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sexta-feira, julho 11, 2008

ausência

... não há falta na ausência.
a ausência é um estar em mim.
e sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços, que rio
e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

carlos drummond de andrade

quinta-feira, janeiro 24, 2008

und3rmúsica #7 o homem das cidades

há muito tempo que eu queria postar isto aqui. por várias razões. primeiro, porque gosto muito, depois porque publicar pessoa no blog projecta assim uma imagem a modos que bué intelectual, finalmente, porque o projecto wordsong é das coisas mais interessantes que se fazem por cá. depois de abordarem a poesia de al berto num primeiro trabalho, lançaram-se na aventura de adaptar pessoa (o fernando e a sua desmultiplicação caleidoscópica) ao formato canção/música. o resultado é uma mistura de música e palavras que se aproxima bastante do casamento perfeito, editado no álbum pessoa de 2006. o homem das cidades foi adaptado do guardador de rebanhos de alberto caeiro. gosto particularmente destas palavras.




a nossa alma e o céu...


ontem à tarde um homem das cidades falava à porta da estalagem.
falava comigo também
falava da justiça e da luta para haver justiça
e dos operários que sofrem.
e do trabalho constante e dos que têm fome,
e dos ricos, que só têm costas para isso


e, olhando para mim viu-me lágrimas nos olhos
e sorriu com agrado, julgando que eu sentia
o ódio que ele sentia e a compaixão
que ele dizia que sentia


mas eu mal o estava ouvindo
que me importam a mim os homens
e o que sofrem ou supõem que sofrem?
todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,


quer para fazer bem quer para fazer mal.
a nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
querer mais é isto perder e infeliz ser


se às vezes eu digo que as flores sorriem
e se eu disser que os rios cantam
não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
e cantos no correr dos rios...
é porque assim faço mais sentir aos homens falsos
a existência verdadeiramente real das flores e dos rios

sexta-feira, maio 25, 2007

morna chama do desejo

.

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adoro os teus olhos minha amada

são esplêndido fogo cintilante

quando de repente os ergues assim

para um breve olhar envolvente

como relâmpago instantâneo no céu

mas há um encanto maior ainda

quando meu amor teus olhos se baixam

quando tudo é inflamado pelo beijo da paixão

e através das pálpebras semicerradas

vejo a morna chama do desejo
.
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fiodor tiutchev
.
.

quarta-feira, abril 04, 2007

absolutamente desnecessário

.

este poema é absolutamente desnecessário
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta.
esta é a sua liberdade negativa a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial.
mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um útero do nada?


ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?


antónio ramos rosa


foto retirada daqui

quinta-feira, março 22, 2007

poema sem crer

da poesia, da árvore, da primavera.
os anos andam curtos
ultimamente.
os dias andam curtos
ultimamente. escapam-se entre os dedos, entre o rápido avançar
dos ponteiros. passa a fronteira da meia-noite,
que afinal não fica no meio, nem da noite, nem de nada, novo dia
recomeça, embora ainda noite seja. tontos
de tanto rodar no espaço, nada de novo nos espera.

devo hoje ler um poema? da poesia já foi ontem,
hoje será do teatro, da música, da fome,
da guerra?
devo então plantar uma árvore? fazer um filho,
escrever um livro? pintar-me de cores garridas? ser criança,
talvez, ou lutar pela liberdade? de não ler, de não ligar,
ao dia, à noite, ao lugar?
de inventar os meus próprios dias, de escolher
o que quero
celebrar.

falas de civilização...

falas de civilização, e de não dever ser,
ou de não dever ser assim.
dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
com as coisas humanas postas desta maneira,
dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
escuto sem te ouvir.
para que te quereria eu ouvir?
ouvindo-te nada ficaria sabendo.
se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
ai de ti e de todos que levam a vida
a querer inventar a máquina de fazer felicidade!

alberto caeiro

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

sexta-feira, dezembro 15, 2006

partilhas, pr3ndas #2

para quem gosta de poesia e de viagens internas, o und3rblog oferece...

advertência

estes delírios, observações, etc, são de alguém que, para além
de qualquer compromisso, se encontra sem mãe, sexo ou pátria. que
tenta sangrar pela palavra um sistema, um espaço vital sem ilha
rochosa, apenas um corpo de frases com toda a promessa do topo do
solo ou de uma estrela. um núcleo: um centro que se aguente, flor e
nervura. a atmosfera com feixes de tecido vascular que iluminam
e revelam.

ansiando por... um bilhete, uma fenda, um buraco por onde
espreitar, algum sinal de - agarrando-se à crença ingénua de que a
viagem se vai iniciar - adoecer fisicamente como um adolescente.
sem utilidade prática para a palavra senão viajar, senão um manual
gasto, mapa de rotas e dicionário. senão o ritual, senão o ritmo,
senão cús-cús. dialecto da cabeça de deus? beijo de língua
estrangeiro? viagem interna: foguete cerebral.
deus meu crânio. sim a viagem é a chave, não,
como sugeriu rimbaud, a caridade.

patti smith

sexta-feira, novembro 24, 2006

wordsong p3ssoa


já tinham surpreendido em 2003 com o trabalho dedicado a al b3rto, voltaram este ano à carga com um trabalho dedicado a fernando p3ssoa. dificilmente se poderia imaginar melhor tradução musical para o universo pessoano. o projecto liderado por pedro d'orey (ex-ml3r if3 dada), nuno grácio, alexandre cortez e filipe valentim (rádio macau), editou um objecto inclassificável e que dá prazer explorar, que não se esgota na audição da música. disco de um lado, dvd do outro com os vídeos criados por rita sá, e ainda um pequeno e elegante livro com os textos das músicas, poemas, e outros textos sobre pessoa. não é por acaso que o proj3cto p3ssoa venceu recentemente a 3ª edição dos pr3mios portugu3s3s de multim3dia na categoria de música, promovidos pela associação para a promoção dos multimédia em portugal (a.p.m.p.) e a número - arte e cultura. paragem obrigatória no sítio do projecto no myspace, onde poderão ouvir 4 das 16 faixas e ver uma pequena amostra dos vídeos de rita sá. mas o melhor mesmo é comprar o dito objecto. para quem gosta destas coisas, aqui fica a lista de influências assumidas pelos músicos: lou r33d, lauri3 and3rson, talking h3ads, jan3 birkin, wagn3r, syd barr3t, ca3tano v3loso, nico, rafa3l toral, soft machin3, traffic, thr 33 black bros, dub funk association, h3rb3rt e jazzanova.