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terça-feira, abril 17, 2012

"Titanic" na teia do 3D

O caso do lançamento de Titanic em versão a três dimensões envolve um inevitável efeito sintomático: afinal, o 3D é um espaço criativo ou um "truque" promocional? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (15 Abril), com o título 'O mercado contra os actores'.

Hoje em dia, que é feito dos actores de cinema? Ou melhor: que está a acontecer com os actores no cinema? A pergunta justifica-se, quanto mais não seja porque o mercado os vai apagando de forma mais ou menos metódica da promoção dos próprios filmes. Não que o mercado (distribuição/exibição) seja, por si só, um gerador de padrões culturais e tendências de consumo. Mas é um facto que muitas das suas opções são um espelho revelador das tendências mais gerais do universo cinematográfico.
O incremento industrial e comercial do digital deu origem a uma blague sintomática: graças aos novos recursos técnicos, tornou-se possível dispensar os actores, colocando no seu lugar... corpos digitais. Em todo o caso, o que está a acontecer vai mais fundo. Observe-se à nossa volta: The Hunger Games/Os Jogos da Fome é encarado como uma hipótese de lançamento de uma nova “franchise” (não como uma eventual confirmação do talento de Jannifer Lawrence); Fúria de Titãs apresenta-se como uma avalancha de gritos, ruídos e explosões (sendo indiferente a presença no elenco de nomes como Liam Neeson ou Ralph Fiennes); Espelho Meu, Espelho Meu... comete mesmo a proeza de banalizar a presença de Julia Roberts (o que expõe também a crescente fragilidade do próprio estatuto de estrela).
Ainda assim, o caso mais insólito será o da reposição de Titanic, de James Cameron. Não quero esconder que, para além da sua importância sociológica, este sempre me pareceu um objecto sobrevalorizado, enraizado num entendimento “decorativista” do melodrama clássico. Seja como for, o que aqui se refere decorre menos dos valores específicos do filme e mais, precisamente, da sua percepção social. Assim, o relançamento de Titanic (associado à passagem do centenário do afundamento do lendário paquete) não teve os nomes de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet como trunfos fundamentais, já que a sua reposição em três dimensões constituiu o elemento nuclear das promoções.
Reflecte-se, aqui, a pressão do mercado para tentar consolidar um formato (3D) que, salvo honrosas excepções (Spielberg, Scorsese, Wenders), continua a existir como uma “fórmula” para vender mais bilhetes e, sobretudo, bilhetes mais caros. Mais do que isso: a “reinvenção” comercial de Titanic em 3D surge como um elemento suplementar no perverso processo de apagamento da memória cinematográfica ou, talvez, do cinema como matéria de memória. De facto, tudo se passa como se o Titanic original (lançado em 1997) fosse, para a indústria, um objecto descartável, disponível para qualquer transfiguração que a conjuntura tecnológica, ou comercial, possa impor.
A tão propalada crise de espectadores nas salas passa também por essa cruel ambivalência: o mercado está dominado por conceitos que, quase sempre, consideram os filmes como “produtos”. E as palavras são sempre reveladoras da relação que estabelecemos com os objectos que nomeamos.

segunda-feira, abril 16, 2012

As memórias que ficam nos livros

Depois da verdadeira maré de memórias do Titanic que vivemos nos últimos dias, tempo para arrumar o que ficámos a saber. E se a série televisiva (que a SIC ontem exibiu) se revelou muito aquém do esperado e, por seu lado, o documentário com James Cameron (da National Geographic) mostrou como em 15 anos o realizador reconheceu que era preciso questionar e repensar algumas das imagens que mostrou no seu filme de 1997, é entre os livros editados que moram agora as memórias e reflexões mais interessantes do naufrágio que fez história há cem anos.

Entre a verdadeira multidão de títulos novos sobre o Titanic (a Folyes em Londres, tinha há poucas semanas uma ilha inteira de títulos sobre o navio num dos seus departamentos) há alguns que vale a pena reter.














Foi reeditado (com novo prefácio e agora também em formato digital) o histórico relato de Walter Lord em A Night To Remember, originalmente lançado em 1955. O livro foi o ponto de partida para uma adaptação ao cinema em 1958.














De Richard Davenport-Hines, o extenso Litanic Lives é talvez o melhor dos novos títulos lançados sobre o Titanic, atento aos diversos pontos de vista da vivência do navio e do desastre em função da classe em que viajavam os passageiros, não esquecendo os tripulantes.














Para os mais dados a sistematizações das coisas, o livro Titanic, da série Rough Guide. Assinado por Greg Ward, o livro retrata primeiro o navio e depois, ao pormenor, arruma os factos sobre o naufrágio e o salvamento. Como extra tenta responder a questões como “será que a banda continuou a tocar?” ou “havia realmente um navio mistério por perto?”... Enumera as teorias da conspiração sobre o navio e o seu naufrágio. E apresenta ainda uma lista detalhada dos filmes, canções e livros sobre o Titanic.

domingo, abril 15, 2012

Titanic, 15 de abril de 1912


Era meia noite quando ficou claro que o navio não tinha salvação possível. A tripulação tentou manter a notícia fora do alcance dos passageiros durante os primeiros instantes, mas em pouco tempo a palavra passou e o destino do navio tornou-se evidente para todos. O telegrafista começou a enviar pedidos de socorro, deixando logo claro que o navio se ia afundar. Antes da meia noite e meia o primeiro salva vidas era lançado ao mar, a bordo seguindo a atriz Dotothy Gibson (que interpretaria o papel de si mesma no primeiro filme sobre o naufrágio, Saved From The Titanic, que estrearia um mês depois). A regra para o embarque era clara: mulheres e crianças primeiro, embarcando sobretudo os passageiros de primeira e segunda classes, algumas mulheres e crianças de terceira tendo conseguido ainda alguns lugares. Houve contudo uma certa desorientação no embarque nos salva vidas e os primeiros a descer à água, em virtude do caos que se instalara no navio, levavam muito menos pessoas que a capacidade para a qual haviam sido desenhados. Uma das razões para o tamanho número de vítimas decorreu certamente da quantidade de lugares vazios nestes primeiros barcos.

Um casal idoso, Isidor e Ida Strauss, decidiram enfrentar juntos a morte em lugar da separação que lhes era proposta pelo embarque de Ida num salva vidas. Outro casal célebre, John Jacob Astor IV e a sua mulher Madeleine, os mais ricos a bordo, teve destino diferente, ela salvando-se no salva vidas quatro, ele acabando nas águas do Atlântico, onde foi encontrado dias depois com uma fortuna em notas de dólar e libras. Benjamin Guggenheim, outro dos passageiros célebres, vestiu-se a rigor e, com o seu valete, avisando que se preparavam para ir para o fundo “como gentlemen”.
O último salva-vidas chegou ao mar a menos de meia hora dos instantes finais do naufrágio. O navio estava já substancialmente inclinado. Segundo os relatos da época e os factos entretanto apurados junto dos destroços sabe-se que o Titanic rompeu-se a meio, a metade de trás acabando por mergulhar, a pique, por volta das 02.20. Das centenas de pessoas que ficaram então na água apenas 13 sobreviventes foram recolhidos pelos salva vidas que então patrulharam o local depois do navio ter afundado. Eram quatro da manhã quando o navio Carpathia chegou, recolhendo então os que estavam a bordo dos salva vidas.

Das 2224 pessoas a bordo apenas 710 sobreviveram ao naufrágio. As taxas de vítimas foram maiores entre os homens (82%) e tripulação (78%). Mas há diferenças enormes entre as divisões pela classe em que viajavam os passageiros. 51% das 109 crianças que viajavam sobreviveram. Mas ao passo que foram salvas seis das cinco que seguiam em primeira classe e todas as 24 com bilhete de segunda (a única taxa de sobrevivência a 100% no acidente), perderam a vida 66% das 79 que iam em terceira classe. Também entre as 402 mulheres que iam como passageiras a bordo (com a maior taxa de sobrevivência, na casa dos 74%), as perdas de vidas entre primeira, segunda e terceira classes foram, respetivamente, de 3, 14 e 54%... Entre os homens salvaram-se 33% dos 175 que viajavam em primeira classe, apenas 8% dos 168 que seguiam em segunda e 16% dos 462 de terceira. Entre a tripulação perderam a vida três das 23 mulheres que trabalhavam no navio. Entre os 885 tripulantes homens sobreviveram 192.

Depois de termos visitado as abordagens do cinema de ficção ao naufrágio do Titanic hoje lembramos alguns dos documentários que tomaram o navio como objeto da sua atenção.

Os destroços foram encontrados em 1985 e dois anos depois Secrets of The Titanic surgiu em produção da National Geographic. De 1991 data Titanica, que usa em formato IMAX imagens captadas por expledições submarinas aos destroços do navio. Mais recente é, de 2003, o filme de James Cameron Ghosts of The Abyss, que cruza imagens captadas por dois robots entre os destroços com a recriação de figuras reais que seguiam a bordo do Titanic.

sexta-feira, abril 13, 2012

Titanic, 13 de abril de 1912


Mais um dia feito de rotinas a bordo do Titanic, que continuava a sua viagem pelos mares do Norte do oceano Atlântico, rumo a Nova Iorque. As imagens que hoje evocamos espreitam alguns espaços ao serviço dos passageiros de primeira classe. A primeira imagem mostra o Cafe Parisien no convés A do navio. A segunda recorda o ginásio, usando as mais recentes criações ao serviço do exercício físico, entre as quais duas bicicletas estáticas que permitiam a dois ciclistas competir em simultâneo. O ginásio morava no convés superior do navio, junto à ponte de comando e dos botes salva-vidas. A terceira imagem entra por uma das suites de primeira classe no convés B do Titanic.


Dia após dia temos revisitado os filmes baseados na história do Titanic. Hoje evocamos A Night To Remember, filme britânico de 1958.

Após várias adaptações e abordagens aos acontecimentos de abril de 1912, só em 1958 o cinema apostou pela primeira vez numa tentativa de recriação mais realista e historicamente mais precisa dos acontecimentos. Entre um exercício de ficção e um registo próximo do docudrama, A Night to Remember, de Roy Ward Baker teve como ponto de partida o livro homónimo de Walter Lord que tentara, três anos antes, procurar esse mesmo sentido de verdade. Filmado a preto e branco e com poucos diálogos, A Night To Remember procura a construção de um olhar mais completo sobre diversas perspetivas, dos emigrantes que viajavam em terceira classe aos passageiros milionários que seguiam a bordo em suites de luxo. A produção contou mesmo com alguns sobreviventes do naufrágio como consultores. Mesmo assim há erros históricos a apontar: o navio nunca teve batismo com garrafa de champanhe e algumas das personagens que o filme mostra são compósitos de figuras reais que seguiam a bordo. O filme teve recentemente edição em DVD, que junta como extra um documentário making of.

quinta-feira, abril 12, 2012

Titanic, 12 de abril de 1912


Com o navio a avançar pelas águas do oceano Atlântico, o dia a dia a bordo do Titanic fez-se das rotinas habituais a bordo. A imagem que hoje publicamos ilustra a histórica escadaria da primeira classe (que se tornou célebre após a correta reconstituição pelo filme de James Cameron). Este era um entre os vários territórios reservados aos passageiros mais abastados que tinham ainda ao seu dispor espaços como uma sala de escrita para senhoras, um salão de fumo para os homens, um ginásio, um restaurante à la carte ou um café. Os camarotes de primeira classe estavam divididos entre vários convés superiores.


Entre as evocações de filmes que retrataram o naugráfio do Titanic passamos hoje pela memória de Titanic, de 1953.

A primeira longa-metragem norte-americana sobre o Titanic surgiu quatro décadas após o naufrágio. Com 98 minutos de duração, Titanic, de Jean Negulesco, junta ao desenrolar dos acontecimentos que chegaram às páginas dos jornais um outro foco narrativo centrado na vida de um casal, que discutem sobre os seus filhos e um romance que nasce a bordo entre a sua filha e um estudante. O filme começa com imagens de um enorme pedaço de gelo soltando-se de um glaciar, como que a indicar o nascimento do iceberg que terá afundado o navio. Este é contudo um entre os inúmeros erros factuais que o filme apresenta, uma vez que o iceberg que terá colidido com o Titanic provinha de uma plataforma no árctico e não de um glaciar em terra...

quarta-feira, abril 11, 2012

Titanic, 11 de abril de 1912


Eram onze da manhã quando o Titanic se aproximou da costa irlandesa. Ancorou longe de terra e, tal como em Cherburgo, as chegadas de passageiros e provisões fizeram-se por barco. Estavam perto de Queenstown (hoje conhecida como Cohb) e dois pequenos vapores levaram para bordo, além do correio, mais 120 passageiros, na sua maioria emigrantes que tinham comprado bilhete de terceira classe. Em contrapartida desembarcaram sete passageiros. Entre eles um padre jesuíta de 32 anos, residente na região e tinha viajado até Southampton para embarcar no Titanic e viver o primeiro dia a bordo. Telegrafista e fotógrafo amador, são dele algumas das raras fotos da viagem inaugural do navio que, no dia em que esteve a bordo, percorreu de ponta a ponta. À uma e meia da tarde levantaram-se os ferros. E o Titanic avançou pelo Atlântico.


Hoje deixamos a memória de um outro filme retratando o naufrágio, este de produção alemã e com estreia em 1943.

Com produção acompanhada pelo próprio Goebbels, ministro da Propaganda alemão, o Titanic, de Herbert Selpin e Werner Klinger é entendido como um objeto político, atribuindo as culpas do naufrágio à ganância inglesa. O filme projeta a história em volta do conflito que divide duas personagens (um dos milionários americanos a bordo sendo retratado como inglês), que lutam pelo controle da companhia que detém o navio, entre si disputando sonhos de recordes e números. Esta concentração de atenções quase secundariza o drama humano, que todavia acaba por ganhar expressão a dada altura. Muita da ação é concentrada numa sala de baile invulgarmente grande para o que poderia existir a bordo do Titanic.

segunda-feira, abril 09, 2012

Titanic, 9 de abril de 1912


9 de abril de 1912. A um dia da partida o RMS Titanic está ancorado no porto, em Southampton. Ultimam-se preparativos, embarcam-se provisões. Os passageiros chegarão na manhã de dia 10... Ao longo dos próximos dias vamos assinalar o centenário da viagem inaugural (e naufrágio do Titanic) recordando não apenas imagens do navio, como as inúmeras expressões que a tragédia conheceu depois no cinema e na música.


E começamos logo em 1912. Poucos dias após o naufrágio o primeiro filme de ficção sobre o Titanic entra em rodagem. E conta no elenco com a presença de uma sobrevivente: a atriz Dorothy Gibson.

Com o título Saved From The Titanic, este primeiro filme criado com base nos factos reais (com cerca de dez minutos de duração) teve realização Etienne Arnaud e foi rodado em New Jersey (usando como cenário um navio que ia ser desmantelado) e teve estreia em sala a 14 de maio de 1912, um mês após o naufrágio, obtendo considerável sucesso. O filme tem argumento co-assinado pela própria Dorothy Gibson, que se representou a si mesma no ecrã e relata não apenas o seu salvamento mas também o romance com um marinheiro. Procurando um certo realismo a atriz usou em cena a mesma roupa que levou na noite do naufrágio. Dotothy foi uma entre as 27 pessoas a embarcar no primeiro salva-vidas lançado à água cerca de uma hora após o embate com o icebergue. Saved From The Titanic teve estreia noutros países mas foi perdido em 1914 dele não sobrevivendo senão algumas imagens então publicadas na imprensa.

Um segundo filme sobre o Titanic surgiu nesse mesmo ano. De produção alemã, a rodagem de In Nacht Und Eis começou no Verão de 1912 e a estreia chegou já no início do Inverno. É um filme mais elaborado que Saved From The Titanic, porém com uma série de imprecisões factuais. Com uma duração de 34 minutos o filme do realizador romeno Mime Misu (que interpreta o papel do comandante) começa por acompanhar a chegada dos passageiros e carga e logo depois a partida. O foco da ação divide-se entre um dos salões de primeira classe, a ponte de comando e uma das caldeiras. O avistar do campo de icebergues (como é mostrado) anuncia a tragédia, que os passageiros de primeira classe pressentem num embate violento (que na verdade mal foi sentido). Os minutos finais do filme mostram os salva vidas na água e o capitão já com a sua ponte de comando semi-alagada, aceitando o seu destino, acabando depois nas águas, desaparecendo sob as ondas. Para as sequências da colisão do navio com o icebergue foi usado um modelo do navio.

O filme alemão está disponível no YouTube em quatro partes sequenciadas.