Vivo a voracidade de pequenos achados, deste jogo invisível de sonhos tão vívidos. E o único desejo a que não renuncio? Somente o de estar vivo, no outono, e sofrer a perseguição incessante da primavera. Ah, Vivo neste tempo, que o passado não tem mãos firmes que me agarrem. Sei de qualquer coisa que me nasceu no corpo, cá dentro, onde se pôs à espreita. Mas vivia com medo de a saber ali, usava a razão para me iluminar as noites, e até desligava os olhos para sonhar. Certamente que, viajasse eu para dentro dos sonhos, onde só os loucos tem coragem de chegar perto, aí a encontraria, desperta e ansiosa. Certamente... Vivo agora, por milagre ou puro disparate. Quando acordei daquele penoso e difícil momento, em que decidi interromper o meu nascimento. Vivo já, antes que seja tarde para viver, no encontro do silêncio do mundo. Vivo ainda, insensatamente ignorando o prazer do próprio, ...