Sabes, querida, hoje vamos ter festa cá no jardim! - sussurra o passaroco, no ouvido da sua amada.
- Festa? Qual festa? - pergunta ela.
- Sim, querida, o Zoo comemora hoje 125 anos!
Metendo-se na conversa, o macaco, sempre à coca de todas as novidades, acrescenta:
- Xi, então vem por aí uma avalanche de pessoal!... Tomara que tragam muitos amendoins, quiçá umas bananas - suspira, sonhador - Já estou fartinho destas dietas de alface! - acrescenta.
- Ah, dizem que vem gente importante e famosa - afirma o pássaro, orgulhoso de dar em primeira mão a notícia ao símio, que todos sabem ser do mais coscuvilheiro que há no jardim.
- Quem? O Brad Pitt? - interroga ela, com um sorriso.
E ele, franzindo o sobrolho (tanto quanto uma ave o pode fazer), zanga-se: "Achas? Não! O Presidente da República ou coisa, segundo entendi!"
- Estou feito! - refila o macaco - Esse não me deve dar nada... Maldita dieta! Grumpfs!
- Mas porque é que tu és assim? - interroga a pequena gazela que por ali passa - Cá por mim, ouvi dizer que ele traz sempre uma série de gente atrás, de modo que pode ser que alguém se lembre de te oferecer uns amendoins, talvez até as tais bananas...
- Será?! - guincha o macaquito, enquanto dá uns pulos na expectativa dessa alegria.
- Os humanos até são simpáticos. A minha mãe diz sempre que são eles que nos sustentam - refere a bicha com um brilho no doce olhar.
- Fala por ti! - relincha a zebra mal humorada - Eles aparecem por aqui, como quem não quer a coisa, e depois copiam-me a fatiota...
- Ora aí está uma frase com a qual concordo - ruge o tigre - às vezes, até fico vesgo de ver tantas riscas! Não conhecem as bolas, os quadrados ou os lisos? Parece que nos querem roubar a pele e a cor. Não são apenas as tuas riscas que copiam. Ora chega aqui mais perto, para compararmos os padrões...
Não se sabe exactamente porquê, mas a zebra fez orelhas moucas ao convite do tigre.
- Devem estar a brincar! O povoléu vem cá é ver-me, para além das cores até o penteado me plagiam! - afirma, arrogante, o grou-coroado, com pose de aristocrata a condizer.
- Bem bonito que é o teu penteado! - reconsidera o tigre - Aproxima-te, para me contares quem é esse teu cabeleireiro, que te fez essas nuances tão perfeitas...
- Nuances?! - indigna-se o bicho - Nada! Estas nasceram com a minha natureza. Vou já aí mostrar-te, para ficares certo de que falo verdade.
Caminhando impante na direcção do tigre, ouve as gargalhadas histéricas do macaco, observa o pelicano a esconder-se atrás de um arbusto e o lémur assustado a tapar o focinho.
"Raça de animais estúpidos!" - pensa com as suas penas.
Como se não bastasse, a girafa retira-se para os seus aposentos, apesar da insistência do filhote em participar na festa.
- Não, meu filho, ainda é muito cedo para assistires a uma demonstração da lei da selva!
- Mas, mãe...
- Não há mas, nem meio mas! Ou julgas que isto aqui é uma democracia?! Já para caselas!
- Mas ninguém faz nada? - reclama o pinguim, reparando no caminhar do grou em direcção ao tigre.
Os passarocos estão tão "in love" que nem vêem ninguém, que a fêmea só falou do actor giraço para espicaçar o macho, a fase é de reconciliação.
O macaco continua a guinchar e a saltitar de galho em galho, vai ter muito que contar por todo o jardim nos próximos dias. A ingénua gazela - tem desculpa que é novinha, a bem dizer, quase recém-nascida - não entende o perigo. A girafa retirou-se de cena. Os golfinhos, quando lhes soou a festarú, começaram a treinar os seus saltos acrobáticos.
Por fim, ouve-se a voz resignada da zebra:
- Grou, volta lá para o teu canto, que o tigre não está especialmente interessado no teu cabeleireiro, mais em provar a tua carne.
A ave pára, estupefacta: "Porque não? Está muito em moda, sabias?" O símio dá uma enorme gargalhada e mais umas quantas cambalhotas no chão. A zebra não está com grande paciência, que estupidez e vaidade têm limite.
- Então vai em frente, para ver o que ele faz com o teu penacho! - rezinga.
- Penacho?! A minha corôa??? - indigna-se o grou, para não variar. Mas dá meia volta, com a desculpa que a fêmea o está a chamar à conta do ovo que está a chocar, mantendo o ar soberano. Algo na sua grande intuição lhe diz que é preferível não ir conversar com o tigre, de perto.
Este limita-se a resmungar para a zebra, a meia voz: "Desmancha-prazeres!"
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Amo de coração o Jardim Zoológico de Lisboa, desde esta tenra idade. E é verdade que hoje comemora o seu 125º aniversário!
Não obtive autorização atempada para as primeiras 8 fotografias, que reproduzi a partir do
blog "Olhares da Natureza", de
Armando Gaspar, fotógrafo amador (?!) . Se o autor assim o desejar, retiro-as, ficando só a historieta e as restantes, que foram tiradas pela minha
mummy.
Mas que o fotógrafo amador (?!) foi uma "fonte de inspiração" e que o Zoo de Lisboa merece uma visita, não me restam dúvidas!
(ganda post, não é? mas é o Zoo, tema da minha predilecção...)