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sexta-feira, 29 de junho de 2012

UM SEGUNDO A MAIS


Observação recebida do Observatório Astronómico de Lisboa:

O International Earth Rotation Service (IERS) que estuda com rigor a rotação do planeta Terra em relação a referenciais astronómicos e à escala do Tempo Atómico Internacional (TAI), constatou ser necessária a introdução de um "segundo intercalar" na escala do Tempo Universal Coordenado (UTC) que define a Hora Legal civil, no final de Junho de 2012.

Estes "acertos" quando necessários, são efectuados no final dos meses de Junho ou de Dezembro. Este ano tal "acerto" é necessário e será efectuado no final de Junho.

A sequência de datas UTC (= hora legal actualmente em vigor nos Açores) será:

2012 Junho 30, 23h 59m 59s
2012 Junho 30, 23h 59m 60s
2012 Julho 1, 00h 00m 00s

Em Portugal continental e na Madeira, em que a hora legal actual é UTC+1, a mudança ocorrerá, em simultâneo, mas já a 1 de Julho. A sequência neste caso será:

2012 Julho 1, 00h 59m 59s
2012 Julho 1, 00h 59m 60s
2012 Julho 1, 01h 00m 00s

Recentemente o OAL lançou uma solução, gratuita, que permite a qualquer webmaster a disponibilização nos seus sites da Hora Legal OAL. De notar que, além de outras funcionalidades, essa solução está preparado para a introdução correcta do segundo adicional (dito intercalar ou bissexto) que vai acontecer à meia-noite UTC do próximo dia 30 de Junho.

As instruções para a sua utilização encontram-se em:

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

TEMPO PARA OS ALUNOS


Um grupo de alunos do secundário fez-me algumas perguntas sobre o tempo para prepararem melhor um trabalho sobre esse assunto. Partilho aqui as respostas que lhes dei:

P- Como se explica a unidireccionalidade do tempo? Existem várias teorias?

R- A chamada "seta do tempo" é um dos grandes mistérios da Física. A Segunda Lei da Termodinâmica diz que distinguimos futuro do passado porque num sistema isolado a entropia cresce espontaneamente com o tempo em todos os processos (reais (processos ditos irreversíveis). Mas o problema é que não é fácil fundamentar essa lei de uma teoria macroscópica a partir de leis de teorias microscópicas (mecânica newtoniana ou relativista, mecânica quântica) que não distinguem passado de futuro. Parece que a seta do tempo aparece quando se caminha do microscópico para o macroscópico, do pequeno para o grande, do simples para o complexo. Sim, há várias teorias que tentam explicar a seta do tempo. O Prémio Nobel da Química Ilya Prigogine trabalhou muito nesse problema e tem um excelente livro de divulgação sobre o assunto ("A Nova Aliança", Gradiva, com Isabel Stengers).

P- A noção que o ser humano tem do tempo corresponde realmente ao tempo como é visto na Física? Ou, pelo contrário, a noção de tempo (no senso comum) encontra-se desfasada da realidade?

R- O tempo dos físicos tem de ser definido com mais precisão do que o tempo do quotidiano, o tempo do senso comum. O tempo é medido com relógios e Einstein foi o primeiro a reconhecer que, ao contrário do que Newton supunha, não há um relógio universal: o ritmo do relógio depende do estado do movimento e depende da proximidade a corpos com massas. O tempo está ligado ao espaço e o espaço-tempo é deformado pela matéria-energia. Logo aí houve um abalo do sendo comum. O filósofo francês Henri Bergson, por exsmplo, não aceitou as ideias de Einstein com base no senso comum. De modo que podemos dizer que a noção de tempo nos seres humanos se encontra um pouco desfasada da realidade física. Por outro lado, há a questão, que já mencionei, de explicar com base em teorias físicas microscópicas a diferença entre passado e futuro que todos vemos. Einstein declarou um dia que essa diferença era uma "ilusão" uma vez que, nas equações fundamentais da física, ela não é evidente.

P- Cientistas afirmam que o tempo poderá algum dia acabar. Esta afirmação tem alguma credibilidade? Porquê?

R- Segundo a teoria da relatividade de Einstein o tempo está ligado ao espaço: há uma entidade a quatro dimensões chamada "espaço-tempo". Hoje sabemos que o espaço-tempo começou há cerca de 14 000 milhões de anos. com o momento inicial do Big Bang. Não havia tempo antes do Big Bang, pelo que, em Física, não se pode falar de antes do instante zero. Tanto quanto sabemos hoje, o Universo vai continuar em expansão. Não haverá, portanto, fim do espaço-tempo. O Universo é semi-eterno: não é eterno para trás, mas é eterno para a frente. As afirmações sobre o "fim do tempo", no estado actual da Astrofísica, não têm credibilidade.

P- Quais foram os físicos que mais contribuíram para o conhecimento actual que temos do tempo?

R- Já falei de Newton e de Einstein, na Mecânica. Na Termodinâmica os grandes autores da famosa Segunda Lei foram o alemão Rudolf Clausius e o britânico Lord Kelvin. Entre os que identificaram o problema da justificação microscópica da irreversibilidade do tempo estão o austríaco Ludwig Boltzmann, que associou entropia e probabilidade, e o britânico James Clerk Maxwell. Entre os estudiosos mais recentes da questão do tempo, está o referido Prigogine, embora deva nota que as teorias dele são controversas.

P- Quais as diferenças da concepção do tempo entre a Física Quântica e a Relatividade Geral de Einstein?

R- Na Física Quântica o tempo é um parâmetro ou variável independente tal como na Física Clássica. Nas duas teorias há reversibilidade temporal: as equações não mudam se se mudar o sentido do tempo. Na teoria da relatividade restrita o tempo passa a ser tratado como as variáveis que descrevem o espaço. Na teoria da relatividade geral o espaço-tempo é associado à matéria-energia, sendo o tempo ainda um parâmetro.associado aos parâmetros de espaço. Essa teoria consegue descrever buracos negros (o fim do espaço-tempo) e buracos brancos (o Big Bang é, afinal, um grande "buraco branco": o início do espaço-tempo). No século XX, após a Teoria da Relatividade e a Teoria Quântica terem aparecido, desenvolveu-se a Física Quântica Relativista, que junta a teoria da relatividade com a teoria quântica. No entanto, ainda não existe uma teoria da gravitação quântica aceite por todos, isto é, uma teoria que junte a teoria da relatividade geral e a teoria quântica de um modo incontroverso.

P- Os físicos estão a tentar elaborar uma teoria do tudo, em que unificam todas as interacções fundamentais. Em que grau de desenvolvimento se encontra esta teoria?

R- A chamada "teoria de tudo" pretende ser uma teoria unificadora das forças. Já foram unificadas três das quatro forças fuindamentais da Natureza, no quadro da teoria quântica relativista (teoria de campos). Está ainda a faltar a unificação final com a força da gravidade, precisamente por não existir uma teoria quântica da gravitação. Uma "teoria de tudo" deverá conter uma teoria quântica da gravitação. A proposta mais defendida tem sido a teoria das cordas. Não há, porém, nenhuma evidência experimental ou observacional para essa teoria que deverá descrever unificação de forças a energias extremamente elevadas. Para alguns a teoria das cordas é, por isso, uma teoria mais metafísica do que física. Mesmo que se viesse a validar uma "teoria de tudo", ela de facto não seria uma teoria de tudo. Por exemplo, o mistério da irreversibilidade do tempo em sistemas grandes (sistemas complexos) permaneceria...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O que é o tempo para um físico?


Palestra que vou dar hoje no Casino da Figueira da Foz daqui a pouco tempo, mais precisamente, daqui a 2 horas e 24 minutos.

sábado, 12 de março de 2011

MEDIR O TEMPO (III)




(continuação)


E Galileu observou e identificou a coincidência regular com que o pêndulo oscilava em torno de uma determinada posição e isso permitiu a invenção do relógio com mecanismo de pêndulo. Introduziu uma nova maneira, mais precisa, de domesticar os intervalos de Tempo.


De referir também a necessidade de instrumentação de medição ou contagem do Tempo para a exploração terrestre e, de forma muito crítica, para a navegação marítima. Se a observação solar e de outros astros servia de referência para a deslocação em latitude, a viagem para Este e Oeste, ou seja para longitudes diferentes, obrigava a instrumentação de medição de Tempo que não dependessem do utilizador nem do local. E isso só foi possível no século XVIII com a invenção, em 1737, do cronómetro marítimo pelo relojoeiro britânico John Harrison, o que permitiu medir a Longitude com a precisão necessária.


É agora altura de aqui introduzir duas invenções que estão associadas ao aumento ímpar na nossa capacidade de medir intervalos de tempo: o parafuso e a roda dentada. Sem eles não teríamos hoje instrumentação científica de precisão, nem Harrison teria resolvido o problema da medição da Longitude. Aliás, é difícil hoje encontrar instrumentos, objectos tecnológicos que não tenham pelo menos um parafuso em algum lugar. As engrenagens resultantes das rodas dentadas estão associadas mais ao movimento, por isso só as encontramos em instrumentos ou objectos que produzam ou que participem no movimento de algo. E, movimento significa que algo se deslocou de um ponto a outro durante um certo intervalo de tempo.

Apesar de existirem dúvidas sobre a sua invenção (há algumas referências que a ligam a Arquimedes), a primeira descrição sobre o parafuso foi efectuada pelo matemático grego Arquitas de Tarento (428 - 347 a.C.). Parafusos de madeira tornaram-se rapidamente comuns em todo o mediterrâneo principalmente em tornos de prensas para fazer vinho, azeite e outros óleos.
Em relação às rodas dentadas elementos de engrenagens, as referências mais antigas que se conhecem remontam à Escola Alexandrina durante o 3º século a.C. Há registos de terem sido desenvolvidas e exploradas por Arquimedes (287 - 212 a.C). Contudo, melhor fundamentadas são as referências a engrenagens utilizadas por Hero de Alexandria (10 – 70 d.C) por volta do ano 50 d.C. Diga-se a propósito que também é atribuída a Hero a invenção de uma ferramenta para cortar parafusos.

Mas as engrenagens só receberam renovado impulso aquando do fabrico da primeira máquina de cortar engrenagens inventada por uma artífice italiano de nome Juanelo Torriano de Cremona (1501-1575). Só com um corte regular dos dentes das engrenagens, precisamente divididas e cortadas, é que foi possível uma maior estabilidade na regularidade do movimento entre duas rodas dentadas.

Em associação, o parafuso e as engrenagens permitiram e alavancaram um novo mundo de máquinas. Com estes elementos, construíram-se as primeiras máquinas de medição de Tempo modernas e, simultaneamente, os relojoeiros tornaram-se pioneiros no fabrico de instrumentos científicos de precisão.


Se hoje utilizamos o conhecimento que temos sobre a estrutura atómica da matéria, e sobre o próprio átomo, para definirmos a unidade fundamental de Tempo, o segundo, (“um segundo é o tempo de duração de 9.192.631.770 vibrações da radiação emitida pela transição electrónica entre os níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133”), a sua medida e definição implicou a utilização de variada instrumentação de medida progressivamente mais precisa, reprodutível e robusta, que utiliza parafusos e engrenagens como parte integrante dos seus mecanismos ou que estiveram presentes em algum momento do seu fabrico.

A medição do Tempo e a noção e definição da própria grandeza Tempo é assim inerente ao desenvolvimento científico e tecnológico da Humanidade.

Para além de ser uma propriedade da própria vida que só existe num determinado período de Tempo.

Há quanto Tempo?



António Piedade

MEDIR O TEMPO (II)

(Continuação)

Voltamos à questão inicial: há quanto tempo, nós, humanos, medimos o tempo?

A repetição de fenómenos de observação astronómica terá sido o molde para os padrões de repetição que levaram a progressiva cultura humana a registar as coincidências, os padrões, as repetições. A associação com as necessidades básicas da sua própria vida e sobrevivência terão forjado culturas primevas que ritualizavam, não um aumento na concentração de uma biomolécula, mas já o aumento progressivo da claridade a partir daquilo que hoje designamos por solstício de inverno, por exemplo.

Enquanto a espécie humana estava fundamentalmente dedicada à pastorícia, à agricultura e à pesca, digamos que há cerca de 8 mil anos atrás, ser-lhe-ia suficiente ter meios e a capacidade de prever a sucessão das estações e a variação da duração do dia ao longo do ano.



São testemunhos os inúmeros monumentos megalíticos, supostamente com fins astronómicos, espalhados pelo planeta há pelo menos 5000 anos. Representam a importância do registo das coincidências celestes. Pressupunham populações sedentárias, pelo menos sazonalmente, uma vez que não foram concebidos para serem movíveis!

Mas a mobilidade migratória humana, também ela oscilante, terá mobilizado o engenho para registos do Tempo móveis. Para além dos relógios de sol, que a sombra do próprio permitia medir o tempo ao andar, talvez possa ainda ser exemplo o enigmático disco de Nebra com pelo menos 3600 anos terrestres (foi enterrado há esse tempo).


Com a urbanização da humanidade e com a necessidade de viajar entre povoações, para um qualquer fim mesmo que fosse o desconhecido, o medir o Tempo passou a ter outra dimensão e importância. Importância na precisão da contagem de períodos de tempo iguais. Se dantes mais dia, menos dia não fazia grande diferença no passar das estações, o intensificar das trocas e viagens entre urbes instalou a necessidade de registos do tempo mais precisos.

E com a introdução da grandeza Tempo na explicação dos fenómenos, da natureza, do universo, imprecisões na sua medição por dois indivíduos diferentes retornava em observações menos compatíveis, mais ambíguas de uma certa realidade.

(continua)

António Piedade

MEDIR O TEMPO (I)



Artigo (1ª parte) publicado na "Ciência J".


Há quanto tempo medimos o tempo?

Podemos supor que a espécie humana terá começado a percepcionar uma sensação de Tempo, através da observação de coincidências, de fenómenos aparentemente sucedâneos uns dos outros, independentemente de estabelecerem ou não relações causais entre si.
A sucessão continua de períodos de iluminação solar (dia) com períodos de sua ausência (noite) num mesmo determinado ponto terrestre é anterior ao surgimento da vida no próprio planeta Terra. Assim, a vida evoluiu com a alternância de períodos com e sem exposição solar.

Sabemos que as células, eucarióticas e procarióticas, possuem vias de sinalização cíclicas, oscilantes numa dada relação de concentrações, ritmadas por períodos de 24 horas. A actividade metabólica celular parece estar sincronizada com a rotação da Terra, e podemos “imaginar” vagas de concentração de metabolitos a oscilar em gradientes citoplasmáticos, aromas de actividade no mar interior.

Com o aumento de complexidade, com a invenção da multicelularidade, a incorporação de períodos de actividade ritmados e sincronizados com o envolvente, também ele alterado pela maior ou menor exposição solar, poderá ter influenciado a força motriz evolutiva, conferindo uma melhor adaptação ao seres que ritualizavam moléculas com o tempo.

A repetição de fenómenos e a coincidência da repetição do par dia/noite poderão ter permitido uma inclusão de padrões de intervalo de tempo, e da sua duração, na evolução sensorial das espécies.

Neste fluir podemos dizer que a sinalização biomolecular de intervalo de tempo é profundamente intrínseca a toda a vida e, claro está, ao ser humano.

(Continua)

António Piedade

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Relógio da República

Informação recebida da editora Âncora:

O Relógio da República, novo livro de Fernando Correia de Oliveira

No Centenário da República, uma viagem, do Tiro da Politécnica aos tiros do Adamastor

O Relógio da República procura identificar e contextualizar quais as mudanças estruturais que o novo regime trouxe, há cem aos, ao quotidiano do tempo nacional. Duas, essencialmente – a adesão ao sistema internacional de Fusos Horários, por um lado; a introdução do regime de Hora de Verão e de Hora de Inverno, por outro.

Pelo meio, ficam personagens que ditaram os últimos dias da Monarquia em termos de tempo colectivo – os relojoeiros Veríssimo Alves Pereira e Augusto Justiniano de Araújo; ou marcadores de tempo como o Balão do Arsenal ou o Tiro da Politécnica.

Ou ainda figuras revolucionárias, como um jovem relojoeiro suíço, Giuseppe Fontana, que trouxe para Portugal o ideário socialista, a visão cooperativa das comunidades de relojoeiros da sua terra natal. Ou Mendes Cabeçadas, que comandou a partir do Adamastor, e coordenando-se pelo seu relógio de bolso, os tiros decisivos contra o Palácio das Necessidades, a 4 de Outubro de 1910.

Do novo regime, saía reforçado o papel do Observatório Astronómico de Lisboa como emissor único do tempo oficial português ou a implantação do Relógio da Hora Legal, ao Cais do Sodré.

O Relógio da República, Editora Âncora. Apoio Longines e Tempus Internacional

Sobre o autor: Fernando Correia de Oliveira (Lisboa, 1954). Jornalista e investigador da área do Tempo, teve a sua carreira ligada às Agências Noticiosas nacionais (ANI, ANOP, NP e Lusa), onde se manteve 20 anos. Primeiro correspondente português em Beijing (1988-1990), ingressou depois no Público, onde esteve nos dez anos seguintes. É desde 2002 jornalista freelancer, produzindo regularmente suplementos e artigos sobre o Tempo e a Relojoaria para o Público, Expresso, Diário Económico, Focus, Espiral do Tempo, etc. É o Director do Anuário dos Relógios e correspondente internacional de publicações especializadas em Espanha, Brasil, México e Coreia do Sul. Consultor do Governo português para o património relojoeiro, é membros de várias instituições internacionais sobre o estudo do Tempo, e mantém o blog Estação Cronográfica.

Tem publicado regularmente: Portugal na I Guerra Mundial (Cadernos do Público, 997); 500 Anos de Contactos Luso-Chineses (Público / Fundação Oriente, 1998); Machado Joalheiro, no Porto desde 1880 (Machado Joalheiro, 2002); História do Tempo em Portugal (Diamantouro, 2003); Cronologia do Tempo em Portugal (Lagonda, 2004); Manuscrito Anónimo de Relojoaria na Academia das Ciências de Lisboa (edição de autor, 2005); Relógios e Relojoeiros – Quem É Quem no Tempo em Portugal (com José Mota Tavares, Âncora, 2006); Relógios de Sol (com Suzana Metello de Nápoles e Nuno Crato, CTT, 2007); Dicionário de Relojoaria – O Universo do Tempo e dos seus Medidores (Âncora, 2007); Tempo e Poder em Lisboa – O Relógio do Arco da Rua Augusta (Espiral do Tempo, 2008); Portugal, o Tempo e a Modernidade (Academia de Marinha, 2008).

domingo, 5 de setembro de 2010

TEMPO E PACIÊNCIA


Minha crónica do "Público" de hoje:

As notícias de meados de Agosto davam conta de que a economia alemã tinha crescido 2,2 por cento do primeiro para o segundo trimestre deste ano, um número recorde desde a reunificação, enquanto a economia portuguesa tinha crescido no mesmo período uns míseros 0,2 por cento. É caso para dizer que a locomotiva da Europa bem puxa, mas as carruagens da cauda teimam em não andar.

Se se quer perceber porquê, não há nada como dar um salto à Alemanha. Apartei-me do estio português a meio de Agosto, logo a seguir às notícias do crescimento desigual, em busca das razões da desigualdade. Para chegar ao aeroporto de Lisboa tinha-me socorrido de um táxi, mas, à chegada ao aeroporto de Colónia-Bona, tal já não foi preciso, pois logo um comboio me esperava, com rigorosa pontualidade, para me deixar, escassos minutos depois, na Hauptbanhof de Colónia, onde pude tomar o metro. O hotel onde fiquei deu-me depois um passe de transportes urbanos para os dias da estada, prática comum a várias cidades europeias. O sistema de transportes regional está bem planeado e funciona, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, de acordo com o afixado. As entradas e saídas do metro estão abertas, pois a fiscalização é apenas ocasional. Menschen bewegen (Mover pessoas) é a divisa da empresa de transportes urbanos. Tudo está feito para poupar tempo. Em Lisboa, apesar dos investimentos brutais realizados com dinheiros europeus (isto é, alemães) em detrimento de outras zonas do país, não há nem comboio nem metro até ao aeroporto. E toda a gente perde imenso tempo.

Sempre que regresso à Alemanha sei que reentro num país onde não só os relógios funcionam como as pessoas funcionam de acordo com os relógios, cumprindo os planos que estabeleceram. E pergunto de cada vez a mim próprio como é que os alemães conseguem lidar com o problema do tempo português quando se deslocam, em trabalho ou em férias, ao nosso país. Numa livraria, que as há boas na baixa de Colónia, comprei, por isso, o livro Gebrauchsanweisung für Portugal (Piper, 5ª edição, 2010), em português Manual de Instruções para Portugal, do jornalista Eckhart Nickel. O autor fornece as palavras-chave para sobreviver numa visita a Portugal: tempo e paciência (Zeit und Geduld). Escreve: “Percorrer Portugal em meios de transporte públicos exige tempo e paciência”. Conjecturo que a segunda palavra só existe na língua alemã por causa da eventual necessidade de deslocação ao extremo oeste da Europa... Não foi há muitos anos que uma colega alemã ficou estupefacta por nem sequer encontrar horários de autocarros em Portugal. Tinha simplesmente de esperar com a necessária paciência pelo próximo. Agora, o jornalista queixa-se de que os horários de transportes são dados de um modo encriptado. Por exemplo, os horários de autocarro têm notas de rodapé do tipo: “De 16/9 a 30/6 aos sábados (ou sextas feiras se for feriado) ou segundas-feiras (ou terças-feiras se for dia seguinte a feriado)”. Essas indicações, convenhamos, desanimam qualquer passageiro, que, se desesperar na espera, terá de chamar um táxi. O autor previne os visitantes a Portugal: “Quem tem tempo, é aqui um rei, mas quem não tem não devia cá vir. Pois até os horários de abertura [de serviços] não passam de meras recomendações: dentro deles ser-se-á com sorte atendido por funcionários que se movem com a velocidade de uma lagosta num aquário”.

Já éramos assim antes do 25 de Abril e pouco mudámos. Curt Meyer-Clason, que dirigiu o Instituto Goethe em Lisboa nos anos 70 do século passado, escreveu nos seus Diários (Portugiesicher Tagebuecher, Athenäum, 1979), numa entrada de 1972: “O tempo português é uma substância que se deixa evaporar”. Como é que um povo que não faz planos claros, não tem serviços públicos decentes e não respeita quaisquer horários pode aspirar ao mesmo produto interno bruto que os alemães? Como é que um país cujo primeiro-ministro se compraz em chegar atrasado a eventos oficiais pode apanhar o comboio da Europa? Não pode. Ainda que tenha muito tempo e paciência.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O TEMPO PERDIDO


Outro texto dop meu livro "A Coisa mais preciosa que temos" (Gradiva):

De entre a rica colecção de instrumentos científicos que podem ser vistos no Museu de Física da Universidade de Coimbra, encontram-se apenas dois relógios: trata-se de relógios fabricados sob a supervisão de João Jacinto Magalhães, um notável cientista e técnico português que emigrou para Londres no século XVIII.

Nesse século (o Gabinete de Física pombalino remonta a 1772) pouca atenção era dada entre nós à medição do tempo, um requisito essencial de muitas experiências científicas. Há cerca de 300 anos (comemorou-se em 2000, embora um tanto envergonhadamente, o tricentenário do nascimento do Marquês) já não tínhamos a noção precisa do tempo, o tempo tal como é medido por relógios suficientemente precisos. Se é que algum dia a tivemos... Os únicos dois relógios da colecção vinham importados de Inglaterra, quando este país já na altura fabricava relógios mais compactos e de maior precisão, nomeadamente os primeiros cronómetros marítimos que iam possibilitar uma revolução na navegação através do conhecimento exacto da longitude.

Os navegadores portugueses do tempo dos Descobrimentos sempre tiveram a noção de latitude (o arco acima ou abaixo do equador). Mediram-na por exemplo através da altura da estrela polar vista por astrolábios e quadrantes. Ensina-se como é nalguns manuais de Física do 8.º ano de escolaridade. E um bom livro de instrumentos científicos mostrará decerto astrolábios portugueses e, talvez também, algumas bússolas portuguesas dos nossos tempos de glória marítima. Mas até ao século XVIII os marinheiros, portugueses ou outros, não sabiam determinar a longitude, o arco para oriente ou ocidente do meridiano inglês de Greenwich, o que constituía um obstáculo essencial à possibilidade de localização dos navios no mar alto.

Foi o inglês John Harrison quem, no século XVIII, conseguiu resolver o difícil problema de determinar a longitude, através do avanço instrumental que consistiu no fabrico de sucessivos relógios, cada vez mais aperfeiçoados, que funcionavam bem nas difíceis condições que um barco encontra no mar alto. O eficiente e também lindíssimo cronómetro H5, sucessor dos protótipos que foram sendo denominados de H1 a H4, data de 1770, sendo, portanto, anterior ao estabelecimento do Gabinete de Física de Coimbra. Encontra-se no Museu da Ciência de Londres, na preciosa colecção do rei George III, que é praticamente contemporânea da colecção portuguesa.

Um progresso civilizacional enorme, que permitiu a generalização do transporte e comércio marítimo, deveu-se assim a um processo de desenvolvimento tecnológico. O livro da jornalista norte-americana Dava Sobel “Longitude”, subintitulado sugestivamente “A verdadeira história do génio solitário que resolveu o maior problema científico do seu tempo”, conta, em poucas mas empolgantes páginas, como John Harrison, com uma determinação exemplar que se prolongou por mais de 30 anos, conseguiu arrecadar o não desprezável prémio de 20 000 libras esterlinas instituído pelo parlamento inglês em 1714 para quem conseguisse determinar a longitude. Nenhum relógio de Harrison está, salvo erro ou omissão, num museu português... Mas o livrinho de Sobel encontra-se em português nas livrarias portuguesas. A obra saiu em 1995 na editora Fourth Estate de Londres e foi um enorme best-seller” tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos. Demorou um pouco mas saiu em 1998 na editora Temas e Debates. Uma simples história de relógios, terão pensado alguns editores nacionais... Nada de demasiado interessante para um país que nunca cultivou com especial interesse a noção do tempo nem considerou com suficiente entusiasmo a necessidade de o medir. Medimos a latitude, por todas as latitudes do mundo. Mas, apesar de termos andado por todas as longitudes do mundo, fomos incapazes de medir a longitude, até que alguém nos vendeu a tecnologia, isto é, um relógio suficientemente bom. Curioso foi o facto de Harrison ter efectuado os testes de um dos seus primeiros modelos numa viagem de Londres a Lisboa. E o seu aparelho funcionava!

Como se faz a medição da longitude? Muito simples, embora não se ensine no 8.º ano de escolaridade. O tempo decorrido desde a partida do porto é medido com rigor no relógio a bordo. Este é o tempo no local de partida. No sítio onde está o barco mede-se a chamada hora solar, que tem a ver com a altura solar. Este é o tempo no local actual da viagem. A diferença entre os dois tempos, um certo número de horas, permite saber a longitude, pois cada hora de diferença corresponde a 15 graus de longitude (quem não tenha medo da aritmética faça o favor de dividir os 360 graus correspondentes a uma circunferência completa por 24 -- as horas que o dia tem -- para obter os 15 graus).

O físico norte-americano de origem inglesa Freeman Dyson já chamou a atenção (no seu excelente livro “Mundos Imaginados”, editado em 1998 pela Gradiva e pela Universidade de Aveiro), para o facto de muitas das grandes revoluções da ciência e da sua inseparável companheira a tecnologia acontecerem não por obra e graça de redentores golpes de imaginação teórica mas sim, pura e simplesmente, pela criação e aperfeiçoamento de instrumentos. Foi o caso do telescópio, do microscópio e, nos dias mais próximos de nós, do computador e do acelerador de partículas. Foi, evidentemente, também o caso do relógio mecânico, o relógio de pêndulo, que é contemporâneo da revolução científica protagonizada por Galileu Galilei, no século XVII, completada por Isaac Newton, Christian Huyghens e outros a seguir (o holandês Huyghens foi o inventor do relógio de pêndulo, que permitiu um espectacular aumento da precisão na medida do tempo). A história dos relógios é parte importante da história da ciência e, por consequência, da história da economia e da civilização. Esta verificação está bem enfatizada no livro de David Landes, “A Riqueza e a Pobreza das Nações” (publicado pela Little Brown nos Estados Unidos em 1998 e com tradução publicada pela Gradiva em 2001). Este livro explica com erudição inaudita como Portugal passou de um dos países mais ricos do mundo para um país do meio da tabela (enfim, mais perto do cimo do que do fundo). Ficámos decadentes logo que perdemos as ciências e as tecnologias, incluindo as dos relógios. Perdemos não só o conhecimento da longitude em primeira mão como também a economia dos mares em favor dos grandes fabricantes dos relógios, os ingleses e os holandeses.

Uma das razões por que grandes países orientais como a China e o Japão foram durante muito tempo menos desenvolvidos que os países ocidentais foi o facto de só terem disposto de relógios rudimentares até terem chegado os navegadores europeus (os primeiros foram portugueses, como é sabido). Sem saber o tempo não há civilização nem economia que funcionem. Foram jesuítas portugueses ou que passaram por Portugal, que, entrando por Macau, introduziram os primeiros relógios mecânicos na China (os chineses escolheram-nos de entre a vária missanga e em breve arranjaram maneira de os multiplicar pela corte do imperador). Segundo reza um relato algo lendário, foi o basco (embora a trabalhar no império português) S. Francisco Xavier que introduziu o primeiro relógio digno desse nome no Japão, numa oferta que fez ao governador de Yamaguchi (conferir “As Máquinas do Tempo”, de Carlo Cipolla, Edições 70, 1992, uma breve história cultural dos relógios). Passou-se isso no século XVI, quando os Descobrimentos estavam no auge, portanto pouco antes de começar o declínio português. Como bons comerciantes, soubemos levar e passar a outros os produtos. Mas, depois dos astrolábios e das bússolas, não fomos construtores de instrumentos. Nunca tivemos relojoeiros que fizessem concorrência aos de Genebra, Londres, Nuremberga ou Paris. Os chineses depressa começaram a fazer relógios, embora para usufruto apenas dos aristocratas. Os japoneses fizeram-nos um pouco mais tarde. Hoje os relógios japoneses rivalizam com os suíços. E o Japão é, como a Suíça, um dos países mais ricos do mundo. Coincidência? Ganharam o tempo perdido com uma rapidez espantosa, uma rapidez que nos devia fazer inveja.

Nós empobrecemos quando perdemos o comboio da inovação tecnológica. Foram os relógios, além do mais, que permitiram a organização do trabalho na revolução industrial dos séculos XVIII e XIX, algo que entre nós não tivemos com a celeridade necessária (tivemos, isso sim, no século XIX o romantismo doente e persistente, a nostalgia de D. Sebastião e do império perdido, tendo entrado no século XX com o episódio trágico-cómico do mapa cor-de-rosa, que bem simboliza a decadência e capitulação do império). Perdemos, se algum dia a tivemos, a ideia particularmente europeia, ocidental, de tempo. Perdemos tempo, muito tempo. Tempo esse que temos de recuperar, agora que somos europeus.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Relógios Públicos em Lisboa


Informação recebida pelo De Rerum Natura (na imagem a Sé de Lisboa):

Palestra de Fernando Correia de Oliveira

Relógios Públicos em Lisboa

Data: 25 de Fevereiro de 2010 – 18h00
Local: Espaço Sustentabilidade da EDP (Marquês de Pombal)
Não perca esta oportunidade, inscreva-se já e traga familiares e/ou amigos.

Resumo:

O Tempo é uma realidade impalpável mas preciosa e quem detém o poder quer apossar-se do Tempo. A relação entre o Tempo e os poderes vários – Religioso, Político, Económico, Científico, Social – é analisada ao longo da História, especialmente quanto ao que se tem passado em Lisboa. Desde o primeiro de que há notícia na cidade – o relógio da Sé – passando pelos vários relógios do Paço, ao relógio da Horas Legal, os marcadores de tempo públicos e colectivos, tradutores de centros de poder variados e das várias formas como a cidade foi vivendo o Tempo.

Sobre o autor:

Fernando Correia de Oliveira (Lisboa, 1954) é um jornalista e pesquisador do fenómeno do Tempo, do fabrico de relógios e da Evolução Mental. Cursou Direito, na Universidade de Lisboa. Jornalista desde 1974, esteve 20 anos com a Agência de Notícias Portuguesa. Fundador da RFM, RGT e depois a TSF. Primeiro português correspondente em Pequim (1988-90). Dez anos com o PÚBLICO, jornal diário de referência português (1993-2002). Especializado em Política Internacional e da Ásia (China, Japão, Coreia). Inúmeras distinções, destancando-se o Prémio Bernard Cabanès e o Prémio NP de Jornalismo. Participações como orador em vários colóquios, como na Academia das Ciências de Lisboa. Tem numerosos livros editados sobre o tempo. Ver mais aqui.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Tempo e a sua medição na Escola Politécnica de Lisboa


Informação recebida do Museu de Ciência da Universidade de Lisboa:

No contexto da exposição "Medir os Céus para dominar a Terra: a Astronomia na Escola Politécnica de Lisboa, 1837-1911", realiza-se na próxima quinta-feira, dia 14 de Janeiro, no Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, a conferência de Fernando Correia de Oliveira:

“O Tempo e a sua medição na Escola Politécnica de Lisboa”

Contamos com a sua presença no auditório Manuel Valadares, pelas 18.00 horas.

A conferência é antecedida por uma visita guiada à Exposição, que se inicia às 17.00h.

Resumo:

Foi casa jesuíta com o Noviciado da Cotovia (1619-1759), Colégio dos Nobres (1761-1837) e Academia Real de Marinha (1779-1837) quando os jesuítas foram expulsos do país, Escola Politécnica (1837-1911) e, finalmente, Faculdade de Ciências (1911-1986). Hoje albergando o Museu de Ciência, é um edifício onde o Tempo sempre foi sujeito activo e importante, para a comunidade científica e estudantil que servia, para as comunidades alfacinhas que viviam ou trabalhavam na zona - um dos marcadores de tempo mais famosos no século XIX na capital foi o canhão ali instalado, que disparava ao meio-dia.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

FIM DO ANO


Texto recebido de Fernando Correia de Oliveira a propósito do fim do ano:

Há cerca de 2400 anos, o mestre daoista Zhuangzi (庄子, 370-301 a.C.) contava aos seus discípulos a seguinte parábola:

"Certo homem vivia perturbado ao observar a própria sombra e as pegadas que deixava, que considerava grilhões à sua liberdade. Por isso, decidiu livrar-se delas. Começou a correr, mas sempre que colocava um pé no chão, lá aparecia uma nova pegada, enquanto a sombra o acompanhava sem a menor dificuldade, por maior que fosse a velocidade a que corria. Julgou que não estava a andar depressa o suficiente, pelo que aumentou a velocidade da corrida. Até que caiu por terra, morto.

O erro, concluiu Zhuangzi, foi o facto de ele não ter percebido que, se fosse para um lugar sombrio, a sua própria sombra desapareceria; e se tivesse ficado parado, as suas pegadas deixariam de aparecer.

Na realidade, há tempo para andar, e tempo para parar. Resta saber quando o devemos fazer. O que nem sempre é fácil.

Com votos de um 2010 à medida das suas expectativas, alguns dados que lhe poderão ser úteis:

ERAS CRONOLÓGICAS EM 2010*

Todas as datas são referidas ao calendário gregoriano

O dia 14 de Janeiro corresponde ao dia 1 de Janeiro do calendário juliano.

O ano 2010 da era vulgar, ou de Cristo, é o 10.º do século XXI e corresponde ao ano 6723 do período juliano, contendo os dias 2 455 198 a 2 455 561.

O ano 7519 da era bizantina começa no dia 14 de Setembro.

O ano 5771 da era israelita começa ao pôr-do-sol do dia 8 de Setembro.

O ano 4647 da era chinesa (ano do tigre) começa no dia 14 de Fevereiro.

O ano 2786 das Olimpíadas (ou 2º da 697ª), começa no dia 14 de Setembro, ao uso bizantino.

O ano 2763 da Fundação de Roma «ab urbe condita», segundo Varrão, começa no dia 14 de Janeiro.

O ano 2759 da era Nabonassar começa no dia 21 de Abril.

O ano 2670 da era japonesa, ou 22 do período Heisei (que se seguiu ao período Xô-Uá), começa no dia 1 de Janeiro.

O ano 2322 da era grega (ou dos Seleucidas) começa, segundo os usos actuais dos sírios, no dia 14 de Setembro ou no dia 14 de Outubro, conforme as seitas religiosas.

O ano 2048 da era de César (ou hispânica), usada em Portugal até 1422, começa no dia 14 de Janeiro.

O ano 1932 da era Saka, no calendário indiano reformado, começa no dia 22 de Março.

O ano 1727 da era de Diocleciano começa no dia 11 de Setembro.

O ano 1432 da era islâmica (ou Hégira) começa ao pôr-do-sol do dia 7 de Dezembro.

O ano 166 da era Bahá'í começa no dia 21 de Março.

ESTAÇÕES

A Primavera (Equinócio) começa a 20 de Março, às 17:32. O Verão (Solstício) começa a 21 de Junho, às 11:28. O Outono (Equinócio) começa a 23 de Setembro, às 03:09. O Inverno (Solstício) começa a 21 de Dezembro, às 23:38

ECLIPSES

Em 2010 há um eclipse anular e outro total do Sol, respectivamente a 15 de Janeiro e 11 de Julho, mas ambos os fenómenos não serão avistados de Portugal. Em 2010 haverá um eclipse parcial e outro total da Lua, respectivamente a 26 de Junho e 21 de Dezembro, mas apenas este último será avistado em Portugal.

*Com base nos dados do Observatório Astronómico de Lisboa e do Calendário Celebração do Tempo 2010 (edições Paulinas)".

Fernando Correia de Oliveira

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Sobre o ritmo do tempo


Partilhamos uma das mais interessantes mensagens de fim de ano que recebemos. Veio do jornalista estudioso do tempo Fernando Correia de Oliveira:

"A vida tem na aldeia um ritmo que a cidade nunca poderá entender. Cada compasso, aqui, dura um ano certo. Porque se mata o porco só pelo Natal, se os salpicões ficam salgados passam-se trezentos e sessenta e cinco dias a repetir:
- Os salpicões ficaram salgados.
A correcção apenas se poderá fazer no ano seguinte. Cada semente que a mão lança à terra, cada árvore enxertada, cada lagar de vinho, prendem o homem a um pelourinho de expiação, de doze meses. Desde que haja engano numa realização, só na próxima sementeira, época ou colheita se poderá retomar a liberdade, para de novo semear, enxertar e pisar -- e apagar da própria lembrança e da dos vizinhos o erro vital cometido."
Miguel Torga - Diário IV

Nesta época de tradicional regresso às origens, às raízes, votos de Boas Festas. Siga o seu ritmo, seja ele qual for.

Fernando Correia de Oliveira

segunda-feira, 13 de julho de 2009

RELÓGIOS REAIS


Informação recebida do jornalista e investigador do tempo Fernando Correia de Oliveira (na foto o Palácio da Ajuda, em Lisboa):

A italiana Maria Pia de Bragança (1847 - 1911), mulher de D. Luís, é a
grande responsável pela colecção de relógios da Casa Real portuguesa.
Com o advendo da República, todos os que foram considerados objectos
pessoais foram devolvidos aos Bragança, enquanto os que foram
considerados pertença do Estado ficaram espalhados pelos vários Paços.
O acervo mais importante, cerca de 80 peças, encontra-se no Palácio da
Ajuda. Cronologicamente, a colecção pode balizar-se entre os finais do
século XVII e os últimos anos do século XIX, entre relógios de sala,
de secretária, de bolso, de transporte ou jóias e adereços. Há ainda
um núcleo de relógios de sol e bússolas.

Fernando Correia de Oliveira, jornalista e investigador da temática do
Tempo, da Relojoaria e da Evolução das Mentalidades a eles ligada, faz
no sábado, 18 de Julho, a partir das 15h00, uma visita guiada pelo
conjunto de peças do palácio. Mais informações e inscrições aqui, por email - [email protected] ou pelo telefone: 960055526 ou 912839833.

domingo, 14 de junho de 2009

Estação Chronographica


Informação recebida de Fernando Correia de Oliveira, jornalista especializado no tempo e na sua medida:

Para os que se interessam pelo tempo, em toda a sua multidisciplinaridade, Estação Chronographica é um apeadeiro onde o tempo se escreve, diariamente.

http://estacaochronographica.blogspot.com/

Email: [email protected]
Site (in English): http://sites.google.com/site/fernandocorreiadeoliveira/

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Qual relógio de sol em tempo brusco.


Informação recebida de Fernando Correia de Oliveira:

2009 – "qual relógio de sol em tempo brusco"

Respigando os dados para Almanaques do Observatório Astronómico de Lisboa, e tomando como referência o calendário gregoriano, o dia 14 de Janeiro corresponde ao dia 1 de Janeiro do calendário juliano. O ano 2009 da era vulgar, ou de Cristo, é o 9.º do século XXI e corresponde ao ano 6722 do período juliano, contendo os dias 2 454 833 a 2 455 197. O ano 7518 da era bizantina começa no dia 14 de Setembro. O ano 5770 da era israelita começa ao pôr do Sol do dia 18 de Setembro. O ano 4646 da era chinesa (ano do búfalo) começa no dia 26 de Janeiro. O ano 2785 das Olimpíadas (ou 1º da 697ª), começa no dia 14 de Setembro, ao uso bizantino. O ano 2762 da Fundação de Roma "ab urbe condita", segundo Varrão, começa no dia 14 de Janeiro. O ano 2758 da era Nabonassar começa no dia 21 de Abril. O ano 2669 da era japonesa, ou 21 do período Heisei (que se seguiu ao período Xô-Uá), começa no dia 1 de Janeiro. O ano 2321 da era grega (ou dos Seleucidas) começa, segundo os usos actuais dos sírios, no dia 14 de Setembro ou no dia 14 de Outubro, conforme as seitas religiosas. O ano 2047 da era de César (ou hispânica), usada em Portugal até 1422, começa no dia 14 de Janeiro. O ano 1931 da era Saka, no calendário indiano reformado, começa no dia 22 de Março. O ano 1726 da era de Diocleciano começa no dia 11 de Setembro. O ano 1431 da era islâmica (ou Hégira) começa ao pôr do Sol do dia 17 de Dezembro.

Já se quiser ver o próximo eclipse total do sol, a 21-22 de Julho, terá que estar nessa altura na Índia, Nepal, China ou algures no Pacífico onde a sua "faixa de totalidade" passe. Isso faz-nos lembrar breu, penumbra sombra, luz, relógios de sol.

Em tempo de crise, nada melhor do que citar Joaquim Fortunato de Valadares Gamboa, poeta menor português que em 1791 dava à estampa em Lisboa o seguinte poema:

Que relógio de sol, que serventia
Ter não pode de alguma utilidade
Quando o dia está brusco, e na verdade
Ninguém faz dele caso nesse dia:
Assim se da pobreza a mão sombria
Faz no homem qualquer escuridade
Em lhe faltando do ouro a claridade
É dos outros desprezo e zombaria:
Dos planetas mais nobre é o sol louro;
O ouro dos metais; e está mais fusco,
Que relógio sem sol, homem sem ouro:
Disto exemplos alheios eu não busco;
pois me vejo que estou, com vil desdouro,
Qual relógio de sol em tempo brusco.

Pois que 2009 não seja um eclipse total e que a luz do sol volte depressa, dizemos nós.

-- Fernando Correia de Oliveira (Todo o Tempo do Mundo (c) All a World on Time (c))
[email protected]
http://sites.google.com/site/fernandocorreiadeoliveira/ (english) http://allaworldontime.blogspot.com (english)
www.fernandocorreiadeoliveira.com (portuguese)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

NEWTON E O NATAL


Conforme lembraram alguns média nesta época do ano, o dia 25 de Dezembro é a data tradicional em que nasceu Jesus Cristo, desconhecendo-se não só a data exacta como até o ano (há uma pequena margem de erro à volta do ano um).

Um dos nomes mais famosos da história da humanidade nascidos em 25 de Dezembro de 1642) foi o inglês Isaac Newton (curiosamente nasceu poucas semanas depois da morte do pai). Mas a maioria das enciclopédias indicam a data de 4 de Janeiro do ano seguinte. Como se explica a diferença? É simples. Newton nasceu, de facto, no dia de Natal de 1642, mas no calendário juliano que então vigorava em Inglaterra e noutros países da Europa do Norte, que corresponde a 4 de Janeiro de 1643 no calendário gregoriano (o que está hoje em vigor em quase todo o lado do mundo).

Lembre-se que o calendário gregoriano se iniciou em 1582, por ordem do papa Gregório XIII, com a bula "Inter Gravissimas", de 24 de Fevereiro, logo seguida em Portugal e noutros países católicos, depois de uma comissão de sábios, liderada pelo jesuíta alemão que estudou na Universidade de Coimbra Cristóvão Clavius, ter preparado cuidadosamente a proposta. O dia 4 de Outubro de 1582, que passou a 15 de Outubro, foi o primeiro dia do novo calendário. Na data do nascimento de Newton havia uma diferença de 10 dias entre os dois calendários, diferença essa que depois se alargou. A Inglaterra adoptou o calendário gregoriano em 2 de Setembro de 1752 do calendário antigo (14 de Setembro no novo), pelo que os eventos ocorridos em Inglaterra entre 1582 e 1752 podem aparecer com duas datas (a antiga e a nova).

Também nasceram no dia de Natal o químico canadiano de origem alemã Gerhard Herzberg (Prémio Nobel da Química de 1971 pelos seus trabalhos de espectroscopia molecular) e o físico alemão Ernst Ruska (Prémio Nobel da Física de 1986 pela sua invenção do microscópio electrónico).

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ainda a falta de pontualidade


Há cerca de um ano o nosso leitor Augusto Küttner de Magalhães fez aqui uma oportuna intervenção sobre a "pontualidade ou a falta dela" (aqui). Como, passado um ano, o tema continua oportuno, publicamos novo texto dele sobre o mesmo assunto:

Torna-se angustiante continuarmos a ser um dos países que tem mais telemóveis “per capita”, que anda supostamente a pretender agarrar a modernidade e o progresso, e não sabermos ou não querermos aplicar as regras mais elementares de boa convivência entre cidadãos. A pontualidade, ou melhor a falta dela, é algo entre nós bastante assustador, sendo-o tanto mais que é usual muitas pessoas conhecidas continuarem a chegar sempre atrasadas onde quer que seja com a maior das naturalidades e até se dizer abertamente sobre algumas figuras públicas: "Ah! Com ele é sempre assim, é só esperar mais um bocadinho". Claro que de modo algum se trata de uma faceta exclusiva dessas pessoas (dado que entre elas algumas são exemplarmente cumpridoras e até chegam antes da hora marcada), é algo transversal a toda a nossa sociedade. Também para as pessoas comuns, cinco, quinze ou cinquenta minutos de atraso não constituem nenhum problema, bem pelo contrário são uma perfeita normalidade.

Não é, porém, possível comportar-mo-nos assim civilizadamente. Talvez se se continuarem a distribuir computadores portáteis como símbolo do vanguardismo, juntamente com os mesmos poderia ir um simples relógio, grande de preferência, porventura uma hora adiantado para melhor sincronizar os que ainda não atinaram que as horas são para ser cumpridas. Esta falta de pontualidade, para além do total desrespeito pelas normas de boa conduta e pelos seus cumpridores, implica o eterno "desenrasca" e o tudo "à última hora". Como sabemos, trata-se de fazer as coisas sem planeamento, sem procedimentos adequados, porque se foi o tempo para assim fazer e tudo tem de ser feito de qualquer maneira, em cima do joelho e em cima da hora, a ver se resulta. O pior é quando falha ou quando surge algum contratempo. Por vezes miraculosamente até resulta, mas o pior é quando se torna necessário repetir a "proeza" e, como foi tudo atamancado, nem se sabe bem como foi feito e a coisa poderá, se repetida, correr menos bem, mal ou até muito mal.

Está chegada a hora de aprendermos algumas regras de boa conduta em sociedade, nomeadamente respeitar os outros e sermos por estes respeitados. Das pessoas mais importantes às mais desconhecidas, sem diferenças de género, dos mais jovens aos mais idosos, é necessário mudar velhos hábitos entranhados: fazermos programas, cumprirmos horários, sermos exactos. Isso não depende de quem nos governa, depende de todos e de cada um de nós, da nossa prática nos procedimentos do nosso dia-a-dia. É uma questão de ficarmos mais e melhor sincronizados. Basta querer e já não era sem tempo.

Augusto Küttner de Magalhães (Porto)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Tagarela



Post de Norberto Pires, que agora dirige o Parque Inovação em Coimbra:

Uma brincadeira muito séria.
Costumo usar estes robozinhos nas visitas que faço regularmente a escolas, a convite. A ideia é falar de Matemática, de Física, de Tecnologia, e mostrar coisas dessas em acção... como o TAGARELA.

Acham que resulta?

:-)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

ANO NOVO

Com votos de Bom Ano Novo, transcrevo informação recebida de Fernando Correia de Oliveira, o nosso maior especialista em relógios e no tempo:

O dia 14 de Janeiro corresponde ao dia 1 de Janeiro do calendário juliano. O ano 2008 da era vulgar, ou de Cristo, é o 8.º do século XXI e corresponde ao ano 6721 do período juliano, contendo os dias 2 454 467 a 2 454 832. O ano 7517 da era bizantina começa no dia 14 de Setembro. O ano 5769 da era israelita começa ao pôr do Sol do dia 29 de Setembro. O ano 4645 da era chinesa (ano do rato) começa no dia 7 de Fevereiro. O ano 2784 das Olimpíadas (ou 4º da 696ª), começa no dia 14 de Setembro, ao uso bizantino. O ano 2761 da Fundação de Roma «ab urbe condita», segundo Varrão, começa no dia 14 de Janeiro. O ano 2757 da era Nabonassar começa no dia 21 de Abril. O ano 2668 da era japonesa, ou 20 do período Heisei (que se seguiu ao período Xô-Uá), começa no dia 1 de Janeiro. O ano 2320 da era grega (ou dos Seleucidas) começa, segundo os usos actuais dos sírios, no dia 14 de Setembro ou no dia 14 de Outubro, conforme as seitas religiosas. O ano 2046 da era de César (ou hispânica), usada em Portugal até 1422, começa no dia 14 de Janeiro. O ano 1930 da era Saka, no calendário indiano reformado, começa no dia 21 de Março. O ano 1725 da era de Diocleciano começa no dia 11 de Setembro. Os anos 1429 e 1430 da era islâmica (ou Hégira) começam ao pôr do Sol dos dias 9 de Janeiro e 28 Dezembro (dados do Observatório Astronómico de Lisboa).

O FENÓMENO DA CONSCIÊNCIA É COMO O DA EXISTÊNCIA DO UNIVERSO - DAVID LODGE

Faleceu David Lodge, o polifacetado escritor britânico que manteve na ficção uma ironia finíssima e absolutamente corrosiva. A diversidade h...