No dia seis de fevereiro de mil novecentos e setenta e dois, isto é, há muito muito tempo atrás, nasceu um menino, entre outros tantos meninos que nasceram. Vinha a ser então tão pequenino como os demais. Logo desde esse dia, o menino, tal qual todos os meninos, lembrou-se de começar a crescer. Não se lembra, mas no dia sete de fevereiro de mil novecentos e setenta e três, terá feito um ano. Nos anos que se lhe sucederam, e sempre no mesmo dia do mês, o menino foi fazendo mais anos. Nos dias que ficavam de permeio entre os dias em que fazia anos, aproveitava para fazer outras coisas. Num desses dias, apercebeu-se de que se tinha transformado. Passou de menino crescido a menino grande, e depois até deixou de ser menino. Lembra-se bem quando isso foi. O que não sabe é se se deve preocupar, mas acha que não. Continuou por isso a fazer anos, como fazia antes, sempre que chegava o dia seis de fevereiro. E continuou também, como já fazia antes, a fazer outras coisas. No dia oito de outubro de dois mil e onze o menino lançou um romance. E o resto são só histórias.
Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...
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