Ainda a simulada defesa do património
assentava arraiais no perfil das aduelas,
na cor dos telhados, portas e janelas
e já sopravam ventos doutro demónio.
Vieram então granitos de encomenda,
rectroescavadoras e demais engenharias,
capazes de transformar em poucos dias
a cidade que assim se pôs à venda.
Ferro para ali e para acolá, fora o cimento,
um arame floreado em perfeita simetria
e holofotes capazes de imitar a luz do dia,
podendo não ir muito além do que é cinzento.
E passam por tudo isto os cidadãos utentes
no vaivém, como cães por vinha vindimada,
farejando o chão e o oxigénio de mão dada,
a quem só faltam palas nos olhos e freio nos dentes.
Vão passando adormecidas por aí as criaturas,
carregando a fé nos sacos do supermercado,
o dia a dia e também o mau bocado,
agora e na hora das nossas acções futuras.
Contas feitas, não há como a saudade
do ronco dos motores das betoneiras,
do brilho dos néones e das floreiras,
e do pechisbeque aramado no centro da cidade.