Foto: TSF Hoje acordei preso. sonhei-me algemado num calabouço qualquer, algures, no centro de Lisboa, sem explicações ou apoios. Senti medo genuíno, tanto que nem me apeteceu acordar de todo, na esperança de conseguir mudar o rumo da noite, na orgânica flexível do sonho. Depois voltei a casa, e pressenti a minha casa como um refúgio. O corpo aqui recupera a segurança, como se a segurança fosse um combustível que é preciso, que é indispensável, como se a casa fosse um repouso absoluto onde nos atestamos de segurança. A casa é como aquele lugar de conforto em que não podíamos nunca ser apanhados quando brincávamos ao fica em miúdos. A rua já não o é. As ruas assustam, e as vozes inteiras das gentes calam-se inseguras, com o sangue a escorrer-lhes pela cabeça e o corpo marcado pela dor dos bastões, neste medo antigo que reemerge agora com dentes arreganhados e presas afiadas. Não podemos deixar que esse silêncio retorne, pois vivemos numa realidade muito crua. As pesso...