Como é da tradição, os dois principais partidos, dividiram entre si o número de deputados: 2 para o PS (um pela Europa e outro pelo Resto do Mundo) e 2 para o PSD (um pela Europa e outro pelo Resto do Mundo).
Contas feitas, o PS obteve um total de 36,34% dos votos (correspondente a 108 deputados) e o PSD um total de 27,76% (correspondente a 78 deputados). Os restantes partidos não elegeram qualquer deputado. Confirma-se, deste modo, a vitória do PS, ainda que sem a maioria absoluta (ficaram a faltar 8 deputados).
Antecipando-se a estes resultados, António Costa lembrou que "os portugueses gostaram da "Geringonça" e desejam a continuidade da actual solução política, agora com um PS mais forte" (discurso da noite eleitoral).
Acontece que o PS optou por governar sózinho, o que sendo um dos cenários possíveis, causou alguma estranheza nos meios afectos à "Geringonça".
O que se passou, entretanto?
Do PCP, sabíamos que só muito dificilmente repetiria a "experiência", dadas as críticas internas ao posicionamento do partido na "Geringonça", algumas das quais foram sendo tornadas públicas ao longo dos últimos dias. A pesada derrota eleitoral, teria contribuido para esta decisão.
Do BE, sabíamos que estaria disponível para uma 2ª "Geringonça", ainda que houvesse algumas "linhas vermelhas" que não podiam ser ultrapassadas. A estagnação do partido, em número de deputados, não ajudou à negociação.
Com os restantes partidos de esquerda (Livre e PAN), o PS nunca poderia contar para constituir uma maioria qualificada.
Perante tal cenário, percebe-se a decisão do PS, ainda que seja a mais arriscada: em caso de uma "coligação negativa" na AR, o governo pode cair, como aconteceu com o governo de Sócrates em 2011.
Costa (um optimista) parece estar confiante em que tal não acontecerá, ao garantir a abstenção dos partidos da esquerda nas votações orçamentais, o que lhe permitiria chegar ao fim da legislatura...
Em último caso, poderá sempre "virar-se" para a direita que, neste momento, se prepara para eleger novos líderes. Se isso no CDS é uma certeza, no PSD, é tudo menos certo. Caso Rui Rio se mantenha, Costa sabe ter ali um "aliado" em potência, que pode facilitar-lhe a vida em caso de necessidade. Não seria a primeira vez, de resto...
A estabilidade da situação interna, só por si, não é uma garantia de uma governação estável. Há variáveis que o governo português não poderá controlar (estagnação económica a nível europeu, guerra comercial entre EUA e China, preço do petróleo nos mercados, Brexit, etc...) que podem pesar no melhor ou pior desempenho da governação. Nessa altura, veremos se a solução "um governo, um partido" foi a melhor.
Para já, os nomes escolhidos para o próximo executivo, são praticamente os mesmos, o que indica uma aposta na continuidade dos governantes. Resta saber se haverá continuidade nas políticas. Essa é a questão