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quarta-feira, 24 de março de 2010

«Ruben A. In memoriam de bolso», de Alexandre O'Neill

Ruben morreu de sopetão cardíaco, fim previsível para quem levou a vida a refrear as próprias emoções. Quatro dias antes do seu passamento vi-lhe nos olhos o medo de rebentar. Disse-nos que, na véspera, sentira uns esticões danados. Em Londres – última escala antes da morte – tencionava tirar o seu retrato vascular. Levava à boca, de espaços a espaços, uma pastilhinha calmante. Ficava à espera que a derretida pastilhinha lhe respondesse. Depois, entrava naquela agitação que era a sua maneira de ocupar o tempo convivente.
Nem na vida, nem na literatura Ruben A. conseguia estar quieto.
Tinha pressa. E às vezes até parecia que o quotidiano era para ele simples matéria de criação. Com isto, ganhou a literatura memorialista portuguesa umas quantas páginas bem singulares. Desordenado e original na escritura, Ruben não podia sujeitar-se a outra disciplina que não fosse essa, toda exterior, de se sentar, dia a dia, à máquina, pelas oito da manhã, e de bater 5, 10, 15 páginas de seguida, apenas apoiado ao bordão da memória e a uma verve sem limites. Mas ao coro das rãs, respondeu Ruben A. com algumas arreliantes dissonâncias, enfim, com o que nele era o vivo pressentimento de que uma obra se faz a contrapeso do gosto mediano, desse que está sempre a reclamar, em nós, vigência, estatuto e rebuçados.
Paz à sua tecla!

Diário de Notícias, 22 Janeiro 1976. Suplemento cultural, n.º 3, 2.ª série, p. 1.
Com uma boa fotografia não assinada, e um excerto de diário.
Obituário descoberto e transcrito por Vasco Rosa. Obrigado.
Obras de Ruben A. na Assírio & Alvim

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Morreu o poeta e filósofo M.S. Lourenço

Faleceu no dia 1 de Agosto, na companhia dos familiares mais próximos, o poeta e filósofo M. S. Lourenço. Tinha 73 anos e morreu após uma luta prolongada com o cancro.

Nascido em Sintra, a 13 de Maio de 1936, Manuel dos Santos Lourenço licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, partindo para a guerra colonial em Angola em Julho de 1961, experiência traumática que o marcaria para toda a vida. Já antes (1960) saíra em Lisboa o seu primeiro livro, O Desequilibrista, onde juntou textos em verso, em prosa e em registo dramático. Em 1962 foi publicada, sob o pseudónimo Alexis Christian von Gribskoff, a primeira edição de O Doge (2ª edição alterada, 1998), um romance miniatural cuja originalidade de conteúdo não tem paralelo na literatura portuguesa.

De resto, M.S. Lourenço seguiu sempre um caminho individual, alheado de tudo o que se passava à sua volta nas letras nacionais, razão pela qual a sua obra poética permanece ainda hoje desconhecida do público em geral. Seguiram-se mais tarde outros livros de poesia: Arte Combinatória (1971), Wytham Abbey (1974), Pássaro Paradípsico (1979, com magníficas ilustrações originais de Mário Cesariny) e Nada Brahma (1991). No campo do ensaio literário, ficaram célebres as crónicas d’ O Independente, mais tarde coligidas no volume Os Degraus do Parnaso (1991), que ganhou o Prémio D. Diniz da Fundação da Casa de Mateus.

No campo filosófico, M.S. Lourenço prosseguiu os seus estudos na Universidade de Oxford (1965-1968) e traduziu o Tratado Lógico-Filosófico e as Investigações Filosóficas de Ludwig Wittgenstein (Fundação Gulbenkian). É autor de A Espontaneidade da Razão (Imprensa Nacional) e Teoria Clássica da Dedução (Assírio & Alvim).

M.S. Lourenço casou duas vezes: da primeira mulher, Manuela, teve dois filhos, o helenista Frederico Lourenço e a bailarina clássica Catarina Lourenço. Da segunda mulher, a psicanalista austríaca Sylvia Wallinger, teve uma filha, Leonor, que morreu vítima de leucemia aos 20 anos em 2001. Foi professor catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa até se jubilar aos 70 anos.

 

A sua obra poético-literária reunida será lançada pela Assírio & Alvim no Outono deste ano, com o título O Caminho dos Pisões.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Maria Jorge Vilar de Figueiredo § 11/01/1942 - 27/04/2009


Sentar-me a uma mesa desconhecida.
Dormir numa cama estranha.
Sentir a praça já vazia
encher-se numa terna despedida.

in Sandro Penna; No Brando Rumor da Vida. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

«Pois, como diria Peter Maynard»

«Como partilhávamos o mesmo encanto pelas coisas menores da vida, aquelas que normalmente não dão grandes carreiras e muito menos grandes romances, passámos muitas horas a falar de livros policiais e de filmes negros. Desse por onde desse, a conversa acabava sempre por ir dar ao mesmo. Ainda que tivessem caído dois arranha-céus em Nova York, ou uma onda gigante tivesse engolido a ilha de Ceilão, para nós era muito mais importante recordar o Borsalino tombado para os olhos com que o Bogart fazia, com o mesmo à vontade e praticamente a mesma gabardina, tanto de Sam Spade como de Philip Marlowe.»


Leia aqui na íntegra o texto que José Xavier Ezequiel dedicou a Dinis Machado [1930-2008]

domingo, 24 de agosto de 2008

Jorge Luis Borges














Jorge Luis Borges
[24-8-1899-1986]




«Velhice: É uma das formas da insónia.
Velhice (ii): Agora sinto-me mais sereno que quando tinha 24 anos. Claro, nessa idade tentamos ser Hamlet, ser Byron, ser Baudelaire, ser alguma personagem de um romance do século passado e cultivamos a infelicidade. Depois damos conta que não é preciso cultivar a infelicidade, encontramo-la sozinha...»

Jorge Luis Borges, in Borges Verbal, de Pilar Bravo e Mario Paoletti (tradução de José Bento), Assírio & Alvim 2002.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

António Aragão










António Aragão
[22.07.1921-11.08.2008]



imagem retirada de dnoticias.pt

António Manuel de Sousa Aragão faleceu ontem, dia 11 de Agosto, no Funchal, vítima de doença. Nascido na Madeira (em São Vicente), tinha 87 anos. Poeta, historiador, pintor e escultor, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade Clássica de Lisboa e em Arquivismo e Biblioteconomia na Universidade de Coimbra.
Trabalhou em França e Itália, nas áreas da etnografia, museologia e restauro de obras de arte. Expôs a sua obra pictórica em Barcelona e Londres, tendo legado também numerosos trabalhos de escultura. Foi ainda director do Arquivo Regional da Madeira (durante os anos 70).
É considerado um grande poeta da década de 60 — com obras como Poema Primeiro, Folhemas 1, 2, 3 e 4 e Bancos e Metanemas —, mas aventurou-se também pelos domínios da ficção (Um Buraco na Boca) e do teatro (o drama Desastre Nu). Integrou a Antologia da Poesia Concreta em Portugal, publicada em 1973 pela Assírio & Alvim.