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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Real Capella do Apostolo S. Simão (a festa annual)

A Meza da Real Irmandade de Nossa Senhora da Piedade dos Milagres, e da Victoria, da Cova de Mutella, limite da Villa de Almada, tem determinado fazer a festa annual da Invocação da sua Real Irmandade no presente anno da maneira seguinte:

Cova da Piedade, igreja Nossa Senhora da Piedade, década de 1970.
almaDalmada

No dia 28 do corrente, vespera da sua festividade annual, se cantará huma solemne Missa, por muzica vocal e instrumental, pela conservação da Preciosa Vida de Sua Magestade o Senhor Dom Miguel I, Augusto Protector Perpétuo da mesma Real Irmandade,

D. Miguel I e suas irmãs dando graças a Nossa Senhora da Conceição da Rocha, 29 de janeiro de 1829.
Cabral Moncada Leilões

finda a qual se fará a inauguração das Reaes Armas no frontespicio da Real Capella do Apostolo S. Simão, onde a mencionada Irmandade se acha erecta, com todas as demonstrações de jubilo em similhantes occasiões praticadas, e á noute illuminação.

Bandeira de D. João V, também armas reais de D. Miguel na bandeira nacional de Portugal de 1826 a 1830.
Wikipédia

No dia 29 se fará com muito maior pompa, que nos annos antecedentes, a festividade annual denominada, da Casa, com Missa solemne por muzica vocal e instrumental, Sacramento exposto todo o dia, á tarde segundas Vesperas de Nossa Senhora, e Te Deum em Acção de Graças pela conservação de Sua Magestade o Senhor Dom Miguel I no Throno de Seus Maiores, e pelas Mercês que o Mesmo Augusto Senhor foi servido liberalizar a esta Irmandade declarando-Se seu Protector Perpétuo, e concedendo á mesma, e á Capella em que se acha erecta, o Titulo, Honras, e Privilegios de Reaes;

Paroquianos no adro da igreja da Cova da Piedade.
Delcampe

á noute illuminação, e hum vistoso fogo de artificio, havendo em ambos os dias e noutes muzica de arraial: sendo Oradores, no Sabbado á festividade o Muito Reverendo Padre Mestre Frei Francisco da Piedade; no Domingo de manhã, o Muito Reverendo Padre Mestre Frei Pedro da Purificação Alves Preto; e de tarde o Muito Reverendo Padre Mestre Frei José Machado, todos Prégadores Regios, e Dominicos. (1)


(1) Gazeta de Lisboa, 18 de agosto de 1830

Artigos relacionados:
S. Simão das Barrocas
Nossa Senhora da Piedade

domingo, 29 de abril de 2018

Lisboa, vista de Almada (c. 1830)

Oposta a Lisboa fica Almada, no cume, e perto do extremo leste, das altas falésias que se estendem ao longo da margem sul do Tejo, e dali para o mar. Desta elevada posição, temos uma série de vistas panorâmicas de grandeza incomparável.

Lisbon from Almada, Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830.
Imagem: Wikimedia

Para o norte, toda a extensão de Lisboa é vista cobrindo as colinas opostas e formando um bordado brilhante para o Tejo. 

Lisbon from Almada (detalhe), Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830.
Imagem: Wikimedia

Para o oeste, esse nobre rio é visto continuando seu curso majestoso, fluindo para o Oceano Atlântico, entre as torres distantes de S. Julião e do Bugio. 

Para o leste, o rio espraia-se num vasto estuário, delimitado por um longo trecho de terras baixas. 

Para o sul, as alturas de Almada descem para um vale coberto de vinhas, atrás do qual há uma subida gradual de colinas arborizadas, até que, a uma distância de várias milhas, o horizonte é delimitado pela cordilheira montanhosa da serra da Arrábida, tendo a notável rocha de Palmella, coroada pelo castelo em direcção ao leste, e o distante castelo mouro de Cezimbra em direção ao oeste.

Na vista que acompanha, o espectador é supostor olhar o rio, na direção nordeste. Parte de Lisboa ocupa a esquerda da cena. O Convento da Penha de França fica na colina mais distante desse lado. Um pouco à direita, na colina adjacente, fica a Capela de Nossa Senhora da Monte.

Lisbon from the chapel hill of Nossa Senhora do Monte, Drawn by Lt. Col. Batty, 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

O castelo é visto a cobrir a colina ainda mais à direita; e as torres da Igreja de São Vicente, o lugar fúnebre dos monarcas portugueses, coroam o cume da colina perto do extremo da cidade.

Em linha com as torres de São Vicente, mas mais perto do espectador, estão as velhas torres castanhas da catedral; e à sua frente, perto do Tejo, estão os edifícios que encerram a Praça do Comércio: estes, com a Alfândega, o Arsenal Naval e o Cais de Sodré formam um imponente conjunto de edifícios.

Numerosos navios estão espalhados na ampla bacia do Tejo; o todo, combinado com a ousada e precipitada altura de Almada no primeiro plano, formam uma impressionante e interessante paisagem. (1)


(1) Robert Batty, Select Views of some of the Principal Cities of Europe, London, ..., 1832

Artigos relacionados:
Almada bélica e bucólica no século XIX
Originais de Robert Batty

Mais informação:
Dictionary of painters and engravers, biographical and critical...
Robert Batty

sábado, 30 de dezembro de 2017

José Elias Garcia (1830-1891)

Nascido em Cacilhas (Almada), a 31 de Dezembro de 1830, filho de José Francisco Garcia, chefe de oficinas do Arsenal da Marinha, defensor das ideias liberais que foi perseguido e preso pelos miguelistas. Em 1833, o pai de José Elias Garcia foge da cadeia do Limoeiro, quando aguardava a condenação à morte.

José Elias Garcia.
Imagem: ANTT

Elias Garcia estuda primeiro na Escola de Comércio de Lisboa, que conclui em 1848. Mais tarde entra na Escola Politécnica de Lisboa, seguindo posteriormente para a Escola do Exército (1857). Enveredando pela carreira militar assenta praça em 31 de Agosto de 1853, como voluntário no Regimento de Granadeiros da Rainha, atingindo o posto de coronel em 27-09-1888.

Dedicando-se ao ensino, foi convidado para leccionar a cadeira de Mecânica Aplicada, na Escola do Exército. Ocupou ainda outras funções como: no Conselho Geral de Instrução Militar, Conselho Naval, presidente da Junta Departamental do Sul e da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses.

José Elias Garcia por Joshua Benoliel.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Foi um dos principais responsáveis pelo aparecimento de um grupo republicano cerca de 1850, fruto das consequências das revoltas que tinham eclodido na Europa em 1848 [...](1)

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Após a aclamação de D. Miguel (26-6-1828) seguem-se seis anos de terror, com perseguições, deportações e execuções. Em 27-10-1828 é publicado o Edital da Intendência Geral da Polícia que obrigava os cidadãos a denunciar a "infame e criminosa seita maçónica" para pôr cobro ao "nefando e horroroso projeto de destruir o Altar e o Trono".

Retrato de Elias Garcia.
Imagem: ANTT

O triunfo definitivo do liberalismo (1834) e a ascenção de D. Pedro IV, Grão-Mestre da Maçonaria brasileira, marca um período de apogeu da Ordem, que só viria a terminar com a Revolução de 28 de Maio de 1926. 

No princípio do séc. XIX a Maçonaria contava com milhares de filiados, incluindo nas ilhas dos Açores e Madeira e nas antigas colónias, justificando-se, assim, uma organização federadora, ou Grande Loja.

Esta foi criada em 1802 com o nome de "Grande Oriente Lusitano" (G.O.L.), recebendo o reconhecimento da Grande Loja de Inglaterra em Maio desse ano, embora o respetivo tratado só tenha chegado a Portugal em 1803. Foi eleito primeiro Grão-Mestre o desembargador da Casa de Suplicação, Sebastião José de São Paio de Melo e Castro Lusignam. 

O G.O.L. é, assim, o tronco da Ordem maçónica no nosso país. A sua  Constituição foi aprovada em 1806. Entre 1849 e 1859 o "Grande Oriente Lusitano" denominou-se "Grande Oriente de Portugal", e a partir de 1869 "Grande Oriente Lusitano Unido", retomando a designação original em 1985. 

Desde 1826 e até meados da centúria, o G.O.L. representou a corrente conservadora da Maçonaria, ligada à ideologia política do "cartismo", tendo como Grão-Mestres Silva Carvalho e Costa Cabral.

Este comprometimento provocou várias cisões: do Marechal Saldanha, que fundou em 1828 o "Oriente do Sul", de Passos Manuel, que fundou o "Oriente do Norte" (1834), e de Elias Garcia que [iniciado na Maçonaria em 1853 com o nome simbólico de Péricles, na Loja 5 de Novembro, em Lisboa, ligada ao rito francês e subordinada à "Confederação Maçónica Portuguesa"] criou a "Federação Maçónica" (1863).

Estas cisões corresponderam às diversas correntes do liberalismo e consequen-te conquista do poder, funcionando as respetivas Lojas como células partidárias, como aconteceu com a Loja "Liberdade", fundada em Coimbra em 1863 por lentes da Universidade e intelectuais (António Aires de Gouveia, Bernardo de Albuquerque e Lourenço de Almeida e Azevedo, entre outros menos conhecidos). 

Por isso, as vicissitudes da política repercutiram-se negativamente no prestígio e coesão da Ordem Maçónica. Por seu turno, o próprio G.O.L. havia de gerar a cisão de Silva Carvalho que, com outros, constituiu o "Oriente do Rito Escocês". 

Contudo, em 1869 foi possível reconciliar os Irmãos desavindos, com a criação do "Grande Oriente Lusitano Unido", sob o Grão-Mestrado do Conde de Paraty. Desde então, e excetuando pequenas convulsões, reinou a unidade da família maçónica. Foi o período áureo da Maconaria portuguesa.

Passaram pelo Grão-Mestrado figuras tão ilustres como Elias Garcia António Augusto de Aguiar, Bernardino Machado, mais tarde presidente da República e Sebastião de Magalhães Lima.

Retrato e assinatura de Elias Garcia.
Imagem: Casario do Ginjal

Foram igualmente maçons nomes prestigiados como Mouzinho da Silveira, Alexandre Herculano, Garrett, João de Deus, o cardeal Saraiva, patriarca de Lisboa, Machado Santos, Afonso Costa, António José de Almeida, António Maria da Silva, Miguel Bombarda, Sidónio Pais, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queirós, Rafael Bordalo Pinheiro, Egas Moniz (prémio Nobel da Medicina), Teixeira de Pascoais, Jaime Cortesão e Aquilino Ribeiro. (2)

*
*     *

Entrou na política, com tendências pronunciadamente democráticas, e em 1854 fundou o primeiro jornal republicano, intitulado O Trabalho; em 1858 apareceu o Futuro, jornal fundado e sustentado por um grupo a que pertencia José Elias Garcia.

Almada, um aspecto do cortejo de homenagem a Elias Garcia, 1933.
Imagem: ANTT

Neste ano ainda se não havia constituído em Portugal o Partido Republicano; José Felix Henriques Nogueira e Lopes de Mendonça não tinham conseguido formar em torno de si um grupo de acção. 

O Futuro, mais tarde, em 1862, fundiu-se com a Discussão, tomando o nome de Política Liberal; foi este um dos jornais que mais valentemente combateram contra a vinda a Portugal das irmãs de caridade e dos lazaristas franceses, sendo secundado nessa luta por José Estêvão na câmara dos deputados.

Em 1868 pertenceu ao célebre grupo do pátio do Salema, donde saiu o Partido Reformista, que foi, por assim dizer, a guarda avançada do Partido Republicano. 

Elias Garcia foi convidado para entrar no ministério presidido pelo bispo de Viseu, D. António Alves Martins, e doutra vez recebeu convite do visconde de Sá do Bandeira. Recusou essa honra, que muitas mais vezes repeliu, mesmo depois de ser eleito para o directório do Partido Republicano.

Cacilhas, um aspecto do cortejo de homenagem a Elias Garcia, 1933.
Imagem: ANTT

Em 1865 foi também redactor principal do Jornal de Lisboa, que redigiu até ao último número. 

A 12 de outubro de 1873 publicou-se o primeiro número da Democracia, jornal redigido por José Elias Garcia, inserindo um artigo editorial escrito por Latino Coelho, precedendo a exposição do programa republicano, que era o do jornal. 

Mais tarde, em 1876, organizou-se um centro republicano, devido especialmente a Elias Garcia. Não foi, porém, este o primeiro centro estabelecido no país, pois já haviam sido fundados em Coimbra, mas até à data da instituição do de Lisboa, ainda o Partido Republicano não estava definitivamente constituído.

José Elias Garcia foi deputado pela primeira vez em setembro de 1870, quando tinha ainda o seu nome ligado ao Partido Reformista, que, por ser então o mais liberal, era o que convinha aos homens que compunham a guarda avançada da democracia. 

Em 1881, depois da valente campanha do tratado de Loureço Marques, em que ele tomou parte muito activa, comparecendo nos comícios particulares que se realizaram em Lisboa contra aquele tratado, e como protesto contra o governo regenerador que iniciara o período das perseguições, foi eleito pelo círculo 95, de Lisboa, para a legislatura que começou em 2 de janeiro de 1882, e terminou pela dissolução de 24 de maio de 1884.

Tornou a ser deputado na legislatura de 15 de dezembro do referido ano de 1884 até 7 de janeiro de 1887, dia em que foi dissolvida a câmara. Também pertenceu à legislatura de 2 de abril de 1887, dissolvendo-se a Câmara em 11 de julho de 1889. Nas eleições que se seguiram, a lista republicana ficou derrotada, porque, não tendo sido atendidas as reclamações dos centros republicanos, a votação se dividiu.

Colocação da lápide na casa onde nasceu Elias Garcia em Cacilhas, 1933.
Imagem: ANTT

Com a questão inglesa e os primeiros actos do despotismo do governo regenerador, o partido republicano novamente se animou, e apesar das simpatias gerais dos candidatos do governo, escolhidos entre os africanistas de maior popularidade, a lista republicana triunfou no dia 29 do março de 1890, sendo Elias Garcia novamente eleito, juntamente com Latino Coelho e Manuel Arriaga.

Durante o tempo em que foi vereador da Câmara Municipal, prestou muitos e importantes serviços; estabeleceu as escolas centrais, o ensino da ginástica, os batalhões escolares, o ensino do desenho de ornato, o canto coral das escolas e as bibliotecas populares. A primeira junta escolar que funcionou foi por ele presidida [...] 

Elias Garcia morreu pobre, porque sacrificou tudo quanto auferia pelos seus trabalhos, em proveito do seu partido, e para a sustentação da Democracia, jornal que ele fundara, e que lhe merecia a maior dedicação. 

A sua morte foi muito sentida; a imprensa unânime, de todas as cores políticas do país, consagram nas colunas dos seus jornais, indeléveis testemunhos de quanto apreciava e respeitava o carácter e merecimento de tão útil e benemérito cidadão, e lastimava a sua perda.

Estandarte da Loja Elias Garcia referente ao vintém das Escolas
Escola n° 1
Imagem: Fundação Mário Soares
O funeral foi imponentíssimo. Ali se viam incorporadas diversas associações as crianças do asilo de S. João, as escolas municipais com os respectivos professores, os alunos e o corpo docente da Escola do Exército representantes de todos os partidos políticos, da câmara municipal, da maçonaria portuguesa, bombeiros municipais, etc. 

Quatro anos depois em 21 de abril de 1895, o Grande Oriente Lusitano mandou levantar um jazigo no cemitério Oriental, para onde foram trasladados os seus restos mortais. Também foi uma manifestação imponente. O monumento é simples, tem a forma de obelisco, foi delineado por Silvestre da Silva Matos. Está levantado em terreno concedido gratuitamente pela câmara municipal, que tomou o encargo da sua conservação e reparação [...] (3)


(1) Almanaque Republicano
(2) António Arnaut, Introdução à Maçonaria
(3) Dicionário histórico

Leitura adicional:
Heliodoro Salgado, A insurreição de janeiro..., Porto, Typ. Emp. Lit. Typ., 1894
Eduardo Barros Lobo, A volta do Chiado, Lisboa, A. M. Pereira, 1902
A maçonaria em Portugal..., Edição da Ligue Anti-Maçonnique.
Luís Alves Milheiro e Abrantes Raposo, José Elias Garcia, Junta de Freguesia de Cacilhas, 2005
A República nos Concelho da Margem Sul

Mais leituras:
A Illustração Popular
Occidente 445, 1 de maio de 1891
O Tiro Civil 109, 1 de abril de 1897
lllustração portugueza 271, 1 de maio de 1911

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Se coras, não conto

Chapelle anglaise à Lisbonne, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Tu queres que eu conte um sonho que tive
Não sei se acordado, não sei se a dormir?
Foi todo singelo, foi todo innocente:
Tu córas, sorriste, tens medo d'ouvir?


Palais d'Ajuda, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Não córes, escuta, não fujas de mim,
Que o sonho foi sonho de casta paixão:
Já crês, não duvídas, verás como é lindo
O sonho innocente do meu coração:

Quai de Sodre, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Eu via em teus labios um meigo sorriso,
Em tens olhos negros um terno mirar,
Teu seio de neve a arfar docemente,
Sentia nas faces o teu respirar.


Palais de Necessidades, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

E tu não fallavas, mas eu entendia;
E tu não fallavas, mas eu bem ouvi!
Amor! na minh'alma a voz me dizia,
E um beijo na fronte não sei se o senti.


Vue de Lisbonne prise de Alfeite, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Já vês que o meu sonho foi sonho innocente;
O resto eu te conto; como has de gostar!
É todo singelo, de amores somente;
Verás que ao ouvil-o não has de córar.


Vue de S. Pedro d`Alcantara, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Depois apertando teu corpo flexivel,
Cingindo teu collo no braço a tremer,
Ouvi uma falla, e o que ella dizia
Agora acordado não posso eu dizer.

Promenade Publique, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Não posso contar-te, só pude sentil-a;
Não posso contar-t'a senão a sonhar:
No sonho innocente, no sonho d'amores,
Do qual, duvidosa, julgavas córar.

Place du Commerce prise du Tage, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Não posso contar-t'a, nem sei se acordado
O que ella dizia se póde entender;
Eu sei que sonhando, pensei que era sonho,
E agora acordado a não posso esquecer.

Interieur de l`Eglise de Belem, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Mas tu porque escondes a face córada?
Não tem nada o sonho que faça córar,
É todo singelo, é todo innocente;
Que importa um abraço, se é dado a sonhar?

Tour de Belem, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Mas tu não te escondas, que eu fico em silencio;
Não quero offender-te a casta isenção;
Não torno a contar-te depois de acordado
O sonho innocente do meu coração. (1)



(1) Bulhão Pato, janeiro de 1847

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Iconografia de Lisboa (9.ª parte)

Ainda no último quartel do século XVIII foi Lisboa visitada por vários artistas e sábios estrangeiros que vieram a Espanha e a Portugal, em viagem de recreio ou científica, para colher elementos que interessavam aos seus estudos ou aos seus espíritos.

A View of the PRAÇA DO COMMERCIO at LISBON, taken from the Tagus : the original Drawing by Noel in the possession of Gerard de Visme Esq.r / Drawn by Noel ; Engraved by Wells.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal
Navios e barcos, num deles carregando um soldado e um padre, aproximam o porto de Lisboa no Rio Tejo. À esquerda a Praça do Comércio com a estátua equestre de D. José I. Ao centro vêem-se as torres da Sé acima dos telhados e ao fundo o castelo de S. Jorge sobre uma colina.

in British Library
Citaremos os seguintes artistas:

a) — Jean Alexandre Noël, pintor francês de marinhas e paisagens, que por várias vezes veio a Lisboa, uma das quais em 1780, onde pintou uma vista da "Torre de Belém", passada para gravura em cobre por Gaspar Fróis Machado cm 1783, como disse;

1500 Almada concelho Arte Gravura Alexandre Jean Noel Torre de Belem 02.jpg

8 quadros com diferentes vistas, das quais 5 de Lisboa, mandadas fazer por um rico inglês Gerard de Visme, e gravadas a água-tinta por J. Wells, de 1793 a 1795;

The Harbour of Lisbon, segundo Alexandre Jean Noël, 1796.

uma vista panorâmica de Lisboa e seu porto, gravada em cobre por Alix; além de vários desenhos a lápis, que se conservam num álbum no Museu de Arte Antiga.

Vista da parte ocidental de Lisboa, Alexandre Jean Noel, início da década de 1790
Imagem: FRESS

b) — Jean Baptista Pillement, que algumas temporadas veio passar em Lisboa, a última das quais em 1780;

Vista de Lisboa, Jean Baptiste Pillement.
Imagem: Viático de Vagamundo

c) — o pintor Nicolas [Louis Albert] Delarive [Delerive] (1755-1813);

Lisboa, Feira da Ladra na Praça da Alegria, Nicolas Delarive, aspecto na década de 1810.
Imagem: MNAA

d) e) — O duque de Chatelet, que viajou por Portugal em 1777, e o arquitecto James Murphy, que aqui esteve também, deixaram nas relações impressas das suas viagens, as vistas de alguns trechos olisiponenses.

Recuperando alguns dos artigos já publicados, pela nossa parte, faremos a propósito algumas referências:

a) — Rev. William Morgan Kinsey, Portugal Illustrated in a series of letters, 1827;

Belem Castle, Rev. William Morgan Kinsey, Portugal Illustrated in a series of letters, 1827.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

b) — Robert Batty (1789 – 1848), ilustrador e topógrafo que serviu na Guerra Peninsular, 1809 - 1814, e que, como Ajudante de Campo do General William Henry Clinton, regressou a Portugal (1826 - 1827). Foi o  autor de uma série de vistas de lisboa publicadas em Select Views of some of the Principal Cities of Europe, London, Moon, Boys, and Graves, 1832.

Lisbon from Almada, Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830.

Select Views of some of the Principal Cities of Europe inclui, por esta ordem, as gravuras "Torre de Belém", "Convento de S. Jerónimo em Belém", "Lisboa vista da rua de S. Miguel",

Lisbon from the Rua de San Miguel, Drawn by Lt. Col. Batty, 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

"Lisboa vista da colina da capela de N.a Senhora do Monte", "O Largo do Pelourinho" e "Lisboa vista de Almada".

Lisbon from the chapel hill of Nossa Senhora do Monte, Drawn by Lt. Col. Batty, 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Como na abordagem, prévia, tratada no artigo Originais de Roberto Batty, sabemos ainda existir outras imagens, que representam, o Convento de N.a Senhora da Graça (três versões) e a Torre do Bugio.

Como consequência das agitações políticas que em Portugal perturbaram toda a sua vida nos princípios do século XIX, o renascimento artístico que com bons auspícios se havia inaugurado, decaiu consideravelmente, e, pelo que respeita a iconografia de Lisboa, apenas podemos citar as estampas que acompanham os 2 volumes do "Jornal de Bellas Artes ou Mnémosine Lusitana" (1816/17), gravuras em cobre de P. A. Cavroé e desenhos de Fonseca filho (António Manuel da Fonseca).

Mas devido à descoberta do processo litográfico e à invenção da propaganda noticiosa, política e artística, que, por meio de publicações periódicas, revistas e jornais ilustrados, cerca do ano 1830 começou em Inglaterra, França, Alemanha, Itália, etc., foram estes métodos adoptados entre nós, nos princípios do segundo quartel do dito século, surgindo, e aumentando no decorrer do mesmo, uma plêiade de artistas nacionais, especializados em cada um dos processos de reprodução de desenhos, cujo número, na representação de aspectos da cidade, de edifícios, e de outros objectos com ela relacionados, ultrapassou rapidamente em muito o dos estrangeiros que também se ocuparam dos mesmos assuntos olisiponenses, ao contrário do que acontecera anteriormente.

Vista oriental de Lisboa tomada do jardim de S. Pedro de Alcântara, litografia Sousa e Barreto, 1844.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Cremos que as primeiras obras periódicas em que se publicaram estampas de Lisboa, depois da "Mnémosine Lusitana" (1816/17), foram principalmente as seguintes:

"O Recreio" (1835 a 1842), com litografias não assinadas;
"Jornal Encyclopedico" (1836/37), com litografias;
"O Panorama" (1837 a 1868), com gravuras em madeira.

A gravura em cobre foi abandonada quase por completo nestas publicações periódicas (jornais, como lhes chamavam, imitando a denominação francesa), e a gravura em madeira e a litografia, ao principio bastante toscas, foram-se desenvolvendo paralelamente, podendo dizer-se que as primeiras que aparecem mais correctas são: as de A Illustração (1852), e do semanário A Illustração Luso-Brazileira (1856 a 1859), pelo que respeita a gravuras em madeira, desenhadas ou feitas por Manuel Bordalo Pinheiro, Nogueira da Silva, Barbosa Lima, Caetano Alberto Nunes, Baracho, João Pedroso, Coelho pai e filho, Gomes da Silva, Flora, etc., e as da Illustração Popular (1866 a 1870), pelo que se refere a litografias, especialmente devidas aos artistas Legrand e Michellis.

Nas publicações periódicas até ao fim do século XIX a perfeição das gravuras em madeira atingiu o seu auge na ilustração do quinzenário O Occidente, que, sob a direcção de Manuel de Macedo, redador e desenhador, e de Caetano Alberto da Silva, gravador, foi entre nós, desde 1878, e durante 38 anos, o repositório mais perfeito dos principais acontecimentos nacionais e estrangeiros, adornado sempre com estampas, entre as quais são numerosas as que tratam de assuntos de Lisboa, geralmente copiadas do natural pelos desenhadores Luciano Freire, Cristino da Silva e outros, e gravadas em madeira por Caetano Alberto da Silva, Cazellas, etc.

Vista panorâmica de Lisboa tomada de Almada (recomposição), água-forte, Isaías Newton (1838-1921).
Imagem: Museu da Cidade de Lisboa

Muitas das revistas periódicas ilustradas nacionais tiveram uma vida pouco duradoura, devido à penúria de fundos para a sua publicação, reveladora da falta de apreço ou de preparação do público para tais leituras.

No estrangeiro, pelo contrário, as revistas ilustradas foram, no século XIX, muito numerosas, e tiveram longa existência, mas pouco se ocuparam de vistas e monumentos de Lisboa, havendo exibido principalmente vistas dos acontecimentos mais importantes sucedidos nesta cidade, daqui comunicados em esboços ou fotografias pelos artistas seus correspondentes.

Uma das aplicações mais importantes das estampas foi para ilustração de livros, quer em gravuras impressas com os textos, quer em litografias em folhas soltas intercaladas no texto.

Afora a sua inserção em livros e em revistas, foram produzidas durante o século XIX muitas estampas de Lisboa destinadas a quadros, tais como a "Vista do Convento de S.to Jerónimo de Belém e Da Barra de Lisboa" e a "Vista da Cidade de Lisboa Tomada da Junqueira", por Henrique L'Evêque [Henry], ou constituindo colecções ou albuns de vistas, acompanhadas ou não com um texto descritivo, não exclusivamente de Lisboa, mas juntamente com as de outras terras;

tal era, por exemplo, entre as nacionais, a "Collecção de Paizagens e Monumentos de Portugal", editada e litografada por João Pedro Monteiro, em que colaborou também Tomás J. d'Anunciação.

Várias medalhas se cunharam durante o século XIX, comemorativas de factos passados em Lisboa, e que por isso fazem parte da medalhística olisiponiana.

Descoberta a fotografia pelos meados do século XIX, algumas revistas e livros passaram a ser ilustrados com fotografias, ou sós, como, por exemplo, "Monumentos Nacionais" (1868), por J. da S. [José da Silva] Mendes Leal, ou conjuntamente com gravura, ou litografias, como: "Archivo de Architectura Civil" (1865). Ambas estas obras, assim oomo algumas outras mais, contêm trechos de Lisboa.

Vários fotógrafos, na 2.a metade do século XIX, tiraram [tiravam] e vendiam vistas fotográficas de terras e edifícios de Portugal, e entre elas figurava sempre Lisboa.

Baixa e Rio Tejo (montagem), Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Os mais conhecidos foram Francisco [Francesco] Rocchini, que desde 1870 fotografou mais de 300 vistas panorâmicas e de edifícios e monumentos de Lisboa, coladas em cartões com os títulos impressos;

Praça do Comércio e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

A. S. Fonseca, Largo de S. João da Praça, de que conhecemos 20 fotografias de Lisboa;

e Moreira, Rua da Alegria, que apresentou 42, pelo menos, igualmente coladas em cartolina, e com os títulos impressos.

Também havia, de fabricação estrangeira, álbuns com fotografias de Lisboa, assim como litografias a uma ou mais cores.

No mercado apareceram colecções de vistas fotográficas estereoscópicas, tanto de publicação nacional como estrangeira.

Descobertos, no último quartel do século XIX, os processos fotomecânicos para a feitura de matrizes para a reprodução de estampas: fotolitografia, zincogravura, fotogravura, fototipia, cromolitografia, etc. que simplificaram e embarateceram as ilustrações de livros e de publicações periódicas, fizeram eles pôr de parte, quase por completo, os antigos processos de gravura e estampagem, dando também origem ao aparecimento de muitos objectos de preço acessível às pequenas bolsas, com vistas de Lisboa e de outras terras do pais, tais como albuns de propaganda de Portugal, bilhetes postais ilustrados, caixas de fósforos, selos de propaganda, marcas industriais e comerciais, anúncios, estampas litografadas a cores destinadas para quadros, etc.

Panorama de Lisboa, ed. Tabacaria Costa, c. 1900.
Imagem: Bosspostcard

Nestes géneros tem florescido, desde o meado do século XIX, mas principalmente no último quartel, continuando-se pelo corrente [XX], uma numerosa série de brilhantes artistas, que muito têm honrado a arte nacional, e cujos nomes têm ultrapassado as nossas fronteiras, emparelhando com os dos melhores e mais afamados artistas estrangeiros.

Panorama de Lisboa, ed. A. Myre (detalhe), c. 1900.
Imagem: Delcampe

Além das vistas de Lisboa, dos seus monumentos e trechos panorâmicos, impressos ou estampados em papel, pergaminho e tecidos, muitos aspectos de Lisboa têm sido produzidos, desde o século XVI, em quadros a óleo ou aguarela, existentes em museus ou em casas de particulares, em objectos de cerâmica, em painéis de azulejo, em galvanoplastia, em artigos cunhados, etc.

Muitos são desconhecidos do público, por constituírem documentos únicos, guardados pelos seus proprietários, sendo quase impossivel obter de todos eles esclarecimentos completos.

A maioria das estampas, tanto as antigas como as modernas, não é datada, e algumas não mencionam o nome do artista que as produziu, o qual muitas vezes não é português.

Quando o citado ou o signatário é estrangeiro, nem sempre se conhecem os dados biográficos ou a época em que exerceu a sua actividade artística.
Todas estas faltas tomam muito difícil, ou mesmo impossível organizar a seriação cronológica das estampas com vistas panorâmicas ou dos monumentos de Lisboa.

Uma das outras dificuldades com que se luta entre nós para se obter uma lista ou relação iconográfica de Lisboa que se aproxime bastante da perfeição, é a falta, nas nossas bibliotecas públicas, dos livros a que pertencem muitas estampas que se encontram avulsas no mercado. 

Essa falta diligenciámos supri-la recorrendo a pedidos de informação no estrangeiro, no que nem sempre fomos bem sucedidos.

Durante o século XX a abundância de estampas de Lisboa, em livros, revistas, jornais e folhas soltas, assim como em quadros a óleo, a aguarela e a pastel, é tão grande, que a sua inventariação e classificação desafia a paciência mais beneditina, podendo sem receio de desmentido afirmar-se que seria trabalho para uma vida inteira, e a lista que se organizasse ficaria necessariamente imperfeita.

Praça do Comércio, comandante Cyrne de Castro aos comandos do seu Curtiss "Helldiver", 1955.
Imagem: Na Rota do Yankee Clipper

Essa abundância é devida não só à grande facilidade da fabricação de matrizes para tal produção, mas ao maior grau de apreço por esta manifestação artística, que o progresso da cultura geral do povo tem criado e estimulado. (1)


(1) Vieira da Siva, Augusto, Iconografia de Lisboa, Revista Municipal n.° 32, Câmara Municipal de Lisboa, 1947
 
Artigos relacionados:
Da fábrica que falece à cidade de Lisboa
Delícias ou descrições de Lisboa
Panorâmica de Lisboa em 1763

Leitura adicional:
Lisboa do século XVII "a mais deliciosa terra do mundo"

domingo, 30 de agosto de 2015

Originais de Robert Batty

Para o Museu da Cidade [de Lisboa] ofereceu Fernando Rau, coleccionador de arte, em especial de gravuras, de que era conhecedor profundo, pouco antes de morrer, uma valiosa colecçõo de nove pequenas aguarelas, a sépia, originais do tenente-coronel do exército inglês, Robert Batty (1789 - 1849), que estivera na Península, integrado no exército de Wellington, durante a Guerra Peninsular.

Robert Batty (pai) por W. Daniell (detalhe), 1810,
segundo G. Dance, 1799.
Imagem: Wellcome Library

Estes originais, que se vieram juntar a outros que aquele museu já possuia, fazem parte dos estudos daquele militar-artista, quando da sua estadia em Lisboa e que mais tarde foram reproduzidos em gravura no álbum "Select Views of some of the principal cities of Europe", publicado em Londres, em 1832.

Lisbon from Almada, Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830.
Imagem: Wikimedia

Entre os originais agora oferecidos figuram os estudos das gravuras reprodudas naquele álbum, sob os titulos Praça do Pelourinho; Lisboa vista de Almada; e Lisboa vista da capela de N.a Senhora do Monte.

Lisbon from the chapel hill of Nossa Senhora do Monte, Drawn by Lt. Col. Batty, 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Os restantes, que representam o Convento de N.a Senhora da Graça (três versões), a Torre do Bugio e uma paisagem ribeirinha não identificada, não foram reproduzidas naquele álbum.

Agumas gravuras de Robert Batty doadas por Fernando Rau.
Imagem: Hemeroteca Digital

Todos os aguarelas, cujas dimensões variam entre 0,028x0,037 e 0,072x0,123, estão assinadas. (1)


(1) Lisboa, Revista Municipal, II série, n.° 1, 1979

Mais informação:
Dictionary of painters and engravers, biographical and critical...
Robert Batty


Artigo relacionado:
Almada bélica e bucólica no século XIX

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Francisco Inácio Lopes

Francisco Inácio (Ignacio) Lopes (1806-1893)

Aos 21 anos licenciou-se pela escola médica de Lisboa, tendo logo evidenciado a sua rara habilidade para o exercício da profissão, que imediatamente iniciou na terra da sua naturalidade [Almada], o que levou a Câmara, com o apoio da opinião pública, a nomeá-lo médico do partido do município, em junho de 1830 [...]

Lisbon from Almada, Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830
Por decreto de 19 do corrente mes

Cirurgião Mór das Fortalezas e Baterias ao Sul do Tejo, sem vencimento algum, o Cirurgião do partido da Camara da Villa de Almada
Francisco Ignacio Lopes.

in Gazeta de Lisboa, n.° 131, 4 de junho de 1833.
[...] em 1850, aquando das eleições municipais, foi eleito vereador, e a Câmara em breve, o elegeu Presidente.

Por duas vezes e em épocas diferentes foi o dr. Francisco Inácio Lopes presidente da Câmara Municipal de Almada, onde realizou uma obra notabilíssima.

Vue de la rade et de la ville de Lisbonne
Imagem: Le Monde illustré, 1858, M. de Bérard.

Funda o Serviço de Socorros de Incêndios em 1850; manda construir poços em Vale de Rosal e Romeira; reedifica o chafariz da Fonte Santa; restaura o caminho novo para a Costa de Caparica, a calçada da Fonte da Pipa,

Vista parcial do Tejo, Casa da Cerca e estrada da Fonte da Pipa, 1858.
Aguarela, aut. desc., datada 14 de Março de 1858.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

a calçada da Trafaria, as estradas da Amendoeira, da Mutela e do Pombal, e promove muitas outras obras, entre as quais o cais de embarque e desembarque em Porto Brandão.

Enseada da Paulina, revista Branco e Negro n° 60, 1897 (ver artigo dedicado)
Imagem: Hemeroteca Digital

Contribui também para a construção da Capela do Cemitério; da Praça e Casa do Açougue; da Casa para a "Bomba", e, em 1860, voltando a ser presidente da Edilidade, promoveu a iluminação pública de Cacilhas e de Almada (luz de azeite).

Lisbonne
Imagem: L'Illustration, Journal Universel, 1860, Anastasi.

Finalmente, como último empreeendimento, manda construir o Grande Cais do Ginjal.

Cais do Ginjal, Óleo, Alfredo Keil
Imagem: Casario do Ginjal



Foi deputado às corte pelo círculo de Almada, vindo a ser reeleito três vezes até 15 de Janeiro de 1868 e, no ano de 1880, é novamente eleito procurador à Junta Geral do Distrito, o mesmo acontecendo no ano de 1886. (1)

Dr. Francisco Inácio Lopes.
Imagem: Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada
O resultado das eleições supplementares para deputados foi quasi todo favoravel ao ministério; apenas três candidaturas da oposição puderam vingar, e por pequena maioria: foram ellas as dos srs. Francisco Ignacio Lopes (cirurgião) [...]

in Diário do Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1860




(1) Correia, Romeu, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada, (nas Artes, nas Letras e nas Ciências), Almada, Câmara Municipal de Almada, 1978, 316 págs.

Mais informação:
Occidente n° 541, 1 de janeiro de 1894