Como
posso eu comprar vinho, Senhor,
ao
preço que estão as uvas,
mais
o pé-de-obra de esmagá-las;
como
posso eu aventurar-me assim
como
vós, que sois capaz de o fazer
a
partir da água, a partir do nada,
que
é o valor dado à água quando abunda?
Guardai,
que vos pedirei ajuda.
Mas
é de água que preciso agora, Senhor,
não
desse etílico líquido, que me mata
e
não mata sedes antigas.
Guardarei
o bem-aventurado vinho
para
as sopas de cavalo cansado, tão nutritivas,
e
mais tarde falaremos do pão necessário,
assunto
em que também sois mestre
muito
competente, segundo ouvi dizer.
É
de água, pois, o meu pedido, Senhor,
não
daquela deslavada que me entra
pelas
frinchas do telhado e eu chamo chuva
há
uma data de anos.
Água
doce, benzida ou não, tanto faz,
mas
que eu não tenha de a chorar,
não
precise de fingir que tudo está bem assim
e
morra de sede como as nuvens.