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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Real Capella do Apostolo S. Simão (a festa annual)

A Meza da Real Irmandade de Nossa Senhora da Piedade dos Milagres, e da Victoria, da Cova de Mutella, limite da Villa de Almada, tem determinado fazer a festa annual da Invocação da sua Real Irmandade no presente anno da maneira seguinte:

Cova da Piedade, igreja Nossa Senhora da Piedade, década de 1970.
almaDalmada

No dia 28 do corrente, vespera da sua festividade annual, se cantará huma solemne Missa, por muzica vocal e instrumental, pela conservação da Preciosa Vida de Sua Magestade o Senhor Dom Miguel I, Augusto Protector Perpétuo da mesma Real Irmandade,

D. Miguel I e suas irmãs dando graças a Nossa Senhora da Conceição da Rocha, 29 de janeiro de 1829.
Cabral Moncada Leilões

finda a qual se fará a inauguração das Reaes Armas no frontespicio da Real Capella do Apostolo S. Simão, onde a mencionada Irmandade se acha erecta, com todas as demonstrações de jubilo em similhantes occasiões praticadas, e á noute illuminação.

Bandeira de D. João V, também armas reais de D. Miguel na bandeira nacional de Portugal de 1826 a 1830.
Wikipédia

No dia 29 se fará com muito maior pompa, que nos annos antecedentes, a festividade annual denominada, da Casa, com Missa solemne por muzica vocal e instrumental, Sacramento exposto todo o dia, á tarde segundas Vesperas de Nossa Senhora, e Te Deum em Acção de Graças pela conservação de Sua Magestade o Senhor Dom Miguel I no Throno de Seus Maiores, e pelas Mercês que o Mesmo Augusto Senhor foi servido liberalizar a esta Irmandade declarando-Se seu Protector Perpétuo, e concedendo á mesma, e á Capella em que se acha erecta, o Titulo, Honras, e Privilegios de Reaes;

Paroquianos no adro da igreja da Cova da Piedade.
Delcampe

á noute illuminação, e hum vistoso fogo de artificio, havendo em ambos os dias e noutes muzica de arraial: sendo Oradores, no Sabbado á festividade o Muito Reverendo Padre Mestre Frei Francisco da Piedade; no Domingo de manhã, o Muito Reverendo Padre Mestre Frei Pedro da Purificação Alves Preto; e de tarde o Muito Reverendo Padre Mestre Frei José Machado, todos Prégadores Regios, e Dominicos. (1)


(1) Gazeta de Lisboa, 18 de agosto de 1830

Artigos relacionados:
S. Simão das Barrocas
Nossa Senhora da Piedade

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Entrada em Lisboa no dia 24 de julho de 1833

Segundo Eschwege [Wilhelm Ludwig von], e Chaumeil de Stella [Essai sur l'histoire du Portugal...], o exercito de D. Miguel compunha-se neste tempo de 5 divisões, e de uma columna movel:  

D. Miguel de Bragança (detalhe) por Johann Nepomuk Ender, 1827.
Google Arts & Culture

a 1.ª divisão occupava Lisboa sob o commando do Visconde do Pezo da Regua;
a 2.ª estava acantonada em Alcobaça e Caldas, e apoiava o seu flanco esquerdo em Torres Vedras: obedecia ao general Povoas;
a 3.ª occupava Torres Vedras e Cintra, sob as ordens de Pinto, e estendia-se além daquellas duas povonções;
a 4.ª, capitaneada pelo Visconde de Santa Martha, existia no Porto e margens do Douro;
a 5.ª divisão estava posta á disposição do governador do Algarve Visconde de Modelos;

Le Portugal et l’Europe en 1829.
Du Tage à l'Eridan épouvantant les Rois / Fait crouler dans le sang les Trônes et les lois!
La fortune toujours du parti des grands crimes / Les forfaits couronnés devenus légitimes!

Google Arts & Culture


ao sul de Lisboa entre Almada e Setubal, manobrava a columna movel, que era cumposta de milicianos.

O exercito permanente era formado das tropas seguintes: 

3 regimentos de artilheria com 29 peças e 7 obuzes; 8 regimentos de cavallaria e 5 esquadrões de policia (5:346 homens com 2:852 cavallos), 
16 regimentos de infanteria, 4 ditos de sapadores, e a guarda da policia (24:136 homens), 
e além disto 49 batalhões de realistas (18.336 homens e 209 cavados), 
e 50 regimentos de milícias (27:508 homens), os quaes se não serviam muito para o serviço do campo, podiam comtudo ser aproveitados para guarnições. (1)

Bandeira de Caçadores n° 7 com legenda.
Elucidário Nobiliarchico

A conhecida diversão para o Algarve, que elle imaginou, e tão felizmente conduzio, é um dos períodos mais brilhantes da carreira militar do actual Duque da Terceira.

Duque da Terceira (detalhe) por John Simpson, após 1834.
Imagem: Parques de Sintra

Desembarcou á testa de 2:500 homens em Cacella na costa do sul do Algarve a 21 de Junho de 1833;

Historical military picturesque..., George Landmann, Faro.
Biblioteca Nacional de Portugal

atravessou velozmente esta província, e o Alemtéjo, e por meio de um rápido movimento illudio o general Mollelos, que o aguardava em Beja com 6:000 homens, e obteve deste modo sobre elle um avanço de dois dias;

accommetteu Setúbal;

Historical military picturesque..., George Landmann, Setúbal.
Biblioteca Nacional de Portugal

bateu a 21 de Julho a divisão do brigadeiro Freitas, e a 23 Telles Jordão em Cacilhas; 

e na manhã do dia 24 entrou em Lisboa, a qual tinha abandonado poucas horas antes o duque de Cadaval [v. Rezumida noticia da vida de d. Nuno Caetano Alvares Pereira de Mello...] com forças quatro vezes superiores, apesar de que a largura do rio, e uma numerosa artilheria facilitavam tanto a defeza, que a menor resistência de Cadaval teria posto o duque da Terceira na impossibilidade até de ousar um attaque sobre Lisboa.

Historical military picturesque..., George Landmann, View up the Tejo.
Biblioteca Nacional de Portugal

Mau grado lodos estes obstáculos, o general de D. Pedro estava tão seguro do resultado, que na vespera, quando ainda as tropas de Cadaval guarneciam Lisboa, escreveu ao Imperador annunciando-lhe a tomada da Capital.

Tenho em meu poder o original desta carta memorável; é o seguinte o seu contheudo: 



— Senhor! Tenho a honra de annunciar a Vossa Magestade, que neste momento acabo de bater completamente as tropas de Telles Jordão. 3 esquadrões, 15 peças, e 700 homens d'infanteria acham-se em meu poder.

O comportamento das forças do meu commando fica acima de todo o elogio. Espero datar do Castello de Lisboa o meu proximo bolletim. 

Beijo respeitosamente as mãos de Vossa Magestade.

— Duque da Terceira. — Cacilhas em 23 de Julho de 1833.


Sobre este officio, que tem o cunho da modéstia, e da simplicidade dos antigos, escreveu a rogos meus a formosa Duquesa da Terceira o seguinte sobrescripto: — Carta do Duque da Terceira ao imperador ua vespera da entrada em Lisboa.

Pátria coroando os seus heróis, Veloso Salgado, 1904.
Museu Militar de Lisboa, Sala das Lutas Liberais (ex Sala das Campanhas da Liberdade).
Maria João Vieira Marques

Tomei a liberdade de lhe propôr que substituísse por tomada a palavra entrada, ao que retorquiu immediatamenle o Duque "Tomada tido, porque o inimigo náo sustentou a sua posição; foi unicamente uma entrada", o Quantos aflatuados redactores de bulletins seriam capazes de dar uma resposta semelhante? (2)


(1) Felix Lichnowsky, Portugal. Recordações do anno de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1845

Alguns artigos relacionados:
23 de julho de 1833, a Batalha da Cova da Piedade, por Charles Napier
Derrota dos Miguelistas em Cacilhas

Wikipédia:
Duque da Terceira
António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha

Mais informação:
Elucidário Nobiliarchico, Apontamentos àcêrca das Bandeiras e Estandartes regimentais...
Arquivo Municipal do Porto (Documentos com referência a Cerco do Porto...)
Portuguese Civil Wars (facebook)
Portuguese Civil Wars (facebook): files
Portuguese Civil Wars (facebook): photos

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O Escoveiro (á Cova da Piedade)

No tempo de D. Miguel havia reuniões, a que se chamavam frescatas, termo favorito de um também engraçado, franco e generoso conviva, e que depois tomou por apellido Frescata, João Maria Frescata, cavalheiro de fino trato, que bem merecia ter um fim mais feliz do que teve (F. J. de Almeida, Apontamentos da vida de um homem obscuro, pag. 137).

Retrato de D. Miguel I, João Baptista Ribeiro, c. 1828.
Imagem: MNSR

Nas frescatas nas hortas dos arredores da Lisboa de 1833, guitarreavam-se modinhas. Assim acontecia na Gertrudes da Perna de Pau, no Manuel Jorge, ás portas de Sacavem, no Zé Gordo, na calçada de S. Sebastião da Pedreira, no Quintalinho, á Cruz do Taboado — onde se vendiam iscas de vitella espetadas em palitos — e no Calazans, á Cruz dos Quatro Caminhos.

Uma borga na horta das tripas, Raphael Bordallo Pinheiro, O António Maria n.° 305, 1891.
Imagem: Hemeroteca Digital

Nas suas succedaneas de 1846, já se guitarreava o fado, como succedia na Horta das Tripas, no Escoveiro (à Cova da Piedade), no Ezequiel ao Dafundo, no Miséria da estrada de Palhavã, na Vitelleira da travessa dos Carros, na Rabicha, no Campo Pequeno, no Arco do Cego, na Madre de Deus e no Beato António [...] (1)

*
*     *

Durante a mocidade de nossos paes, a Cova da Piedade foi celebre pela casa de pasto do antigo Escoveiro, theatro de memoráveis noitadas de amor e de batota.

Vista Geral — Cova da Piedade ed. desc., década de 1900
Imagem: Delcampe

O pretexto da concurrencia ao Escoveiro era a sua afamada sopa de camarões e os salmonetes, que elle preparava do um modo especial, mettendo-os no forno envoltos n'um papel com manteiga, e servindo-os em sumo de limão, polvilhados de pimenta. 

Uma belleza! Comidos os salmonetes, armava-se a mesa do monte e muitos dos estroinas celebres da terrível Lisboa de ha trinta annos abancavam ao jogo até o outro dia pela manhã.

Chafariz do Pombal, Almada, ed. desc., década de 1900.
Imagem: Delcampe

N'uma noite que lhe deveria ter ficado de memória, o pobre Escoveiro deixou as caçarolas, para ver a jogatina, em que se faziam, paradas de cincoenta moedas, e arriscou de porta um cruzado novo. 

Cruzado novo foi elle, qua puxou atraz de si para o panno verde, dentro de pouco tempo, toda a linda fortuna que o Escoveiro accumulara om longos annos de sabia economia e de lucrativa gloria culinária. 

Cova da Piedade, zona rural, Francesco Rocchini, anterior a 1895.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

O infortúnio do estalajadeiro destingiu lugubremente na estalagem, e toda clientella — noivados, que por vezes vinham aos sabbados com os padrinhos, os parentes e os convidados celebrar os bodas com um jantar; raparigas alegres, rapazes patuscos, simples burguezes, pacatos amantes da boa mesa, e os próprios batoteiros, — fugiu, como de um lugar sinistro, da assignalada casa do Escoveiro arruinado.

Almada [Cova da Piedade], Uma Burricada, ed. Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 14, década de 1900.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

Ainda hoje, depois de tantos annos, o prédio respectivo, á entrada da estrada de Cezimbra, sempre fechado, de frontaria apalaçada, mas ennegrecida, tem como um ar de desgraça. (2)


(1) Pinto de Carvalho (Tinop), História do Fado, Lisboa Empreza da História de Portugal, 1908
(2) Ramalho Ortigão, Gazeta de Noticias, 7 de dezembro de 1886

domingo, 30 de agosto de 2015

Originais de Robert Batty

Para o Museu da Cidade [de Lisboa] ofereceu Fernando Rau, coleccionador de arte, em especial de gravuras, de que era conhecedor profundo, pouco antes de morrer, uma valiosa colecçõo de nove pequenas aguarelas, a sépia, originais do tenente-coronel do exército inglês, Robert Batty (1789 - 1849), que estivera na Península, integrado no exército de Wellington, durante a Guerra Peninsular.

Robert Batty (pai) por W. Daniell (detalhe), 1810,
segundo G. Dance, 1799.
Imagem: Wellcome Library

Estes originais, que se vieram juntar a outros que aquele museu já possuia, fazem parte dos estudos daquele militar-artista, quando da sua estadia em Lisboa e que mais tarde foram reproduzidos em gravura no álbum "Select Views of some of the principal cities of Europe", publicado em Londres, em 1832.

Lisbon from Almada, Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830.
Imagem: Wikimedia

Entre os originais agora oferecidos figuram os estudos das gravuras reprodudas naquele álbum, sob os titulos Praça do Pelourinho; Lisboa vista de Almada; e Lisboa vista da capela de N.a Senhora do Monte.

Lisbon from the chapel hill of Nossa Senhora do Monte, Drawn by Lt. Col. Batty, 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Os restantes, que representam o Convento de N.a Senhora da Graça (três versões), a Torre do Bugio e uma paisagem ribeirinha não identificada, não foram reproduzidas naquele álbum.

Agumas gravuras de Robert Batty doadas por Fernando Rau.
Imagem: Hemeroteca Digital

Todos os aguarelas, cujas dimensões variam entre 0,028x0,037 e 0,072x0,123, estão assinadas. (1)


(1) Lisboa, Revista Municipal, II série, n.° 1, 1979

Mais informação:
Dictionary of painters and engravers, biographical and critical...
Robert Batty


Artigo relacionado:
Almada bélica e bucólica no século XIX

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Caramujo, romance histórico (4/18), o veterano da bandeira


FOLHETIM
O VETERANO DA BANDEIRA

I


Ouvindo o troar da artilheria, que annuncia á família liberal uma grande festa; e vendo o desfilar do cortejo cívico, que nos aviva um notável facto da historia contemporanea, inscripto com letras de oiro nos fastos nacionaes, notamos uma falta: entre aquelles beneméritos, cujos cabellos encaneceram no serviço da pátria e da liberdade;
Este capitulo, ou trecho, foi escripto para o Diário Illustrado, de julho 1879, e agora sáe com algumas notas que para ahi não pude mandar.
entre aquelles cidadães, cujas virtudes e cuja dedicação patriótica, foram acrisoladas por infinitas provações; entre aquelles semblantes requeimados pelas insolações em numerosas marchas, pelas descargas de cem refregas e combates;

entre aquelles veteranos, exemplares de abnegação e heroismo; entre as figuras venerandas d'aquelle cortejo sympathico, que milhares dos do povo rodeiam com sinceridade e enthusiasmo, pelo que vale e pelo que symbolisa; entre aquelles homens falta um:

António Silva, o veterano da liberdade, Diário Illustrado, 24 de julho 1879.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

É o que a gravura do Diario Illustrado representa hoje, e do qual me coube a honra n'estas paginas, a quem tem dado tamanho lustre escriptores esclarecidos de deixar aqui algumas notas biográficas;

É o de um veterano, popular, que soube aliar o respeito e a amisade dos grandes e humildes, porque elle era grande pelo seu coração e pela sua inexcedível bravura; e humilde pelo seu berço e pelo seu viver chão, simples, patriachal;

É, emfim, o Silva das Barbas brancas, como o cognominava o povo, quando elle em dias duplices lançava para fóra do fino peitilho da camisa aquellas alvissimas barbas, que lhe davam o aspecto dos homens bons e de bom conselho de tempos áureos; é o Veterano da Bandeira, como depois o appellidaram quando foram inaugurados os festejos do 24 de julho.
Esta commemoração deixou de fazer-se por circumstancias politicas, que não vem para aqui referirem-se; mas a principal, no meu entender, foi a do esmorecimento na lembrança de factos, que não deviam esquecer para lição dos vindouros (Aranha, Pedro Wenceslau de Brito, op. cit.).

Ao comtemplar o seu retrato parece-me ainda vél-o: sadio, rosado, alegre como um moço, risonho como se o sol d'aquelle memorável dia fosse o sol do melhor dia das suas primaveras; direito como um recruta, não vergando ao peso dos annos, mas erguendo o rosto com certo desvanecimento para a bandeira, que era para elle, — e para todos nós, filhos da grande familia liberal, — a sua idéa constante, o seu symbolo, a religião da liberdade!


II


Pensava-se em outro tempo, e divulgava-se que as biografias só podiam fazer-se dos grandes embora elles não tivessem a recomendalos senão os pergaminhos e os serviços dos antepassados; e isto acreditava-se, tanto mais quanto era certoque a lisonja cortezã o traduzia em facto;

pois as idéas modernas transformaram o uso, e se se deu aos grandes, que realmente o são, por suas virtudes e qualidades, o preito sincero e condigno do respeito e admiração, tambem não se pode hoje regatear se aos humildes, que se levantaram a maior altura na cooperação para a victoria dos nobres princípios o elogio que lhes cabe pelas suas nobres acções e o lugar que lhes pertence no pantheon glorioso dos que se distinguiram em prol da pátria.

Não tiremos um desses logares a Antonio da Silva.

O venerando ancião nasceu aos 31 de julho de 1801 no logar de Adão Lobo, termo da villa do Cadaval; e veiu para Lisboa fugido com a sua familia, e a pé, não tendo ainda 7 annos de edade, quando Junot invadiu Portugal com as forças do seu commando.

Percorrendo a pé as doze léguas que o separavam da capital, e vendo já afflicta a familia porque fugia da sua terra sem recursos, e sem pão, era descer o primeiro degrau na escala da adversidade.

Chegando a Lisboa, a familia Silva teve que separar-se do seu pequeno Antonio e entregal-o ao cuidado das pessoas, que o protegeram na mocidade.

Discorreram, portanto, os primeiros annos da sua estada na capital sem incidente notavel, embora conhecessem os amigos que António da Silva roubava algumas horas ao trabalho e ao descanso para se relacionar com os homens de esphera mais elevada e tomar conhecimento das occorrencias politicas, enthusiasmando-se com o alvorecer das idéas liberaes que trouxeram, na proeminencia dos factos contemporaneos, Fernandes Thomaz, Ferreira Borges, fr. Francisco de S. Luiz e outros beneméritos, e pelos esforços destes inclitos varões, o 24 de agosto de 1820 [pronunciamento militar do Porto, que levou à formação da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino presidida pelo brigadeiro António da Silveira Pinto da Fonseca, e ao inicio do periodo conhecido como vintismo].

Porém, no meio dos seus enthusiasmos, António da Silva pagava o tributo da mocidade prendendo-se n'uns sinceros amores a uma joven de apreciáveis dotes do coração, D. Joanna Francisca da Costa e Silva, filha de um bom homem de Lamego, Manuel da Costa Telles Almas.

Em 1821 encontramol-o já casado, mas interrompida a lua de mel por uma eventualidade da politica, que o tirava dos braços affectuosissimos da esposa para o arremessar ás rudes fainas da caserna.

Tinham n'o intimado para sentar praça, e elle foi alistar-se no regimento de milícias de Lisboa Occidental [sic, i.e. Oriental (n. do e.).], mais conhecidas por milicias de D. Jorge, ficando primeiramente na 3.a companhia d'esse corpo, e depois na de granadeiros.

A agitação revolucionaria da época; a convivência com alguns homens que acreditavam religiosamente que o 24 de agosto vingaria contra as dificuldades oppostas pelo partido contrario; a vida de quartel, que dá novos hábitos, e altera essencialmente as condições da existência caseira e patriachal, — abriram-lhe um período que entregou Antonio da Silva ás oscilações e aos abysmos da politica.


III


É geralmente sabido, que os dois primeiros quarteis d'este século foram povoados de successos que davam muitos volumes e que pela maior parte estão inéditos.

Ainda mais: muitos acontecimentos passaram sem registo particular, nem publico, e seria hoje extremamente difficil reunir todas as notas para dar inteiro relevo ás paginas da historia contemporanea n'uma serie, pelo assim dizer, ininterrupta de incidentes, de acção e reacção, de estímulos, odios, perseguições, vinganças, que a liberdade protegia em seu interesse, mas offuscando o seu brilho;

e que ao mesmo tempo a liberdade repellia para tornar mais vivida a sua luz; uma época de combates, de lutas terríveis e homericas, que parecia ser impossível empreenderem-se se milhares de testemunhos não o confirmassem:

porque a 1820 succedia 1824 [Vilafrancada, insurreição liderada pelo Infante D. Miguel, em 27 de maio de 1824]; a esta data seguia-se 1828 [inicio do reinado de D. Miguel, legitimado pelas Cortes, em 11 de julho de 1828]; depois vinha 1829 [revolta cartista em Lisboa, em 9 de Janeiro de 1829, comandada pelo brigadeiro Moreira Freire, em 6 de março os revoltosos são enforcados no Cais do Sodré] e 1834 [assinatura da Convenção de Évora Monte, diploma assinado entre liberais e miguelistas, em 26 de Maio de 1834, que pôs termo à Guerra Civil Portuguesa (1828 - 1834)]; depois 1836 [revolução de Setembro, golpe de estado ocorrido em Portugal a 9 de Setembro de 1836, quando chegaram a Lisboa os deputados oposicionistas do norte; Belenzada, contra-golpe de inspiração cartista, que ocorreu na noite de 4 de novembro de 1836], 1837 [revolta dos Marechais, 12 de julho de 1837, sublevação militar fracassada contra o governo de Sá da Bandeira, de inspiração cartista contra o setembrismo, encabeçada pelos duque da Terceira, e duque de Saldanha], 1838 [revoltas de março. Juramento da nova Constituição pela Rainha em 4 de abril de 1838], 1840 [tumultos em Lisboa, no Largo da Estrela, em 11 de agosto de 1840, data do aniversário da vitória liberal na ilha Terceira], 1844 [pronunciamento militar setembrista, em 4 de fevereiro de 1844, em Torres Novas], 1846 [revolução da Maria da Fonte, sublevação popular no Minho em 15 de abril de 1946. Guerra Civil da Patuleia, iniciada a 9 de outubro e finda em 29 de junho de 1847, com a assinatura da convenção do Gramido].

Antonio da Silva, pelo seu caracter, pela sua actividade, pelo seu patriotismo que o convencerade que a felicidade para a sua nação só viria pela liberdade, achou se repetidas vezes com risco de vida própria e oi maior sacrifício da sua familia, envolvido no mais aceso das contendas dos partidos, pendendo sempre o seu trabalho e os seus esforços para o mais avançado.

Assim, na Abrilada, na proclamação do infante D. Miguel, na conspiração do brigadeiro da brigada de marinha, na revolução de Setembro, na revolta dos marechaes, na desastrada lucta da guarda nacional, na sedição de Miguel Augusto, na sublevação de Almeida, na Maria da Fonte, o veterano Silva teve o seu papel, que desempenhou como um heroe, principalmente no espantoso periodo de 1828 a 1834.

Medalha das Campanhas da Liberdade
Imagem: Wikipédia

Na conspiração de 1829, conhecida pela do brigadeiro da brigada de marinha, Antonio da Silva foi preso com outros.

N'uma occasião em que iam a perguntas, com uma forte escolta de armas carregadas, e acompanhados pelo coronel das milícias Andrade Corvo, passou D. Miguel a cavallo e seguido do piquete que o acompanhava nas suas correrias pela capital. Um dos presos, voltando-se para os companheiros, disse-lhes:

— Ahi vae o rei! Curvemo-nos deante d'elle para alcançarmos o perdão!
Antonio da Silva, vivo e prompto nas respostas, acudiu:
— Quem falla ahi em perdão? Só os criminosos é que o imploram!

Os presos calaram e a escolta seguiu o seu destino.

O coronel Corvo, que estimava muito o nosso veterano, apesar de o conhecer exaltado, tambem fingiu que não ouvira aquellas phrases, e não ocorreu outra novidade.


IV


Antonio da Silva, viveu, no Bairro Alte, em tres casas: na rua dos Calafates, onde hoje vemos a farmácia do sr. Oliveira Abreu; na travessa da Queimada, n'um prédio que em os n.os 42 e 43; e na rua da Barroca, n'um rez-de chaussée que tem o n.° 22.

O bairro Alto, de 1828 a 1833, se foi, como ainda sabem numerosas pessoas, foco de conspiradores e conspirações; foi igualmente a estação de homens, beleguins [agente policial ou judicial, esbirro] e espiões, que o povo temia e detestava.

Como centro de reunião de liberaes eram aqui apontadas, especialmente, dois locaes: o palácio do nobre marques de Ficalho, que fez todo o mal que poude ás insólitas pretensões dos partidários do infante D. Miguel, para que trumphasse a causa justa dos amigos dedicados do imperador D. Pedro IV e de sua augusta filha a sr.a D. Maria II; e a humilde casa de Antonio da Silva.

Os espiões titulares, segundo a voz do povo, não tiravam os olhos d'essas casas, e parecia que se reproduziam para as vigiar. Ás esquinas das ruas da Barroca, do Carvalho e dos Caetanos, era certo encontrar-se a cada instante ou o Manuel Quadrilheiro; ou o Matta Espião, de quem a populaça se vingou no dia 24 de julho; ou o Senhor dos Passos de Argel, ou o Segeiro, da rua dos Calafates, ou o Louceiro, do Loreto, e outros sujeitos, que tinham fama n'essa epoca pelas suas proezas; e tambem, sem duvida, com taes olheiros e espiões, não faltou na intendência da policia a nota dos passos, hora a hora, das pessoas suspeitas, o que por então nada tinha de extraordinario.

A pobre casa da rua da Barroca era, á noite, como um formigueiro de liberaes e conspiradores. Ali recebiam a Chronica constitucional, do Porto que um lia em voz alta para os demais ouvirem;

ali recebiam noticias e papeis avulsos clandestinos; ali ajustavam planos de ataque e defeza contra a vigilância da policia; ali, emfim, faziam contratos sobre a deserções para o Porto.

Entre as damas, que auxiliavam a causa liberal, figurava em primeira linha a sr.a D. Joaquina de Lencastre, depois viscondessa do Roguengo e condessa de Avilez celebrada esposa do general Jorge de Avilez. Morava na Junqueira. Todos sabiam que ninguem a dominava nas suas convicções, que ninguem podia excedel-a nos sentimentos que a impeliam para trabalhar em prol do restabelecimento do throno da sra.a D. Maria II.

Estava ella ao corrente do que se fazia em Lisboa para contrariar o governo do infante D. Miguel, a augmentar as forças dos defensores do Porto. Mandou por isso chamar o Antonio da Silva e disse-lhe:

— Conto com o sr. Silva.
— Para que, minha senhora? Valho pouco...
— Pelo contrario, sei que uma pessoa póde fiar-se na sua lealdade e no seu braço?
— Para a defender, sim, minha senhora, o meu braço valerá alguma cousa.
— Não preciso agora de defeza sr. Silva; tenho o meu coração que me resguarda de perigos; mas para defendermos uma causa...
— Dirá v. ex.a.
— É o meu trabalho todos os dias Encontramo-nos nas aspirações.
— Bem o sabia.
— Que devo fazer?
— Vou fornecer-lhe algum dinheiro. Com elle o sr. Silva alliciará soldados, paisanos, todos que queiram prestar se a ir socorrer os nossos amigos no Porto. — Prompto; corro já a executar as suas ordens, ainda que me custe a vida.
— Obrigada! Obrigada!

Dentro de alguns dias, António da Silva tinha conseguido fazer sair de Lisboa para o cerco do Porto não menos de 170 homens, alguns mantimentos, armas e roupas.

O seu processo era simples e arriscadissimo. Disfarçava-se, ora de um modo, ora de outro; e ás vezes com trajes femininos, capote e lenço, e assim acompanhava os que partiam de Lisboa até ás estancias [armazéns, ancoradouros] da Boa Vista, aproveitando as saídas d'ellas para a praia, ou para os boqueirões [aberturas, canais], onde embarcava aquelles homens em escaleres inglezes, que protegiam a fuga para bordo dos seus navios.

A estes actos audaciosos juntou elle um,, que fez com que os espias do Bairro alto, que umas vezes semostravam benévolos para com Antonio da Silva, outras o temiam, e outras precia quererem perseguil-o, fitassem a sua cabeça levantada e orgulhosa como ornamentação obrigada das forças que se erguiam para o martyrio dos liberaes.

Tinham-lhe nascido no lar, açoutado por variadas comoções, dois gemeos. A esposa mostrou-lh'os dizendo:

— Um menino e uma menina.
— Ainda bem! Terá um o nome de Pedro de Alcantara e a outra o de Maria da Gloria; e se não posso rogar ao imperador para ser meu compadre, elle saberá como baptisei estes filhos.

Toda a freguesia da Encarnação fallou deste facto. O baptisado effectuou-se na hora mais adiantada do dia. As criancinhas iam vestidas de azul e branco. Trinta convidados de gala, com laços azues e tochas acesas. Era de dar nas vistas. Foi uma cousa inacreditável. Não se podia exceder em temoridade.

N'esse dia os quadrilheiros deixaram-n'o em paz; mas em melhor occasião, assaltaram-lhe a casa, e se elle senão lembrasse de fugir para a de um vizinho, e, esconder-se no panno da chaminé, não teria saido de novo incólume das suas redes. Protegia-o boa estrella!

Na vida do nosso veterano deparam-se-me muitas d'essas acções de ousadia e temeridade; e tanto que nunca lhes faltaram os documentos mais honrosos de officiaes e superiores, durante o tempo que serviu no exercito, e na alfandega, onde esteve por muitos annos e onde se reformou.


V


Os veteranos, seus companheiros, deviam-lhe serviços de valia sendo os mais importantes a fundação da associação dos veteranos da liberdade, de que elle foi thesoureiro;

e as instancias, junto de velhos amigos seus nas duas casas do parlamento, para que o estado tirasse da miséria a que estavam condemnados alguns desses benemeritos, que derramaram o seu sangue em defensa dos princípios liberaes.

António da Silva, o Veterano da Bandeira, falleceu com 78 annos de edade em junho d'este anno, tendo ao lado seus três filhos, que lhe restavam de quatorze, e que o honravam, os srs. Francisco Emygdio da Silva , primeiro tachygrapho da camara dos deputados;
Já falleceu. Era um santo homem. Estimavam-no todos no quadro tachygraphico e respeitavam-no porque sabia muito bem da sua profissão. O que muitos ignoravam era que elle, filho devotado e obediente, educado sem alardos e com a sobriedade de um portuguez de lei, depois de emancipado e depois de exercer sem faltas e com brilhantismo a sua profissão, em que adquirira um primeiro logar, quando recebia o ordenado ia religiosamente entregá-lo aos paes para que o applicassem como entendessem nas despezas geraes da casa, reservando-lhe apenas o de que elle necessitasse para gastar com a renovação do seu vestuário. Prescindia de commodos e de modas. Exemplar filho! (Aranha, Pedro Wenceslau de Brito, idem)

Antonio Avelino Amaro da Silva, antigo capitão de navios e engenheiro civil;
Esteve no Brasil e ve-io de lá com alguns meios ganhos em serviço de engenharia, sobretudo em medição de terrenos no interior da província do Rio de Janeiro, onde se relacionira com alguns brasileiros de representação, como o fallecido Joaquim Saldanha Marinho. Também já é fallecido [falecera em 1889]. Aqui viveu modestamente e de vez em quando escrevia alguma cousa para umas memorias intimas, que não chegou a publicar. Deu ao prelo um romance histórico baseado em factos das campanhas da liberdade. Descreve com acerto e em boa linguagem o que passou, no concelho de Almada, quando as limitadas forças liberaes trouxeram á ponta de baioneta a tropa do commando de Telles Jordão até Cacilhas, onde foi morto esse famigerado official miguelista, ao qual não faltava bravura e crueza. Este trabalho foi muito bem recebido e elogiado. (Aranha, Pedro Wenceslau de Brito, idem, ibidem)

e Christiano Gerardo da Silva , professor de musica e distincto artista.
Foi um violinista distincto e por vezes regeu orchestras em salões particulares e theatros. Está retirado da vida artistica. É proprietário em Lisboa. Vive, edoso e doente. (Aranha, Pedro Wenceslau de Brito, idem, ibidem)

Tinha a medalha com o algarismo 5 das campanhas da liberdade e a junta do Porto, por um acto de bravura, concedera-lhe a Torre e Espada, em 1846.

Medalha da Torre e Espada
Imagem: Presidência da República Portuguesa

Comecei a conhecer e estimar este bom ancião por 1849 ou 1850. Preparava-se a regeneração. Elle auxiliava, como podia, os que conspiravam em Lisboa desde os desastres da Maria da Fonte, e exclamava:

— Se os Cabraes matam a liberdade, expulsemos os Cabraes!

Dias antes de morrer, visitei-o e abracei-o. A sua despedida foi:

— Aproxima-se o dia 24 de julho. Não vê o meu estado?... Tenho os pés na cova. O meu desejo era, sequer uma vez, poder abraçar a minha bandeira...

Bandeira nacional de Portugal de 1830 a 1910.
Bandeira usada pelos Liberais.
Imagem: Wikipédia

Parou como se estivesse cansado; mas o cérebro d'elle funcionava regularmente. Uma lagrima perdeu-se-lhe por entre as rugas do rosto. E acrescentou:

— Paciencia! Termina a minha peregrinação. Ahi ficam os meus filhos. Amei-os tanto como a liberdade...

E dizia a verdade.
O António da Silva, pela sua dedicação á causa liberal, pelo respeito á memoria do imperador e rei D. Pedro IV e do seu dilecto general Sá da Bandeira, que tantos serviços prestou com grandíssimo sacrifício do seu sangue e dos seus haveres para a consolidação do throno da rainha D. Maria II, nao se esquecera nunca dos seus companheiros, que se oppuzeram com brio e tenacidade aos desvarios e oppressões ignominiosas da usurpação miguelina, e auxiliava, dentro das suas pequenas forças monetárias, para lhes minorar a miséria.

Foi um dos que mais poderosamente contribuíram para a creação da Associação dos Veteranos da Liberdade.

Refere Simão José da Luz, na sua interessantíssima biographía do ínclito Marquez de Sá da Bandeira, quando descreve no tomo nas exéquias solemnes celebradas na parochial egreja da Encarnação, em suffragio da alma desse que foi valente e sábio militar, que á porta da mesma egreja estava um respeitável veterano a pedir que o auxiliassem na obra de caridade a favor dos companheiros daquelle general que, por doença ou indigência, nào podiam comparecer naquelle piedoso acto.

O Marquez fallecera em Lisboa no dia 7 de janeiro 1876 e o cadáver foi transportado para o cemitério de Santarém, com as honras devidas, onde ficou em campa, com o epitaphio determinado em nota testamentária do illustre finado.

As exéquias solemnes realisaram-se no dia 21 de fevereiro do citado anno, proferindo a oração fúnebre o afamado orador sagrado, rev. cónego da Sé de Braga, Alves Matheus. Na pag. 509, do mencionado tomo II, lê-se esta singela nota: "Á porta do templo pedia esmola para os pobres soldados da liberdade o fundador da Associação dos Veteranos, o sr. António da Silva, que ainda pôde realizar a quantia de 15$500 réis." (Aranha, Pedro Wenceslau de Brito, idem, ibidem)

23 de julho, 1879.

Brito Aranha. (1)



(1) Aranha, Pedro Wenceslau de Brito, Factos e homens do meu tempo, memórias de um jornalista, Lisboa, A.M. Pereira, 1908, 1042 págs.

domingo, 9 de março de 2014

Almada bélica e bucólica no século XIX

Se dilemas há que nunca existiram, outros perduram sem que deles haja notícia.

William Page (1794 - 1872), topógrafo e pintor de paisagens, durante a Guerra Penínsular (1809 - 1814) fez o esboço daquilo que podia observar do campo do convento de S. Paulo.

Era Marechal de Campo Arthur Wellesley (1769 – 1852), o Duque de Wellington.

O esboço de Page, mais tarde, foi passado a desenho por Clarkson Frederick Stanfield (1793 – 1867), pintor de marinhas.

Pode ter sido na transcrição do esboço para o desenho que surgiu a grafia "Almeida" relativa ao topónimo Almada.

Desse desenho foi aberta uma gravura, pelo buril de Edward Francis Finden (1791–1857).

A gravura foi publicada, entre outros, em Finden's Landscape Illustrations to Mr. Murray's First Complete and Uniform Edition of the Life and Works of Lord Byron, London, John Murray, 1832, com o título "Lisbon from Fort Almeida [sic]".

Lisbon from Fort Almeida [sic], Drawn by C. Stanfield from a Sketch by W. Page, Engraved by E. Finden, Fieldmarshal The Duke of Wellington

Robert Batty (1789 – 1848), ilustrador e topógrafo, serviu na Guerra Peninsular (1809 - 1814) tendo sido ferido.

Regressou a Portugal (1826 - 1827) como Ajudante de Campo do General William Henry Clinton (1769 –1846) no apoio à jovem rainha D. Maria II (1819 - 1853) e à causa liberal.

Durante esse período, que precedeu a Guerra Civil Portuguesa ou Guerras Liberais (1828 - 1834), Batty fez um esboço daquilo que podia observar do campo do convento de S. Paulo..

Desse desenho foi aberta uma gravura, pelo buril de William Miller (1796 – 1882).

A gravura foi publicada em Select Views of some of the Principal Cities of Europe, London, Moon, Boys, and Graves, 1832, com o título "Lisbon from Almada".

Lisbon from Almada, Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830