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2013/07/02

Até quando?

Ontem o Daniel Oliveira fez aqui uma das mais lúcidas análises que tenho lido sobre a situação da esquerda portuguesa desde há muito tempo.
Não vejo, infelizmente, maneira de ultrapassar os problemas que o D.O. aponta neste artigo.
Hoje o PR avisa que só a AR determina se há ou não há crises políticas, votando ou não moções de censura. Sorridente (de que sorri ele?) e consciente da total impunidade de que goza, goza connosco e sacode a água do capote.
Até quando vamos continuar a ter estes trastes a dominar o país? Até quando vamos estar neste impasse? Até onde vamos deixar chegar isto?!
Quanto tempo mais vai ser preciso para a esquerda compreender que está a dar um tiro fatal no pé e que vai pagar duramente o impasse em que fez colocar a actual situação política portuguesa?

PS- Acabo de saber que Paulo Portas apresentou a demissão. Os acontecimentos correm mais de forma mais veloz que o baudrate da minha ligação à internet... Afinal o PR não pode continuar a sorrir. A esquerda ultrapassada pela direita. O meu post durou pouco mais tempo do que vai durar o mandato da nova ministra das finanças!

2012/09/24

Confiança

Muita gente, muita gente sem partido, politicamente adormecida e aparentemente indiferente, se dá conta agora que tudo isto resvalou para um problema cuja resolução implica mais do que remendos legislativos e "toques" nos diplomas. O problema está no próprio regime. A crise é mais funda. O problema não é a TSU, o problema não é de mais ou menos impostos. O problema não é, sequer, o da total ausência de medidas "estruturais," de horizontes, de perspectivas de desenvolvimento. O problema é o próprio regime e a confiança que as instituições e qualquer dos políticos actuais merecem ao comum dos cidadãos.
A pergunta que toda a gente faz, independentemente da tendência política ou da falta de inclinação para a política, independentemente de andarem a gritar contra este regime desde há muito ou apenas desde o passado dia 15, independentemente de fazerem ou não parte do grupo dos "idiotas" do poema de Brecht que se gabaram durante tanto tempo de não se interessarem por política e, mesmo, de não terem contribuído, por falta de comparência, para a situação actual (afinal tudo é, como dizia o Brecht nesse poema, político e afinal o lixo lançado para o baldio acaba à nossa porta), a pergunta que toda a gente faz é esta: mesmo que fosse legítimo, mesmo que fosse inevitável, de facto, o massacre de que são vítimas os portugueses neste momento, o que vem a seguir? Isto porque as causas de tudo o que se passa e as justificações para o massacre continuam obscuras e, certamente, ipso facto, a sua eventual "correcção", parece hoje claramente, servir apenas para manter tudo na mesma, logo teríamos, na melhor das hipóteses, soluções com maturidade reduzida (para usar terminologia do inimigo...). E depois?
O problema é, pois, outro. Trata-se de um problema de confiança. Por mais saltos mortais que qualquer dos actuais e passados responsáveis políticos dêem, por mais malabarismos que façam, por mais coelhos que saiam da cartola (no sentido literal e metafórico da expressão...), por mais discursos que produzam, mais ou menos dourados, mais ou menos realistas, mais ou menos patetas, mais ou menos insultuosos para a generalidade do povo português, por mais que tentem, os bonzos do regime, o poder  e os serventuários do poder estão totalmente desacreditados. Ninguém acredita em nada e ninguém acredita em ninguém —perdoem-me as duplas negativas— ligado a este poder. Quando digo ninguém, quero dizer isso mesmo: a desconfiança é total nas pessoas, nas instituições e nos valores que dizem defender e servir. Tudo parece uma ilusão. Parece que vivemos numa fantasia de Walt Disney.
Ninguém acredita em Passos Coelho, este aldrabão que começou por dizer uma coisa e acabou a fazer outra. Ninguém acredita em Gaspar. Que mente tortuosa se esconde por detrás daquela conversa flácida? Ninguém acredita no Portas, o rei da baderna! Quem acredita na Assunção da Fé? Quem acredita na Conjectura de Crato? E, claro, ninguém acredita no Relvas das equivalências, no Macedo das fábulas ou no Álvaro (quem?). Os outros nem sequer para anedota, infelizmente servem. Ninguém acredita na AR, que se sabe, por factos, ser hoje uma agência de gestão de activos. Ninguém acredita no Conselho de Estado (onde, como alguém dizia, apenas o Lobo Antunes se safa de ter as mãos sujas de sangue por ser cirurgião...). E ninguém acredita, desgraçadamente, neste Presidente da República! Como acreditar em Cavaco Silva?! E como era importante acreditar no Presidente da República.
O problema não é de fé, mas é de acreditar.
Muita gente, dizia eu, depois de um click qualquer que se produziu, sem grandes explicações, na nossa sociedade, poderá perceber agora o verdadeiro e profundo significado da expressão "há mais vida para além do défice." É preciso redefinir o regime e reconquistar a confiaça. Sem isso os problemas, nenhum problema, estes que temos entre mãos ou outros que apareçam no futuro, se resolvem.
Mas, muita gente está também assustada porque percebe, finalmente, que desenvolvimento e democracia caminham sempre de mãos dadas e não podem largá-las nem por um momento. A tarefa afinal é bem mais complicada e trabalhosa, e exige mais dos treinadores de bancada .
Também eu estou assustado porque não percebo se toda a gente percebeu que está na altura de agir, está na altura de colocar no contentor velhos dogmas, está na altura de procurar entendimentos e consensos, de assumir claramente as diferenças, tirando partido das semelhanças. Do respeito pelas diferenças entre os semelhantes e pelas semelhanças entre os diferentes nasce a confiança e a possibilidade de entendimentos.
Será que todos os indignados percebem que, depois de perceberem isto, será então altura de dar expressão política e institucional a toda essa acção? Será que estão à altura do momento? Será que os indignados percebem isto?
Está na hora de confiar, usando critérios muito mais apertados para estabelecer os padrões de confiança.

2012/07/20

Espanhóis e portugueses: diferenças óbvias

De facto, há diferenças entre portugueses e espanhóis. Enquanto em Portugal se espera pelo "parecer" do "opinioneiro" de serviço para ter opinião própria, e se exulta com os comentários dos "especialistas" que propõem o afrouxamento das medidas de austeridade, enquanto aqui se substitui a acção pela conversa mole (*), em Espanha, mal foram anunciadas as medidas de austeridade, centenas de milhar de pessoas vieram para as ruas em mais de 80 cidades, afrontando a polícia e os seus mastins.  Em Espanha não é preciso que a corda comece a apertar fatalmente a garganta para agir.
Enquanto a corda aperta, em Portugal, o PR e o deputado Ribeiro e Castro, tentando apequenar a contestação, descobrem que as manifestações de repúdio dos portugueses pelo esbulho a que estão a ser sujeitos (**) são "preparadas" (as medidas de austeridade não foram preparadas, são espontâneas...) e este insulto não gera uma onda de enorme indignação. Em Espanha a resposta à tentativa de esbulho não se fez tardar e acontece neste momento nas ruas, de forma intensa, de olhos nos olhos, com um saldo até agora de dezenas de feridos e detidos.
Enquanto a corda aperta, em Portugal, no primeiro semestre deste ano, foram à falência 24 empresas por dia, e a taxa efectiva de desemprego está, segundo o MSE, acima de 23%!
Mais uma diferença que também não deixa de ser curiosa: toda esta informação, sobre o que se passa em Espanha, pode ser recolhida num portal preparado pelo governo espanhol.

(*) Exemplos de conversa mole são os analistas de café ou de mesa de dominó e bisca, espalhados por esses parques públicos, os blogs, os programas sobre blogs e, claro está, os "foruns" e programas de "debate" na rádio e na tv, e a imprensa. Todos eles fervilham, todos os dias, de re-opiniões sobre as opiniões dos "especialistas". Veja aqui, um desses casos.

(**) O pouco que se tem feito, certamente muito aquém do que seria necessário, é obra de gente corajosa que teima em acreditar no país, e não passa, apesar de tudo, de umas meras assobiadelas e  umas palavras de ordem gritadas com o vocalizo mais ou menos estridente. Imaginem, tendo em conta a infinita lábia do artista, o efeito que terá, perante a ignomínia praticada pelo Relvas, uma simples vaia .


2012/03/16

Onde se fala de outras interpretações para o conceito de volatilidade

A proposta de criação de uma comissão para averiguar o caso BPN, apresentada pelo BE, tinha como objectivo esclarecer todo este nebuloso assunto. Foi chumbada pela maioria, como se sabe. Seguiu-se-lhe uma outra de autoria do PS que, ao abrigo de procedimentos do Regimento da AR, não carecia de aprovação em plenário. Por isso, a maioria antecipou-se e propôs uma outra comissão, com um pequeno pormenor: remetia o início da sua entrada em funcionamento para depois de concluída a privatização.
O assunto causou, aparentemente, polémica. E, no final, depois de horas de discussão, no meio de alegadas ameaças de demissão e sentimentos de "crispação" entre os deputados, lá se criou uma única comissão.
Digo que o assunto causou "aparente" polémica porque, desconfiado como sou, fico com a sensação de que o consenso obtido ontem, as cedências feitas e a convergência de objectivos na criação de uma única comissão não passam, na realidade, de uma manobra para deixar tudo na mesma. O proto-evanescente caso BPN —a "maior fraude do século", como lhe chamam— é como o negócio da gasolina, segundo o presidente da Galp: volátil.
Em suma: much ado about nothing, para usar a imagem de Shakespeare...

2011/10/17

Ainda os ecos do 15 de Outubro

O local escolhido para a Assembleia Popular de 15 de Outubro não podia ser mais apropriado. É do exercício da democracia que estamos a falar.
Não posso deixar de me rir quando ouço e leio algumas críticas a todo este movimento do 15.O.
E agora, perguntam uns? Sim senhor, estive lá, fui para casa, e agora? O que se segue no programa?
O movimento, acusam outros, é emocional. Falta-lhe reflexão, pensamento, conceitos.
Onde está a representatividade destes movimentos, perguntam, finalmente, outros? A pergunta vem, sobretudo, dos mais significativos contribuintes líquidos para o folclore em que se tornou esta espécie de regime em que vivemos.
Muito se poderia dizer sobre estas críticas. A história não regista, infelizmente e por razões óbvias, os que lhe passam ao lado, mas todas as clivagens profundas tiveram os seus detractores. Camões criou o símbolo do "velho do Restelo" para os definir.
Aos que foram lá e perguntam e agora?, digo: voltem e continuem a luta. Não se pode pedir aos organizadores de todo este movimento que inchem e que o engrossem com o seu próprio inchaço. E agora?, perguntam vocês? Pois, agora somos justamente nós, vocês, que temos de tomar a palavra, agir, organizar, dinamizar. O 15.O não é, em si, um movimento de vanguarda, nem é, por si, a resolução dos problemas que nos apoquentam. É uma forma possível de criar soluções. Tem de ser construída, tem de ser solidária e gerar solidariedades. A palavra cabe, justamente, aos que fazem a pergunta e agora?.
Aos que acusam o 15.O de falta de pensamento e de reflexão digo: vejam aonde o vosso "pensamento" e a vossa "reflexão" nos conduziram! Não foi o 15.O que dirigiu as coisas. Foram vocês, as vossas facções. E são vocês que se tornaram um problema. Parecem ignorar, uns, que o pensamento se forja na acção, e esquecem ou escondem, outros, na sua ânsia controleira, os princípios que lhes deram origem e tornaram possível a sua própria existência. Criticam um movimento que lhes foge manifestamente por entre os dedos.
Aos que acusam o 15.O de falta de representatividade, digo: vocês são os avós do fugaz e os pais da ilusão. Estão demasiadamente habituados à liturgia e aos paramentos desta sociedade e ajudaram a manter este regime mínimo. Não percebem nada do que se está a passar à vossa volta. Nasceram moribundos. A maior parte de vocês está cá já a mais.
Boaventura Sousa Santos chamava há dias a atenção para o facto de que a ideia principal que subjaz todo este movimento é, simplesmente, a de exigência pacífica de mais democracia. Não se reivindicam ideologias, implantação deste ou daquele regime, mas mais participação dos cidadãos. Democracia! E desobediência civil perante esta democracia defeituosa que nos é servida, que temos de pagar com dinheiro que não temos.
Só se exige democracia quando se vive em ditadura. Quem são agora os ditadores?

2011/06/20

Passos perdido...

Quem tinha medo de ficar sem motivo de conversa, agora que Sócrates se prepara para experimentar a cicuta, pode ficar descansado. Passos Coelho sofreu uma clara derrota com este processo da candidatura Nobre a presidente da AR. Derrotada foi a sua ideia e toda a sua estratégia. Derrotada foi a sua argumentação centrada na coerência e na obediência a princípios. Derrotado foi o seu PSD no desenlace deste episódio triste. Uma derrota interna e uma clara derrota também no plano externo, num momento que devia ser de celebração de vitória.
Nada mau para a estreia. Se a condução do país for semelhante à condução deste processo, podemos estar descansados. Estamos bem entregues...
À velocidade a que as coisas correm no momento, em que a vida política vai frenética, mas não segura, e com esta malta em derrapagem ainda antes da posse, há uma coisa certa: não nos vão faltar momentos de excelente entretenimento.

2011/04/25

Lamentável "comemoração"


Perante a inexplicável ausência de uma comemoração formal na sede própria, na casa da democracia que é a AR, o que poderia parecer uma boa alternativa para ajudar a dar um novo rumo à situação crítica que atravessamos e um novo alento à dura luta em que estamos envolvidos, não passou afinal de um ritual confrangedor, um espelho do completo vazio em que vivemos. Um espelho revelador da incapacidade de gerar perspectivas e da profunda injustiça e fantasia em que vive hoje o nosso regime político. Um pequeno ritual de auto-comprazimento, de repetição monocórdica dos mesmos clichés, de celebração da mediocridade e de total desresponsabilização. Um ritual que espelha, sobretudo,  o jaez das nossas "elites" políticas.
Nunca se percebe bem, para começar, a quem se dirigem as apreciações que esta gente faz.  Nunca são claros quanto ao cravo e à ferradura em que pretendem acertar, nunca se sabe muito bem quem é, ao certo, o alvo das suas críticas. A verdade é cuidadosamente velada. A crítica não vai além do escandalosamente óbvio e é sempre feita de forma a não perturbar os humores mais sensíveis.
São obscuros em tudo, menos numa coisa: os portugueses é que viveram acima das suas possibilidades. Nesse caso a sugestão de culpas é clara e precisa: há pobreza, mas são, afinal, os pobres que têm culpa. A estratégia é antiga.
Que exemplo (haveria que dar o exemplo, afinal há crise ou não?!!) dão e que moral têm estas criaturas, beneficiárias, elas próprias, de vastas mordomias de que não prescindem, imerecidas e incompatíveis com os resultados obtidos, que moral, dizia eu, tem esta gente para criticar situações que resultam exclusivamente da sua actuação desqualificada ao longo dos mandatos para que foram eleitos? Quem se revê e quem confia nestes políticos? As decisões erradas ou a ausência de decisões que nos conduziram a este estado foram responsabilidade de quem? Quem assinou as leis? Quem tem as rédeas do poder? Quem comanda afinal, exactamente, as instituições que determinam as grandes linhas do nosso quotidiano colectivo? Quem discrimina, quem determina as políticas, quem controla?
Os portugueses, é certo, podem votar. Mas, serão as condições de escolha justas e claras? Será por não o serem que se abstêm? E se os portugueses são culpados por não intervirem mais na sua vida colectiva, o que pensar então daqueles que se propõem intervir, não obtêm resultados, mas se aproveitam deste seu estatuto para continuarem a ter privilégios indevidos, como se tivessem obtido esses resultados? Que exemplo dá esta gente?
Em vésperas do 25 de Abril, a falta de democracia levou-nos ao apelo "Bota no Marcello!" Querem ver que vamos ter de voltar à "bota útil"?

2010/11/09

Os "mercados"

Quando ouvir dizer a palavra "mercados" outra vez, lembre-se deste artigo, que reproduzo do NYT com a devida vénia.
Pense nas dificuldades que sente, nos cortes dos pequenos salários e pensões, pense nas notícias que se ouvem sem cessar, pense nos PECs, nos PIIGS, pense na austeridade, na "austera" Merkel, no "apreeensivo" Barroso, pense, sobretudo, na cara do Presidente da República, na cara do Primeiro Ministro, na cara do Ministro das Finanças, na figura do Catroga de telemóvel na mão e do seu staff sorrindo a compasso por trás dele, pense nos deputados do PS e nos da oposição na AR Portuguesa, na cara e no discurso dos dirigentes  dos diferentes partidos. Pense nos comentadores e "politólogos" que a toda a hora invadem o nosso espaço com os seus malabarismos verbais e pense na conversa com que nos enchem os ouvidos a toda a hora.
Pare um momento e pense em tudo isto. Clique depois na imagem e leia o artigo...
Garanto-lhe: é um exercício que vai mudar a sua vida!

2010/11/03

Inevitabilidades

O "debate político" em Portugal resume-se hoje a isto: as medidas a tomar são inevitáveis, não se pode discutir as causas da crise ou soluções porque as medidas são inevitáveis e o que nos espera é, assim, inevitavelmente, ter de aguentar as consequências da inevitabilidade das medidas.
E ninguém tem culpa! Não se pode discutir a culpa, não se pode sequer apresentar alternativas, porque as medidas são inevitáveis e ninguém pode apontar o dedo ou apresentar uma saída deste ciclo vicioso, que resulta de ter de gramar as consequências inevitáveis da tomada de medidas inevitáveis, porque as medidas  são... inevitáveis!
É o arrefecimento global, é "a verdade conveniente"!
Quem toma as medidas inevitáveis está defendido pelo seu carácter inevitável e fica livre de mais encargos, e quem as ousar contestar está a esquecer que elas têm um carácter inevitável e portanto não sabe do que está a falar...
É este o espetáculo que se desenrola perante os nossos olhos espantados, enquanto pegamos na caneta para assinar mais um cheque que ajude a pagar todo este desvario.
Mas, no meio de tudo o que se está a passar, passa-se, e passa-nos ao lado, uma outra coisa, que por parecer uma inevitabilidade, é rapidamente metida nos arrumos da nossa mente sem grande crítica.
É que no meio de tudo isto vamos ter uma eleição presidencial em breve. O candidato Cavaco Silva  (admiravelmente retratado por José Vitor Malheiros ontem no Público num artigo intitulado "A austera, apagada e vil tristeza da retórica") lembrou-se de repente que a "classe política" dá um triste espetáculo ao país. É verdade. É aliás uma daquelas verdades que, por ser tão, tão verdade de La Palice, leva inevitavelmente a que toda a gente concorde com ela. Esqueceu-se Sua Excelência (mas convém lembrar-lhe!) que ele faz parte indissolúvel dessa classe política que critica e que faz parte dela há muitos, muitos anos. Está inevitavelmente ligado a tudo isto, e de que forma!!, primeiro como ministro das finanças, a seguir como primeiro ministro e agora como presidente da república. São muitos anos, é muita ligação ao poder, é muito exercício de poder, é muita ligação à vida política deste país para agora vir tirar, com este descaramento todo, o cavalinho da chuva!
Cavaco Silva é inevitavelmente parte do problema que agora suscita. Com responsabilidades acrescidas porque o seu papel foi determinante durante 10 anos (tinha a faca e o decreto na mão!) e agora, como presidente da república tinha e tem a obrigação de ter um outro tipo de actuação.
Pois é a esta criatura, mesquinha e sem dimensão, que os portugueses se preparam para estender a passadeira que o levará de novo até Belém. Sem debate, sem avaliação profunda do que foram os seus mandatos como político e do que está em jogo agora, sem discussão, sem luta, pelo que se consegue perceber até agora. Se ele ficar na presidência, os inevitáveis do costume manter-se-ão também. Se ele não quisesse os inevitáveis do costume há muito que os teria mandado à vida. Não vai mudar no futuro.
Com todos estes protagonistas seria inevitável que os portugueses se continuassem a afundar ainda mais. Enquanto houver cheques em branco e canetas para os assinar não se podem, porém, esperar grandes mudanças. Mas, como os cheques estão a acabar e as canetas a ficar sem tinta, se calhar é inevitável que a mostarda chegue ao nariz de alguns.

2010/05/30

Eleições já!

Há muito, confesso, que não ia a uma manifestação. Mas, ontem lá desci a Avenida com todo o gosto, juntamente com o RM e estive ao lado de quem eu mais gosto de estar. Não sei se foram 300 000 se foram apenas 150 000, pouco importa.
Para mim estão claríssimas três coisas na actual conjuntura, como sói dizer-se. Primeiramente, este governo está a mais. Por mais voltas e retórica que tentem despejar por cima da evidência, é claro que este governo já devia ter ido à vida há tempo demais porque não serve para resolver o problema que temos, antes o complica. Por trapalhadas bem menos graves, por incompetência bem menos óbvia já outros governos foram para o caixote de lixo da história. Cada minuto que passa com este primeiro ministro à frente deste governo é um minuto a mais de agravamento de uma pena que os portugueses não merecem.
Em seguida --o corolário afinal deste argumento-- este Presidente da República é a causa de uma série de padecimentos pelos quais os portugueses estão a ser obrigados a passar. O PR tem todas a prerrogativas para agir. Não o fazendo tornou-se parte do problema. Uma minoria, um governo minoritário, um presidente é uma fórmula que, temos de convir, não serve o país e agrava o nosso problema. Nem quero imaginar que a ausência de acção por parte do PR se fique a dever a uma agenda pessoal escondida. Ao menos que esta inacção presidencial se fique a dever à inépcia política que todos lhe reconhecemos.
É para mim também, finalmente, claro que nenhum dos protagonistas explícitos ou implícitos desta jornada --PR, PM e o seu governo, AR,  centrais sindicais (a presente e a ausente) e restantes parceiros sociais -- que o futuro do país é neste momento uma questão que não parece suscitar preocupação por aí além. Ora, ou o eixo da acção de todos passa a ser claramente o desenvolvimento e a alteração do actual paradigma social e económico em que o país vive, ou Portugal vai ter de ceder a sua concessão a existir e, tal como o concebemos, vai desaparecer a prazo.
Que se lixe a "crise", que a pague quem a provocou. Do que nós precisamos é de mudar, senhoras e cavalheiros.
Precisamos de mudar...! Comecemos por mudar os governantes.
Comecemos por eleições

2010/05/16

Eleições (3)

Não percebo por que razão a palavra eleições incomoda tanto, tanta gente hoje em dia em Portugal... E não percebo por que raio não pode haver eleições antecipadas.
Repito o que já escrevi aí mais para baixo: alguém desejaria que, depois de lhe roubarem a casa, fosse o ladrão a mudar a fechadura?
Quando é que os arautos das "mudanças estruturais" querem que se mude de facto de paradigma em Portugal? Quando os actuais esbirros do regime estiverem já instalados no novo paradigma?

2010/04/27

Os extraterrestres já aí estão

O professor Stephen Hawking acha que os seres extraterrrestres existem quase certamente e que admitir a sua existência é uma coisa perfeitamente racional. Paul Davies no seu livro“The Eerie Silence: Renewing Our Search for Alien Intelligence,” cita J. B. S. Haldane, que adverte que “o universo não é só mais estranho do que nós supomos, mas ainda mais estranho do que nós conseguimos supôr." Davies acha que a eventual vida extraterrestre será quase certamente pós-biológica e que deveríamos tentar procurar sinais de inteligência, não a inteligência "biológica", mas a real, aquela inteligência "poderosa, superior e imortal que é característica do universo das máquinas."
Concordo parcialmente.
Há uma evidência clara de que os seres extraterrestres existem, sim. E encontramo-los em Portugal. Estão cá e em força. As zonas de S. Bento, Belém, Terreiro do Paço, etc, etc, etc, estão cheias deles... Têm vindo a reunir-se, não sei se viram, na AR, onde dizem coisas. Ao contrário do que a gente pensava, não são verdes, nem anões com gandes cabeças e não têm antenas em vez de orelhas. Vestem fatos de bom corte, alguns preferem tirar a gravata para dar um ar mais informal à coisa. Usam sapatos. Fazem jogging e aparentam traços humanos, quando, usando os nossos veículos em vez dos seus discos voadores para disfarçar, se deslocam a outros pontos do planeta. Controlam ou tentam controlar tudo. Alguns foram apanhados pelo Grande Telescópio em grandes poses e conversas uns com os outros, mas dizem que as partículas detectadas não passavam de poeira sideral.
Mas, chamar a isto inteligência é fazer de nós burros e isso, desculpem, não aceito!

2010/04/21

O "Brunch"

A fim de dissipar quaisquer dúvidas relativamente às suas declarações, o advogado (ou será jurista?) Paulo Penedos dizia hoje na Comissão de Inquérito, onde foi chamado a depôr, que só responderia àquilo que o seu sigilo profissional permitisse. Declarações que, de resto, já tinha proferido aquando da sua passagem pela Comissão de Ética há dois meses atrás.
Perante tal desconchavo, alguém lhe chamou a atenção para o facto de, nesta Comissão, ele encontrar-se sob juramento e ter de responder a todas as questões, mesmo que isso implicasse haver audições à porta fechada.
Resposta do jurista (ou será advogado?) Penedos: "não estou aqui para responder a ameaças veladas".
Ora, como muito bem lembrou um deputado presente, a Comissão de Inquérito - criada para averiguar da tentativa de compra da TVI pela PT, com conhecimento do governo - está mandatada pelo Parlamento para averiguar esta questão e dispõe de meios legais para fazê-lo. Mais, os deputados ali presentes, são os representantes escolhidos pela Assembleia da República e, nesse sentido, uma recusa de esclarecimentos será interpretada como uma recusa de colaboração no inquérito e poderá ter consequências disciplinares. Ou seja, citando ainda o mesmo deputado, esta Comissão não foi propriamente criada para fazer um qualquer "brunch" matinal.
Nem mais.

2009/12/10

É de facto caso para dizer: tenham juizinho...!

O episódio da troca de insultos na AR não é só grave pelas razões substantivas que todos tivemos oportunidade de conhecer. O que me choca não é ver membros de um orgão de soberania usando, de forma ostensiva, métodos e uma linguagem próprios de moços (e moças!) de estrebaria. O que me deixa seriamente apreensivo é imaginar que esta gente tem poder para tratar de assuntos que influenciam profundamente o dia a dia de todos nós.
Não deixa de chocar também que o Presidente da AR se limite a esperar que os deputados envolvidos neste caso moderem a linguagem, e não deixa de chocar que os outros deputados, instados a comentar o que se passou, respondam tentando branquear, uns, estas situações e chutando, outros, para a comunicação social a responsabilidade de relevar estes actos em detrimento do que, supostamente, de bom se passa na AR. Ou, tantos outros ainda, se calem.
A verdade é que podemos legitimamente perguntar: se estes deputados demonstram uma tal falta de controlo pessoal e de princípios, e os outros se calam ou assumem uma atitude de um corporativismo caricato, é de esperar que exerçam as suas funções de forma competente?
Não se trata de um fait divers. É um problema grave que merece a tomada de medidas exemplares.

2009/03/06

A questão energética em Portugal

A discussão sobre as energias renováveis está na ordem do dia em Portugal. A dependência energética é, sabêmo-lo, um dos factores decisivos que concorre para o défice da balança de pagamentos. A dependência portuguesa das importações de combustíveis fósseis e o peso destes no aumento da nossa quota de emissão de gases que contribuem para o efeito de estufa são questões que preocupam os responsáveis e os levam a trazer esta matéria das estratégias de alteração da política energética para o terreno da discussão políticia. Trata-se com efeito de matéria séria, cuja discussão se afigura urgente e necessária.
Assistimos ontem a um debate interessantíssimo sobre este assunto na AR. Baseado em factos solidamente sustentados em argumentação de índole científica inatacável, o deputado Afonso Candal dizia ao deputado José Eduardo Martins (que se reclama filho de boa gente) que não-sei-quê, sabia que ele estava muito preocupado com os contribuintes, ao que este, citando outras fontes científicas e numa tentativa de exprimir a sua própria interpretação sobre a matéria em discussão, ameaçava que lá fora é que era, enquanto mandava o deputado Candal para não-sei-onde.
Embora não tenhamos percebido exactamente o que foi dito nesta importante discussão, uma vez que os microfones estariam desligados, sabemos que algo de muito importante terá sido pronunciado.
O senhor Presidente da AR, numa tentativa de valorizar o contributo dos senhores deputados, que não se pode deixar de saudar, até referiu que num espaço físico muito confinado como é o da AR, se torna difícil perceber exactamente o que se diz, embora tenha percebido que havia qualquer coisa, não sabendo exactamente o quê... Ora, se bem interpretei as palavras do senhor dr. Jaime Gama, o que ele desejaria era que fosse dado o devido relevo ao debate ocorrido ontem na AR. Não posso estar mais de acordo. A matéria em apreço exige-o. Os portugueses em geral reivindicam-no. A comunidade científica, em particular reclama-o. Esperamos pois que os funcionários da AR, encarregados de elaborar as transcrições do Plenário, tenham tido oportunidade de apanhar tudo o que foi dito, para posterior publicação. Estou certo que este irá constituir um importantíssimo contributo da AR para a definição de futuras orientações estratégicas sobre tão delicada matéria. Atrevo-me mesmo a sugerir que a transcrição deste debate seja objecto de edição especial. Com ilustrações!
Esperamos também que daquela efusiva troca de opiniões os senhores deputados passem aos actos. A bem da Nação.