O plano era antigo e simples: conhecer um pouco melhor os mistérios que o Tejo esconde, não aqui junto a Lisboa e à foz onde existem as pontes, o Cristo-Rei, o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém, etc. e tal, todos sobejamente badalados nos roteiros turísticos, mas algures no seu percurso até aqui chegar, povoado que é de bancos de areia, pequenas ilhas e ilhotas e uma fauna e flora diversificada.
Assim, tentámos aproveitar estes últimos dias de férias - "fazer férias cá dentro" adquiriu o seu significado máximo: sem pernoitar fora de casa! - para dar este passeio. Contudo, eles só se realizam ao fim de semana, pelo que poderíamos nem sequer estar em férias... mas adiante. Contactámos a empresa
Rio-a-Dentro e marcámos lugar para dois no barco que partia do cais de Escaroupim (aldeia próxima de Salvaterra de Magos), às 17 horas de sábado passado. Como a ideia também passava por observar a passarada, achámos ser essa a melhor hora, já que o pôr do sol determina a hora em que as aves diurnas se preparam para dormir.
Escusado será dizer que a primeira ave que vimos foi uma animação - o barco levava 12 pessoas a bordo, algumas das quais percebiam imenso de pássaros, não perguntei se pertenciam a algum grupo de birdwatching. Uma garça branca, que deve ser a mais corriqueira ali na zona, pois vimos muitas mais, pousadas em grupos nas árvores, a esvoaçar, tomando os seus lugares para a noitada no meio de uma grande chinfrineira.
Mas antes que imaginem que vão ver uma série de belíssimas fotos fica o avisa que o guia muito simpaticamente nos vez logo à partida: "se conseguirem tirar 2 ou 3 fotos boas, estão cheios de sorte". A posição dos assentos, os balanços do barco, a passarada assustadiça, os próprios acompanhantes dificultaram em muito a vida dos fotógrafos amadores que lá seguiam, que era praticamente metade do grupo - a outra metade usava os binóculos para ver mais de perto a bicharada.
Por outro lado, tornou-se bastante notório, especialmente nos canais mais pequenos e menos movimentados porque é que o Tejo tem essa "alcunha" de espelho d'água:
Os primeiros sinais de outono também não passaram despercebidos...
Embora aqui e ali possa não parecer, todas as fotografias foram tiradas a cores, a luminosidade inconstante do dia é que por vezes dá a sensação de serem a preto e branco.
Avistámos garças-reais e...
... aves de rapina, que segundo os entendidos pertenciam a duas espécies: a águia-pesqueira, que se alimenta dos peixes do rio, e a águia-calçada. O guia explicou as diferenças entre umas e outras, mas em duas horas e meia foi informação a mais para uma leiga, de modo que esta... é uma delas!
E esta suponho que a outra! Tem a ver com a cor das penas do peito...
Um bando de cegonhas representava a espécie e as ibis ficam sempre alvoraçadas com qualquer pequeno barulho - o comandante e guia normalmente desligava o motor quando se aproximava das aves, mas nem assim. Diga-se em abono da verdade, que algumas das parceiras de viagem falavam que se desunhavam, o que não ajudava muito a sossegar a passarada. No entanto, não deixou de ter a vantagem de reinar um ambiente saudável de alegria e boa disposição...
Ah, os cavalinhos também deram um ar da sua graça. Quer dizer, éguas e respetivos potros, segundo o guia, embora uma teimasse que tinha visto um cavalo!
Que mais ninguém viu, mas pronto, a rapariga lá saberá o que diz...
O pôr do sol não se chegou a vislumbrar dadas as nuvens existentes, mas estava na hora da passarada voltar aos ninhos e/ou às árvores onde pernoita.
Calculámos que já estavam todos a postos, cada espécie dividida pelas árvores prediletas, quando de repente surgiu um barco que as assustou e provocou enorme algazarra...
E depois do barco passar a algazarra continuou, quando quiseram regressar aos seus poisos, que eventualmente já estariam ocupados por outros.
Quer dizer, todos menos os corvos, que não se assustaram tão facilmente com um barulhinho à toa e permaneceram serenamente no seu galho.
E este jovem goraz, que julgava ser apenas nome de peixe, mas afinal existe uma ave com a mesma designação. Jovem por ainda ter aquelas malhas brancas na penugem castanha, fiquei a saber.
E pronto, o passeio chegou ao fim, novamente no cais de Escaroupim, de onde se pode avistar a ilha das garças, que é o local onde elas, as ibis e os corvos costumam pernoitar. Adorámos o passeio e felizmente íamos bem equipados com um corta-vento impermeável, porque não imagino o frio que alguns dos nossos acompanhantes de viagem devem ter passado, com apenas uma t-shirt em cima da pele. É Tejo, minha gente, está sempre mais fresco e húmido e então nesta altura do ano em que as noites começam a esfriar, não há volta a dar. Fica aqui em jeito de aviso à navegação de outros eventuais interessados na passeata, que custa 25 € por pessoa. Bem empregues, no nosso entender!
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§ único - a propósito de água, estão todos lembrados que acaba hoje às 23h e 59m o prazo de envio de fotos para o passatempo "Gota d'água", não é verdade?