A morte de um poeta entristece não apenas os familiares e amigos. Atinge os admiradores, os que o julgavam perene e eterno. Gilberto Mendonça Teles deixa um rastro de amigos e admiradores do tamanho de um rabo de sereia. Os livros de poemas e de crítica ficam, sempre novos, instigantes, como referência de um trabalho diversificado e apurado. Como afirma no poema "No curso dos dias":
Agora que me vou é que me deixo
ficar perdidamente nesta estrada:
vou numa roda-viva, mas sem eixo,
numa coisa futura, mas passada.
(...)
Alguma coisa vai ficando, além do
tempo em que me dou e me reparto:
ficou meu coração, ficou batendo,
batendo na penumbra de algum quarto.
Ficou o que mais quero e vai comigo:
- tudo que amei e que ficou amado,
talvez esta esperança que persigo
como uma sombra andando no cerrado.
Ficou este poema, cujas musas
molharam nalgum curso os seus cabelos
para compor as novas semifusas
dos meus silêncios, dos meus atropelos.
Mas no curso dos dias que há por dentro
de cada um de nós, na nossa história,
alguém por certo encontrará o centro
de tudo que ficou na trajetória.
E o que ficou, ficou: raiz noturna
enterrada nas ruas, nos quintais;
vento varrendo o pó de alguma furna,
chuvas de pedra, alguns trovões, Goiás.
TELES, Gilberto Mendonça. Os melhores poemas de GMT. Sel. de Luiz Busatto. São Paulo: Global, 2001.
Foto: Jornal Opção