domingo, 1 de maio de 2011

Sogras e Noras




Há uns tempos atrás, mostrei a exuberância garrida de umas flores provenientes de uns bolbos, que, sem exigirem atenções especiais, sobreviveram ao inverno frio e chuvoso, explodindo em girândolas fabulosas , quando nada o fazia prever.
Consultei então, o meu guia de botânica e, embora não absolutamente segura, chamei-lhes Clívia , de acordo com a fotografia publicada nesse manual.
Um dos comentários que então recebi veio da Ana, que me informou que o nome desta planta, em Aveiro, cidade onde vive, é Sogras e Noras, uma vez que as flores nascem, crescem e morrem de costas voltadas.
Agora, que fui abençoada com o nascimento de um novo exemplar, de cor mais escura e ainda mais belo que o anterior e que a seguir mostro, veio-me à ideia a designação popular que me foi transmitida pela Ana.





 Sabendo-se que a cultura popular baptiza  objectos e situações de uma forma pragmática, atribuindo-lhes o nome de acordo com a utilidade e a atitude, estou agora a chegar ao título desta página e às considerações que esse pressuposto me merece.
Lendariamente, tradicionalmente, acredito que as relações entre sogras e noras pudessem ser envenenadas por um azedume ancestral, pela conquista do poder, pela marcação do território, literalmente falando, quando as famílias alargadas conviviam sob o mesmo tecto, na disputa pelo afecto de um varão, filho ou marido, conforme a perspectiva.
Na saga de " O Padrinho", situada temporalmente no século XX, num território marcado pelo descompromisso ( aí nasceu o American Dream, auto-estrada de todas as possibilidades sociais...), sogras e noras não viviam de costas voltadas, não! O que acontecia naquele tradicional clã italiano era bem pior, as noras sobreviviam subjugadas pelas sogras.

Quer-me parecer, contudo, que na actualidade tudo mudou.
Qual rivalidade, qual carapuça?

O que me é dado testemunhar é que os filhos saem, cada vez mais tarde da casa dos pais e se/quando saem, salvas algumas estranhas excepções, o que vejo, da parte das  futuras sogras é um enorme alívio.

Tenho uma amiga, mãe de dois rapazes que não para de suspirar por noras, noras de verdade, daquelas que lhes arrebatam os infantes, que criam ninhos independentes e que lhes dão rumo à vida.

Uma dessas amigas, em desespero de causa, já prometeu festa rija no dia em que os moçoilos se ponham a mexer e deixem de dar trabalho.

Como ficar inimiga da heroína que abraçou tão pesado projecto?
As sogras de hoje são muito cool ( como diz a minha amiga Fífia), perseguem as últimas tendências, fazem plásticas, cuidam do corpo, cultivam amizades, multiplicam projectos!

Definitivamente, as noras são uma benção.
Deus Nosso Senhor lhes dê muita saúde e paciência.

Beijos,
Nina