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ontem houve festa na aldeia. duas festas, para ser mais preciso. quero desde já deixar bem expresso o meu desagrado por termos sido vítimas de um logro. disseram por aí que o dia 07/07/07 ia ser o dia em que lisboa seria o centro da aldeia, com a festa das 7 maravilhas, mas depois os americanos e os ingleses, cheios de inveja, inventaram à pressa uma festa nos seus bairros, só para estragar a festa de lisboa. ainda por cima disfarçaram a coisa convidando outros bairros, de maneira a que lisboa passasse perfeitamente despercebida. duas festas globais. uma dedicada ao património cultural edificado, que nos foi deixado pelas gerações passadas, outra dedicada ao património natural, muito mais antigo, e muito mais necessário para as gerações futuras. não é de estranhar, pois, que uma tenha sido uma festa televisiva clássica, enquanto que a outra foi principalmente um net-event, que a rtp tentou, mal e porcamente, acompanhar. falou-se muito, blá blá blá, ficamos a saber quais as estrelas do nosso bairro que fecham a água quando têm shampoo nos olhos, quem é que separa as garrafas de cerveja das latas de cerveja. de repente toda a gente tinha uma dica para dar.
a festa das maravilhas, foi um bocado para o pirosa, com aquela gente quase toda a cantar em playback. alguém devia avisar o josé carreras que não tem jeito nenhum para a coisa. houve uns efeitos giros, tipo cerimónia dos jogos olímpicos, o fogo de artifício que se impunha e o anúncio das maravilhas, as do bairro e as da aldeia. as do bairro até foram bem distribuídas (é para estas coisas que serve a ironia). 6 para a região de lisboa e uma para o berço da nacionalidade. 3 mosteiros, 2 castelos, 1 palácio e 1 anexo que ninguém sabe bem para o que serve ou serviu. já as da aldeia, ficaram bem espalhadas. concordo perfeitamente com o taj mahal e com petra, com a muralha que se vê do espaço e com machu-pichu, até com o coliseu e a outra pirâmide do méxico, mas o crucifixo do rio de janeiro... é que não tem nada a ver! então e as estátuas da ilha da páscoa? então e o alhambra?
a festa do planeta foi um bocado confusa. muito sinceramente, não vi consciência ecológica nenhuma. até a minha filha de 13 anos reparou que os gajos estavam a gastar bué da energia. já se calculou o impacto negativo que este live earth teve no efeito de estufa? as emissões de co2 devem ter sido qualquer coisa! foram 24 horas de luta (lá está ela outra vez, a ironia). para ser uma coisa a sério, deveriam ter feito como nos encontros da rainbow family of the living light. enormes concertos acústicos à luz de fogueiras. passei o tempo a tentar perceber até que ponto os figurões, os do bairro e os da aldeia, estavam ali por acreditarem verdadeiramente e estarem dispostos a participar numa mudança de atitudes e de hábitos, ou apenas a promoverem o figurino que os embrulha. ao menos nesta parte, a festa das maravilhas foi mais autêntica. era figurino e ponto, sem complexos nem falsas consciências. e depois, o al gore não é o bob geldof, o planeta agonizante não é tão apelativo como as crianças pretinhas agonizantes e com moscas nos olhos, e a coisa não tem piada sem o bono, que é o gajo mais porreiro da aldeia.
foto: full moon party at the rainbow gathering of the tribes, croatia, 2004, pilhada daqui