Por Kleber Godoy e Francisco Morais
Iniciamos esta nova seção com Eros, Psiquê e o amor proibido entre eles, um mito retirado da Mitologia Grega. Hoje falaremos sobre a questão da mulher, colocando alguns questionamentos interessantes: o que significa 'mulher'? Quem foi a primeira mulher? Qual o sentido do feminino? Quais mitos e lendas falam sobre a criação do sexo feminino? Para isso vamos passear da Mitologia Grega até a Bíblia.
Iniciamos esta nova seção com Eros, Psiquê e o amor proibido entre eles, um mito retirado da Mitologia Grega. Hoje falaremos sobre a questão da mulher, colocando alguns questionamentos interessantes: o que significa 'mulher'? Quem foi a primeira mulher? Qual o sentido do feminino? Quais mitos e lendas falam sobre a criação do sexo feminino? Para isso vamos passear da Mitologia Grega até a Bíblia.
INTRODUZINDO O TEMA
Segundo o Wikipedia, Mulher vem do Latim 'muliere', sendo 'um ser humano adulto do sexo feminino'. Simples assim. A enciclopédia ainda fala que ela pode ser chamada de menina ou moça, antes da vida adulta. As distinções quanto ao sexo oposto surgem para definir papéis sociais e culturais, englobando o sexo, o trabalho, a vida conjugal, o jurídico, etc. Até aqui tudo bem e simples, mas... e os mitos?
Portanto, seguem trechos de textos esclarecendo (e confundindo) algumas questões acerca do tema, deixando as coisas um pouco menos simples. Separei os minitextos com títulos para facilitar a organização. Ao final, uma inovação em nosso blog, um autor convidado coloca suas reflexões e questões de forma muito interessante. Francisco Morais, psicólogo atuante com abordagem psicanalítica e sempre muito intenso, imparcial e coerente em seus comentários, deixa sua marca aqui no O Teatro Da Vida, atendendo a meu pedido de falar algo neste caminho todo cheio de pedras e atalhos e obstáculos e desníveis, no qual caminha a humanidade e, neste caso, a mulher, dentro de cada ser humano. Preparados?
O MITO DE EVA
Segundo a Bíblia, a mulher foi feita a partir de uma costela de Adão, significando, com isso, que ela é a companheira, ou seja, está ao seu lado, tal qual as costelas. O osso da costela alude à igualdade entre homem e mulher, dado que não foi utilizado um osso inferior (um osso do pé, por exemplo), nem um osso superior (do crânio, por exemplo), mas sim um osso do lado. Outra interpretação, em sintonia com a primeira, lembra que a mulher é protetora da vida, dado que os ossos da costela protegem o coração.
Eva |
UMA MULHER ANTES DE EVA?
Lilith é um demônio feminino da mitologia Babilônica que habitava lugares desertos. Esta é referida em diversos textos antigos sendo o mais notável o Antigo Testamento da Bíblia.
Lilith é também referida na Cabala como a primeira mulher do bíblico Adão, sendo que em uma passagem ela é acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido. Esta afirmação de que Lilith foi a predecessora de Eva, no entanto, surge apenas pela primeira vez no Alfabeto de Ben-Sira composto por volta do Século VII, sendo que nunca antes havido existido esta conexão a Adão e Eva nem tão pouco à Criação.
No primeiro capítulo do Livro de Gênesis, versículo 27, está escrito que: 'Deus criou o homem à sua imagem e semelhança; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher." porém no segundo capítulo, versículo 18: '"O Senhor Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada." E é apenas no versículo 22 do segundo capítulo que Eva é criada: "E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem.' É possível que no primeiro capítulo a mulher criada seja Lilith e levando em consideração o versículo 23: 'Disse então o homem: Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada." podemos verificar na expressão de Adão... esta sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!...'
A afirmativa de existência de outra criatura que não era qualificada como mulher e que não podia se submeter a ele, pois era independente, estava no mesmo nível de criação, a mesma altura de Adão. Em algumas traduções o texto "esta sim..." aparece como "agora sim, esta ..." o que não parece ser um erro de tradução mas uma evidência da afirmação na narrativa.
Uma interpretação possível é de que ela seja a mulher que Caim encontrou depois de ser expulso e, portanto, tendo com ele seu primeiro filho, Enoquee fundando uma cidade de mesmo nome. Nas traduções recentes da Bíblia a palavra Lilith é substituída por demônio, fantasma ou bruxa do deserto.
Lilith mostrando seu lado bom |
Assim, no folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira mulher criada por Deus junto com Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por causa de uma disputa sobre igualdade dos sexos, passando depois a ser descrita como um demônio.
De acordo a interpretação da criação humana no Gênesis feita no Alfabeto de Ben-Sira, entre 600 e 1000 d.C, Lilith foi criada por Deus com a mesma matéria prima de Adão, porém ela recusava-se a 'ficar sempre por baixo durante as suas relações sexuais'. Na modernidade, isso levou a popularização da noção de que Lilith foi a primeira mulher a rebelar-se contra o sistema patriarcal e a primeira feminista. Segundo este manuscrito milenar, Ben Sira conta a história de Lilith para Nabucodonosor:
'Depois que Deus criou Adão, que estava sozinho, Ele disse: 'Não é bom que o homem esteja só' (Gênesis 2:18). Ele então criou a mulher para Adão, da terra, como Ele havia criado o próprio Adão, e chamou-a de Lilith. Adão e Lilith imediatamente começaram a brigar. Lilith disse: 'Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.' Quando reclamou de sua condição a Deus, ele retrucou: 'Eu não vou me deitar abaixo de você, apenas por cima. Pois você está apta apenas para estar na posição inferior, enquanto eu sou um ser superior.' Lilith respondeu: 'Nós somos iguais um ao outro, considerando que ambos fomos criados a partir da terra'. Mas eles não deram ouvidos um ao outro. Quando Lilith percebeu isso, ela pronunciou o Nome Inefável e voou para o ar. Adão permaneceu em oração diante do seu Criador: 'Soberano do universo! A mulher que você me deu fugiu!'. Ao mesmo tempo Deus enviou três anjos para trazê-la de volta.'
Os três anjos foram e insistiram que ela voltasse e ameaçaram afogá-la, porém ela se recusou a voltar, sendo assim condenada por Deus a perder cem filhos por dia. Desde então, para proteger os recém-nascidos da influência de Lilith, seria necessário colocar amuletos com o nome dos 3 anjos (Snvi, Snsvi, and Smnglof), lembrando-a de sua promessa.
Eva teria então sido criada a partir de Adão. Como outra interpretação diz que ela (Lilith) juntou-se aos anjos caídos quando se casou com Samael que tentou Eva ao passo que Lilith tentou a Adão os fazendo cometer adultério. Desde então o homem foi expulso do paraíso e Lilith tentaria destruir a humanidade, filhos do adultério de Adão com Eva, pois mesmo abandonando seu marido ela não aceitava sua segunda mulher. Ela então passou a perseguir os homens, principalmente os adúlteros, crianças e recém casados para se vingar.
Outras histórias referem-se a ela como surgida das trevas ou como um demônio do mar e não como igual ao homem. Infere-se pelos textos e por amuletos medievais que ela era uma superstição comum entre os camponeses. Deixar esculturas dos 3 anjos que a perseguiram para fora do Éden, Sanvi, Sansavi e Samangelaf, protegeria os bebês recém-nascidos (uma proteção necessária por 8 dias para homens e 20 dias para mulheres) e impediria que seus maridos fossem seduzidos por Lilith a cometer adultério.
Lilith mostrando seu lado mau |
Nas lendas vampíricas se diz assim: Lilith tinha 100 filhos por dia, súcubus quando mulheres e íncubus quando homens, ou simplesmente lilims. Eles se alimentavam da energia desprendida no ato sexual e de sangue humano. Também podiam manipular os sonhos humanos, seriam os geradores das poluções noturnas. Mas uma vez possuído por uma súcubus, dificilmente um homem saía com vida.
Há certas particularidades interessantes nos ataques de Lilith, como o aperto esmagador sobre o peito, uma vingança por ter sido obrigada a ficar por baixo de Adão, e sua habilidade de cortar o pênis com sua vagina segundo os relatos católicos medievais. Ao mesmo tempo que ela representa a liberdade sexual feminina, também representa a castração masculina.
Na mitologia grega, algumas vezes Lilith é associada com a Deusa grega Hécate, 'A mulher escarlate', uma Deusa que guarda as portas do inferno montada em um enorme cão de três cabeças, Cérbero. Hécate, assim como Lilith, representa na cultura grega a vida noturna e a rebeldia da mulher sobre o homem. Há ainda fontes que colocam Lilith como a fonte da vaidade.
MAIS UMA MULHER QUERENDO SER A PRIMEIRA?
Na mitologia grega, Pandora, 'a que tudo dá', 'a que possui tudo', foi a primeira mulher, criada por Zeus, Deus dos deuses, como punição aos homens pela ousadia do Titã Prometeu de roubar do Olimpo o segredo do fogo para dar aos homens.
Foi a primeira mulher que existiu, criada por Hefesto (deus do fogo, dos metais e da metalurgia) e Atena (deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da arte, da justiça e da habilidade) auxiliados por todos os deuses e sob as ordens de Zeus. Cada um lhe deu uma qualidade. Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais. Hermes, porém, pôs no seu coração a traição e a mentira. Feita à semelhança das deusas imortais, destinou-a Zeus à espécie humana, como punição por terem os homens recebido de Prometeu o fogo divino. Foi enviada a Epimeteu, a quem Prometeu recomendara que não recebesse nenhum presente dos deuses. Vendo-lhe a radiante beleza, Epimeteu esqueceu quanto lhe fora dito pelo irmão e a tomou como esposa.
A CAIXA (JARRA) DE PANDORA
Epimeteu tinha em seu poder a Caixa de Pandora que outrora lhe haviam dado os deuses, que continha todos os males. Zeus avisou a mulher que não a abrisse. Dia pós dia, Pandora ficava cada vez mais curiosa, e um certo dia, decidiu que iria abri-la para ver o que havia dentro. Quando a abriu todos os males foram libertados, exceto um, que ali dentro permaneceu: a esperança. E dali em diante, foram os homens afligidos por todos os males.
Hesíodo, o mais antigo poeta grego, conta o mito de Pandora: 'Dela vem a raça das mulheres e do gênero feminino: dela vem a corrida mortal das mulheres que trazem problemas aos homens mortais entre os quais vivem, nunca companheiras na pobreza odiosa, mas apenas na riqueza. Hesíodo segue lamentando que aqueles que tentam evitar o mal das mulheres evitando o casamento não se sairão melhor: Ele chega à velhice mortal sem ninguém para cuidar de seus anos e, embora, pelo menos, não sinta falta de meios de subsistência enquanto ele vive, ainda, quando ele está morto, seus parentes dividem suas posses entre eles. Hesíodo admite que, ocasionalmente, um homem encontra uma mulher boa, mas ainda assim o "mal rivaliza com o bem." Hesíodo reconta o mito diversas vezes em seus escritos, chamando de Pandora a primeira mulher.'
Nesta versão também, por ordem de Zeus, Hefesto molda em barro uma adorável moça, Atena lhe ensina as artes da tecelagem, Afrodite a embeleza, e Hermes lhe dá 'uma mente despudorada e uma natureza enganosa'. As Cárites e as Horas a adornaram, e por fim Hermes lhe deu a voz e um nome, Pandora, porque 'todos os que habitam o Olimpo lhe deram um presente, uma praga para aqueles que comem pão'. E Hermes a leva a Epimeteu, que a recebe. O mal (doenças e trabalho) começa quando Pandora, com sua grande curiosidade, abre o jarro (pithos) (não caixa, esta uma corrupção textual posterior) e pragas incontáveis saem dele. Só a esperança não sai do jarro. Hoje em dia, abrir uma 'Caixa De Pandora' significa criar um mal que não pode ser desfeito.
Pandora e a caixa |
É na Ilíada que, no verso 527 e seguintes, se utiliza este termo: na casa de Zeus havia duas jarras, uma contendo os bens, outra contendo os males. Hesíodo não o evoca, anunciando apenas que sem mulher, a vida do homem é impraticável, e com mulher ainda mais impraticável é. Hesíodo classifica Pandora como 'mal belo'. E para o nome 'Pandora' há vários significados: panta dôra, (que tem todos os dons) ou pantôn dôra (que tem dons de todos os deuses).
A razão para a permanência da Esperança entre os males precisa de melhor tradução do texto grego. O termo preciso é em grego antigo definível como a espera de algo; traduz-se muitas vezes por esperança. Uma tradução alternativa será 'antecipação'.
Pandora é simultaneamente a introdutora dos males, mas também da força, da dignidade e da beleza, e a partir da abertura da sua caixa o ser humano não pode melhorar a sua condição sem enfrentar adversidades. Porém Pandora abriu a caixa libertando criaturas até então desconhecidas que com elas traziam a inveja, medo, ódio, ciúme, entre outras!
A HISTÓRIA DE SEMÍRAMIS
Semíramis foi uma rainha mitológica que segundo as lendas gregas e lendas persas reinou sobre a Pérsia, Assíria, Armênia, Arábia, Egito e toda a Ásia, durante mais de 42 anos, foi fundadora da Babilônia e de seus jardins suspensos.
Entre as muitas lendas que a rodeiam, uma afirma que foi filha de uma sacerdotisa que a abandonou à morte no deserto. Pombas a encontraram e a alimentaram até que um pastor de nome Simas a encontrou. Também pode ser identificada como Shammuramat, rainha da Assíria que foi esposa de Shamshi-Adad V e mãe de Adad-nirari III. E é mencionada na Bíblia como Diana dos Efésios (Atos 19). A história de Semíramis foi tema de uma ópera de Gioacchino Rossini, e o escritor espanhol Alejandro Núñez Alonso fez uma série de novelas históricas em torno desta personagem.
De acordo com estudiosos teológicos, Semíramis fora esposa de Ninrode, um dos primeiros homens mais poderosos do mundo (Gênesis 10:8-12), que inaugurou a cidade bíblica de Babel. Segundo a tradição, Ninrode desejava reunir toda a humanidade em torno de si e construir uma torre, ou Zigurate, que chegasse aos céus, com o argumento de ninguém ser tragado por um dilúvio novamente, manterem-se unidos e serem conhecidos por gerações (Gênesis 11:4). Com a grande estatura da torre, conhecida como Torre de Babel, Ninrode tornou-se conhecido como 'príncipe dos céus'. Sobre este homem. Ele ameaçou vingar-se de Deus, se este quisesse novamente inundar a terra; porque construiria uma torre mais alta do que poderia ser atingida pela água e vingaria a destruição dos seus antepassados.
Já Semíramis ficou conhecida como 'rainha dos céus', nome de uma divindade idolatrada no Oriente Médio durante a Idade Antiga. Segundo alguns historiadores e etimólogos, Semíramis em assírio significa pomba amorosa. De acordo com uma lenda, ela não morreu, e sim foi ascendida ao céu em forma de pomba. Subiu ao céu transformada em pomba, após entregar a coroa ao seu filho, Tamuz.
Semíramis é avisada por um mensageiro da revolta dos babilônicos em seu quarto. Episódio retratado por Guecino chamado 'Semiramis Called to Arms' |
A Lenda babilônica diz que Semíramis casou-se com Onnes, General de Nimrod. Nimrod impressionado com ela acaba desposando-a e Onnes é morto para que o casamento fosse possível. Nimrod é ferido mortalmente e Semíramis assume seu posto no comando do exército e mais tarde assume o trono. Torna-se assim Rainha de quase toda a Ásia. Além de exercer um bom governo, conquistou a Etiópia, restaurou a Babilônia ao seu antigo esplendor fortificando-a com muros e outras construções. Sua morte é atribuída a seu filho e de Nimrod, Ninyas que almejava o trono. A Lenda Armênia a retrata como uma destruidora de lares e uma prostituta. Semíramis teria se interessado pelo Rei Armênio Ara o Belo, pedindo-o em casamento. Após a recusa, Semíramis reuniu seu exército Assírio e marchou contra a Armênia. Durante a batalha no Vale Ararat, Ara o Belo foi morto. A fim de evitar maiores derramamentos de sangue, Semíramis invocou o título de feiticeira, filha de Deuses, e orou sobre o corpo do Rei Ara para que ele retornasse à vida. Para que os Armênios acreditassem na farsa, ela teria disfarçado um de seus amantes como Ara, espalhando o rumor de sua ressurreição, terminando com a guerra.
Aparece como uma anciã na obra de Eugene Lonesco, além de diversos filmes, teatros e até mesmo nomeando um grupo de rock da década de setenta, e literatura a retrata como um ícone de beleza.
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'Escrever sobre os mitos da primeira mulher não é uma tarefa fácil, mas acredito ser uma tarefa bastante interessante. Partindo de um ponto de vista masculino, pensar sobre a mulher e sua criação pode nos levar a diferentes caminhos. É frequente encontrarmos relatos do surgimento da primeira mulher a partir de uma ótica patriarcal, colocando a mulher como uma criatura submissa, que vem depois do homem ter sido criado, como se constata no livro do Gêneses, na Bíblia. Eva é a criatura que nasce da costela de Adão - que é feito à imagem e semelhança de Deus! Eva não é apenas a companheira de Adão, ela é também a primeira a desobedecer as ordens de Deus e comer do fruto proibido, a primeira a carregar em si o pecado original e fazer com que Adão também comesse do fruto.
Há controvérsias a respeito disso, colocando Lilith, uma mulher anterior a Eva, como responsável pelo pecado original. Lilith é o símbolo do feminismo, não se assujeitando perante o homem, que seria um ser especial e mais poderoso. Observa-se que a rebeldia dessa mulher a transforma em um demônio, um castigo por sua rebeldia, por seguir seu desejo (um pouco do que encontramos na lenda da Mula sem cabeça, que é a mulher que assume seu desejo, sua luxúria, desejando o homem proibido - o padre - e como castigo, é transformada em uma mula que vaga pela noite, perdendo sua cabeça e tendo o fogo como substituto). Portanto, constatamos que à mulher é delegado o papel de sedutora, aquela que possui poderes de corromper os homens e manipulá-los, sendo um ser maligno, merece o castigo, não sendo digna de, ou sendo perigosa demais para, estar no mesmo patamar que o homem.
Em um momento de divagação, considerando as lendas das primeiras mulheres contadas em culturas patriarcais pode-se pensar no quanto os homens projetam nas mulheres todo o mal que negam em si, como o bebê, que está à mercê da mãe, que pode satisfazer ou não seus desejos e que projeta nela o que ele não tolera nele mesmo.
Todavia questiono-me como seria a narração do mito da primeira mulher em uma sociedade matriarcal. Como teria nascido a primeira mulher? E o primeiro homem? Inverteriam-se os papéis, sendo o homem então submisso à mulher?
Indagar-se sobre a mulher e sua constituição enquanto ser humano é abrir-se para a possibilidade de compreensão do diferente, é constatar que as relações humanas podem seguir outra ordem, que não necessariamente a ordem do poder ou da busca por ele. Quando há espaço para o diferente, há espaço para o questionamento e a transformação.'
Francisco Morais*
"...eu gosto de ser mulher, que mostra mais o que sente..." (Maria Bethânia em O Lado Quente Do Ser)
Para entender a dinâmica do 'O Teatro Da Vida' visite a página sobre o blog.
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* Francisco Morais é psicólogo graduado pela Universidade São Francisco e atua com psicoterapia psicanalítica em contexto clínico em Atibaia, interior de São Paulo. Entre em contato pelo correio eletrônico: [email protected]