quarta-feira, 30 de junho de 2010

ANEXIM QUEBRADO VI


(oxalá não aconteça
o mal)
o sol
faz mal à cabeça

segunda-feira, 28 de junho de 2010

ANEXIM QUEBRADO V


cesteiro
que faz um
cesto
faz
a sesta
(de segunda a sexta)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

ANEXIM QUEBRADO IV


Tão lONge
da vista e
perTO
do CORAÇÃO

quarta-feira, 23 de junho de 2010

ANEXIM QUEBRADO III


tanto norte tanto norte
quem me dera quem me dera
boa sorte boa sorte
pouca terra pouca terra

segunda-feira, 21 de junho de 2010

ANEXIM QUEBRADO II


pense nos seus
conduza
devagar
e vá com deus

sexta-feira, 18 de junho de 2010

JOSE SARAMAGO


Interrompo a série “anexim quebrado” para homenagear José Saramago, falecido hoje.
Não sei o que dizer. Sinto que todos ficamos mais pobres, incluindo os que assim não julgam.
Segunda-feira voltarei ao tema que hoje tinha iniciado.






ANEXIM QUEBRADO I


são
de
facto
como o
cão
e o gato

quarta-feira, 16 de junho de 2010

APALAVRA DO

Gosto das palavras
sem mente como
brisa
breve
bravo
gosto da palavra
semente porque
nasce
cresce
vence
gosto da palavra
somente se me
ocorre
corre
e morre
nem tanto se
mente

segunda-feira, 14 de junho de 2010

DOS BICHOS


Afastada a hipótese de que o seu início
coincidiu com intermináveis festins
e orquestras sobrenaturais
onde apenas os címbalos tinham lugar
concluiu-se por que são insensíveis
à gamela onde bebem
para matar a sede de azias físicas

só é pena que nem todos reajam
da mesma forma quando se lhes passa
a mão sobre o pêlo

sexta-feira, 11 de junho de 2010

DAS LIBELINHAS


Com uma pequena inflexão de patas
a libélula deu por si a meio dum triplo
picou depois e a meia altura
planou ao sabor de um fio
de aragem quase mel

foi num daqueles ramos avulsos
que poisou por instinto
e se reviu pela última vez
no charco ao fundo o tempo preciso
para duas lágrimas exactas
se chorar é arte dos que um dia
voam a vida por extenso

quarta-feira, 9 de junho de 2010

PROVÁVEIS FRUTOS


Cavei a terra à força de braços,
rasguei corgas
e deixei grossos e fecundos sulcos,
onde depois plantei
as palavras
e outros frutos de estimação.

Passou o tempo;
a colheita estava aí à minha espera:
alcancei, em braçados, os meus pomos.
E se neles há agora literatura,
foi a porfia,
porque em mim sempre li terra dura.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ESTRELA DO NORTE *


Há um corte
entre o dia e a noite
vigiado pela estrela do norte

augura boa sorte
este ponto que me persegue
ainda a estrela do norte

quase sinal de morte
é um quieto silêncio
e apenas a estrela do norte.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

AFLORAMENTO


Aflora a flor da roseira
e, não podendo ser enfeite,
que mais pode ser uma rosa
senão afloramento.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

ANDORINHAS E PARDAIS


Quando a tarde suspira seus últimos ais
olho para cima e vejo descer esse véu:
não são o mesmo andorinhas e pardais
ambos voam, mas não no mesmo céu.