Será exibido um dos maiores filmes da história do cinema, um filme sobre filmes, a obra-prima de Billy Wilder, Sunset Boulevard/Crepúsculo dos Deuses, com Gloria Swanson, William Holden, Erich Von Stroheim, Nancy Olson, Cecil B. DeMille, Buster Keaton, Hedda Hopper…
(…)
mas às vezes gloria swanson ainda desce as escadas, coleando prateada
contra o salitre das paredes, segundo todas as regras de escola,
e a acção volta a começar sob os projectores acesos numa cruel proposta
para o fim
da carne que deixou de ser luminosa e quente e versátil,
(…)
Vasco Graça Moura, in Poemas com Cinema (org. Joana Matos Frias, Luís Miguel Queirós, Rosa Maria Martelo), Assírio & Alvim
(…) depois viria a massa
das horas no escuro, olhando formas
luminosas que sombras envolviam,
o sentido que a noite dava ao dia
ao rodear o rosto de Swanson,
(…)
Gastão Cruz, ib.
«[…] Sunset Boulevard começa com a câmara rente ao chão, a fazer-nos ler “Sunset Boulevard” e termina no contra-plongée de Norma e na sua avançada para a câmara até ao assombroso plano final (com todo o resto – the people, nós – no escuro). É um filme que vem de além-túmulo, contado por uma voz de além-túmulo. Nesse reino de tais mortos todos somos convidados pelo máximo de exibicionismo ao máximo de voyeurismo. E Billy Wilder – num dos filmes mais cruéis duma obra que decorre sob o signo da crueldade – sabe que do lado de lá e do lado de cá do mundo dos filmes, do mundo da vida e do mundo da morte (realizadores, actores, espectadores) ninguém resiste a esse convite.»
João Bénard da Costa, Billy Wilder, As Folhas da Cinemateca, ed. Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema