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terça-feira, agosto 27, 2024

Schubert em tom de dança

Jovem talento da China, a pianista Yang Liu celebra o gosto do austríaco Franz Schubert (1797-1828) pela música de dança. Com chancela da Naxos, o álbum (lançado em 2022) resulta da sua ligação à Steinway, tocando num piano actual e num pianoforte (cópia de um modelo da década de 1820) — eis 2 Danças Germânicas, D. 841.

sábado, agosto 24, 2024

Stravinsky + jazz

Igor Stravinsky
(1882 - 1971)

Com atraso em relação ao evento — foi no dia 3 de agosto, no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian —, mas na certeza de que este é um lugar que não depende de uma colagem mecânica aos acontecimentos: integrado no programa do Jazz em Agosto, o concerto de Sylvie Courvoisier e Cory Smythe, dois pianos tendo como base A Sagração da Primavera, bailado de Igor Stravinsky datada de 1913, foi uma dessas experiências capaz de nos fazer sentir o génio criativo do jazz, ao mesmo tempo sem nos enredar num qualquer sermão "demonstrativo" sobre a "actualização" dos clássicos ou a "transfiguração" dos modernos.
Formada em música clássica no Conservatório de Lausanne, Courvoisier, em particular, encarará a herança (realmente) revolucionária de Stravinsky como uma matéria capaz de suscitar um metódico trabalho de reinvenção. Seja como for, ela não foi a "protagonista", já que Smythe esteve longe de se reduzir a um "acompanhante". Sob o signo de Stravinsky, o diálogo dos dois pianos funciona mesmo como uma celebração paradoxal, por assim dizer entre o caos que o improviso pode atrair e a solidez estrutural de um jazz cujo sabor vanguardista se confunde, afinal, com uma postura eminentemente... clássica — 60 minutos de maravilha, com alguns espectadores irrequietos a quem faltou a serenidade, que ninguém levaria a mal, de abandonarem a sala.

>>> Stravinsky, A Sagração da Primavera — Sinfónica de Londres, maestro Leonardo Bernstein (1966).
 


>>> Courvoisier, vencedora do Prémio Alemão de Jazz/Piano (2022), na respectiva cerimónia (17 abril 2022).


>>> Smythe, um tema do álbum Auto Trophs (2017).

segunda-feira, abril 29, 2024

Bach / Víkingur Ólafsson

Víkingur Ólafsson
GOLDBERG VARIATIONS

Digamos, para simplificar, que este é um dos quatro ou cinco álbuns realmente prodigiosos que pudemos colher entre as edições de 2023. Lembrando o seu desejo "antigo" de interpretar e gravar as Variações Goldberg, o pianista islandês Víkingur Ólafsson sublinha a maravlhosa "contradição" de Bach:
 
>>> Quando escrevemos e falamos sobre as Variações Goldberg, temos tendência a focar-nos no Bach pensador profundo, empenhado artesão e arquitecto musical visionário. Mas quando tocamos e escutamos as Variações Goldberg, não podemos deixar de reparar que estamos também na companhia do Bach mestre da improvisação, alegre, por vezes arrebatado — Bach, no seu tempo o maior virtuoso do teclado.
 
Raras vezes o adjectivo intemporal se terá aplicado com tão grande justeza a uma música que, afinal, em boa verdade, nos reconcilia com a fugacidade do tempo — e das suas sempre imperfeitas medidas.

>>> Víkingur Ólafsson - J.S. Bach: Goldberg Variations, BWV 988: Aria.

sexta-feira, janeiro 19, 2024

Keith Jarrett
* 10 discos de 2023 [10]

* KEITH JARRETT
Carl Philipp Emanuel Bach


Depois dos dois ataques cardíacos que sofreu em 2018, Keith Jarrett deixou de tocar, está mesmo impossibilitado de usar a mão esquerda no seu piano. É uma condição que ele vive, paradoxalmente ou não, numa intimidade feliz com a música — a conversa com Rick Beato, reproduzida aqui em baixo, é esclarecedora e emocionalmente contagiante.
Entretanto, a ECM tem promovido o relançamento de alguns títulos emblemáticos da sua discografia, incluindo o registo triplo que reúne os lendários concertos de Bremen e Lausanne, em 1973.  O álbum Carl Philipp Emanuel Bach foi uma novidade absoluta e, no seu misto de precisão e liberdade, merece, neste balanço de 2023, o epíteto de disco do ano.
Trata-se, de facto, de uma gravação que permaneceu inédita, apesar de ter sido realizada há quase três décadas — aconteceu em maio de 1994, no espaço caseiro do próprio Jarrett, Cavelight Studio. As célebres Württemberg Sonatas surgem, assim, como matéria de um verdadeiro renascimento, de uma só vez técnico e sensual, intimista e universal. Ou como ele disse: “Ouvi as sonatas tocadas por cravistas e senti que havia espaço para uma versão de piano" — eis o primeiro movimento, Moderato, da Sonata nº 1.




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Lana Del Rey
Nina Simone
Carminho

Piotr Beczala
The Dream Syndicate
Feist
PJ Harvey
Camille Thomas
The Kills

sábado, janeiro 06, 2024

Camille Thomas
* 10 discos de 2023 [8]

* CAMILLE THOMAS
The Chopin Project Trilogy


Nascida em Paris, em 1988, Camille Thomas é um dos nomes emblemáticos da actual aristocracia do violocenlo. Como ela escreve nas notas deste maravilhoso álbum triplo, "Chopin é, desde sempre, uma inspiração e uma consolação, como um amigo íntimo que partilha a minha vida." Aqui encontramos uma homenagem a um criador (1810-1849) que, "ainda que tenha composto essencialmente para piano", deixou um legado que apela às transcrições para violoncelo, a começar por aquelas que foram feitas pelo seu amigo Auguste Franchomme (1808-1884) — sem esquecer o tema Jane B, de Serge Gainsbourg, cantado por Jane Birkin no álbum Jane Birkin/Serge Gainsbourg (1969), tradicionalmente identificado como Je t'aime... moi non plus, agora reinterpretado com a própria Jane Birkin.
Aqui ficam Jane B, com Julian Brocal no piano, e o movimento IV - Finale. Allegretto, do Trio para Piano em Fá Menor, Op.8, com Daniel Hope (violino) e Julien Brocal (piano).




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Lana Del Rey
Nina Simone
Carminho

Piotr Beczala
The Dream Syndicate
Feist
PJ Harvey

quarta-feira, janeiro 03, 2024

Bradley Cooper
* 10 filmes de 2023 [5]

* BRADLEY COOPER
Maestro

Dir-se-á que, tal como em Assim Nasce uma Estrela (2018), Bradley Cooper faz um filme cuja "base" é a matéria musical. Sem dúvida, quanto mais não seja porque Leonard Bernstein é um dos grandes compositores do século XX, alheio a hierarquias académicas que dividem a música em "séria" ou "ligeira". Mas o essencial é incomparavelmente mais rico e complexo: trata-se de expor a música, não como "produto" de um criador, mas sim corpo e alma desse ser humano que lhe dá vida. Uma grande história de amor, eis o resumo possível — com a sublime Carey Mulligan, convém não esquecer, ao lado do admirável actor/realizador.


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Mark Cousins
Nanni Moretti
Nuri Bilge Ceylan
Jafar Panahi

segunda-feira, janeiro 01, 2024

Piotr Beczala
* 10 discos de 2023 [4]

* PIOTR BECZALA
Romances: Rachmaninoff & Tchaikovsky


Eis uma aliança perfeita: as sofisticadas modulações da voz do tenor polaco Piotr Beczala e a serenidade clássica do piano do austríaco Helmut Deutsch. Aplicando a designação tradicional dos russos (romances), escolheram uma colecção de canções de Sergey Rachmaninov e Pyotr Il'yich Tchaikovsky para um reecontro/recriação em que a riqueza do canto não exclui, antes pelo contrário, a presença forte do piano. Entre as suas escolhas está a Op. 73, "6 Romances" de Tchaikovsky, compostos antes da sinfonia final ("Pathétique") — eis o nº4 (The Sun Was Set).


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Lana Del Rey
Nina Simone
Carminho

segunda-feira, janeiro 02, 2023

10 discos de 2022 [8]

* Beethoven Diabelli Variations

Habitualmente citada como um exemplo de eleição na abordagem das composições de Mozart e Schubert, a pianista Mitsuko Uchida encontra na obra de Beethoven aquilo que talvez possamos chamar o "elo central" de um permanente ziguezague entre clássicos e românticos, de uma só vez confirmando e desafiando as respectivas matrizes. Nesta perspectiva, a sua prodigiosa gravação das Variações Diabelli (compostas entre 1819 e 1823) poderá ser interpretada como uma aventura emocionalmente semelhante ao álbum que lançou em 1990 com os 12 Estudos de Debussy — assim como este se apresentava como uma radical transfiguração da herança "impressionista", as Diabelli [aqui em baixo: Tema, Var. I Alla Marcia maestoso e Var. II Poco Allegro] surgem, agora, refeitas como uma aventura formal em que podemos reencontrar, em filigrana, algo como uma condensação histórica de tudo aquilo que Beethoven quis incluir na sua composição, incluindo alguma nostalgia de Bach — se é que a contundência poética de Beethoven, tal como interpretada por Uchida, possui algo de nostálgico.






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domingo, novembro 13, 2022

Beethoven: Takács & deMaine


Reconhecido com um dos intérpretes de excelência de Beethoven, o pianista húngaro Peter Takács reune-se, agora, com o violoncelista americano Robert deMaine para aquele que ficará, por certo, como um dos mais extraordinários álbuns de 2022. Com chancela da editora canadiana Leaf Music, Beethoven Complete Music For Piano and Cello é, além do mais, um exuberante desmentido do lugar-comum segundo o qual o compositor deu sempre protagonismo ao piano, utilizando o violoncelo como "acompanhante" — este é, de facto, o maravilhoso diálogo de dois instrumentos unidos pela mesma metódica entrega à dimensão sagrada da música. 
Eis o Allegro, ma non tanto, da Sonata nº 3. 

quarta-feira, março 09, 2022

Bach / Leonidas Kavakos

Os seis solos para violino de Johann Sebastian Bach — 3 Sonatas + 3 Partitas, completadas em 1720 —, mágico tour de force para qualquer intérprete, surgem agora num registo do grego Leonidas Kavakos, com chancela da Sony: Sei Solo é um pequeno grande prodígio de interpretação, levando-nos a reencontrar uma paisagem musical em que a carnalidade das melodias nasce da geometria abstracta das composições (ou o contrário...). Eis o terceiro movimento, Gavotte en Rondeau, da Partita nº 3 — concerto realizado em Verbier, Suíça, no dia 23 de julho de 2018.

segunda-feira, janeiro 03, 2022

10 álbuns de 2021 [5]

Emily D'Angelo

Enargeia: palavra do grego antigo que envolve uma ideia de vibração que se concretiza em algo de eminentemente visual... Já consagrada no circuito das mais importantes, e também mais simbólicas, salas internacionais, Emily D'Angelo, canadiana de ascendência italiana (n. 1994), vai protagonizar, por certo, um capítulo muito especial da história das mezzo sopranos. Há no seu álbum de estreia um misto de delicadeza e intensidade que se conjuga, por inteiro, no feminino, cantando temas de quatro compositoras: uma do século XII, a abadessa alemã Hildegard von Bingen (1098-1179) e três americanas contemporâneas, Sarah Kirkland Snider (n. 1973), Missy Mazzoli (n. 1980) e Hildur Gudnadóttir (n. 1982), esta última vencedora de um Oscar pela banda sonora de Joker (2019) — puro encantamento, aqui exemplificado por The Lotus Eaters, de Snider.
 

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10 álbuns de 2021 [4]

Floating Points, Pharoah Sanders & The London Symphony Orchestra

Do mais improvável dos encontros nasce a beleza austera do mais depurado dos álbuns: Floating Points (nome artístico do britânico Sam Shepherd, produtor da área electrónica) compôs uma obra (sinfonia?) em nove movimentos, integrando o saxofone do veterano americano Pharoah Sanders (colaborou com John Coltrane nos anos 60!). A sua ambição (sinfónica, justamente) acabou por envolver a London Symphony Orchestra, de tudo isso resultando uma textura de ambiências (palavra equívoca...) que, em boa verdade, possui o poder encantatório de uma longa frase musical — surreal, mas transparente.
 

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1 - Théotime Langlois de Swarte e Tanguy de Williencourt / 2 - Sarah Mary Chadwick / 3 - Elizabeth King

domingo, dezembro 26, 2021

10 álbuns de 2021 [1]

Théotime Langlois de Swarte e Tanguy de Williencourt

Um violinista, Théotime Langlois de Swarte, e um pianista, Tanguy de Williencourt, protagonizam uma aposta invulgar: revisitar o lendário concerto de 1907, organizado por Marcel Proust para os seus amigos. O resultado é, de facto, um "concerto reencontrado", até porque os instrumentos usados são preciosidades que nos projectam na enigmática transparência do tempo: um Stradivarius de 1708 e um piano Erard de 1891. Reynaldo Hahn, Frédéric Chopin e, sobretudo, Gabriel Fauré são alguns dos compositores convocados para uma experiência fascinante e paradoxal, numa palavra, intemporal — este é um registo de Proust, Le Concert Retrouvé, em Paris, no Musée de la Musique, com realização de Julien Cadilhac.
 

terça-feira, novembro 30, 2021

Imogen Cooper em tom francês

Imogen Cooper

O imaculado classicismo de Imogen Cooper reencontra aqui um certo espírito francês, desde logo sugerido pelo título proustiano deste maravilhoso álbum: Le Temps Perdu. Escutamos, assim, peças de Ravel, Liszt, Fauré e Respighi. Ou seja: não apenas obras de autores franceses, antes composições que a pianista inglesa começou por estudar, ainda adolescente, no Conservatório de Paris — exemplo: Rapsódia Húngara nº 13, de Liszt.
 

sexta-feira, outubro 29, 2021

12 violinos de Antonio Stradivari

12 Stradivari é exactamente aquilo que o seu título anuncia. A saber: um álbum em cujas gravações foram utilizados 12 violinos fabricados pelo lendário Antonio Stradivari (1644-1737). O desafio de lidar com tão preciosos objectos foi assumido pela notável violinista holandesa Janine Jansen que, contando com a colaboração do pianista inglês Antonio Pappano, recria peças de Manuel de Falla, Tchaikovsky, Schumann, Ravel e Brahms, entre outros — uma preciosidade.
Aqui ficam os gloriosos 3 minutos e 45 segundos de Liebesleid, composição de Fritz Kreisler publicada em 1905.

quarta-feira, maio 19, 2021

Beethoven por Mullova

Viktoria Mullova (violino) e Alasdair Beatson (piano) interpretam três sonatas (nºs 4, 5 e 7) de Ludwig van Beethoven [Onyx]. Para a violinista britânica, nascida na Rússia, é mais uma etapa de reencontro com as sonatas de Beethoven (depois da gravação das nºs 3 e 9, com Kristian Bezuidenhout). Para lá da tão especial sonoridade, resultante da utilização de instrumentos do começo do século XIX, prevalece uma atitude de celebração da música sem qualquer subserviência nostálgica — há, aqui, uma intensidade em que o reencontro com a verdade original das composições não exclui, antes potencia, uma energia visceral e festiva. Uma pérola: 5 estrelas!

>>> Fragmento nº 5, "Primavera", IV - Rondo + nº 7, II - Adagio Cantabile.
 



>>> Site oficial de Viktoria Mullova.

domingo, abril 11, 2021

Hilary Hahn em tom parisiense

Violinista americana, nascida em 1979, Hilary Hahn é, hoje em dia, uma referência de excelência. A ponto de apresentar agora um álbum, Paris (Deutsche Grammophon), que, sendo um objecto de pura satisfação pessoal, não deixa de ser um acontecimento realmente excepcional no mundo do violino.
Porquê Paris? As motivações têm tanto de cultural como de afectivo (não será a mesma coisa?):
— Poema para Violino e Orquestra, do romântico Ernest Chausson, é, de facto, a única obra composta por um francês (em 1896);
— Concerto para Violino nº 1, de Sergei Prokofiev, teve a sua primeira performance, em Paris, corria o ano de 1923;
— Duas Serenatas, do finlandês Einojuhani Rautavaara, foram compostas para Hahn, sendo das derradeiras obras do compositor (falecido em 2016); tratou-se de uma encomenda do maestro, também finlandês, Mikko Franck, sendo ele que dirige em todo este admirável registo a Orquestra Filarmónica da Radio France.
Sem hesitação, este é, desde já, um dos álbuns incontornáveis de 2021 — eis a faixa de abertura, isto é, a obra de Chausson.
 

segunda-feira, janeiro 25, 2021

Elina Garanca — Schumman + Brahms

Um dos derradeiros grandes lançamentos de 2020: uma colecção de canções de Robert Schumann e Johannes Brahms, interpretadas por Elina Garanca, mezzo soprano de riquíssimos contrastes e modulações, por certo uma das mais admiráveis cantoras líricas da actualidade. Não é uma revelação, como é óbvio — Garanca nasceu em Riga, Letónia, em 1976, e possui uma notável carreira internacional —, mas, como escreve James Manheim [AllMusic], este álbum da Deutsche Grammophon assinala a coexistência de um repertório de ópera com o domínio tão particular das canções (como já tinha sido sensível no concerto que deu na Fundação Gulbenkian, em 2009). Começando por Schumann (Frauenliebe und Leben, Op. 42 - I. Seit ich ihn gesehen) aí está o esplendoroso Lieder.
 

terça-feira, janeiro 19, 2021

10 álbuns de 2020 [10]

Alisa Weilerstein

Há muito liberta dos efeitos da imagem de "menina-prodígio" (começou aos 4 anos), a violoncelista americana Alisa Weilerstein (n. 1982) protagoniza um processo de depuração que, agora, a conduziu, dir-se-ia que com desarmante naturalidade, às Seis Suites de Bach. De acordo com as suas próprias palavras, tratava-se de explorar as "infinitas possibilidades" das partituras de Bach, de alguma maneira preservando a singularidade de cada performance, porventura diferente da do dia anterior e da que possa acontecer num dos dias seguintes. Resultado: uma sensação de verdade primordial em que a racionalização da música e a contida sensualidade do toque se cruzam, contaminam e, por fim, festivamente se transfiguram uma na outra [video: Sarabande da Suite nº4 — concerto na Ópera de Frankfurt, 17 janeiro 2020]. Se quisermos escolher o disco "mais perfeito" de 2020 (e porque não?...), poderá ser este.



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[ 1. Fiona Apple ] [ 2. Víkingur Ólafsson ] [ 3. Bob Dylan ] [ 4. Lianne La Havas ] [ 5. Keith Jarrett ]

domingo, junho 11, 2017

Uma digna herdeira de Bernstein


Ao ser nomeada para a direcção da Baltimore Symphony Orchestra (BSO) em 2007, Marin Alsop tornou-se a primeira mulher a dirigir uma das grandes orquestras norte-americanas. Grande admiradora de Leonard Bernstein (não apenas como músico mas também pela sua personalidade), a maestrina tem vindo a construir uma obra igualmente sem barreiras e agradavelmente versátil e apresentando já uma importante discografia tem ganho merecida exposição à escala global. Essa herança de Bernstein revela-se, por exemplo, no modo como a compositores europeus como Mahler, Dvorák ou Bartók a sua atenção tem focado frequentemente as grandes referências da música americana, desde Samuel Barber ou Aaron Copland a Philip Glass, John Adams, John Corrigliano e Michael Daugherty não esquecendo naturalmente o seu antigo mestre. De já nos deu, via Naxos, uma magnífica interpretação de Chichester Psalms (em 2003), de um conjunto de obras mais curtas como Serenade, Facsimile e Divertimento (em 2205) sua Missa (em 2009) e, mais recentemente, a Sinfonia N.º 3 'Kaddish' (em 2015), estes dois últimos discos gravados com a Baltimore Symphony Orchestra. Agora, uma edição que junta, com a mesma orquestra, as duas primeiras sinfonias de Bernstein, completa mais um ciclo dentro do corpo de uma obra à qual certamente irá regressar.

Sinfonia N.º 1 - Jeremiah, de Leonard Berstein (1918-1990), composta em 1942, é uma obra intensa que, se por um lado traduzia uma atenção do músico ao contexto de tempo, lugar e vivência cultural que o envolvia (captando na tradição do teatro musical uma marca de identidade da mesma forma como Gerswhin havia assimilado o jazz alguns anos antes), por outro vincava a assombração de alguém que, de ascendência judaica, não deixava de reflectir sobre um tempo de perseguição e morte que se vivia, então já em plena II Guerra Mundial.

Composta entre 1948 e 1949, a Sinfonia N.º 2 - The Age of Anxiety é uma obra para piano solista e orquestra e tem o seu título inspirado por um poema de W. H. Auden's dedicado a Serge Koussevitzky, maestro e compositor que foi durante largos anos o diretor artístico da Boston Symphony Orchestra. Nesta gravação Marin Alsop conta com o pianista Jean-Yves Thibaudet como solista.