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A mostrar mensagens de fevereiro 3, 2019

Queimar nuvens no pátio

Eis-me ao lado do centro do assombro. Aqui não se distingue o calor de ser queimado ou de se ser fogo é um outro nome mero rumor. Por fora, na rua, só rumoreja um estranho canto de acendalha que incendeia o poema verdadeiro. Que assim seja uma torre sem paredes que se levanta. Sem paredes nem tecto nem chão... um agulheiro só de marcas de carmim e sangue onde calha. Sangue vulnerável aos desejos mais profundos da noite. Porque o fogo não se dá ao trabalho de não o ser é crepuscular, assim. E, cá dentro fujo para que finja que não sou mais feito de cinza. Deixa os sorrisos, as promessas e os beijos, traz-me antes o líquido da primeira nuvem que passar pelos teus olhos. Suspeito da leveza que atinja estas minhas asas de suspensão. Esta noite queimou-se lá fora o meu fim para não ser mais o que não posso. Sempre me ensinaram que o sangue nunca será mais do que é. É o que sou, o que  jamais serei será fogo escrevend...

Tributo a René Magritte

O Incidente de Plutão (Parte III)

Continuação... No enjoativo largo pendente à entrada da antiga fábrica de sabão, entulhado de latas vazias e frascos empoleirados, dois cães disputavam ferozmente uma carcaça de pão seco. Xavier trocou de pé sem lhes tirar os olhos de cima e seguiu afoito na peugada de uma Doroteia de passo muito determinado. Até hoje, vivera de preencher requerimentos e carimbá-los, sem pressa de nada, neste momento sentia-se o protagonista de uma estranha história que pede adiantamentos à natureza para se manter viva. Neste mesmo dia, ao acordar, descompôs-se a si próprio em voz alta, como se fosse uma segunda pessoa ali no quarto: "Tu queres que a besta acorde ou não queres? Se queres, não há cá juízos nem dúvidas. Acorda-a."  - Vens ou quê? - incita-o Doroteia, quase adivinhando-lhe os pensamentos. - Pareces parvo! Apesar de tudo ele fazia grandes esforços para não desistir da sua missão daquela manhã. Porém, o dente estragado a pulsar-lhe uma dor fina na boca, punha-o a mil...

Sentidos Parabéns...

"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,  Eu era feliz e ninguém estava morto ." Aniversário (1929) - Álvaro de Campos

Ao triste Café perdido no tempo.

O silêncio sem moscas.  O vidro sem pó. O frio do vermelho,  faz medíocre onde se senta, só. Edward Hopper - "Nighthawks" - 1942

Restauração

"Risquei o último fósforo e estou agora vazia, não esperando sequer o deserto. Posso de novo sublinhar os livros sem pensar noutros olhos, numa vontade que não coincida; como quem se despe de portas abertas, luzes acesas, buracos na roupa, indiferente ao desejo de vizinhos e espelhos. Sou finalmente o único fantasma da minha vida inteira." Inês Dias,  in "Um raio ardende e paredes frias"  averno, 2013

Dia sim, dia não uma beleza antiga

Anita Ekberg (anos 50)