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domingo, fevereiro 10, 2013

A redescoberta de Jean Sibelius

A EMI Classics junta numa caixa gravações históricas da obra orquestral de Jean Sibelius em interpretações da Bournemouth Symphony Orchestra, sob direção de Paavo Berglund.

Jean Sibelius
Longe vão os dias em que a música de Jean Sibelius (1865-1957) era vista por algumas figuras na linha da frente da criação (e teorização) da música como coisa de outro tempo. O compositor finlandês foi um dos grandes nomes da música europeia ainda nascidos no século XIX (ou seja, formados em pleno romantismo) que mais resistiram ao afloramento e progressão do serialismo e, tal como o britânico Ralph Vaughan Williams, construíram uma obra sinfónica que, de certa forma, rumou contra as tendências do seu tempo. Viveu dissabores e ouviu disparates, como tantas vezes aconteceu (e continuará a acontecer) sempre que uma geração (ou grupo) de criadores resolve que só a sua voz é a certa, as outras nem por isso. Mas o tempo avançou, ao ritmo de 365 (ou 366) dias por ano. E desde finais do século XX, e com ainda mais evidência na música que se faz atualmente (e basta escutar nomes de novas gerações, de um Adès a um Muhly) para ver que outra noção de liberdade entrou em cena. E, tal como tantas outras memórias ou caminhos, a revisitação das heranças diretas do romantismo, naturalmente repensadas e contextualizadas num quadro do século XXI, não são mais tabu a evitar. Esta mudança de atitude reflete-se não apenas nos novos caminhos – mais desafiantes que nunca – que a música hoje enfrenta, mas numa própria forma de valorizar heranças. E entre as justificadas redescobertas do nosso tempo conta-se todo um conjunto de (saudáveis) reencontros com a obra de Jean Sibelius, colocando-o, ao lado de Shostakovich, Mahler ou Vaughan Williams, entre os grandes sinfonistas do século XX.

Paavo Berglund
Nos últimos anos assistimos a uma série de novas gravações de integrais da obra sinfónica do compositor finlandês (e se acontecem nesta escala é porque há um público para a elas aderir). Podemos, entre outras, destacar uma integral gravada pela London Symphony Orchestra, dirigida por Colin Davies. Ou uma ainda mais recente, lançada pela Naxos, registada pela New Zeland Symphony Orchestra, sob direção do finlandês Pietari Inkinen. Agora, e assinalando o primeiro aniversário sobre a morte do maestro Paavo Berglund (também finlandês), a EMI Classics lança uma caixa de quatro CD com uma série de gravações da Bournemouth Symphony Orchestra nos anos 70. Bergund (1929-2012) era merecidamente reconhecido como uma das maiores autoridades mundiais na música do seu compatriota Sibelius. Não só foi ele quem efetuou a primeira gravação em disco de Kullervo, como ao longo da sua carreira gravou três integrais sinfónicas da sua obra. Tal como o compositor começou por tocar violino, juntando-se à Orquestra da rádio finlandesa em 1949, fundando três anos depois a Orquestra de Câmara de Helsínquia. O próprio Sibelius ouviu-o a dirigir obras suas nos anos 50 e chegou a convidá-lo para um encontro na sua casa. Diz a “mitologia” que a sua conversa se limitou a uma pergunta do compositor e uma resposta do mastro, o primeiro questionando se Bergund estava, com a orquestra da rádio, a tocar obras de Schoenberg, este segundo respondendo que não. E para bons entendedores uma palavra bastou.


Berglund, conhecido pelo seu rigor extremo nos ensaios e por um sentido de busca da perfeição, chegando a estudar as anotações do próprio compositor nas partituras e propondo ele mesmo formas muito pessoais de as abordar. Há quem, ao longo dos anos, tenha comentado o facto das suas abordagens a Sibelius serem mais “lentas”, houve quem as descrevesse como “cruas”. Esta coleção de gravações efetuadas com a orquestra inglesa entre 1972 e 78 dá conta de um sentido de elegância no gesto que em tudo serve a música de Sibelius, representando esta reedição uma verdadeira pérola para eventuais (re)descobertas num tempo em que novas gerações de ouvintes aderem claramente às memórias da obra do compositor finlandês. Entre as sete sinfonias e poemas sinfónicos (como os hoje míticos Finlandia ou Karelia Suite) celebra-se, da melhor forma possível, uma das mais belas obras orquestrais da música do século XX.

Veja aqui uma interpretação do poema Bardi, sob direção de Paavo Berglund, mas com a Orquestra da Rádio Finlandesa.