segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ciclo Poemas com Cinema - momento 3

O terceiro momento do Ciclo Poemas com Cinema, a propósito da antologia com o mesmo título, terá lugar na terça-feira, 1 de Fevereiro, às 22h, no Teatro do Campo Alegre, Porto, numa organização da Medeia Filmes, com a Assírio & Alvim e o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, da FLUP, e o apoio da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema.
Será exibido um dos maiores filmes da história do cinema, um filme sobre filmes, a obra-prima de Billy Wilder, Sunset Boulevard/Crepúsculo dos Deuses, com Gloria Swanson, William Holden, Erich Von Stroheim, Nancy Olson, Cecil B. DeMille, Buster Keaton, Hedda Hopper…

(…)
mas às vezes gloria swanson ainda desce as escadas, coleando prateada
contra o salitre das paredes, segundo todas as regras de escola,
e a acção volta a começar sob os projectores acesos numa cruel proposta
para o fim
da carne que deixou de ser luminosa e quente e versátil,
(…)

Vasco Graça Moura, in Poemas com Cinema (org. Joana Matos Frias, Luís Miguel Queirós, Rosa Maria Martelo), Assírio & Alvim

(…) depois viria a massa
das horas no escuro, olhando formas
luminosas que sombras envolviam,
o sentido que a noite dava ao dia

ao rodear o rosto de Swanson,
(…)

Gastão Cruz, ib.

«[…] Sunset Boulevard começa com a câmara rente ao chão, a fazer-nos ler “Sunset Boulevard” e termina no contra-plongée de Norma e na sua avançada para a câmara até ao assombroso plano final (com todo o resto – the people, nós – no escuro). É um filme que vem de além-túmulo, contado por uma voz de além-túmulo. Nesse reino de tais mortos todos somos convidados pelo máximo de exibicionismo ao máximo de voyeurismo. E Billy Wilder – num dos filmes mais cruéis duma obra que decorre sob o signo da crueldade – sabe que do lado de lá e do lado de cá do mundo dos filmes, do mundo da vida e do mundo da morte (realizadores, actores, espectadores) ninguém resiste a esse convite.»


João Bénard da Costa, Billy Wilder, As Folhas da Cinemateca, ed. Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

domingo, 30 de janeiro de 2011

«Sinais de Fogo»


«Desde 1993, ano que viu surgir três trabalhos de referência sobre a obra de Jorge de Sena, na Universidade do Porto e na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, que não havia uma tese universitária com a importância desta. Mécia de Sena, com a habitual economia de expressão que a caracteriza, definiu-ma como “um monumento”. Com efeito, a partir de agora, não é mais possível ler e estudar Sinais de Fogo, ou mesmo abordar alguns aspectos da obra multímoda de Jorge de Sena, e em especial a questão fulcral do erotismo, sem fazer referência a esta investigação de Jorge Vaz de Carvalho, que veio suprir uma lacuna imensa no estudo e na recepção de um dos romances fundamentais do século XX.»

Do Prefácio, de Jorge Fazenda Lourenço

«De toda a criação literária de Sena, a menos favorecida comparativamente pela investigação é o romance único e inacabado Sinais de Fogo. Embora haja sobre ele estudos parciais, faltava, sem dúvida, um trabalho mais volumoso e profundo sobre este que consideramos um dos mais notáveis romances da literatura em língua portuguesa.»

Da Introdução, de Jorge Vaz de Carvalho

Jorge Vaz de Carvalho, além de músico de carreira internacional, é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Clássica de Lisboa, Mestre em Literaturas Comparadas pela Universidade Nova de Lisboa e Doutorado em Estudos de Cultura pela Universidade Católica de Lisboa. O seu trabalho literário inclui obras de poesia (A Lenta Rendição da Luz, Relógio d’Água, 1992) conto, ensaio e tradução (Ciência Nova de Giambattista Vico, Fundação Calouste Gulbenkian, Prémio de Tradução Científica e Técnica FCT/União Latina 2006; Canções de Inocência e de Experiência de William Blake, Assírio & Alvim, 2009; Vida Nova de Dante Alighieri, Relógio d’Água, 2010). Exerce constante actividade de articulista e de conferencista, no país e no estrangeiro. Foi Director da Orquestra Nacional do Porto e Director do Instituto das Artes. É professor e coordenador científico da área de Estudos Artísticos da Universidade Católica Portuguesa.


Colecção: Peninsulares 102 / Data de Edição: Dezembro de 2010 / Distribuição: Janeiro de 2011 / Formato e acabamento: 14,5 x 20,5 cm, edição brochada com badanas / 448 páginas.

ISBN: 978-972-37-1563-7
PVP: 24,00

sábado, 29 de janeiro de 2011

Leituras de Poesia (II)

«A poesia é, finita e interminável, um diálogo precário e resistente. Ora cada um de nós é um diálogo. Por isso a poesia nos convém — ela é, esquivo e incerto, um diálogo que resiste por um dia mais, uma promessa sem garantias, pela qual nos transformamos naquilo que somos. […]»

Manuel Gusmão

ÍNDICE - Incerta chama (2006) 7 / A. Da poesia como razão apaixonada (1990) 29; Da poesia como razão apaixonada 2 (1991) 46; Da poesia como razão apaixonada 3 (1992) 60; Coisas que fazemos com a literatura (1998) 80; [Como e porquê falar de poesia?] (2002) 103; Desde que somos um diálogo (2004) 122; Da condição paradoxal da poesia (2009) 136 / B. Rimbaud: alteridade, singularização e construção antropológica (2000) 155 / 1. Cesário Verde: o «cartógrafo» e a temporalização dos mapas (2009) 193; O Fausto de Pessoa: um teatro em ruínas (2003) 235 / 2. Da evidência poética: justeza e justiça na poesia de Sophia (2004) 267; Uma apresentação de Livro VI (2005) 286 / 3. «Leitura», de Carlos de Oliveira (2002) 307; A arte da poesia em Carlos de Oliveira (2001, 2009) 315; Carlos de Oliveira e Herberto Helder: ao encontro do encontro (2000) 339; Leiam Herberto Helder Ou o Poema Contínuo (2001) 362; Herberto Helder, «a estrela plenária» (2002) 388; Entre nós e as palavras (Mário Cesariny) (2009) 388; / 4. Algumas variações em resposta à poesia de Ruy Belo (2000) 409; Pequena fala sobre a poesia de Ruy Belo (2003) 444; Aprender a poesia com Ruy Belo (2003) 449; A invenção do corpo amoroso em Luiza Neto Jorge: o som e a fúria do sentido (2001) 470; A arte da poesia em Gastão Cruz (2006) 495; Assis Pacheco: Respiração Assistida - algumas notas para lhe assistir (2003) 508 / C. O tempo da poesia: uma constelação precária (2003) 523.

Colecção: Peninsulares 98 / Data de Edição: Dezembro de 2010 / Distribuição: Janeiro de 2011 / Formato e acabamento: 14,5 x 20,5 cm, edição brochada / 560 páginas

ISBN: 978-972-37-1497-5
PVP: 28,00

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Leituras de Poesia (I)

«Em poesia, o equilíbrio acontece sempre em tensão com o desequilíbrio, devendo mesmo incorporá-lo, num jogo partilhado. E talvez a preocupação com o equilíbrio advenha de uma das particularidades da poesia, como arte: o facto de ela utilizar como matéria de criação, não uma linguagem específica, mas a linguagem comum, a mesma que utilizamos no dia-a-dia. Há toda uma tradição de reflexão poética que considera essa linguagem de partida profundamente arbitrária, insuficiente e, nessa medida, desequilibrada, atribuindo à poesia o papel de recuperar um equilíbrio primordial, tido como perdido. Esse desejo de equilíbrio pode ser observado tanto no plano da relação entre som e sentido quanto no da relação entre a palavra e o mundo.»

Rosa Maria Martelo

ÍNDICE - Poesia e des-equilíbrios 9 / Sophia de Mello Breyner Andersen - O fio de sílabas 21; Diante dos nomes, as coisas 35 / João Cabral de Melo Neto - O poema como amostra-de-mundo 49 / Carlos de Oliveira - Em homenagem a Drumond 73 / Herberto Helder - Assassinato e assinatura 83 / Luiza Neto Jorge - Um jogo de relâmpagos 115 / Fiama Hasse Pais Brandão - Nomear os nomes 127 / António Osório - A fraterna luz da poesia 133 / Nuno Júdice - As pontes abstractas do poema 143 / Cartucho - Cartucho e as linhas de renovação da poesia portuguesa na segunda metade do século XX 155 / António Franco Alexandre - Poesia, experiência urbana e desfocagem 181 / Adília Lopes - Contra a crueldade, a ironia 223; As armas desarmantes de Adília Lopes 235 / Ana Luísa Amaral - Esplendores de nada, ou a nostalgia do sublime 255; O salto do tigre 264; Dualidade e relação em Entre Dois Rios e Outras Noites 273 / Daniel Faria - A magnólia «maior / E mais bonita do que a palavra» 287 / Manuel de Freitas - Alegoria e autenticidade 303 / Cenas de Escrita (alguns exemplos) 321 / Nota 345 / Índice onomástico 347.

Co
lecção: Peninsulares 99; Data de edição: Dezembro de 2010 / Distribuição: Janeiro de 2011; Formato e acabamento: 16 x 22 cm, edição brochada / 352 páginas.

ISBN: 978-972-37-1555-2
PVP: 22,00

Evocação de Sophia (IV)

«[…] esta poesia não se deixa reduzir ao elogio da solaridade, não conhece apenas as imagens solares, a luz que cai a direito ou quebra a sua lança nas águas do mar. Francis Ponge escreveu acerca desse céu das margens do Mediterrâneo – que era o seu céu romano e provençal e será para Sophia o céu da sua Grécia – um céu que, segundo ele, liberto da fantasmagoria das nuvens dos céus do Norte, podia então na sua transparência deixar pressentir a “noite sideral”, “a noite da consideração”. No seu diferentíssimo mundo, Sophia conhece e nomeia o terror, a aliança quebrada, a injustiça e o sofrimento impostos, mas não cede. Atenta a todas as formas que a luz do sol conhece/ e também à treva interior por que somos habitados/ E dentro da qual navega indicível o brilho (III, 155).
«A poética de Sophia passa por uma ontologia da imagem poética e por uma ética que é inerente ao acto de tomar ou de usar a palavra; e é essa a sua forma de fundar a possibilidade de articular poeticamente o político. O político surge então concentrado em torno do clamor por justiça. E a justiça enquanto exigência pode, por seu turno, entender-se como algo que articula o antropológico, o ético e o histórico, algo que está para além do direito, que não prescinde dele mas não se lhe reduz. Escutemo-la uma vez mais:

A moral do poema não depende de nenhum código, de nenhuma lei, de nenhum programa que lhe seja exterior, mas, porque é uma realidade vivida, integra-se no tempo vivido […] Como Antígona a poesia do nosso tempo diz “Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres.” (I, 8)

«Não está pois em causa a autonomia do estético, mas apenas o absoluto da sua “separação” do vivido.
«A articulação poética do político assume na poesia de Sophia diferentes formas, desdobra-se num largo leque de modalizações […] que partem de um modo de tomar a palavra que rompe ou deverá romper com o oportunismo e a demagogia.»

Manuel Gusmão, “Da evidência poética: justeza e justiça na poesia de Sophia”, in Tatuagem & Palimpsesto – da poesia em alguns poetas e poemas, Assírio & Alvim, 2010

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Evocação de Sophia (III)

Sophia, in A Phala - Um Século de Poesia

«O modo como Sophia acentua que o facto de o poema ser feito sílaba por sílaba e de acordo com uma rigorosa disciplina o aproxima de uma dádiva dos deuses, fazendo dele o lugar da liberdade, sugere uma valorização muito particular do ritmo, enquanto maneira de ganhar forma, de atingir uma “inseparação” do sentido e da letra capaz de situar-se para além do arquivo. […]
«A poesia de Sophia sabe que as coisas do mundo não podem ecoar linearmente nas palavras – porque a palavra isolada não conseguiria libertar-se da arbitrariedade que, ao mesmo tempo que a associa a um referente, não anula a existência entre eles de uma separação por onde o caos sempre ameaça emergir. Em contrapartida, as sílabas ordenadas são já a voz do mundo, pois este precisa da poesia para falar e, por isso, produz discurso, não palavras, mas versos: “O meu viver escuta / A frase que de coisa cem coisa silabada / Grava no espaço e no tempo a sua escrita” (22). Como é dito no poema “Bach Segóvia Guitarra”, “Palavras silabadas / Vêm uma a uma”, e só a silabação traduz “A Música do ser” (23). Digamos, então, que as sílabas são a matéria que permite encontrar “[…]a ordem intacta do mundo / a palavra não ouvida” (24), e que esta é sempre relacional e rítmica.
«Em absoluta concordância com esta perspectiva, o poeta é “um escutador”, e “fazer versos é estar atento”, “[d]eixar que o poema se diga por si” (25), ou seja, ouvir as frases por inteiro, evitar que o ritmo se quebre, deixar que uma sílaba conduza a outra para que as palavras justas possam surgir (juntas): as relações entre os sons tecem o fio discursivo que assegura a verdade do sentido porque o submetem a uma certa geometria, a uma ordem construtiva. Assim, apesar de procurada e humanamente “feita”, a ordem do poema é também, e sem contradição, “escutada” como se fosse recebida dos deuses, dado resultar inteiramente livre.»

Rosa Maria Martelo, “Sophia de Mello Breyner Andresen: O fio de sílabas”, in A Forma Informe: Leituras de poesia, Assírio & Alvim, 2010.

(22) Sophia de Mello Breyner Andresen, Geografia, Obra Poética III, p. 89.
(23) Idem, p. 33.
(24) Idem, p. 67.
(25) Idem, “Arte Poética IV”, Dual, Obra Poética III, pp. 166-7.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Evocação de Sophia (II)

«Mas será verdade, como Sophia tão fundamente acreditou, que tudo continuará “como se eu não estivesse morta”? “Será o mesmo brilho, a mesma festa / Será o mesmo jardim à minha porta”?
«Vezes sem conta discuti isso com Sophia. Para ela, “sempre a poesia foi uma perseguição do real”. Quando recordou a “maçã enorme e vermelha” “poisada em cima de uma mesa”, “num quarto em frente do mar” (e era a coisa mais antiga de que ela se lembrava) não recordou “nada de fantástico” “nada de imaginário”. “Era a própria presença do real que eu descobria.” Por isso, cem vezes ou mais, na sua poesia, associada à morte, surge essa crença na continuidade do real, independentemente dela ou de qualquer humano. “Também morre o florir de mil pomares / e se quebram as ondas no oceano”. Ou: “Um dia quebrarei todas as pontes / Que ligam o meu ser, vivo e total / À agitação do mundo do irreal / E calma subirei até às fontes”. Cito ao acaso, de memória. Podia citar mil poemas em que ela diz o mesmo.
[…]
«Em Génova, naquela noite, ouvia a voz dela, ouvia os poemas dela ditos por ela, e via-a a ela e à poesia dela. Tudo tão real quanto fantástico. Como ela o foi, como ela o é. Mesmo quando nada restar da poesia dela, mais do que um verso ou um fragmento. Não foi só isso que nos ficou de tantos poetas da Grécia Antiga? Mas, porque outros os amaram como alguns amaram Sophia, esse resto é quanto basta. Porque “a arte é filha da memória”. Sophia, eu lembro-me.»

João Bénard da Costa, “Sophia: memória – 2 de Julho de 2004”, in Crónicas: Imagens Proféticas e Outras, 2º volume, Assírio & Alvim, 2010.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Retratar o «Nome de Guerra»

Mais informações AQUI.

O Corpo em Pessoa, na Casa Fernando Pessoa


O foco temático e teorético deste volume, cuja versão original, intitulada Embodying Pessoa: Corporeality, Gender, Sexuality, foi publicada em 2007 pela University of Toronto Press, radica no nosso desejo de alargar o actual repertório das interpretações quer do corpo literário labiríntico e multifacetado da obra de Pessoa, quer do seu conceito de produção literária heteronímica. Colectivamente, estas leituras oferecem um novo olhar tanto sobre a teoria da heteronímia, os mais venerados versos do modernismo português, e o Livro do Desassossego, como sobre os numerosos textos inéditos, vindos à luz nos anos mais recentes e que evidenciam a relevância das questões de género e de sexualidade no macrotexto pessoano.

António Feijó apresentará O Corpo em Pessoa: Corporalidade, Género, Sexualidade dia 25 de Janeiro pelas 18h30 na Casa Fernando Pessoa. Anna Klobucka e Mark Sabine, responsáveis por esta edição da Assírio & Alvim, estarão também presentes na sessão.

«O Couraçado Potemkine»





O ciclo POEMAS COM CINEMA, a propósito do lançamento da antologia POEMAS COM CINEMA, acabada de editar pela Assírio & Alvim, prossegue hoje no Teatro do Campo Alegre, no Porto, com a exibição de O COURAÇADO POTEMKINE, de Serguei Eisenstein, um filme que mudou radicalmente o cinema e um dos maiores da sua história.

A não perder o filme. A não perder o livro.

COURAÇADO POTEMKIN
(depois de ver o filme de Eisenstein)

(…)
Partiu há muito tempo. Era em Odessa,
no Mar Negro. Deu a volta ao mundo.
O mundo é vasto e vário e dividido, e os mares
são largos.
Fechem os olhos,
cerrem fileiras,
o couraçado vem.

Jorge de Sena, in Poemas com Cinema (org. Joana Matos Frias, Luís Miguel Queirós, Rosa Maria Martelo), Assírio & Alvim, 2010.

(o couraçado Potemkin)
De Odessa, pela escada, quem se faz ou morre
e quem deveras queima, inútil, uma chama
de luz nenhuma e nem calor fugaz?
(…)

Pedro Tamen, ib.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Evocação de Sophia (I)

«Diariamente, ao fim da tarde, depois dos museus, dos templos, das igrejas ou de um percurso de automóvel durante o qual falávamos das suas traduções de Dante, Shakespeare ou Rimbaud “juventude ociosa / por tudo iludida / por delicadeza perdi minha vida” (2), não se cansava de repetir, íamos religiosamente gozar do prazer de um mergulho no Mediterrâneo: de olhos abertos, como ela fazia, até ao fundo, aprendendo a distinguir a linha divisória entre o verde e o azul das águas. “E abro bem os olhos no silêncio líquido e verde onde rápidos, rápidos fogem de mim os peixes.” (1)
[…]
«Com a distância, parece-me evidente a sua extraordinária identificação com tudo o que sente e o que respira, o fogo de um conhecimento infalível que a levou a penetrar as grutas do secreto, do misterioso, do oculto – muito para lá do histórico, do épico, do científico, do filosófico e do mítico, do psicológico, até aos mais profundos recessos da alma humana.»

Alberto Vaz da Silva, Evocação de Sophia, Assírio & Alvim, 2009

(2) O Nome das Coisas.
(1) Livro Sexto.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Assírio & Alvim livros (Chiado)

Última hora:


A livraria Assírio & Alvim livros (Chiado) está hoje aberta das 15h às 19h.

Apareça!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Aqui há Gato Maltês! [o cartaz]

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Aqui há Gato Maltês! [as capas]









1981-2011 GATO MALTÊS 30 ANOS

Começam a chegar às livrarias esta semana, onde se juntam à «ninhada» de 2010. Procure-os, acarinhe-os, adopte-os e leve-os consigo para casa. Gostam muito de dormir em bibliotecas, são uma excelente companhia e têm muito para lhe dar!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Novidades Assírio & Alvim



Editados no final de 2010, começam a chegar às livrarias a partir desta semana.

Boas leituras!

domingo, 16 de janeiro de 2011

«Deixou-nos filmes escritos»

João Bénard da Costa, Arrábida, 1960

«João Bénard era e é um escritor. Programador de filmes sim, mas não se tente arquivá-lo na académica gaveta dos historiadores de cinema e muito menos na gaveta dos críticos de cinema. A estratégia de programação de João Bénard era servida por um dispositivo narrativo que, literariamente, a replicava e a complementava.
[…] era assim, indomável, que o João escrevia torrencial, apaixonado, cada texto um monte dos vendavais. E esta compulsiva dramatização do acto da escrita contaminava a própria escrita. Os milhares de textos que o João Bénard nos deixou estão furiosamente invadidos de aventuras, aventuras de comboios a entrar em túneis escuros, aventuras de vertigens em campanários, como as de Cary Grant ou Jimmy Stewart nos amados Hitchcock. São textos que estilhaçam todos os tabus de sexo e morte e nos oferecem tantos jardins de prazer como os filmes que lhes deram origem. São textos – para usar um termo que o faria soltar uma gargalhada – pregnantes de drama.
São textos em que João Bénard reescreve cada filme. Só com palavras volta a iluminar a cena, recompõe o enquadramento cortando um bocadinho mais à esquerda, e volta a chamar os actores redesenhando-lhes a boca, os olhares, a angústia de uma despedida ou de um reencontro, a inadjectivável solidão de Rosebud, trenó esquecido na neve, a pasmosa alegria de toda a glória da vida no milagre da ressurreição que Dreyer encenou em “Ordet”.
O que é que o João nos deixou escrito? Deixou-nos filmes escritos. Chamem-lhes se quiserem filmes-textos ou textos-filmes.
Esses textos são cinema porque contêm tudo o que é essencial da mise-en-scène do cinema narrativo – o ângulo da câmara, um travelling, os cambiantes da luz, o esplendor ou dura escassez de um décor.
Esses textos são literatura porque cumprem todas as unidades dramáticas do romanesco, enunciam conflitos, dão densidade e dimensão a personagens, desenvolvem com exaltação peripécias e incidentes que fazem avançar a acção e, por fim, happy-end ou final trágico, resolvem o conflito.
Foi assim que o João escreveu a maioria das suas folhas. Tantas vezes com o olhar cheio de infância, o João escreveu em harmonia e fé como se pudéssemos ainda encontrar um mundo perfeito, inocente e inaugural, igual ao que nos faz chorar no “How Green Was My Valley”, de John Ford.
Muitas e tantas outras vezes, o João escreveu com um pessimismo profundo, mergulhando numa metafísica da perda, como se, uma vez doente, à esplêndida rosa que o verme mordeu, nada lhe pudesse já restituir o fulgor, a graça, a plenitude. Nothing can bring back the hour / the splendor in the grass, the glory in the flower. Ou de como, tantas vezes, o escritor João Bénard foi irmão gémeo de Nathalie Wood, essa trémula e perdida criação a que Elia Kazan chamou Deanie Loomis.»

Manuel S. Fonseca

[Ler texto completo, sob o título «João Bénard, as pessoas e o amor», AQUI]

Obras de João Bénard da Costa no catálogo da Assírio & Alvim: Os Filmes da Minha Vida / Os Meus Filmes da Vida (2 volumes); Muito Lá de Casa (1 volume); Crónicas: Imagens Proféticas e Outras (já disponíveis 2 de 4 volumes a publicar).

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

António Sérgio

Feira do Livro de Lisboa 2009. Foto A&A

Faz hoje 61 anos que nasceu António Sérgio, «a voz profunda». Razão mais do que suficiente para voltarmos a um seu texto já publicado neste blogue.

«As visitas do Zé Pedro e principalmente do Kalu ao "Som da Frente" na Rádio Comercial nunca constituíram surpresa para mim, eram constantes depois da publicação do 79-82, e na altura mais dura de roer quando perderam o guitarrista ou ficaram sem editora. Foi nessa altura que percebi claramente que os Xutos, mais do que banda de rock, são uma autêntica unidade de combate: quando não tinham guitarrista e enquanto não aparecia outro, toca a fazerem-se à estrada em trio (apesar do Zé Pedro não ser um solista)... se não tinham editora, então vieram falar comigo para conhecer o modus operandi da indústria fonográfica para (imagine-se na altura) tentarem uma edição de autor.
Tudo acabou por se resolver, veio O Cerco com a Dansa do Som, depois o contrato com a Polygram, o trabalho com um produtor que também era músico (o Carlos Maria Trindade), o Circo de Feras, o êxito do Contentores, as tournées esgotadas e o culminar com o estrondoso (e fumarento) concerto do Pavilhão do Belenenses.
Por isso, quando após esta sucessão feliz de eventos voltei a ter uma visita do Kalu, aí sim fiquei surpreendido. E o que trazia ele na manga?
"Tu é que eras o gajo indicado para falar com a Ana Cristina e convencê-la a escrever o nosso livro. Afinal a malta já conseguiu quase tudo mas falta-nos ter um livro." O Kalu era um tipo atento, gostava muito de visitar Londres e sabia da quantidade de livros que existiam a contar as histórias de músicos, bandas, enfim a retratar dum certo modo mais arrumado as várias cenas musicais então existentes.
"Sabes, é uma fezada que eu tenho, oiço muitos textos da Cristina aqui no 'Som da Frente' e ela tem jeito." Também achava isso mesmo e logo que regressei a casa, não pude falar do recado do Kalu pois ela dormia mas escrevi um post it amarelinho com o pedido que me alegrara muito.
A Ana Cristina tinha qualidade, engenho e sensibilidade em tudo o que tinha feito para rádio, abordava com facilidade tópicos de natureza muito diferente. Acima de tudo tinha uma capacidade invulgar para transformar mesmo os temas mais "bicudos" em peças radiofónicas que captavam a "orelha" do ouvinte, abordando com facilidade tópicos de natureza distinta, enquadrando som e textos numa linguagem radiofónica própria e inovadora à época em Portugal no que se referia a música alternativa. Agora porém, surgia um novo desafio pois tratava-se de um livro.
Que eu reparasse não houve hesitações. A Ana é uma unidade à Xutos, pronta para a acção, para o combate aos atavismos, às incertezas, às dificuldades.
Quando escrevi o tal recado que coloquei na cabeceira da cama da Ana naquela noite, adormeci com uma dúvida na cabeça: como iria ela retratar e até recriar a cena musical de um país como o nosso?
O método utilizado consistiu em entrevistar os Xutos um a um e, depois em grupo de 2, 3, ou mais. Orientou as conversas, o q.b. para manter o foco e não cortar "a onda de memórias", e captou-as no gravador de cassetes Sony adquirido para o efeito. Daí resultaram intermináveis serões de captação em cassete, ao longo de muitos meses, em que o Tim, o Zé Pedro, o Kalu, o Gui e o menos palavroso Cabeleira contaram, entre gargalhadas e nostalgia mas sempre genuínos, as histórias mais pitorescas, mais ou menos picantes, com que se depararam ao longo de muitos anos de estrada. Sessões de trabalho mas acima de tudo de alegria e boa disposição.
Conhecendo a prática jornalística inglesa empregue em livros sobre grupos de rock e pop, invariavelmente figuras públicas de contornos comportamentais polémicos, como se iria contar uma (ou várias) histórias de músicos nossos amigos, com famílias próximas, até já com filhos, sem que o resultado fosse um imenso bocejo, caso se extirpassem as menções aos "berlaites", às "bubas", às noitadas, etc.
Essas dúvidas dissiparam-se face à puerilidade, à autoconfiança, afinal o carácter genuíno com que os Xutos debitaram para o gravador todo aquele quotidiano vivido no frenesim da estrada, afinal a sua razão de ser. Recentemente nas declarações de várias pessoas no 30º aniversário o Luis Montez afirmava num jornal diário que tinha conhecido nos Xutos "... a melhor malta do mundo". Percebemos o que ele queria dizer!
Mantendo a estratégia do trabalho de campo, a Ana resolveu em seguida entrevistar toda a gente (mas toda mesmo) que tivesse tido uma pontinha de contacto com eles... surgiram então o Pedro Ayres de Magalhães, o Ricardo Camacho, a Lola, o Paulo Junqueiro, o Pedro Lopes, o Vítor Silva, o José Wallenstein, enfim praticamente "todo o mundo" que tinha algo para contar, algo para opinar, qualquer coisa para celebrar e para fazer brilhar os olhos. Voltámos a perceber porquê!
Depois da gigantesca recolha e da morosa transcrição das conversas estarem concluídas, faltava arrumar aquilo tudo (e dou graças a Deus por não ter sido eu a fazê-lo). A Ana tinha tudo planeado, as peças do puzzle, por mais que variadas e de interligação difícil, encaixavam resultando num livro ágil, rápido e aliciante de se ler, digno duma banda de vivência nua e crua. Digno dos Xutos e Pontapés.
Porque se tratava não duma banda qualquer mas sim da maior banda de rock portuguesa, um punhado de músicos que munidos de inegável talento, com uma bagagem de canções notáveis e sempre capazes de comunicar com as sucessivas gerações de portugueses num simples piscar de olhos cúmplice, que pegaram a carreira de caras, cheios duma energia transbordante mas também com uma noção responsável de persistência, vinda de quem sabe que não há nem sucessos nem vitórias fáceis!
A crítica musical recebeu o livro Conta-me Histórias com apreço. Manuel Falcão considerou: "... um objecto de culto, a inauguração duma nova era do livro musical no nosso país". Pedro Rolo Duarte classificou-o como "um objecto Rock".
Para o saudoso Manuel Hermínio Monteiro, que tão sagazmente manteve a música em livro através da colecção Rei Lagarto, era uma vitória para a menina dos seus olhos... a Assírio & Alvim.
Para mim o maior motivo de orgulho é poder voltar às histórias dos Xutos neste Conta-me Histórias e ainda voltar a rir, voltar a ter gozo em relê-lo.
That's the stuff dreams are made of!


ANTÓNIO SÉRGIO

Fevereiro 2009
«Prefácio», Conta-me Histórias - Xutos & Pontapés, de Ana Cristina Ferrão

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Xutos & Pontapés

PARABÉNS!

«No dia 13 de Janeiro de 1979 a sala dos Alunos de Apolo estava cheia e enfumarada. Na pista de dança os pares vestidos a rigor pareciam saídos de algum filme dos anos cinquenta, popas, rabos-de-cavalo, saias rodadas, blusões de cabedal, brilhantina a rodos, sapatos com sola de ceilão, botas de salto espanhol, cais-cais ousados, camisolas de gola alta... (...).
Era a festa comemorativa dos 25 do Rock'n Roll!
(...)
A surpresa seria a apresentação de uma banda estreante, os Xutos & Pontapés Rock'n roll Band, que fazia questão em frisar que Rock'n roll Band era apelido. Já passava das três da manhã quando invadiram o palco como um tornado, debitaram a uma velocidade incrível quatro temas originais e abandonaram o palco sem que muitos dos presentes dessem por eles.»

Ana Cristina Ferrão, Conta-me Histórias - Xutos & Pontapés, Assírio & Alvim, 2009, p. 27

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Amanhã, lançamento de «Poemas com Cinema», no Porto

(clicar na imagem para a aumentar)

É já na próxima quinta-feira, no Porto. Contamos com a sua presença.

O livro está disponível nas livrarias.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

«no marítimo lodo da fala fazem ninho / pássaros de sal com suas asas afiadas (...)»

Al Berto
[11 de Janeiro de 1948 - 13 de Junho de 1997]

domingo, 9 de janeiro de 2011

Hoje à tarde

A Assírio & Alvim livros, no Chiado [Pátio do Siza, ao fundo - entrada pelas ruas Garrett, 10 / Carmo, 29], estará aberta ao público durante o dia de hoje, das 15:00 às 19:00 horas. Venha dar um passeio ao Chiado e visite-nos!

sábado, 8 de janeiro de 2011

Estreia logo à tarde...


Estreia hoje, dia 8 de Janeiro, sábado, no Teatro da Luz, em Lisboa.

«…todos se esqueciam de responder ao José Maria. Ou pelo menos todos se esqueciam de lhe responder como ele queria que lhe respondessem. Por isso, o rapaz ia ficando sem saber algumas coisas, coisas acerca das quais ainda não tinha construído certas ideias. Ideias acerca de certos e determinados assuntos. Era isto que ainda se passava, por exemplo, com o tamanho da sua altura…».
O Tamanho da Minha Altura, de Suzana Ramos (texto) e Marta Neto (ilustração) e editado em 2009 na colecção «Assirinha», é um fascinante livro infantil, vencedor do «Prémio Literário Maria Rosa Colaço – 2007», atribuído pela Câmara Municipal de Almada.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Helder Moura Pereira [Setúbal, 7-I-1949]

Apagaram-se as luzes azuis da ambulância
e mais ficou na nossa imagem a cor do sangue.
No trajecto vi mais o teu ser do que à mesa,
na cama, no trabalho, o que vi deixou-me
descansado: humano, demasiado humano.
Tudo podia ter sido mais fácil, eis o que pode
dizer qualquer um, e mesmo que quase não
haja dinheiro para o táxi e te sintas à beira
do precipício, levanta a garganta e berra
para aí até já não haver quem te oiça.
Da missa metade não soube em tua história
e também não é preciso, todos nós já corremos
para um hospital e viemos de lá a cheirar
a doença e a morte. Por nós ou por outros,
nessa grande casa da tristeza e do alívio,
democracia total o acaso que dispara
e acerta ou não acerta em quem vai a passar.
Alguém te segura à beira da derrocada
e te pergunta saberás se lá no fundo há
algo que valha a pena? Pode ser que sim,
pode ser que não, ninguém sabe.

SE AS COISAS NÃO FOSSEM O QUE SÃO (2010)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Poemas com Cinema - lançamento

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É já na próxima quinta-feira, no Porto. Contamos com a sua presença.

O livro está disponível nas livrarias.

Dia de Reis na Assírio & Alvim

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Malangatana

«Malangatana Ngwenya Valente nasceu em 6 de Junho de 1936 em Matalana, Moçambique, África Oriental "portuguesa".
Em Lourenço Marques, capital da "província", para onde parte depois de ter estudado nas escolas das Missões, trabalha como criado, primeiro como baby-sitter, depois num clube desportivo, e enfim como cozinheiro do pessoal de um clube elegante.
Frequenta uma associação artística local, o "Núcleo de Arte", e conhece o arquitecto Alpoim Guedes, que o convida para sua casa e o anima a inspirar-se unicamente em si-mesmo e no legado cultural que traz consigo. Com efeito, e sobretudo nessa época, a arte na África portuguesa era o joguete do academismo estético e moral do Ocidente, posto a andar de duas maneiras: "pôr do sol", "queimadas", e "Vénus Negras", se o pintor era branco; Cristos e Virgens-Santas para os escultores "colonizados".
É assim que, não mergulhando senão nas suas próprias forças e só escutando a voz mágica familiar (seu pai fora um "homem-medicina" e Malangatana associara-se como ajudante de feiticeiro aos ritos e operações do cháman), se torna o primeiro (em força e em data) pintor "absolutamente moderno" do complexo cultural nativo da África Oriental "portuguesa".
[...]»

Mário Cesariny, As Mãos na Água, a Cabeça no Mar, Assírio & Alvim, 1985, p. 283.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Gato Maltês - 30 anos

1981-2011


«De todas as nossas colecções, uma parece estar mais perto do coração. Chama-se GATO MALTÊS e, como o gato das histórias, tem muitas vidas e, no seu conjunto, pretende, em pequenas dimensões e sob excepcional aspecto gráfico, dar ao conhecimento do leitor português um leque diversificado do melhor da literatura universal.»

«Colecção Gato Maltês» (excerto de folheto promocional de Março de 1986, distribuído aquando do lançamento de O Gosto Solitário do Orvalho, de Matsuo Bashô)

«Há colecções preferidas nas editoras? No caso da Assírio & Alvim, há. E essa colecção tem a presença, o mistério, a familiaridade e irrequietude de um gato. Um gato maltês. Anais Nin, Borges, S. João da Cruz, Pound, Conrad, Whitman, D. H. Lawrence, Eliot, Malcolm Lowry, Céline, Bashô, Henry James, Novalis, Melville, Pascoaes, Yeats, Tarkovskii e Cocteau, todos eles deram "garras" à literatura universal, imprimindo-lhe um temperamento felino e inovador. Escolhendo um a um e juntando-os na sua pluralidade de escritas, inaugurámos uma singular e notável colecção de pequeno formato, na vida editorial portuguesa. Usamos o maior rigor na selecção e execução de cada título. A poesia publica-se em edição bilingue. As traduções são muito selectivas, como as de Aníbal Fernandes ou as de João Almeida Flor. Mas há aqui um particular que gostamos de realçar: o diálogo e o confronto de poetas portugueses com o texto original trazido ao português. Daí o "charme" da Gato Maltês. Com alguns dos seus pequenos livros em versões da autoria de diversos poetas de diferentes gerações: Herberto Helder, Cesariny, José Bento, Jorge de Sousa Braga, José Agostinho Baptista, Gil de Carvalho, Paulo da Costa Domingos, Fiama Hasse Pais Brandão. Por isso, acarinhámos esta edição de A Voz Humana. Pelo belo texto de Cocteau e igualmente pela singular versão do poeta Carlos de Oliveira. Ambos dão mais fôlego ao persistente gato que "ameaça" prosseguir activo pelos muitos lares dos melhores leitores para despeito e temor das muitas ratazanas que tentam desfeitear a Grande Literatura Universal.»

«Gato Maltês - uma colecção felina», folheto comemorativo do centenário do nascimento de Jean Cocteau, distribuído por ocasião do lançamento de A Voz Humana e da homenagem realizada entre 22 de Fevereiro e 8 de Março de 1989.

Janeiro de 1981 - edição de O Teatro, de Emma Santos, primeiro livro da colecção Gato Maltês; Janeiro de 2011 - esteja atento às novidades e reedições que preparámos para assinalar os 30 anos desta colecção. Damos assim novo «fôlego ao persistente gato que "ameaça" prosseguir activo pelos muitos lares dos melhores leitores para despeito e temor das muitas ratazanas que tentam desfeitear a Grande Literatura Universal». Ontem e hoje.

Bom Ano!



«[...] não é bom começar um ano a repisar desgraças e muito menos a antevê-las.»

João Bénard da Costa, Crónicas: Imagens Proféticas e Outras, 2º vol., A&A, 2010.

BOM ANO DE 2011!