domingo, dezembro 19, 2010
Um mundo com WikiLeaks (5)
segunda-feira, julho 21, 2008
Caso McCann: a purificação democrática
sexta-feira, maio 02, 2008
McCann: a sequela
sexta-feira, fevereiro 15, 2008
A propósito da montra de uma livraria
domingo, setembro 16, 2007
Media / McCann (9)
quinta-feira, setembro 13, 2007
Media / McCann (8)
"Find Madeleine's body and prove we killed her":
McCanns' challenge to police
*****
Sejam inocentes ou culpados, parece difícil admitir que os McCann emitissem desafio tão arrogante e que, em qualquer caso, facilmente se vira contra elas. Para além da possível ou impossível identificação do primeiro emissor da frase, ela encerra contradições insustentáveis:
1) Porque é que a descoberta do corpo de Madeleine implicaria a possibilidade de provar o (suposto) crime dos McCann? Ou seja, isso pode servir exactamente para a formulação contrária: "Encontrem o corpo de Madeleine e provem que nós não a matámos".
2) Porque é que se supõe que encontrar o corpo de Madeleine é obrigatório para provar que alguém a matou? Teoricamente, é muitas vezes possível provar um crime de homicídio sem corpo. Aliás, mais exactamente (e paradoxalmente): a existência de um corpo não arrasta obrigatoriamente a certeza de que houve crime.
3) Porque é que o desafio inverte a afirmação da (suposta) verdade dos arguidos? A alternativa seria uma afirmação seguida de um apelo: "Nós não a matámos. É preciso encontrar o corpo de Madeleine".
O que fica como mais espantoso — e revelador do mundo de falsa transparência que nos é servido por muita comunicação social — é o facto deste tipo de oximóron se ter tornado uma espécie de linguagem universal do planeta mediático. Universal e (supostamente) inquestionável.
quarta-feira, setembro 12, 2007
Media / McCann (7)
Repare-se: não se pretende banalizar nenhum facto, a começar pelo trágico desaparecimento de uma criança. Do mesmo modo, importa não minimizar a importância moral e o valor público de uma comunicação social empenhada em conhecer e analisar todas as frentes de um problema que, claramente, afecta o funcionamento da colectividade.
Em todo o caso, por mera profilaxia pedagógica, importa interrogar alguns modos de abordagem do caso Madeleine. São modos sobretudo televisivos e apostam em valores demagógicos, ideologicamente próximos do “Big Brother” (não o de Orwell, mas o da Endemol). O seu primeiro e decisivo princípio resulta da fabricação de uma ficção pueril, alicerçada num processo gratuito de identificação: somos convocados para acompanhar os destinos individuais como se pudéssemos ser espectadores privilegiados das suas convulsões.
É esse o limite mais gravoso a que têm conduzido algumas abordagens do desaparecimento de Madeleine McCann. A saber: ao espectador é sugerido que pode funcionar como “deus ex machina”, automaticamente acedendo à intimidade seja de quem for, possuindo os instrumentos para funcionar como juiz intocável de todos os males do mundo.
Até certo ponto, há aqui algo do suspense de Alfred Hitchcock. Recorde-se, por exemplo, o seu filme de 1948, A Corda, onde pacientemente se desmonta um terrível processo de culpa (é, aliás, por cruel ironia, um filme sobre um corpo desaparecido). Mas há uma diferença que está longe de ser secundária. A máquina “hitchcockiana” de ficção confronta o público com as suas próprias responsabilidades morais. Para Hitchcock, o espectador, ao interpretar as contradições do mundo, deve ser adulto. As televisões, com frequência, preferem infantilizar o espectador.
A Corda (1948), de Alfred Hitchcock
terça-feira, setembro 11, 2007
Media / McCann (6)
Confesso a minha pertença a um clube infinitamente minoritário: ao contrário de muitos concidadãos, não passo a vida a especular se o pai e a mãe de Madeleine McCann são "inocentes" ou "culpados", não vivo para esse jogo obsceno de telenovela em que quase todos se condenam a encarar a existência (a sua e a dos outros) como se fosse um imenso bordel de jogos de investigação policial. Conheço os factos e aguardo para saber — além do mais, a situação parece-me sufi-cientemente perturbante para não lhe acrescentar o gratuito da especulação e do moralismo. Inocentes ou culpados, os McCann devem ser respeitados na condição de presunção de inocência que a lei lhes garante.
Em todo o caso, não consigo ficar indiferente a uma nova tendência, para mais expressa com a exuberância de quem, subitamente, se afirma confrontado com um mistério que a história da humanidade escondeu de tudo e de todos. Assim, passou a ser chic proclamar que, "se os McCann forem culpados", então a nossa crença na bondade humana ficará muito abalada...
Como? Importam-se de repetir? De repente, parece haver pessoas que julgam que os milénios de histórias das famílias são um paraíso de paz e harmonia, porventura com anjos castos a dormitar debaixo das camas e no topo dos armários. De repente, a herança da tragédia grega desvaneceu-se... E Shakespeare? Connaît pas... Parece-me até que os que celebraram a morte do “poeta” Bergman, nunca se deram ao trabalho de olhar para um dos seus filmes.
Não se trata de demonizar a instituição família. E também não é um problema de enciclopedismo. Longe disso (já basta os “enciclopedis-
tas” internéticos que por aí andam). É um problema, isso sim, de aculturação, no sentido mais fundo e dramático que a palavra pode envolver: a cultura foi esvaziada do seu peso ancestral, da sua função de cimento colectivo e o mundo passou a ser pensado (?) como algo que começou neste preciso instante. “Os McCann podem ser culpados? Que horror! Ao longo de milénios, não é a família um espaço de radiosa harmonia e palpitante redenção?”
Como viver no meio deste infantilismo? Porque, de facto, é disso que se trata: uma suposta purificação do nosso olhar — e da nossa vontade de ver e saber — que nos fragiliza face à complexidade do mundo e às contradições da natureza humana. E tudo isso, insisto, independentemente de os McCann serem culpados ou inocentes. Como viver no meio desta recusa de ser adulto?
segunda-feira, setembro 10, 2007
Media / McCann (5)
Por exemplo, uma notícia no site da SkyNews sobre o facto de o casal McCann ter garantido os serviços de Michael Caplan que, em 1999, trabalhou como advogado do ditador chileno Augusto Pinochet (1915-2006). Para ilustrar a notícia, a Sky publica esta foto dos McCann, com a legenda: "McCanns seeking legal advice".
Aparentemente, a "outra" imagem lógica para a notícia seria a de Michael Caplan. Mas não: por um bizarro processo de contágio informativo, a segunda foto (aliás, primeira na paginação) é esta, de Pinochet, com uma legenda meramente identificativa: "Augusto Pinochet".
*****
11 de Setembro de 1973, Santiago do Chile, Palacio de la Moneda:
morre Salvador Allende, sucedendo-lhe Augusto Pinochet
Media / McCann (4)
Mapas, justamente. Eis algumas escalas diferentes de mapas disponibilizados pela BBC:
1. Mapa da Praia da Luz
2. Mapa do conflito do Darfur
Em matéria de escala fotográfica, o grande plano tem, quase sempre uma dimensão mobilizadora. Dois exemplos, através de um rosto conhecido e um rosto anónimo:
1. Foto de Madeleine McCann, numa notícia da BBC: "Madeleine: what we know"
2. Foto de uma criança do Darfur (Human Rights Watch), com a legenda: "A girl displaced by fighting is embraced by her sister at the Abushouk camp in Darfur (Photo: Finbarr O'Reilly/Reuters)"
Media / McCann (3)
... e de jornais como The Independent [1ª página de 10 Set.].