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sábado, 7 de dezembro de 2024

Nandi Eleita Castigo à Vista -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Netumbo Nandi-Ndaitwah  foi eleita Presidente da Namíbia. Partiu os vidros da discriminação e mostrou ao mundo que no Triângulo do Tumpo os angolanos libertaram mesmo África e o Mundo. Até ao dia 20 de Março de 1990 era o Sudoeste Africano dos alemães. O território ilegalmente ocupado pelo regime racista de Pretória. Apenas 24 anos depois da Independência Nacional uma mulher é eleita para a Presidência da República. Vai sentar-se na cadeira de Sam Nujoma. O Presidente da República, João Lourenço, felicitou a Presidente Nandi. 

Grande maka! Vai ser castigado porque na sua mensagem de felicitações diz que a vitória “é o reflexo da confiança que o povo namibiano depositou no programa e nas propostas apresentadas, tendentes à promoção do desenvolvimento económico e à criação de bases sólidas para a construção de uma Namíbia próspera e bem-sucedida”.

Netumbo Nandi-Ndaitwah, dirigente da SWAPO, foi eleita com 57,31 dos votos. Vitória esmagadora. O Presidente Nangolo Mbumba também vai ser castigado pelo Corredor do Lobito porque fez esta declaração:  “O povo da Namíbia falou. Os namibianos escreveram um novo capítulo na história da democracia constitucional ao eleger a primeira mulher Presidente da República da Namíbia, sua excelência Dra. Netumbo Nandi-Ndaitwah. Em nome do povo e do Governo da República da Namíbia, felicito a Dra. Nandi-Ndaitwah pela sua brilhante e histórica vitória”. Está lixado!

A Presidente Nandi também foi para a lista negra do Corredor do Lobito. Leiam o que afirmou na sua primeira declaração pública depois de divulgados os resultados oficiais: “Sou a primeira a reconhecer que a minha eleição ao cargo mais alto do país rompeu, sem dúvidas, o tecto de vidro para as mulheres da Namíbia”. Onde se foi meter! Tem o Corredor do Lobito à perna.

domingo, 3 de novembro de 2024

Caducidade do Ocidente Fascista -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

“Camarada Presidente João Lourenço, não há razões para mexer nos estatutos do partido. Concluirá o seu mandato, mas não terá mais. Em 2026, realizamos o congresso com múltiplas candidaturas e o MPLA será dirigido pelo vencedor. Aproveito a oportunidade para aconselhá-lo a deixar de lado a perseguição aos outros. Somos uma família e devemos amar-nos”. Assino esta declaração mas não é minha. Circula nas redes sociais como sendo uma intervenção de Maria Eugénia Neto, na reunião de sexta-feira no Conselho de Honra do MPLA. Falso. Mentira.  A primeira Primeira-Dama de Angola não falou. Nem uma palavra.

Verdade verdadeira é esta declaração de Bento Bento na Lunda Norte: “O congresso do MPLA em Dezembro é o congresso da reflexão”. Reflectir é sempre uma boa ideia e no seio do MPLA impõe-se um reflexão séria sobre as discrepâncias abissais entre os princípios do partido e a governação. Sobretudo a política externa imposta por João Lourenço e acefalamente seguida pelo ministro das Relações Exteriores. As reflexões podem ser feitas ao nível dos secretariados provinciais, não é preciso um congresso extraordinário que tresanda a golpada.

Eu sou um militante adormecido há muitos anos. Às vezes acordo, cumpro esta ou aquela missão e volto a dormir partidariamente. Hoje decidi acordar e vou inscrever-me num comité de acção no Cuanza Sul. Camarada Mara Quiosa, ordene!

O MPLA ganhou as eleições com maioria absoluta. Isso quer dizer que teve mais votos e mandatos do que a Oposição toda junta. Até o Adalberto mentalmente júnior percebe isto. Mas os pedregulhos do grupo parlamentar da UNITA não percebem. E querem subverter a vontade soberana do povo nas assembleias e mesas de voto. A nova composição da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) tem de reflectir a maioria absoluta conquistada pelo MPLA. A UNITA acha que a Oposição deve ter o mesmo número de representantes.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

OUTUBRO MARCOU VIRAGEM DECISIVA NA GUERRA -- Artur Queiroz

Diplomacia Angolana Forçou EUA às Negociações 

Angola Resistiu às Agressões de Pretória e Exigiu ao Mundo o fim do Apartheid 

Artur Queiroz*, Luanda

O mês de Outubro de 1987 foi fundamental para a vitória de Angola na guerra contra o regime racista da África do Sul. Mas também foi crucial na frente diplomática. A diplomacia angolana conseguiu negociações bilaterais com os EUA e surpreendeu Washington com uma exigência: Colaborar com a comunidade internacional para o fim do regime de apartheid. Pretória perdia posições na frente militar e o regime de PW Botha ficou encurralado até capitular com os Acordos de Nova Iorque. 

O Presidente José Eduardo dos Santos conseguiu o pleno: A independência da Namíbia, a retirada das tropas invasoras do Sul e Sudeste de Angola e a democratização da África do Sul. Após intensa actividade diplomática, ganhámos em toda a linha. Nos campos de batalha, as tropas de Pretória iam de derrota em derrota até à Batalha do Cuito Cuanavale, que marcou o fim de um regime, que foi o mais grave crime que alguma vez foi cometido contra a Humanidade. No Triângulo do Tumpo, nasceu uma nova ordem democrática mundial. João Lourenço está a destruir esse património. 

Helmoed-Roemer Heitman, no seu livro “Guerra em Angola” (fase final) revela pormenores fundamentais para hoje os angolanos compreenderem o que estava em jogo nas batalhas do Cuando Cubango. 

Em 5 de Outubro de 1987, a artilharia e a aviação da África do Sul bombardearam as posições da 47ª Brigada das FAPLA a Sul do rio Lomba. Depois de longas horas de bombardeamentos, o alto comando angolano deu ordens para que as tropas abandonassem a base logística da UNITA, que tinham ocupado, e fossem para Norte do rio. 

O coronel Ferreira, das forças sul-africanas, de perseguido passou a perseguidor e fez tudo para impedir que a 47ª Brigada se juntasse a outas unidades das FAPLA que estavam na região. Não conseguiu. A falta de apoio logístico levou as tropas angolanas à retirada, abandonando material militar importante. Mas houve poucas baixas humanas. As tropas angolanas estavam prontas para continuar a combater, nas suas novas posições.

Os sul-africanos acusam a UNITA deste fracasso. O coronel Tarzan (mais tarde foi assassinado por Jonas Savimbi) não fez a sua parte. O tenente-coronel Setti também falhou. E as tropas da 47ª Brigada das FAPLA ainda travaram violentos combates com os sul-africanos na confluência do rio Lomba com o Cuzizi.

Pretória tinha no terreno o 61º Batalhão Mecanizado equipado com 50 blindados “Ratel”, com canhões de 90 milímetros. As FAPLA ocuparam linhas favoráveis na zona das nascentes dos rios Hube, Chambinga, Cuito, Vimpulo e Mianei. Assim evitaram que o inimigo caísse sobre a 47ª Brigada, que estava sem abastecimentos.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Angola | Guerra Civil Contra os Bóeres – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As FAPLA tinham pouco mais do que um ano quando tiveram de enfrentar a Operação Savana, desencadeada pelo regime racista de Pretória. Comandantes: Constand Viljoen, Bem de Wet Roos e Jan Breytenbach. As tropas invasoras traziam encavalitadas a UNITA, a FNLA e a Facção Chipenda, para matarem a República Popular de Angola, que ia ser proclamada a 11 de Novembro de 1975. Esta primeira agressão sul-africana foi travada na Grande Batalha do Ebo. Angola era independente há poucos dias. Militares sul-africanos foram feitos prisioneiros.

Os angolanos distraídos chamam a esta invasão uma “guerra civil”. Os bóeres chamam-lhe mesmo uma guerra. Leiam os numerosos livros que publicaram!

No dia 23 de Agosto de 1981, seis anos mais tarde, as Forças de Defesa e Segurança da África do Sul (SADF) desencadearam a Operação Protea contra as FAPLA e as forças guerrilheiras da SWAPO, trazendo consigo, desta vez, apenas a UNITA, que devia ser nomeada e empossada por Pretória como administradora do Cunene, criando um “bantustão”.

Os distraídos chamam a esta invasão uma “guerra civil”. Os bóeres chamam-lhe mesmo uma guerra. Leiam os numerosos livros que publicaram.

A Operação Protea e a Operação Daisy duraram de Agosto de 1981 a Março de 1988, durante sete dolorosos anos. A área da província do Cunene ocupada pelas SADF de 1981 a 1988 foi de 40.000 quilómetros quadrados, numa profundidade de 88 quilómetros entre a fronteira de Namacunde e a Môngua. Estas operações foram o culminar da estratégia delineada em comum por Washington e Pretória para a destruição do Governo do MPLA. A estratégia incluiu o ataque à refinaria de Luanda, por um comando sul-africano em finais de 1981.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Angola | O Piolhoso Ataca de Novo -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje é um dia grande para Angola, a África Austral, todo o continente e sobretudo para a Humanidade. Porque na Batalha do Cuito Cuanavale foi derrotado o regime racista de Pretória. Acabou um governo que tinha o racismo como política central do Estado. Todos os seres humanos foram libertados dessa mancha ignominiosa nas suas honras, mesmo os que não têm e nunca terão honra.

Entre esses seres desgraçados está um piolhoso que em 2002 estava às portas da morte, nas matas do Leste de Angola. Os sobreviventes da UNITA durante a Operação Kissonde, pediram aos militares das FAA que providenciassem a evacuação de Alcides Sakala, prestes a morrer. De imediato foi chamado um helicóptero. O moribundo e piolhoso recebeu assistência médica na mata e de seguida partiu para o Hospital de Luena. Uma equipa de profissionais prestou-lhe cuidados de emergência e salvou-o.

Alcides Sakala queria morrer. A seita UNITA entrou em derrocada. O criminoso de guerra Jonas S avimbi tinha morrido. E ele ficou órfão. Desempregado da traição. O comandante militar da região, General Zumbi, foi visitá-lo aos cuidados intensivos. Pediu para tratarem do enfermo como se fosse ele. Continuaram a dispensar-lhe cuidados especiais. Salvou-se. Foi transferido para uma enfermaria. Alguns dias depois o chefe da equipa médica procurou o comandante miltar da região e disse-lhe: “O seu doente não toma a medicação. Encontrámos comprimidos debaixo da cama!”

O General Zumbi teve uma conversa séria com o piolhoso suicida. E disse-lhe que se queria morrer, então arranjava um helicóptero que o deixava na mata donde foi retirado quando estava a dar as últimas. Daquela conversa saiu um acordo. Alcides Sakala prometeu ao general Zumbi que ia seguir a medicação e fazer tudo para recuperar. Assim aconteceu. Pela primeira vez na vida foi verdadeiro.

O piolhoso publicou um livro muito mais ridículo do que ele. Ousou homenagear e agradecer a um médico zairense que integrava o grupo dos sicários da UNITA em fuga desde o Bailundo e Andulo. Mas nem uma palavra dedicou aos esforçados profissionais de saúde que lhe salvaram a vida numa primeira intervenção na mata e depois no Hospital do Luena. Não sou capaz de qualificar semelhante energúmeno. Mas besta insanável é um bom começo.

Hoje Alcides Sakala diz que a Batalha do Cuito Cuanavale foi “um impasse” na margem do rio Cuito. Os outros rios do Triângulo do Tumpo não contam. E como aconteceu um “impasse”, essa situação “conduziu à retirada das forças militares estrangeiras de Angola, cubanas e sul-africanas, negociada em Nova Iorque, em Dezembro de 1988, e às consequentes negociações políticas conducentes à independência da Namíbia, em 21 de Março de 1990; ao fim do apartheid, na África do Sul, em 17 de Março de 1991; e à democratização de Angola por via dos Acordos de Paz Para Angola, firmados em Bicesse, a 31 de Maio de 1991”

Diz o sicário que em Nova Iorque foi negociada a retirada das forças militares estrangeiras. Mistura os racistas sul-africanos, invasores de um Estado Soberano, com as tropas cubanas, chamadas pelo legítimo governo da República Popular de Angola quando sob a capa da FNLA e da UNITA, tropas estrangeiras e mercenários invadiram território angolano a Norte, a Sul e a Sudeste. O piolhoso não diz que a UNITA e seus sicários estavam ao lado das tropas da África do Sul. Do regime de apartheid. Dos ocupantes da Namíbia. Dos carcereiros de Nelson Mandela. Um sabujo insanável. Um imbua kabiri que morde quem lhe dá a ração diária.

domingo, 24 de março de 2024

LIBERTAÇÃO DA HUMANIDADE - A Grande Vitória no Triângulo do Tumpo - Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No dia 23 de Março de 1988, Angola, África e o Mundo triunfaram sobre os racistas de Pretória. O mês começou mal para os invasores. Intensas chuvas com vento “arrasa capim” inundaram as chanas do Cuando Cubango. As tropas do apartheid e seus aliados da UNITA preparam nessa altura e com essas condições atmosféricas o assalto final ao Triângulo do Tumpo. Combates diários duraram meses, desde 1987. Há 36 anos o regime racista de Pretória começou a desmoronar-se. Foi assim o princípio do fim. 

Aos primeiros minutos do dia 1 de Março, Mike Muller, comandante do 61º Batalhão Mecanizado sul-africano pediu o adiamento do ataque porque considerou as condições “muito adversas”. O seu superior, coronel McLoughlin, aceitou. Às 7h30 desse primejro dia do mês a artilharia das FAPLA atacou a posição dos tanques sul-africanos. Mike Muller recuou para posições mais seguras. Às oito da manhã, com o céu carregado de nuvens, quatro obuses de “BM21” das FAPLA atingiram um camião de apoio “61 Koppie”. Há desorientação entre o inimigo. Os ajudantes da UNITA fugiram para longe do teatro das operações.

Às 11h25 do dia 1de Março de 1988, os MIG angolanos aproveitaram uma aberta no tecto de nuvens baixas e atacaram os invasores. Alguns minutos depois, os mísseis “Stinger”, fornecidos pelos EUA (Presidente Reagan) à UNITA, entraram em acção e Mike Muller avançou com os tanques em direcção ao Triângulo do Tumpo. Este relato está detalhado no livro “War in Angola – The Final South Africa Phase” do especialista sul-africano em assuntos de Defesa, Helmoed Roemer Heitman.

Às 13h55 do primeiro dia de Março de 1988, a força de Mike Muller estava a pouco mais de dois quilómetros do Triângulo do Tumpo. Os invasores já viam a ponte sobre o rio Cuito e as árvores gigantes à entrada da aldeia de Samaria. Um veículo sapador sul-africano accionou várias minas. A reacção das FAPLA foi contundente. Dispararam com os morteiros de 120 milímetros, os canhões “D30” e os “BM21”. Um inferno de fogo e metralha envolveu os invasores e a tropa de Jonas Savimbi. Mike Muller respondeu com morteiros de 81 milímetros.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Namíbia condena Alemanha por defender Israel no caso de genocídio da CIJ

A presidência da Namíbia critica a Alemanha por não ter tirado lições do seu próprio genocídio contra o povo namibiano no início do século XX.

Al Jazeera | # Traduzido em português do Brasil

A Namíbia criticou a “decisão chocante” da Alemanha de apoiar Israel no caso de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) instaurado pela África do Sul, quando a guerra de Israel em Gaza entrava no seu 100º dia.

“A Alemanha optou por defender na CIJ os atos genocidas e horríveis do governo israelense contra civis inocentes em Gaza e nos Territórios Palestinos Ocupados”, disse o presidente da Namíbia, Hage Geingob, em comunicado no X no sábado.

Uma audiência pública de dois dias sobre o caso no Tribunal Mundial – o mais alto órgão jurídico das Nações Unidas – teve lugar na quinta e sexta-feira, durante a qual a África do Sul e Israel apresentaram os seus argumentos.

A África do Sul disse ao tribunal na quinta-feira que a ofensiva aérea e terrestre de Israel – que devastou grande parte do enclave e matou quase 24 mil pessoas, segundo as autoridades de saúde de Gaza – visava provocar “a destruição da população” de Gaza.

Israel acusou a África do Sul de apresentar uma visão “distorcida” das hostilidades, negando que a sua operação militar em Gaza seja uma campanha de genocídio liderada pelo Estado contra os palestinianos.

A declaração da presidência namibiana acrescentava que Berlim estava a ignorar o assassinato de mais de 23 mil palestinianos em Gaza por Israel e vários relatórios das Nações Unidas que destacavam de forma perturbadora o deslocamento interno de 85 por cento dos 2,3 milhões de pessoas do enclave sitiado no meio de uma escassez aguda de alimentos e serviços essenciais.

O Presidente da Namíbia manifestou “profunda preocupação” com “a decisão chocante” comunicada pelo governo da Alemanha na sexta-feira, na qual “rejeitou a acusação moralmente correta” apresentada pela África do Sul.

“Nenhum ser humano amante da paz pode ignorar a carnificina travada contra os palestinianos em Gaza”, afirmou.

A declaração afirmava que a Alemanha cometeu o primeiro genocídio do século XX na Namíbia entre 1904 e 1908, no qual dezenas de milhares de namibianos inocentes morreram nas condições mais desumanas e brutais.

“A Alemanha não pode expressar moralmente o compromisso com a Convenção das Nações Unidas contra o genocídio, incluindo a expiação pelo genocídio na Namíbia, ao mesmo tempo que apoia o equivalente a um holocausto e genocídio em Gaza”, disse a presidência.

“O Presidente Geingob apela ao governo alemão para que reconsidere a sua decisão prematura de intervir como terceiro em defesa e apoio aos actos genocidas de Israel perante o TIJ.”

Atrocidades na Namíbia

As forças coloniais alemãs cometeram atrocidades na Namíbia contra os povos indígenas Herero e Nama entre 1904 e 1908.

Os assassinatos fizeram parte de uma campanha alemã de punição coletiva entre 1904 e 1908 que é hoje reconhecida como o  primeiro genocídio do século XX .

É provável que a CIJ apresente uma medida provisória nos próximos dias, mas um veredicto final levará anos. A África do Sul instou o tribunal a ordenar a suspensão imediata da devastadora ofensiva militar de Israel em Gaza.

A Convenção do Genocídio de 1948, promulgada na sequência do assassinato em massa de judeus no Holocausto nazi, define genocídio  como “atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”.

A África do Sul apresentou o casoao TIJ em 19 de Dezembro, acusando Israel de actos genocidas em Gaza.

Vários países e organizações internacionais apoiaram a África do Sul neste caso, enquanto Israel recebeu o apoio dos Estados Unidos, o seu principal fornecedor de armas e aliado próximo.

Várias entidades globais, incluindo a Human Rights Watch, determinaram que Israel está envolvido em crimes de guerra em Gaza.

Imagem: Um manifestante pró-Palestina segura um cartaz durante um protesto perto do Tribunal Internacional de Justiça em Haia, em 11 de janeiro de 2024. [Thilo Schmuelgen/Reuters]

Ler/Ver em Al Jazeera:

Como pagar pelo genocídio: as vítimas namibianas do colonialismo alemão querem ter uma palavra a dizer

Acerto de contas com o primeiro genocídio do século 20 na Namíbia

A guerra de Israel em Gaza: O que constitui genocídio?

Israel rejeita acusações de genocídio em Gaza e pede ao TIJ que rejeite o caso

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

As Bases da Guerra Suja Contra Angola -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Documentos secretos dos racistas da África do Sul aos quais tive acesso, serviram de fontes à reportagem que hoje partilho, porque é tempo de por os pontos nos “is” e os traços nos “tês”. A UNITA, partido que lidera a Oposição, tem um passado tenebroso, desde que combateu ao lado dos colonialistas contra a Independência Nacional, na Frente Leste. Mais grave foi alinhar com os independentistas brancos em Maio de 1974, nos esquadrões da morte. Gravíssimo e imperdoável foi  o seu líder ter assinado o Acordo de Bicesse e apenas cinco dias depois esconder 20.000 homens e as suas melhores armas, em bases secretas no Cuando Cubango.

A UNITA secou tudo à sua volta. O deserto já chegou ao MPLA. Faltam pouco para Angola ser uma democracia sem organizações politicas e partidárias. Hoje a Oposição é liderada por dois partidos que tiveram de se coligar, para formarem um Grupo Parlamentar, FNLA/PRS. Registaram em 2022 uma votação residual. Da FNLA já nada há a dizer. O PRS, nas eleições de 2012, fez um discurso racista, xenófobo, tribalista e homofóbico. É a sua marca. O partido da Oposição sem mácula é o Humanista. Votação residual. 

O MPLA foi levado por João Lourenço para o covil do estado terrorista mais perigoso do mundo, outrora chafurdado pela UNITA de Jonas Savimbi. Nesse tempo e apenas cinco dias após a assinatura do Acordo de Bicesse, obedecendo a ordens dos restos do regime de apartheid e dos EUA, os sicários do Galo Negro aceitaram alinhar numa conspiração para tomarem o poder pela força. Aí vão os pormenores, chancelados por documentos aos quais tive acesso fornecidos por “arrependidos” do regime racista de Pretória.

Isaías Samakuva, na época tratado por “coronel” e Abílio Camalata Numa alcunhado de “brigadeiro” pelos dirigentes racistas sul-africanos, foram executores da operação que consistiu em esconder 20.000 soldados da UNITA, para o partido tomar o poder pela força, caso Savimbi perdesse as eleições de 1992 como perdeu estrondosamente. As instruções foram dadas pelo chefe do Estado-Maior da Inteligência Militar da África do Sul, comandante De la Ray.

Abílio Camalata Numa, antigo deputado e general na reforma, colocou-se às ordens dos restos dos racistas e do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Tinha mais peso do que Samakuva porque era apresentado como “cunhado” de Savimbi. O documento, classificado de “secreto”, foi emitido no dia 5 de Junho de 1991, apenas cinco dias depois da assinatura do Acordo de Bicesse, a 31 de Maio.

O comandante De la Ray mandou uma cópia das ordens para o chefe das Forças de Defesa e Segurança (SADF), general Geldenhuys, um dos oficiais do regime de apartheid que assinou a capitulação nos Acordos de Nova Iorque, depois da derrota no Triângulo do Tumpo, à vista do Cuito Cuanavale. 

A mensagem secreta foi também enviada ao chefe dos Serviços de Combate e ao chefe da Logística sul-africanos, para garantir abastecimentos aos 20.000 soldados, aquartelados em bases no Cuando Cubango, em locais entre as fronteiras da Zâmbia e da Namíbia.

A ordem de operações enviada a Isaías Samakuva e a Abílio Camalata Numa, é detalhada. O comandante sul-africano de La Ray diz aos dois dirigentes da UNITA que foi autorizada a “transferência urgente de 20.000 tropas da UNITA para o Sul”. O Chefe do Estado-Maior da Inteligência Militar de Pretória indicou as bases na mensagem secreta: “Girafa, Palanca, Tigre e Licua, cerca de sete mil homens em cada uma”. 

A ordem à UNITA tinha um detalhe: “escolher os melhores comandantes”. Numa e Samakuva obedeceram, sem qualquer hesitação. O comandante De la Ray, na sua mensagem secreta, mandou também transferir para aquelas bases “todas as antiaéreas, incluindo os mísseis Stinger”. Também esta ordem foi cumprida por Samakuva e Numa. 

A parte final da mensagem secreta do chefe do Estado-Maior da Inteligência Militar sul-africana ordenava a transferência para as bases Girafa, Palanca, Tigre e Licua, de “todas as armas pesadas”. O que foi também integralmente cumprido por Samakuva e Numa.

A Inteligência Militar de Pretória, apoiada pela CIA e o Pentágono, continuava a fomentar a guerra suja da UNITA, mesmo depois dos Acordos de Nova Iorque. Adalberto da Costa Júnior revelou na época  algo que torna este comportamento normal: “em 1995, Jonas Savimbi recebeu um importante convite para visitar a África do Sul, dirigido por Nelson Mandela, então Presidente da República. Nelson Mandela recebeu o Dr. Savimbi e a sua delegação na sua aldeia natal, em Qunu, dia 17 de Maio de 1995. Os africanos sabem o que significa receber alguém na sua própria aldeia”. 

O autor desta afirmação tem pouca credibilidade, mas se é verdadeira, está explicado o envolvimento da Inteligência Militar da África do Sul, na preparação da guerra depois das eleições de 1992, nas quais a UNITA foi estrondosamente derrotada. O acto eleitoral foi blindado e as eleições fiscalizadas pela ONU e pela Troika de Observadores, o que tornava impossível qualquer fraude. Informações credíveis dão conta que Nelson Mandela mandou Savimbi parar com a guerra e aconselhou-o a respeitar os resultados eleitorais. 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

ESTÁ ESCRITO EM ACTA - Pretória Reconheceu Vitória de Angola – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Presidente da África do Sul, PW Botha, convocou para o dia 28 de Agosto de 1988 uma reunião classificada como ultra secreta para tomar decisões de Estado sobre a derrota das forças armadas de defesa e segurança no Triângulo do Tumpo.

Estavam presentes os mais altos dirigentes sul-africanos e tomaram uma decisão dolorosa: Acabar com o regime de apartheid e acatar a Resolução 435 da ONU sobre a Independência da Namíbia.

O documento secreto ao qual tive acesso tem poucas palavras, mas são significativas. Volto a revelar a “Acta da Derrota” em homenagem aos heroicos combatentes que libertaram África do odioso regime de apartheid. E particularmente aos comandantes das forças, Generais José Domingos Baptista (Ngueto) e, Fernando Amândio Mateus (Nando Cuito), na época majores. E os capitães que comandavam as brigadas: Maximiliano, Zenzeca, Incendiário, Kiluange, Keba, Sacudido, Ngueleca, Kambiçula e o recentemente falecido Valeriano.

Na reunião de alto nível estiveram presentes além do Presidente da República PW Botha, o ministro da Defesa, general Magnus Malan, o ministro das Relações Exteriores, Pik Rudolf Botha, o general Jannie Geldenhuys, o major-general Neil Van Tonder e o major-general Kat Liebenberg. Todos os derrotados no Triângulo do Tumpo.

A agenda da reunião tinha quatro pontos: Fracasso na tomada do Cuito Cuanavale (número um), fracasso na tomada da aldeia do Tumpo (número dois), material de guerra capturado pelo inimigo (número três) e as baixas em combate (número quatro). 

Uma correcção. Na “Acta da Derrota” é feita referência à “aldeia do Tumpo”. Na verdade é a aldeia de Samaria que fica no alto de uma colina sobranceira à grande chana do Tumpo, que baptizei de triângulo porque naquela imensa planície correm os rios Tumpo, Dala e Cuanavale.

O secretário da reunião escreveu na acta que o Presidente da República, usando os seus poderes constitucionais decidiu “desmobilizar a 82ª Brigada e o 61º Batalhão Mecanizado, que foram formados para a Batalha do Tumpo”. 

O momento mais importante da reunião estava para vir. A acta refere taxativamente: “O ministro da Defesa, genral Magnus Malan, e o general Geldenhuys, assumem aqui a total responsabilidade da derrota”. Está escrito!

A acta da reunião ultra secreta revela outro aspecto dramático para o regime de apartheid mas bom para a África Austral e o mundo civilizado: “Dadas as consequências da derrota no Cuito Cuanavale, o Governo da África do Sul foi obrigado a aceitar a Resolução 435 da ONU sobre a Independência da Namíbia”. PW Botha e os seus pares reconheceram naquele momento que a Batalha do Cuito Cuanavale os deixou de tal forma vulneráveis, que foram obrigados a abrir mão da sua colónia.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

GENOCÍDIO NA NAMÍBIA: “NOSSO AUSCHWITZ, NOSSO DACHAU”

Acerto de contas com o genocídio da Alemanha na Namíbia

Os abusos alemães dos Herero e Nama foram o primeiro genocídio do século 20, um prenúncio do Holocausto dos nazis na Segunda Guerra Mundial.

Hamilton Wende | Al Jazeera - 06 de novembro de 2022

Waterberg, Namíbia - As sombras rendilhadas das acácias repousam sobre a grama seca. Uma brisa fria de inverno suspira pelos galhos. Na escassa sombra, Jephta Nguherimo, um ativista vitalício pela justiça restaurativa para o povo Herero, segura os restos enferrujados de alguns equipamentos militares, é impossível dizer agora para que poderia ter sido usado.

#Traduzido em português do Brasil

O homem de 59 anos joga-o de volta no chão. “Estou pensando em todas as mulheres e crianças que morreram aqui”, diz ele.

Ele está no local da Batalha de Waterberg, onde, em 11 de agosto de 1904, o exército colonial alemão dizimou os rebeldes Herero que lutavam contra os colonos que haviam imposto seu domínio sobre o país e apreendido grande parte de suas terras. Os assassinatos fizeram parte de uma campanha alemã de punição coletiva entre 1904 e 1908 que hoje é reconhecida como o primeiro genocídio do século 20 .

Mas seus ancestrais não foram meras vítimas, ele diz à Al Jazeera: “Esta guerra foi a primeira resistência ao colonialismo”.

Jephta nasceu na aldeia de Ombuyovakura, na Namíbia, mas agora vive nos Estados Unidos. Ele tem uma barba raiada de cinza e fala suavemente e pensativamente. Poeta e pessoa profundamente espiritualizada, acredita apaixonadamente na justiça para o seu povo, mas também na reconciliação com os alemães que massacraram dezenas de milhares de Herero, Nama e San, comunidades étnicas indígenas do país então conhecido como Sudoeste Africano.

"Tenho grande respeito por meus avós e pais pelos esforços extraordinários que fizeram para nos proteger, crianças, do trauma transgeracional causado pelo genocídio", escreveu ele em 2020. nunca mencione o genocídio. Eles só falariam sobre a guerra de resistência."

Aquisição alemã

Em 1884, após a Conferência de Berlim, que atribuiu as terras africanas às potências europeias, a Namíbia foi tomada pelos alemães. No início de 1900, quase 5.000 colonos alemães chegaram e governaram cerca de 250.000 africanos indígenas. À medida que o controle alemão crescia, os direitos e liberdades dos povos africanos diminuíam rapidamente. Os Hereros e outros grupos foram sistematicamente expulsos de suas terras ancestrais e designados para as chamadas "reservas".

Africanos que foram considerados infratores da lei foram açoitados e às vezes enforcados, e até mesmo registros oficiais alemães mostram vários casos de colonos brancos que receberam sentenças leves por cometer estupro e assassinato. Essa brutalidade contínua, combinada com a questão da terra, criou raiva e ressentimento generalizados entre as populações locais.

Em 1904, os Herero, sob o comando de seu líder Samuel Maherero, levantaram-se contra os invasores coloniais alemães e, em 12 de janeiro, vários de seus soldados montados atacaram a cidade de Okahandja. Mais de 120 pessoas, a maioria alemãs, foram mortas.

Logo o conflito cresceu, com o Herero sendo inicialmente muito bem sucedido, varrendo os assentamentos coloniais mal defendidos enquanto os alemães lutavam para organizar sua defesa sob seu governador, Theodor von Leutwein. Em junho, o Kaiser o removeu do comando do campo de batalha e nomeou o general Lothar von Trotha em seu lugar. Ele imediatamente instituiu uma política militar, não de pacificação, mas de extermínio. Logo os Herero foram dominados.

Quando amanheceu naquela manhã de 11 de agosto no planalto de Waterberg, cerca de 50.000 ou mais homens, mulheres e crianças hereros acordaram com suas cabanas simples sendo atingidas por granadas. Os homens correram para lutar contra os alemães, deixando suas famílias para trás, onde foram mortos por uma brigada de cerca de 6.000 Schutztruppe (o nome oficial das tropas alemãs nos territórios africanos de seu império). Embora numericamente mais fracos, os alemães tinham armas superiores - incluindo metralhadoras Maxim e artilharia - e rapidamente destruíram a defesa Herero.

No início da batalha, os caças Herero quase invadiram as posições de artilharia alemãs, mas Von Trotha ordenou que as metralhadoras fossem trazidas. Seu fogo rápido fez os Herero recuarem e milhares foram massacrados. Aqueles que sobreviveram fugiram para o leste através de uma brecha nas defesas alemãs para o deserto de Kalahari, inóspito e sem água, conhecido como Omaheke, onde dezenas de milhares morreram. Muitos morreram de sede, enquanto outros foram presos e levados para campos de concentração e usados ​​como trabalho escravo.

“Minha avó me contou sobre nosso povo e sua fuga para o leste e como nosso povo pereceu, sobre a desapropriação de suas terras e de seu gado e todas as coisas terríveis que vivenciaram nos campos de concentração”, diz Jephta, olhando ao redor pensativo. enquanto ele ajusta seus dreadlocks sobre o ombro de sua camisa cinza estilo safári no dia quente. O vento fica mais suave sobre a grama de inverno branca como osso que carrega suas palavras.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Namíbia declara o seu apoio ao Sahara Ocidental na Assembleia Geral da ONU

PUSL.- O Presidente da República da Namíbia declarou o apoio do seu país ao direito do povo saharaui à autodeterminação e salienta que o atraso na implementação das resoluções da ONU para resolver a questão do Sahara Ocidental é uma vergonha na testa da comunidade internacional.

Dirigindo-se à 77ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente Hage Geingob, classificou no seu discurso, a falta de acção e a continuação do conflito do Sahara Ocidental como uma vergonha colectiva.

porunsaharalibre

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

GENOCÍDIO NA NAMÍBIA: OPOSIÇÃO EXIGE NOVO ACORDO COM BERLIM

Maior partido da oposição da Namíbia está a exigir da Alemanha um novo acordo de compensação pelo genocídio dos povos Herero e Nama durante a era colonial. Mas Berlim não vê necessidade de renegociação.

Na Namíbia, a oposição está a exigir a renegociação e reestruturação de um controverso acordo com a Alemanha sobre o genocídio dos povos Herero e Nama, entre 1904 e 1908, naquele que foi o primeiro genocídio do século XX, e que causou mais de 100 mil mortos.

O Governo alemão, no entanto, não vê necessidade de renegociar a Declaração Conjunta com a Namíbia e a recusa gerou ainda mais ressentimento.

O presidente do maior partido de oposição da Namíbia, Movimento Democrático Popular (PDM), McHenry Venaani, escreveu uma carta aberta à ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, onde apela a que o acordo seja "reestruturado".

"Temos esperança em pessoas como a Baerbock, que mostrou credibilidade enquanto era candidata [a chanceler da Alemanha, em 2021]. Quero ver se ela mostrará o mesmo agora enquanto ministra. Porque agora tem autoridade", diz Venaani.

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