giorgia Meloni, em setembro de 2022 e à consolidação, no pódio das sondagens, de partidos congéneres como o Rassemblement National de Marine Le Pen em França, a AfD na Alemanha, o Chega em Portugal. A dinâmica geral não é travada por resultados menos favoráveis como a derrota do Vox nas legislativas espanholas de julho de 2023 ou a perda do governo pelo PiS, nas legislativas polacas de outubro de 2023.

Tudo indica que as próximas eleições europeias de junho de 2024 possam replicar o êxito da direta radical de 2014, só parcialmente atenuado em 2019. O Parlamento Europeu foi sempre um dos palcos privilegiados de crescimento da direita radical. Se nas primeiras eleições europeias de 1979, um único partido de direita radical acedeu ao hemiciclo de Estrasburgo - o Movimento Social Italiano (MSI), com cinco deputados -, as últimas europeias de 2019 viram a eleição de 135 deputados radicais, equivalentes a 18% dos assentos disponíveis. Contudo, este conjunto de eurodeputados em crescimento constante nunca representou um bloco monolítico. Na última década, os partidos afetos a esta família política deram vida a três grupos diferentes, com composição variável e em concorrência mútua. Atualmente, dois são os grupos europeus da direita radical: o grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e o grupo Identidade e Democracia (ID). Fundado pelos conservadores britânicos em 2009, o ECR passou a ser dominado pelos polacos do PiS, após a saída dos deputados do Reino Unido com o Brexit e a ter como pontas de lança os Irmãos de Itália de Meloni e o Vox de Santiago Abascal. Impulsionado pelos franceses do Rassemblement National e pelos italianos da Liga, o ID hospeda partidos em ascensão como o holandês PVV, o alemão AfD e, desde junho 2020, o Chega. Os dois grupos têm pontos em comum, mas também diferenças que não permitem falar de uma agenda unívoca e que dificultam a criação de um grupo único. As semelhanças entre ECR e ID assentam em três pontos: a rejeição do projeto federalista europeu, em defesa das soberanias nacionais; a mudança de paradigma nas políticas migratórias da UE, rumo à defesa concertada das fronteiras externas da Europa; a oposição à agenda progressista em matérias polémicas como as alterações climáticas, os direitos das minorias sexuais, as políticas de género, o multiculturalismo.

Fortes são, contudo, as diferenças. O ECR guia-se pelo chamado eurorrealismo: a necessidade de dialogar com atores e instituições europeias, com o intuito de desarticular o eixo entre Partido Popular Europeu (PPE) e Sociais-Democratas (S&D), em prol de um novo eixo entre PPE e ECR que modifique o rumo de Bruxelas em temas relevantes. O ID, pelo contrário, mantém ainda uma retórica de confrontação com Bruxelas, contestando até a legitimidade democrática de instituições como a Comissão Europeia. Após o Brexit, o ID moderou o tom acerca da saída da UE ou da moeda única, mas mantém um euroceticismo mais acentuado que o ECR.

Em política europeia, ECR é favorável ao alargamento da UE aos países de Leste, através do mercado comum e as suas políticas económicas liberais. O ID, pelo contrário, opõe-se ao alargamento, por considerá-lo um instrumento de PPE e S&D para controlar o projeto europeu através da dependência dos novos Estados membros e um agravar financeiro ulterior para os países contribuintes líquidos da UE.

Na política internacional, o ECR apoia claramente o atlantismo: colaboração com os Estado Unidos e fortalecimento do papel da UE na NATO, inclusive para o seu alargamento a Leste. Emblemático disso é o apoio incondicional do ECR a Kiev, na guerra russo-ucraniana. O ID, pelo contrário, alberga sensibilidades críticas da subserviência da UE à política norte-americana. Desde o começo da invasão russa, o grupo moderou as declarações de proximidade ao regime de Putin, mas afasta-se também da solidariedade incondicional de Bruxelas com o regime de Kiev. A recente crise israelo-palestiniana esmoreceu a divergência entre ECR e ID, graças ao apoio tradicional ao Estado de Israel.

No Parlamento Europeu, os dois grupos votam frequentemente em conjunto sobre os temas mais polémicos e colaboram pontualmente em eventos comuns. Contudo, a hipótese de um grupo europeu único entre todos os partidos de direita radical continua bastante improvável. A história avança e algumas crises recentes corroboram esta ideia. A guerra russo-ucraniana, por exemplo, enfraqueceu a aliança entre o PiS polaco e o Fidesz húngaro no Grupo de Visegrado e as críticas de Viktor Orbán à posição de Bruxelas perante o conflito resfriaram os entusiasmos em relação ao seu papel de unificador dos partidos soberanistas europeus.

*Professor e investigador no ISCTE

Ler/Ver em Diário de Notícias:

Chega recebe partidos de direita radical em Lisboa. Le Pen é grande destaque

O encontro tem o mote "Em direção a uma Europa de Cooperação", e é promovido pelo grupo político europeu Identidade e Democracia (ID).

Esta não é a primeira vez que a responsável de extrema-direita estará com o Chega ou numa ação de apoio ao partido. Em 2021, dizia ao DN (aquando da vinda a Portugal para apoiar a candidatura presidencial de André Ventura), que o presidente do Chega - e à altura único deputado - era alguém com "capacidade para unir o povo português", alguém "corajoso". (Ler mais)

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