A greve dos motoristas, que dura há cinco dias, parece ter entrado numa fase crítica.
Depois de um período alarmista, ampliado pela Comunicação Social, o governo aumentou os níveis esta semana, exigindo "serviços mínimos" e ameaçando com "requisição civil", todos os motoristas que se recusassem cumpri-los. Aparentemente, saíu-se bem. A distribuição da gasolina foi-se efectuando sem grandes problemas, ainda que com apoio de militares e da GNR. No primeiro dia da greve, 12 de Agosto, percorri a A23 entre Vilar Formoso e Torres Novas e a A1, entre Torres e Lisboa (mais de 400 km) e, no Fundão, onde meti gasolina, não havia qualquer carro em fila de espera na estação de combustíveis. Máximo permitido: 15 litros. So far so good.
Não consta que qualquer hospital, serviços de protecção civil, bombeiros ou aeroportos, tivessem falta de gasolina. À excepção do Algarve, onde a distribuição ainda é deficiente (também devido à população flutuante que, nesta altura do ano, aumenta exponencialmente), o nível de incumprimento situava-se nos 30%. No balanço provisório, diariamente feito pelo ministro do ambiente, este disse (ao 5º dia) que tudo estava a decorrer normalmente.
Entretanto, na comunicação social, nos fora e nas redes sociais, as opiniões, umas mais incendiárias que outras, surgiram em catadupa. De um modo geral todos - governo, oposição, patrões, motoristas, partidos políticos, sindicatos, jornalistas, comentadores - começam as suas intervenções por declarar que "a greve é um direito constitucional que assiste aos trabalhadores" para, depois, com maiores ou menores "nuances", acrescentarem: "mas, esta greve, é diferente e prejudica a população em geral". Os mais elaborados, chegam a afirmar que esta greve é de extrema-direita e serve interesses obscuros, quiça orquestrada por Steve Bannon (!?), o alter-ego de Trump que, a partir de Itália, se prepara para pôr a Europa a ferro e fogo. Quem sabe... Não devemos descartar nenhuma hipótese e, nos tempos que correm, uma greve, para mais de camionistas (lembram-se do Chile...) pode fazer cair um governo. Em véspera de eleições, este seria o momento ideal para destabilizar o PS, que vai à frente nas intenções de voto, pensam os arquitectos da conspiração. Logo, há que "parar o país", forma clássica de causar confusão e culpar o governo por tudo o que correr mal.
Acontece que o governo, que esteve bem até agora, não conseguiu parar a greve. O sindicato dos motoristas de matérias perigosas recusa-se suspendê-la e a organização patronal, a Antram, recusa-se negociar com o sindicato, enquanto este mantiver a greve. São cerca de 800 motoristas mobilizados, que fazem parte de um pequeno sindicato, criado em 2018. Das suas exigências, constam o aumento progressivo do ordenado-base (actualmente fixado em 630 euros), que passaria a integrar alguns dos subsídios pagos por fora (que não contam para o IRS) assim como a diminuição de horas-extra que, de acordo com o actual contrato colectivo de trabalho, podem chegar às 60 horas semanais. Ou seja, os motoristas de matérias perigosas exigem um ordenado líquido tributável de 900euros, ao longo dos próximos três anos, e menos horas de trabalho efectivo, o que faria disparar o ordenado ilíquido para cerca de 1500euros, exigências recusadas pela Antram.
Posto isto e porque as partes não negoceiam, a greve pode prolongar-se e, nesse caso, a rutura de "stocks" acontecerá mais cedo ou mais tarde, o que pode inverter a situação, actualmente favorável ao governo, cuja actuação tem sido elogiada pela maioria da população. É aqui que estamos e por isso esta fase é crítica.
Entretanto, os motoristas continuam a trabalhar oito horas por dia, o que lhes garante um vencimento-base, ainda que as horas cumpridas (serviços mínimos) não cheguem para assegurar as necessidades de distribuição. Ou seja, só cumprindo 11 ou 12 horas diárias, o conseguiriam fazer, com todos os riscos inerentes.
Dito de outra forma: o patronato paga parte do ordenado por "debaixo da mesa" aos motoristas, fugindo dessa forma à Segurança Social e ao Fisco e a Autoridade Tributária (que conhece a situação) nada faz para recuperar impostos que ascendem a 300 milhões de euros, de acordo com os cálculos publicados por estes dias. Grande negócio, que o governo (Finanças) ignora olimpicamente.
Independentemente do que possamos pensar sobre as "intenções" desta greve (que alguns lamentam pelos inconvenientes provocados), a verdade é que não são conhecidas greves sem efeitos secundários, ou que não perturbem a produção. Esse é o seu fim último. Sempre foi assim e esta greve não é excepção. O que está mal, mas muito boa gente parece não querer ver, são as condições de trabalho e salário existentes que, de há muito tempo a esta parte, são praticados no sector. O governo é cumplice desta situação e a sua posição neste conflito, claramente ao lado da Antram, só confirma o lado que escolheu.
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2019/08/16
2012/03/14
Sobre a volatilidade da comercialização de produtos voláteis
É um verdadeiro escândalo aquilo que se passa com os preços da energia em Portugal. Por mais voltas que se tente dar para perceber as razões que levam os preços dos combustíveis, da electricidade e outros, a atingir estes valores criminosos que temos hoje, deparamos sempre com um novelo intrincado. Ao tentar desembrulhá-lo a única coisa que se nos revela é um outro sistema fiscal, escondido, por detrás do sistema, já de si terrorista, aprovado no Orçamento de Estado. Um sistema que recorre a uma plêiade de outros instrumentos como a factura da electricidade, as taxas "moderadoras" na saúde, as portagens, etc.. Um contributo, nosso, uma verdadeira inovação, na vetusta arte da administração fiscal: a economia paralela de estado.
A novela "eléctricas"promete (leia aqui e aqui, por exemplo). Mas há outras novelas e outros artistas.
O presidente da Galp dizia ontem à TSF que "estamos a viver num período de alta volatilidade, o negócio de produtos petrolíferos é totalmente globalizado, portanto, os preços não são definidos nem condicionados pela economia portuguesa." Pois... Não sei se a expressão utilizada "alta volatilidade" tem a ver com o produto ou se se trata de fazer humor negro. O que sei é que olhando para os preços no estrangeiro e em Portugal, comprovando as discrepâncias brutais de preços nas bombas, que cá se registam (repare-se, por exemplo, nas diferenças inexplicáveis de preço em bombas de gasolina urbanas e rurais, entre bombas situadas numa autoestrada e numa estrada normal, a escassas dezenas de metros, por vezes, uma da outra, ou nas diferenças entre os preços praticados pela omnipresente Galp e as outras), verificando o gráfico da progressão do aumento dos combustíveis, o termo volátil vem, sem dúvida, à mente...
Ferreira de Oliveira mostrou-se também preocupadíssimo com os postos de venda. Haverá centenas em perigo, o negócio escasseia, a situação é, concorda o presidente da ANAREC, grave, 250 postos de venda terão encerrado nos últimos dois anos e 300 estão em vias de encerrar. Perto de 2 500 postos de trabalho irão perder-se. Ferreira de Oliveira fala num tom que mais parece querer dizer que, mandasse ele, iríamos todos nós, desavergonhados sem sentido patriótico, ser obrigados a comprar mais gasolina, ainda mais cara, para que o sector se pudesse salvar.
Tudo isto se passa sem aparente controlo, sem visão estratégica, com o Estado em intrigante ponto morto, em nome sabe-se lá de que misteriosos desígnios.
Entretanto os preços dos combustíveis em Portugal estão "em linha com o resto da Europa," constata o Secretário de Estado da Energia (*). Claro que se exigiria mais neste domínio de uma economia que se pretende mais competitiva do que a do resto da Europa, mas para quê ser tão picuinhas? Há sempre a componente salarial para equilibrar a competitividade, constatamos nós.
A economia afunda-se, o preço dos combustíveis, um dos factores que mais contribui para a fraca produtividade da economia portuguesa, não pára de aumentar. O negócio dos combustíveis, esse, baixa, os comerciantes do sector fecham as portas e despedem pessoal, os portugueses arrumam os carros, as empresas tentam fazer reflectir nos preços dos produtos o preço irracional dos combustíveis e, com isso, afundam-se e afundam ainda mais uma economia já quase em hipotermia. O Estado deve certamente perder, na diminuição do negócio e nos encargos que terá de suportar com os despedimentos, o que ganha nos impostos (a componente mais pesada da factura da gasolina que pagamos; 60% no caso da gasolina e 50% no do gasóleo.)
É assim a liberalização dos preços, é assim a globalização, é, enfim, assim a volatilidade. São assim os estranhos caminhos da gestão...
(*) Não sei que "linha" é esta, mas, no caso dos combustíveis, deve-se escrever direito por "linha torta". Diz-se que a nossa é a gasolina mais cara dos 27...
A novela "eléctricas"promete (leia aqui e aqui, por exemplo). Mas há outras novelas e outros artistas.
O presidente da Galp dizia ontem à TSF que "estamos a viver num período de alta volatilidade, o negócio de produtos petrolíferos é totalmente globalizado, portanto, os preços não são definidos nem condicionados pela economia portuguesa." Pois... Não sei se a expressão utilizada "alta volatilidade" tem a ver com o produto ou se se trata de fazer humor negro. O que sei é que olhando para os preços no estrangeiro e em Portugal, comprovando as discrepâncias brutais de preços nas bombas, que cá se registam (repare-se, por exemplo, nas diferenças inexplicáveis de preço em bombas de gasolina urbanas e rurais, entre bombas situadas numa autoestrada e numa estrada normal, a escassas dezenas de metros, por vezes, uma da outra, ou nas diferenças entre os preços praticados pela omnipresente Galp e as outras), verificando o gráfico da progressão do aumento dos combustíveis, o termo volátil vem, sem dúvida, à mente...
Ferreira de Oliveira mostrou-se também preocupadíssimo com os postos de venda. Haverá centenas em perigo, o negócio escasseia, a situação é, concorda o presidente da ANAREC, grave, 250 postos de venda terão encerrado nos últimos dois anos e 300 estão em vias de encerrar. Perto de 2 500 postos de trabalho irão perder-se. Ferreira de Oliveira fala num tom que mais parece querer dizer que, mandasse ele, iríamos todos nós, desavergonhados sem sentido patriótico, ser obrigados a comprar mais gasolina, ainda mais cara, para que o sector se pudesse salvar.
Tudo isto se passa sem aparente controlo, sem visão estratégica, com o Estado em intrigante ponto morto, em nome sabe-se lá de que misteriosos desígnios.
Entretanto os preços dos combustíveis em Portugal estão "em linha com o resto da Europa," constata o Secretário de Estado da Energia (*). Claro que se exigiria mais neste domínio de uma economia que se pretende mais competitiva do que a do resto da Europa, mas para quê ser tão picuinhas? Há sempre a componente salarial para equilibrar a competitividade, constatamos nós.
A economia afunda-se, o preço dos combustíveis, um dos factores que mais contribui para a fraca produtividade da economia portuguesa, não pára de aumentar. O negócio dos combustíveis, esse, baixa, os comerciantes do sector fecham as portas e despedem pessoal, os portugueses arrumam os carros, as empresas tentam fazer reflectir nos preços dos produtos o preço irracional dos combustíveis e, com isso, afundam-se e afundam ainda mais uma economia já quase em hipotermia. O Estado deve certamente perder, na diminuição do negócio e nos encargos que terá de suportar com os despedimentos, o que ganha nos impostos (a componente mais pesada da factura da gasolina que pagamos; 60% no caso da gasolina e 50% no do gasóleo.)
É assim a liberalização dos preços, é assim a globalização, é, enfim, assim a volatilidade. São assim os estranhos caminhos da gestão...
(*) Não sei que "linha" é esta, mas, no caso dos combustíveis, deve-se escrever direito por "linha torta". Diz-se que a nossa é a gasolina mais cara dos 27...
2010/04/16
Cosa Nostra
Quando, no pico da crise, o petróleo estava a 150 dólares o barril, o preço médio de um litro de gasolina em Portugal era de €1.40. Agora, que o barril está a menos de 90 dólares, o preço médio do litro de gasolina é de €1,40...
Bem se esforçou hoje, no Parlamento, o cada vez menos convincente ministro Vieira da Silva, a explicar que o governo está atento à cartelização dos preços e que por isso existe uma entidade reguladora.
Convinha que o ministro explicasse que o estado arrecada 60% de impostos por cada litro de gasolina vendido e que, por essa razão, quanto mais caro for o combustível, mais receita arrecada o governo.
Esta é a razão porque Portugal, um dos países com os salários mais baixos da União Europeia, paga uma das gasolinas mais caras da União. Estão a perceber o negócio?
Pensarão estes governantes que as pessoas são estúpidas?
Bem se esforçou hoje, no Parlamento, o cada vez menos convincente ministro Vieira da Silva, a explicar que o governo está atento à cartelização dos preços e que por isso existe uma entidade reguladora.
Convinha que o ministro explicasse que o estado arrecada 60% de impostos por cada litro de gasolina vendido e que, por essa razão, quanto mais caro for o combustível, mais receita arrecada o governo.
Esta é a razão porque Portugal, um dos países com os salários mais baixos da União Europeia, paga uma das gasolinas mais caras da União. Estão a perceber o negócio?
Pensarão estes governantes que as pessoas são estúpidas?
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