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terça-feira, 3 de setembro de 2019

A COISA




A coisa é um trapo
um tamanco
um papel em branco
um buraco
a coisa é um bicho
um olho vazado
o caldo entornado
que vai para o lixo
parva que a coisa é
pulga de cão
salta pró chão
pelo próprio pé
qual coisa qual nada
a coisa está feita
com a direita
escrita e falada
a coisa é fascista
um boneco
um pato marreco
um galo de crista
seja coisa ou não
ferida que infecta
ou falso profeta
na televisão

a coisa esfuma
incha como espuma
e não é coisa nenhuma

domingo, 11 de agosto de 2019

GÁS É O DUTO


de gás é o duto flatulento
o canal
fedorento
que cheira mal


domingo, 17 de março de 2019

DESILUSÃO


Estavas tim, tão-tão,
querida Matilde
e ao primeiro abanão
fizeste tilt.


terça-feira, 11 de setembro de 2018

O SOL


A tépida estrela, que esta manhã
surgiu a leste no horizonte,
deixa lentamente a claridade
e desce ao seu destino crepuscular.

Ai se não fosse a poesia,
onde estaria este sol agora…


terça-feira, 9 de maio de 2017

PEDRA



Uma pedra que arrima,
ainda outra pedra,
outra pedra em cima.

Não é a perfeição;
é no início
toda a construção.

Pode ir abaixo, cair.
Mas levanta-se
e torna a construir.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

UVAS


Uva é uma palavra cheia e colorida
de embriagada fantasia:
sonhos, imaginação e porfia;
metade pura ilusão, outra metade vida.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O INEXPUGNÁVEL BISTURI


1.
De finíssimo recorte,
técnica apurada,
com um pouco de sorte
não dói nada.
Da sorte e, a bem dizer,
da anestesia,
que a frio faz doer
em demasia.
Quase que dá,
um arrepio de medo
e depois se saberá,
que ainda é cedo.
Não rasga, fende
ritual, litúrgico.
Mal de quem depende
dum bisturi cirúrgico.

2.
Há pouco estava aqui
ocioso, esterilizado,
- disse o cirurgião - o bisturi.
Tem de ser usado
ou o paciente morre,
coxeará, talvez…
(anda mas não corre)
ou vai-se de vez.
Poderá ter sorte
de aprendiz,
e escapar à morte
por um triz.
Fiquemos por aqui,
assunto resolvido.
E o bisturi,
onde se terá metido?

domingo, 29 de maio de 2016

POEMA DOS PAUS


Os paus dos pauliteiros musicam,
dançam, saltam, encantam,
como há os paus que brincam
e brincando se levantam.

Há poetas que, neste exercício,
andam aos paus e pantomimas.
Eu ponho paus desde o início
e assim faço as minhas rimas.

E há paus de ensino,
paus juntos que viram ripas
e outros de corte fino
que são paus de virar tripas.

Aos caras de pau, simulados,
vistosos mas de fundo mau…
sobre esses paus mandados
o melhor é pôr-me a pau.

Há os nobres, com brasão,
os paus de canela e quebranto,
que são de outra condição,
para não falar no pau-santo.

domingo, 22 de maio de 2016

SEMIOLOGIA



Para meu deleite
quero que saias,
isto é,
que te levantes
e saias.
Espera, melhor:
para meu deleite
quero que levantes
as saias.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

SOL E DÓ


Quando o sol arrefece,
a modos que entristece
em arrepiante glacê.
Apenas ri quando aquece
ou porque lhe apetece
sem saber bem porquê.

Este sol habituado
ao palco diurno do fado,
que nem por um dia se acoite,
se bem que triste ou magoado,
e mesmo se estiver cansado
nunca saiba o que é a noite.

quinta-feira, 31 de março de 2016

PROEMA


primeiros prantos
pregos proibidos
prémios primos
prédios pretos
pratos prévios
praias próximas
preces privadas
praças preenchidas
pregam presbíteros
pregões preceptivos
prefixos preditos
problemas primários
presos preventivos
professores provisórios
projectos profundos
procissões profanas
próximos programas
provas práticas
princesas prenhas
provisoriamente
pronto 

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

DRAGÃO VERMELHO


Dragão vermelho é bicho morto,
nem sei como tal se classifica:
pois se o dragão é símbolo do Porto,
vermelho é a cor do meu Benfica.

Mas em fase terminal da bicharada,
um híbrido é bom medicamento.
É assim uma espécie de salada
sem sal ou qualquer outro condimento.

Ah, bem, é fita, é sétima arte,
não cospe fogo e porta-se como gente.
Nesse caso fica bem em toda a parte,
Desde que não surja de repente…

Porém, lembra-me festa oriental,
símbolo de doença rara ou peste.
Se o dito me aparecer no quintal,
dou um grito: “Olga, que bicho é este?!”

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O ÚLTIMO MILHO


pardais das pedras
ou de quem os prende com perdas
pardais de pronto confronto
com as migalhas
pardais de esperas e de ais
ideais quimeras
são demoras de pardais

a migalha esconde-se na pedra
pródiga na  fenda que a consome
e não medra
é por isso que saltam os pardais
é uma dança de fome
deus não dorme é conforme
amanhã há mais

sábado, 24 de outubro de 2015

O RATO E A POESIA


O rato fez a sua obrigação.
A sua natureza de rato
ditou-lhe a sujeição, natural,
de roer a saca de trigo
e não encontrou
poesia nenhuma lá dentro,
uma estrofe que fosse.
Mas ficou satisfeito,
barriga cheia.
A poesia não enche barriga,
pensou o rato.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

POEMA À MÁQUINA


tec tarec tec

a máquina
de escrever
à tec tecla
poemas plim
rima assim:

tec tarec tec

tec larec tac
re re retrocesso
meti o dedo
no buraco

tec tarec tec

maiúcula plim
a vermelho
minúscula ploc
muda a cor
agora não rima
fica assim

terça-feira, 14 de julho de 2015

FIGURA DE URSO


Amigo, vem à janela,
que te quero dar um recado:
não andes na boa-vai-ela
fica em casa, resguardado.

Andam para aí pretendentes
(com equivalências do curso)
que apenas mostram os dentes
e fazem figuras de urso.

sábado, 13 de junho de 2015

JARDIM


Um incomensurável jardim,
cobrindo do cimo ao fundo
as casas, os campos e a mim,
como no princípio do mundo…

quarta-feira, 15 de abril de 2015

LUA


Tempos houve em que a lua
era um queijo no fundo do poço,
agora já não creio, mais não posso
fartei-me de tal insanidade;
ter a certeza nua e crua,
do que afinal não é verdade.
A lua é isto: um planeta branco
que, qual espirito santo,
- mal de nós que pecamos… -
faz crer neste mundo e no outro,
enquanto eu não vou a tanto;
apenas creio neste e a ver vamos…

segunda-feira, 13 de abril de 2015

CACHOEIRA


Cascata, como se diz por aqui,
nada acrescenta ao que vi.
Mas se disser cachoeira,
como também já ouvi,
na forma de dizer brasileira,
gosto mais, dá-me mais prazer,
a queda d’água, prazenteira,
caíndo da mesma maneira
tem mais modos de o dizer.

Cai água nua e brejeira
mas para senti-la, não basta ver:
como as uvas comidas no cacho,
é outro nome, piririca, eu acho…

segunda-feira, 9 de março de 2015

SONHEI QUE...


Entre quase nunca e quase sempre,
o truque para escolher a frase
é simples: basta perguntar sempre
que tamanho tem o quase.

Já para saber como avalio
(o que nem adianta nem atrasa)
se é meio cheio ou meio vazio,
é conhecer o dono da casa.

Dito nem oito nem oitenta
ao exagerado, teimoso, convicto,
se o oito cai, não aguenta,
assim temos o início infinito.