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segunda-feira, setembro 24, 2007

dona gaivota




dona gaivota olhava atenta os carros que se iam juntando para encher o próximo ferry. um quotidiano repetido desde sempre. todos os dias a mesma viagem, na esteira dos mesmos barcos, os mesmos voos, os mesmos gritos em bando, as mesmas lutas pelos pedaços de pão com que aqueles bichos bípedes presenteavam a sua colónia. já conhecia alguns. alguns rostos, alguns braços, repetiam-se todos os dias. outros estavam de passagem. vinham das suas terras longínquas e a elas regressariam depois. dona gaivota gostava daquele mar entre texel e den helder, da azáfama do porto, das areias brancas da ilha, da brisa fresca e salgada que lhe alisava as penas. fixei-a na memória fotográfica. imagino-a hoje, fiel à sua condição de gaivota, voando naquele espaço que para mim começa a perder os contornos.

foto de nélio filipe, den helder, netherlands, agosto 2007

música: king crimson, song of the gulls

segunda-feira, setembro 17, 2007

um após o outro

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e de repente, o sol brilha mais fraco, as nuvens impõem a sua presença, e de manhã as gotas de orvalho ainda persistem nas folhas, no tejadilho dos carros. montam-se novas rotinas, retomam-se práticas interrompidas. os momentos de pura alienação inconsequente, saborosamente absorvidos minuto a minuto, frame by frame, juntam-se um após o outro ao enorme baú de memórias de outros verões. daqui por uns anos, já nem saberemos bem se foi neste ou em outro, se foi em julho ou em agosto. é esta a fragilidade das memórias, impressas, transformadas, personalizadas. retemos sensações, intensidades de luz, fragmentos de imagens, toques, olhares, texturas. o resto, compomos de acordo com as necessidades do nosso ego. os momentos em si, são vividos uma e única vez, sem possibilidade de reconstituição fiel ou duradoura. por isso são tão saborosos, tão únicos. por isso tentamos em vão agarrá-los com os cinco sentidos. ou mais, se porventura os tivermos.

foto de nélio filipe, vondel park, amsterdam, agosto 2007

quinta-feira, agosto 16, 2007

pausa


férias

chegou a minha vez. nos próximos dias vou degustar esta ilusão de viver fora do mundo, das pressões, da insanidade colectiva. vou esquecer os horários, a política, as gaffes da silly season e até a blogosfera. vou ler, ouvir música, passear, viajar, aproveitar ao máximo. regresso lá para setembro. entretanto, deixo-vos a jukebox cheia de músicas frescas de verão, deste verão e de outros passados. fiquem bem.

sábado, agosto 04, 2007

da migração das alfaces

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a alface é um bicho estranho. apesar das características individualistas e predatórias, migra anualmente em grandes bandos rumo ao sul mais ou menos por esta altura, numa aventura só comparável à grande migração dos gnús no continente africano. imagens de satélite registam uma mancha verde que se estende progressivamente até à costa sul, onde a alface se concentra numa estreita faixa que durante mês, mês e meio, apresenta uma cor verde saturada. a alface migra para descansar, mas como migram todas ao mesmo tempo, acabam por não descansar nada. levam atrás de si os seus veículos e a sua maneira caótica e agressiva de conduzir, o seu pouco respeito pela natureza, a sua maneira afectada de olhar, o seu queixume e descontentamento constantes. queixam-se da superlotação, dos preços, de serem preteridos em relação às letuces, do serviço, dos rebentos dos outros, das nuvens no céu, da areia, dos sítios de piquenique terem sido deixados em estado lastimável por outras alfaces, de encontrarem os vizinhos do 15º C no mesmo hotel, dos centros comerciais serem iguais aos que habitam durante o resto do ano, das beatas de cigarros deixadas na areia por outras alfaces, da via do infante ficar igual à 2ª circular. no final da estação, migram novamente, uma grande mancha verde de sentido contrário que se concentra na margem sul do estuário do rio tejo à espera de vez para atravessarem o rio e, finalmente, na costa sul volta a haver paz.

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repórter und3rblog, do allgarve para a national geographic magazine
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imagem: grande migração das alfaces rumo ao sul.

segunda-feira, julho 23, 2007

e depois ainda se queixam


com o país a entrar em férias e em plena silly season, convém chamar a atenção aos doentes da nacionalidade, principalmente àqueles que fizeram coro com o nosso nobel da literatura na sua antevisão de uma ibéria unificada sob a tutela tentacular de madrid, para os resultados de um estudo, divulgados hoje, que revela que os habitantes de 20 dos estados membros da u.e. têm menos férias do que os portugueses, incluindo os espanhóis. efectivamente, em média, os espanhóis estiveram no ano passado 34 dias sem trabalhar, entre férias e feriados, ao passo que nós, portugueses, estivemos 36,5. ficamos ainda a saber que nuestros hermanos trabalham, em média e por semana, mais 0,3 horas do que nós, o que fazendo as contas, dá um total de 1707,5 horas anuais de trabalho em portugal, contra 1740,2 em espanha. é só quase mais uma semana de trabalho. claro que não faltará quem defenda imediatamente que portugal se transforme num enclave sueco (43 dias sem trabalhar) ou alemão (40 dias) ou, quando muito, italiano (39 dias), para mantermos a nossa latinidade. para quem gosta destas coisas, relatório completo aqui.