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quinta-feira, maio 29, 2008

excertos dos cadernos de viagem do famoso explorador nélio na sua expedição a palma de mallorca #3

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quarta-feira, 21 de maio de 2008

aos vinte e cinco minutos de espera dentro do avião, o comandante, que eu ainda não sabia que era o comandante, fala pelo sistema de som, em alemão, durante tempo considerável. vejo a expressão consternada dos meus fellow travelers e cresce em mim a ansiedade. quando chega a versão em inglês fico a saber que algum funcionário do check-in se enganou e enviou para aquele voo passageiros que deveriam ir para outras paragens. o compasso de espera, revela o comandante que eu agora já sei que é o comandante, é o tempo de evacuar os passageiros enganados e de encontrar no porão, no meio das malas de toda aquela gente que fala como se estivesse a beber café a ferver, as malas que não deveriam, nunca deveriam, ter ido parar àquele avião. não se sabe quanto tempo vai demorar a demanda. afinal é rápido. pouco depois chega a informação de que as malas, as malditas malas, já foram evacuadas e podemos partir. primeiro em alemão, depois em inglês. este é um voo de portugal para espanha e as informações chegam primeiro em alemão, depois em inglês.

quarta-feira, maio 28, 2008

excertos dos cadernos de viagem do famoso explorador nélio na sua expedição a palma de mallorca #2

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quarta-feira, 21 de maio de 2008

a sala de embarque abre apenas dez minutos antes da hora de embarque. entretanto, o gado, que fala como se estivesse a beber café a ferver, acumula-se no corredor em volta das portas de correr que teimam em manter-se fechadas. senta-se em qualquer lado, no chão, nos corrimões, em todas as reentrâncias, atrapalhando a passagem dos passageiros que se dirigem às salas mais à frente. separam-nos das cadeiras confortáveis da sala de embarque, enormes paredes envidraçadas através das quais olhamos, com o mesmo olhar que as crianças ostentam quando olham para as montras cheias de doces. dez minutos antes da hora de embarque, as assistentes de terra encaminham-se para as portas de correr. devagar, vagarosamente, lentamente, conversando entre si. trivialidades. sem desviarem o olhar passam por entre o gado, digitam o código de acesso e as portas, as malditas portas, abrem-se de par em par. é então que penso que as assistentes são tão simpáticas, tão eficientes, que apetece esbofeteá-las.

excertos dos cadernos de viagem do famoso explorador nélio na sua expedição a palma de mallorca #1

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quarta-feira, 21 de maio de 2008

que faço eu num avião cheio de alemães que falam como se estivessem a beber café a ferver? certamente é isto a europa que tanto se apregoa. voar de faro para palma de mallorca, de portugal para espanha, numa companhia com nome de capital alemã, num avião cheio de alemães. a europa é isto. observo estes alemães e, não fosse a maior prevalência do olho azul e do cabelo palha, poderiam ser portugueses. somos tão parecidos. o povo, o povinho, é todo igual. as atitudes, os trejeitos, a indumentária, os jornais desportivos e as revistas cor-de-rosa, a irrequietude das crianças, as mães preocupadas e vigilantes, os pais aparentemente alheios mas sempre controladores.

na loja de revistas do aeroporto de faro há uma estante de discos com oito prateleiras. cinco com discos da mariza, duas e três quartos com discos da amália e o quarto restante com discos da teresa salgueiro. rodrigo leão, a naifa, camané, dead combo, certamente melhores embaixadores da portugalidade do século 21, estão pura e simplesmente ausentes. somos mesmo maus a promover-nos.

sábado, fevereiro 16, 2008

para que conste


faltou aqui o registo de um prazer simples, satisfeito pela primeira vez este ano. lanchar e tomar um café com cigarro, sem ser no recato do lar ou exposto ao vento frio que teima em se fazer sentir cá por baixo. o café aliança (o mais antigo de faro e o terceiro a nível nacional, segundo rezam as crónicas) é o único espaço da baixa da cidade que permite a fruição deste pequeno nada. na sua simpática sala de entrada, reproduzida na fotografia acima. foi no dia mais piroso do ano (s. valentim) e estava muito bem acompanhado.

foto pilhada por aí

quinta-feira, julho 19, 2007

here we go again

eles já estão a chegar, até domingo vai ser assim. num raio de 30 km, não há sítio nenhum que não seja invadido pela tribo motard. durante 4 dias, faro quase duplica a sua população, dia e noite um zumbido de fundo que se ouve em qualquer ponto da cidade e arredores. uma verdadeira cidade de campanha com capacidade para 40.000 pessoas, hospital, vários palcos, uma logística impressionante assegurada por mais de 1.000 voluntários. a concentração internacional de motos já está perfeitamente integrada na vida da urbe, que este ano até lhes vai dedicar um monumento numa das suas principais avenidas. na verdade até é acarinhada pela população, que já sabe que de "feios, porcos e maus" a tribo tem mais aspecto do que substância. here we go again. durante 4 dias, meus amigos, esta cidade deixa de ser faro e passa a faroeste. enfim, folclore.

quinta-feira, julho 12, 2007

indizível | constatação #21

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há uma magia indizível nestes cair de tarde de verão, quando as paredes das casas libertam o calor armazenado durante o dia e os degraus de pedra das soleiras das portas são refúgios expostos à fresca aragem que chega do mar.

foto de jeffrey becom, batentes metálicos em forma de mão, tavira.

domingo, maio 27, 2007

é tudo a sacar, vilanagem!

na sequência do post anterior, vejam a notícia de ontem no público:

"No pouco espaço livre que resta da costa algarvia vão ser construídas mais 53 mil camas. O Protal II foi aprovado, mas desde que haja para investir mais de 60 milhões de euros, o governo contorna as leis do ambiente e do ordenamento. Até pode mandar suspender um Plano Director Municipal só para aprovar um apartamento-hotel, como aconteceu à entrada da Quinta do Lago.
Nos próximos cinco anos, prevê-se que o Algarve duplique o número de empreendimentos de cinco estrelas. Quantos serão, ao certo, não se sabe ainda. "Quase uma mão cheia", responde, lacónico, o ministro da Economia, Manuel Pinho, prometendo que, no Verão, vai lançar as "primeiras pedras" de alguns desses projectos, ditos de Potencial Interesse Nacional (PIN)."

o algarve continua a saque!
note-se, a bem da verdade, que a maioria, se não a totalidade destes empreendimentos não resulta de investimentos feitos por algarvios, nem o dinheiro gerado pela sua exploração nem os impostos pagos (tirando os impostos municipais), serão aplicados no desenvolvimento do algarve.

sábado, maio 26, 2007

paraíso natural


recebi deste blog um desafio para um meme, tendo o conceito de paraíso natural como base. um meme está para a memória como um gene está para a genética. é algo que é transmitido, sujeito a transformações, adaptações, mutações. o meme que me foi passado, dizia respeito a tradições orais ligadas à terra, à sabedoria popular. evocava tempos em que as histórias eram transmitidas de geração em geração, à volta do fogo conciliador, à chama de candeeiros a petróleo, vem de uma terra longínqua, por detrás dos montes, no outro extremo do país, terra que como o algarve tem a tradição das amendoeiras em flôr. pontos de contacto, portanto.
podia evocar aqui o algarve da minha infância, o paraíso natural que era esta costa antes de um esbarrunto de empreendimentos turísticos aparecer como cogumelos e destruir paisagens, ecossistemas, falésias. o algarve da pequena burguesia rural, das casas com pitoril e alegretes, as visitas à dos meus avós e à dos meus tios, eu, menino de cidade, explorando a liberdade que o campo me permitia, na retoiça todo o santo dia, as loucas descidas ladeira abaixo, montado na carreta das pipas, empurrado por ou empurrando o mé'rmão, em que invariavelmente um de nós ficava escanecado depois de andar à reboleta uns quantos metros, o fascínio das pocilgas, das capoeiras e das cavalariças, das noras e das cisternas, dos fornos de cozer pão e da tiborna no dia da cozedura.
podia evocar também o tempo em que um galfarro nadar nú na maior parte das praias algarvias não escandalizava ninguém, simplesmente porque não havia ninguém para escandalizar. de vilamoura aos olhos d'água, uma caterva imensa de falésia e praia completamente desertas, de albufeira a armação de pêra, o mesmo cenário. mar, areia, bichos e mato. um mundo perdido, hoje em dia, afogado pela alcatrefa de campos de golfe, hoteis e outros catramolhos, apoios de praia e até elevadores que permitem a descida da falésia, directamente do hotel até à areia.
podia evocar tempos mais antigos, histórias de homens e de moços que partindo da terra dos marraxos atravessavam todo o algarve a pé, de caturras, para irem ceifar nos campos do lintejo.
podia inclusivamente evocar o paraíso natural que ainda é esta ria formosa, com bandos de flamingos repousando no meio das salinas, as flores da vegetação que fixa as dunas do cordão que lhe serve de protecção. ou podia seguir outro rumo e relembrar a minha avó galega, a pequena aldeia de san simon onde nasceu, o cancioneiro de lenga-lengas, histórias e trava-línguas que transportava dentro de si e embalaram muitas noites o meu sono de menino, pequenos tesouros da tradição oral que se vão perdendo, num mundo cada vez mais centrado no "novo", na tecnologia, no material e no efémero. paraísos naturais, todos eles transformados pela mão manipuladora do homem, pelo "bichinho alacre e sedento que fuça através de tudo num perpétuo movimento" tão bem descrito pelo gedeão. em vias de extinção, sujeitos à cobiça sem limites, votados ao esquecimento pela voragem do tempo.

sábado, maio 19, 2007

reconciliação


sair do trabalho às 5 e meia hora depois estar a mergulhar nas águas límpidas do oceano, numa praia com pouca gente, o sol e o sal a misturarem-se na pele, a frescura do mar, as dunas com a vegetação em flôr, a areia entre os dedos dos pés, o corpo cansado de nadar, mas revigorado por dentro, reconcilia-me com a vida e com esta terra.

segunda-feira, abril 09, 2007

allgarvio? com muito gosto!






andar às vezes no mundo da lua e desligado do mundo da politicazinha idiota tem as suas vantagens. uma delas é só nos apercebermos das alarvidades à posteriori. estou-me a referir ao triste episódio à volta da marca allgarve, uma campanha inteligente, um bom exercício de marketing, que os dirigentes algarvios, secundados por boa parte da populaça sempre pronta a massacrar sem pensar, condenaram sumariamente, sem sequer terem parado dois segundos para pensar no que estava em jogo. gosto desta ideia do algarve global, que não promove apenas os hoteis e as praias, mas que se quer enriquecer e diversificar. um algarve com glamour. dá vontade de rir que velhos caciques locais, tipo bota ou elidérito se insurjam tão veementemente contra a nova marca. encalhados num tempo em que o sol e o corridinho chegavam, não percebem nada de marketing, de design, da necessidade de renovação. por essa blogosfera fora, encontram-se os comentários mais atávicos, sempre partindo do princípio que se quer mudar o nome da região. como se pode ser tão primário, para não dizer jurássico? se alguém ainda tem dúvidas, sugiro uma visita ao site da my brand, a empresa que criou a marca. não estou a imaginar os dubliners indignados com o ! em vez do i, exigindo a quem de direito que se acabe com a aviltação do bom nome da cidade. ou os pacatos habitantes de amsterdão em fúria por terem posto um I, à inglesa, antes do nome da sua cidade. allgarve, dubl!n, I amsterdam. a verdade é que funciona. pelo menos para quem tem dois dedos de testa.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

osgas, leques, oregãos e soquetes

maria goreti, gostei tanto do teu comentário sobre o algarve, que não resisto a publicá-lo como post. ao lê-lo revivi cheiros e sensações, atmosferas e imagens.

Quando eu tinha 7 anos passava longos verões na casa de um tio avô católico, machista e tudo, na R Teófilo Braga, em Faro. Ele cultivava espinafres num pátio fresco, tinha uma açoteia onde o por do sol era muito bonito, havia osgas nas redes mosquiteiras das janelas e umas comidas com tomate, orégãos e peixe fresco como eu nunca havia saboreado e de que, se me concentrar, ainda consigo sentir o perfume. Era casado com uma senhora Algarvia que dizia "os mês meninos" de mim e dos meus primos que levava, bem comportados, em fila indiana, sapato engraxado e soquete branco à missa da tarde quente de domingo. Essas missas nunca esquecerei. A pele pouco habituada ao Sol, queimava-me vermelha sob as mangas tufadas do vestido. Cheirava a insenso, a cera e a Bien Etre. Ouvia-se o roçagar dos leques das senhoras. Eu e a minha prima recebemos leques pequenos e brancos com a gavidade de quem recebesse algum amuleto iniciático. Eu invejava secretamente a mantilha de renda branca que a minha prima recebera, essa sim verdadeiramente iniciática, atestando da sua condição de púbere, já com a "profissão de fé", mas ao menos eu recebera o leque e, se olhasse com atenção, cedo aprenderia a usá-lo com a mesma elegância das mulheres. Os meus tios avós tinham uma "comadre Joana": Senhora idosa e viúva com quem se encontravam nas tardes de Sábado numa aldeia muito branca, com pérgolas de caniçal, lagedos pintados com uma lavagem vermelho vivo aplicada de esfregona em torno de um velho mas imaculado poço com sua nora, embora já sem mula. As estradas eram convexas e estreitas, rés vés das soleiras das portas onde as mulheres da minha terra diriam que se podia lá comer de tão limpinhas. Essa limpeza fascinava-me, a mim beirã que ia para a escola com a bosta dos paralelos da rua agarrada às tamancas. O meu pai, orgulhoso mestre escola, explicava-me as orígens árabes disto e daquilo, a picota e os laranjais, mais a lenda da princesa nórdica e suas amendoeiras em flor. Aos 18 anos, muito longe da mantilha de renda branca, e ainda não retornada para o leque, fiz a costa Algarvia de mochila, a pé e à boleia. Dormi na praia e fui acordada pelos pastores alemães da GNR, e tudo o mais a que davam direito a mochila e as boleias. Gostei mais ainda que da missa de domingo à tarde, em Faro aos 7 anos de idade. Voltei ao Algarve há poucos anos e fui à aldeia da Comadre Joana. À soleira das portas não havia já estradas convexas. Aliás as estradas passavam ao nível das pérgolas de caniços, e as casas, já não tão brancas, estavam relegadas a caves das vias rápidas. Procurei os areais discretos onde caminhara mais que passos nas areias e tinham-se ido embora. Tinham desaparecido demasiadas coisas belas ao mesmo tempo e eu fiquei muito triste. Felizmente não farão a ilha artificial. Valha-nos isso.

Maria Goreti

domingo, fevereiro 18, 2007

algarve - notas soltas

não deixa de ser estranho que em 3 meses de blogagem, esta seja a primeira referência ao algarve. isto é certamente sinal da difícil relação que tenho com a região (para mim era um país) que me viu nascer. todos os meus avós eram algarvios, à excepção de uma avó galega, de que eu tinha e tenho imenso orgulho. quando eu era adolescente, considerava-me em primeiro lugar cidadão do mundo, em segundo algarvio e só em terceiro português. sempre tive orgulho da nossa especificidade dentro do todo nacional, o facto de termos sido reino dos algarves, dentro da coroa portuguesa, até há menos de um século, e a carga cultural herdada da civilização árabe. imaginava que seria possível uma cultura algarvia viva, cruzando as tradições europeias e árabe e projectando-as para o futuro. imaginava faro como uma grande cidade no futuro. isto foi antes de ir para lisboa. na capital do império, para onde tive que ir por ainda não haver cá universidade, descobri novas realidades, vi a pequenez e a insignificância da minha querida região. finalmente, quando fui viver para o norte do país, apercebi-me do mito algarve como colónia de férias, sentia-me quase como um estranho em terra estranha, quando me perguntavam o que fazia um algarvio alí, por aquelas latitudes. mas portugal entranhou-se-me. não sou mais mais algarvio do que português.

da minha geração, fomos poucos os que regressámos. a maior parte de nós assentou arraiais nas cidades para onde fomos obrigados a emigrar para prosseguirmos a nossa formação académica. não pensava voltar, mas aconteceu. e durante os anos que estive fora, este algarve mudou consideravelmente. estou a falar dos anos 80 e da primeira metado dos anos 90. o turismo selvagem e a desordem urbanística tomaram conta de quase tudo, as vilas cresceram até cidades, prédio após prédio, sem espaços verdes ou qualquer planeamento que não fosse o da especulação imobiliária. o algarve foi vendido a retalho a não algarvios, que mais do que o amor à terra, tinham amor ao dinheiro fácil, quanto mais melhor. dirigentes autárquicos mal preparados, com vistas curtas e bolso aberto, completaram o quadro.

nos tempos em que o algarve vivia da agricultura e das pescas, a burguesia que controlava essas actividades fixava-se principalmente no barrocal e nas cidades. os terrenos à beira mar, improdutivos, estavam na posse dos "ramos mais fracos" das famílias. muitas vezes pessoas sem qualquer escolaridade ou formação, facilmente manipulável. muitos desses terrenos foram vendidos por tuta e meia.

continuo a sentir esta terra, este mar e esta areia entranhados na pele.