Mesmo assim andou atrás no tempo e falou do jovem adolescente que chegara da província com os país, onde a religião tinha (e continua a ter...) um peso maior que nos grandes centros urbanos. Foi por isso que as suas primeiras acções, foram mais sociais que políticas, e tiveram o dedo do Padre Sobral. António acabou por seguir os passos dos católicos progressistas, ajudando no que era possível, como aconteceu com a luta contra o analfabetismo, um problema social sério, que era cada vez mais difícil de esconder...
Mais curioso foi o seu testemunho, dos tempos em que cumpriu o serviço militar, em Mafra, no curso de oficiais milicianos (depois de vários adiamentos até cumprir a licenciatura em engenharia), já depois da Revolução de Abril. Teve como camaradas de armas muitos dos jovens que tinham fugido da guerra e se tinham exilado em vários países da Europa. Alguns já com mais de trinta anos. A maior parte deles estava ali para legalizar a sua situação e não para cumprir as normas castrenses, pelo que se recusavam a fazer a rotina diária de um recruta, para desespero dos instrutores. Como a alimentação também não era famosa, tornaram-se famosos os seus "levantamentos de rancho" (recusa colectiva de alimentação no refeitório militar). A solução que o Exército encontrou foi dividi-los e "despromovê-los" para o curso de cabos. Como os problemas se mantiveram, acabaram por passar todos a disponibilidade como "praças rasas"...
Pois é. Os militares tinham feito a revolução fora dos quartéis e não estavam à espera que a "sociedade civil" fizesse a sua revolução no interior dos quartéis...
Mais um bom apontamento histórico.
(Fotografia de Alfredo Cunha)