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quinta-feira, 15 de maio de 2014

FEIRA DO OCULTO NO PARLAMENTO (CANCELADA)

Afinal há alguém com bom senso no parlamento. Alexandra Solnado acaba de anunciar na sua página no facebook, o cancelamento da palestra por iniciativa da Assembleia da República, a poucas horas do início previsto da mesma. Em baixo o texto que escrevi antes do anúncio do cancelamento.


Os funcionários do parlamento convidaram a Alexandra Solnado para falar de vidas passadas numas jornadas da saúde. Francamente incomoda-me. Mesmo sabendo que nada disto tem a ver com a actividade dos nossos parlamentares, incomoda-me que pela circunstância absolutamente casual de quem organiza essas jornadas da saúde não ter qualquer vestígio de cultura científica, Alexandra Solnado ficar com uma fotografia com que irá alegar que a casa da democracia reconhece a validade dos seus delírios.

Uma instituição como o parlamento, deveria ter algum bom senso. Por um lado, para não cair no ridículo. Por outro, para não municiar de argumentos de autoridade estas alegações delirantes de vidas passadas e conversas com Jesus. Como diz o Ricardo Araújo Pereira neste vídeo: "eu falei com o Jesus Cristo e ele disse-me que nunca falou com a Alexandra Solnaldo".

terça-feira, 22 de abril de 2014

HENRIQUE RAPOSO E A NEGAÇÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL

Como a ignorância aliada à arrogância vai desembocar na negação do aquecimento global. Gostava de dizer que este texto do Henrique Raposo me surpreende. Mas não. Pelo menos dá para pôr em perspectiva os seus outros textos. Afinal, se escreve isto sobre um assunto acerca do qual existe um consenso científico avassalador, podemos inferir a seriedade com que fundamenta as suas habituais opiniões políticas. 

Henrique Raposo, face ao trabalho voluntário de centenas de cientistas de todo o mundo que revêem todo a ciência publicada acerca de alterações climáticas, num processo transparente e sujeito a revisão pelos pares, o que tem para contrapor? Histórias sobre erupções vulcânicas na Idade Média e considerações chico-espertas, como esta:
se o "homem industrial" é o responsável pelas mudanças climáticas, por que razão o clima mudou tanto antes do advento da revolução industrial?
Vamos rever: Henrique Raposo pensa que é visionário e que viu o que os cientistas climáticas não foram capazes de vislumbrar nos dados das amostras de gelo com 800 mil anos à frente dos seus narizes: que o clima tem uma variabilidade natural. Brilhante. Não tínhamos pensado nisso. Boa. Obrigado. Será que Henrique Raposo não compreende que, apesar do variabilidade natural do clima, as actividades humanas provocaram mudanças que não são devidas a essa variabilidade natural? Henrique Raposo pensa, seriamente, que os cientistas não pensaram nisso? Estavam distraídos a olhar para um panda gigante a jogar à macaca com um koala?

Henrique Raposo comete ainda um erro primário de lógica. Que é mais ou menos assim: se as laranjas são frutos, então como podemos ter fruta sem laranjeiras? Raposo infere que para a actual ciência climática ser válida, toda a variabilidade do clima tem que ser devida à actividade humana. E isso é uma falácia. O clima tem variabilidade natural e, para além disso, há as alterações causadas pelo homem. As laranjas são frutos, mas também há pêras e maçãs.

O consenso científico acerca das alterações climáticas é avassalador. A historiadora de ciência Naomi Oreskes, fez uma análise de todos os artigos científicos publicados entre 1993 e 2003 e chegou à conclusão que nenhum (vou repetir: NENHUM) contrariava a ideia de que o clima está a ser alterado por causa das actividades humanas. 
Desde então, o mesmo têm mostrado os sucessivos relatórios do Painel Internacional das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, nomeadamente o quinto relatório, publicado este ano. A posição de Henrique Raposo é a velha corrente TTB (Tá Tudo bem). Podemos continuar a passear nos nossos carros a gasóleo com mais de uma tonelada, a comer toda a carne de vaca que conseguirmos (o metano dos intestinos das vacas também é um gás de efeito de estufa). Não é preciso mudar nada, Tá Tudo Bem, os cientistas são parvos.

Claro que Raposo também pode supor, e aparentemente é o que faz, que há uma conspiração dos poderosos ecologistas contra as indefesas companhias petrolíferas, no sentido de falsificar o conhecimento acerca de alterações climáticas.

Mais uma vez, nada que surpreenda.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A memória da Lua


Declarações que prestei ontem a uma jornalista do "Correio da Manhã":

- O que recorda da chegada do homem à Lua?

- Já passaram 43 anos... Esqueci-me de muita coisa desse ano de 69, mas não dessa memorável emissão televisiva. Era um rapazinho de 13 anos a morar Coimbra e, embora estivesse no liceu, lembro-me também do ambiente da crise académica de 69 com a polícia contra os estudantes. A televisão era pequena e a preto e branco. As imagens, que hoje podem ser vistas na Net, tinham pouca definição. Havia uns vultos humanos que saltavam com a ligeireza de cangurus. Eu estava no início dos estudos de ciência e apercebi-me que eram os conhecimentos de física que permitiam a viagem à Lua. Não sei, a esta distância, se fui para física por causa disso, talvez não, mas alguma coisa terá ficado no inconsciente nessa época gloriosa em que se vivia a descoberta do espaço.Tenho a idade da televisão em Portugal, mas a memória mais antiga que tenho da televisão é a da vitória do Benfica na Taça dos Campeões em 1961 e, em 1966, do 3.º lugar de Portugal no Mundial de Inglaterra, as duas antes da viagem à Lua. Futebol e Lua, eis o que retenho dos ecrãs desses anos 60. Hoje digo aos meus alunos que a física explicam os movimentos nos dois casos e pelas mesmas leis, as leis de Newton. E, já agora, foi também a física que permitiu a invenção da televisão. Acho que foi boa ideia ter estudado Física. E continua a ser boa ideia para os jovens de hoje, que ainda há pouco puderam ver a Curiosity pousar em Marte.

- E havia controvérsia em torno do tema? Havia quem duvidasse?

- As pessoas minimamente cultas acreditavam, seguiam as emissões na televisão e na rádio (com comentários de Eurico da Fonseca, um auto-didacta fabuloso). Mas o país era largamente inculto e pobre. Quase não havia ciência em Portugal. Um comerciante de carnes declarou na época a um jornal nacional: "Que me interessa a mim a Lua se não posso vender carne fora do meu concelho!" Progredimos muito desde esse tempo. Progredimos? A teoria absurda de que o homem nunca foi à Lua e que tudo não passa de um filme é recente, estando espalhada pela Internet. Se "googlarmos" viagem a Lua encontramos em vários sítios a afirmação falsa de que o homem nunca foi à Lua. A Internet está, de facto, inundada de lixo. A teoria segundo a qual os astronautas nunca foram a Lua é completamente absurda. Está ao nível de teorias similares segundo as quais Elvis Presley ainda está vivo ou foi a CIA que fez os ataques às torres gémeas. Há gente para acreditar tudo, por lhes faltar cultura científica. Einstein disse: "Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana, e quanto à primeira não tenho a certeza". Einstein já sabia, mas a Internet dá-nos a certeza da segunda. As provas da ida à Lua são avassaladoras. Por exemplo, há espelhos lá colocados que reflectem luz laser enviada da Terra. E há fotografias tiradas por sondas de instrumentos deixados pelo homem na Lua, que serão lá encontradas quando se voltar lá. Eu já estive no Cabo Canaveral, na Florida, e, ao ver o gigantesco foguetão o Saturno V, senti a realidade e a grandeza do projecto. O mesmo ao ver o módulo lunar num museu de Washington. Neil Armstrong foi um grande homem que não vai ser esquecido. Tinha tanto de corajoso como modesto. Declarou simplesmente sobre a Lua: "Um lugar interessante. Recomendo." Tem razão. É um lugar tão interessante que temos de lá voltar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ERADICATION: FIRST WE MUST CURE THE WORLD OF ITS SUPERSTITIONS


De novo a coluna What's New do físico Robert Park:

"In 1977, smallpox, the most deadly and persistent human pathogenic disease, was eradicated from Earth by the World Health Organization (WHO) following an unprecedented agreement allowing quick-response teams to freely cross every a border to administer vaccine in case of an outbreak. It was a moving demonstration of what can be achieved by world cooperation, and was quickly followed by calls to eradicate poliomyelitis. Polio eradication was undertaken by WHO in 1988 with help from private organizations, but although the number of polio cases diagnosed each year has plummeted, final eradication remains elusive. Opposition by Muslim fundamentalists is said to be the major factor in the failure of polio immunization programs. In Pakistan and Afghanistan the Taliban issued fatwa opposing vaccination as an attempt to avert Allah's will, while others saw it as an American plot to sterilize Muslims. Some conservative Christian groups oppose vaccination for diseases that are transmitted spread by sexual contact, arguing that the possibility of disease deters risky sexual contact. It doesn’t."

Robert Park

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Proibição de fumar dentro dos carros

Serei breve, não porque a notícia em si não mereça destaque pela controvérsia que está a gerar.

Mas vamos directamente aos factos que me levam a escrever estas linhas. Numa altura em que se discute o novo acordo ortográfico, parece-me bastante mais importante discutir a forma correcta de redigir em português. Hoje, por exemplo, no "Jornal da Noite da RTP" , em notícia de rodapé, lia-se esta pérola: "Proibição fumar carros".

E julgava eu que só se podia fumar, e fora de recintos fechados, cigarros, charutos e cachimbo. Pelos vistos, a partir de agora será proibido "fumar carros"... O que não se aprende na "caixa que mudou o futuro do mundo". Pobres crianças que desde pequeninas são intoxicadas de mau português.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

FRAUDES CIENTÍFICAS

Destaque para a coluna do físico Robert Park sobre pseudociência:

´


"DECEPTION AT DUKE: SADLY RECALLING AN EARLIER EPISODE.

On Sunday, February 12, the CBS series 60 Minutes reminded us of the largely unfulfilled promise of television to expose the foolishness and fraud that diminishes our brief lives. If you did not see Sunday's program I urge you to obtain a copy. Much earlier, many of us had followed with growing wonder the news on television as Dr. Anil Potti reported amazing progress in tailoring chemotherapy to a patient's own genetic makeup, with remarkable results. However, as the science community often tells the public, it's not a discovery until it's been independently confirmed. The willingness of researchers to open their findings to the entire scientific community is what gives science its success and credibility. In this case, it could not be confirmed and may be one of the biggest medical research frauds of all time. Unfortunately, it was not the first time that Duke
University had fallen victim to foolish and fraudulent science.

PARAPSYCHOLOGY: J.B. RHINE FOUNDED THE FIELD AT DUKE IN 1934.

Even today, Parapsychology, including extrasensory perception, has millions of believers, including some describing themselves as scientists who tend to be drawn ever more deeply into belief. Perhaps it's a selection process. A scientist won't get much coverage by announcing to the press that no evidence could be found. The unexpected is more interesting; of course it's also more likely to be wrong."

Robert Park

domingo, 1 de janeiro de 2012

O FIM DO MUNDO SEGUNDO BUESCU


Respostas de Jorge Buescu (JB) a Christiana Alves Martins (CAM) para o Expresso a propósito de um artigo sobre o fim do mundo.

XA;- Porque as pessoas têm a necessidade de fixar uma data para o chamado fim do mundo? Que mecanismo psicológico justifica isto? Para que surjam estas teses, as teorias científicas são adulteradas?

JB- Provavelmente uma mistura de sentimentos, entre os quais um desejo de sentir que vivem numa época ou altura “escolhidas”. Curiosamente, a evolução da Ciência desde Galileu até à moderna cosmologia tem-nos revelado exactamente o oposto: vivemos num local e numa época típicos, num pequeno ponto azul pertencente a um entre milhares de milhões de sistemas solares, que está numa entre milhares de milhões de galáxias, num gigantesco Universo que tem mais de dez mil milhões de anos. Não ocupamos posição especial nem no espaço nem no tempo.

Nenhuma teoria científica tem de ser alterada para acolher estas ideias delirantes, que não passam de crenças baseadas em pseudociências ou superstições sem qualquer fundamento científico. Hoje, depois de Galileu, Newton e Einstein, compreendemos muito bem como funciona o Universo e podemos prever com precisão o que vai acontecer no nosso sistema solar nos próximos milhões de anos. E não se prevê nenhum apocalipse astronómico.

CAM- É possível, do ponto de vista astronómico que civilizações antigas, como a maia, sem o devido instrumental, possam fazer cálculos elaborados que prevejam acontecimentos com antecedência de tantos anos? Tinham acesso a instrumentos matemáticos suficientes para assegurar algum rigor nos resultados?

JB- Sim, é possível. As civilizações grega, egípcia e chinesa dispunham de observações astronómicas bastante precisas dos planetas visíveis e das estrelas há mais de dois mil anos. O Almagesto, obra em que Ptolomeu descreve os movimentos do sistema solar então conhecido, prevendo matematicamente com grande precisão o seu futuro, as posições planetárias, os eclipses, etc., tem cerca de 2000 anos e foi a obra de referência de astronomia durante 1500 anos.

CAM- Das seguintes teses, quais as que, do seu conhecimento e do ponto de vista científico, têm alguma credibilidade? Profecia hindu (2012 como fim de um ciclo, com base em ciclos), profecia maia (idem, com base em um calendário específico), choque com um asteróide (ou um cometa ou o planeta Nibiru ou X), inversão dos pólos da Terra (guinada magnética que provocaria sismos violentos), explosão de raios gama (causaria danos no núcleo das células, desenvolvendo cancros), índios hopi (fim d um ciclo), código da Bíblia (o sol transformará o planeta num mar de chamas), tempestades solares (erupções do sol atingirão o seu auge em 2012), profecias de Nostradamus (cataclismos no solstício de inverno)?

JB- Nenhuma. Todas elas (excepto duas que destacarei) têm em comum o facto de se basearem em pseudociências, superstições ou crendices recuperadas por uma certa mentalidade New Age, colidem directamente com o conhecimento científico e não merecem qualquer credibilidade. Eu já sobrevivi a nove “profecias do fim do Mundo”, as últimas das quais de Nostradamus, que o previa para 1999; do Código da Bíblia, que fez furor em 1997 e previa um holocausto nuclear para 2006; e do televangelista Harold Camping, em Novembro de 2011. E tenciono sobreviver às de 2012 e seguintes.

Os únicos fenómenos citados com alguma realidade física são os ciclos solares e a inversão dos pólos magnéticos da Terra. Os primeiros correspondem a um ciclo de cerca de onze anos e temos desde sempre coexistido pacificamente com eles. A inversão dos pólos magnéticos é um fenómeno cientificamente menos bem compreendido; corresponde a tempos menos regulares, que podem ir até cerca de um milhão de anos. Mas não há qualquer indicação nem de efeitos apocalípticos nem que um deles ocorra em 2012.

CAM- O nosso calendário - o calendário gregoriano - é arbitrário?

JB- O calendário gregoriano é tudo menos arbitrário, sendo um prodígio de sofisticação astronómica e matemática. É o produto de 1500 anos de evolução do conhecimento científico que civilizações mais primitivas não poderiam possuir. Foi elaborado durante anos no século XVI por uma comissão de astrónomos e matemáticos liderada pelo alemão Cristóvão Clávio, que foi estudante em Coimbra. Permite prever eclipses e fenómenos astronómicos ao minuto. Por outro lado, o problema que resolve tem tudo a ver com a situação do ser humano no planeta Terra: concilia de forma precisa a duração do dia solar, que rege os ritmos humanos, com a do ano terrestre, que rege fenómenos que nos afectam directamente, como estações do ano, sementeiras e colheitas. E fá-lo com um rigor matemático impressionante, tendo uma precisão de cerca de uma parte num milhão. É uma obra admirável e nada tem de arbitrário ou artificial (a não ser irrelevâncias como a marcação do ano zero ou o nome dos planetas).

CAM- Tem conhecimento de que, desde 2008, existe um «cofre do fim do mundo», com sementes de valor alimentício?

JB- É um exemplo extremo da ideia de “bancos de sementes”, que tentam preservar a fonte da biodiversidade alimentar.

CA;- Conhece um programa chamado «Time Wave Zero», que faz cálculos que permitem previsões?

JB- Não conhecia o programa. É um bom exemplo de uma crença pseudo-científica: utiliza interpretações ad hoc de ideias não-científicas com milhares de anos para fazer “previsões” sobre acontecimentos já ocorridos. O seu nome (“Zero”) é igual à sua credibilidade.

CAM- Se as previsões são possíveis em ciências, porque não se previu o grande tsunami no último grande terramoto no Japão?

JB- O facto de ser possível fazer previsões e de posteriormente as testar com a realidade é a pedra angular da Ciência Moderna. Contudo, embora regidos pelas mesmas leis físicas básicas, sistemas diferentes têm graus de complexidade muito diferentes. As mesmas leis de Newton que permitem prever o movimento dos planetas aplicam-se a sistemas como a atmosfera ou os oceanos. No entanto, estes últimos são física e matematicamente muitíssimo mais complexos e a nossa capacidade de previsão muito mais limitada. Embora conheçamos perfeitamente as leis que regem os fenómenos, é a complexidade dos sistemas físicos que nos impede de prever um terramoto ou tsunami. Mas têm sido feitos avanços técnicos significativos a nível da recolha de dados, por exemplo, com sensores submarinos, e talvez num futuro próximo seja possível uma previsão eficaz.

CAM- Já agora, conhece o Movimento de Extinção Voluntária (VEHMT), que prevê o fim da reprodução humana?

JB- Não conhecia. É uma ideia delirante, e parece-me muito bem que os autores se proponham a auto-extinção voluntária. Pessoalmente não tenciono aderir.

sábado, 31 de dezembro de 2011

VEM AÍ O FIM DO MUNDO?


Declarações que prestei à jornalista Christiana Alves Martins (CAM) do Expresso e que saíram na revista Única de ontem, num artigo sobre o "fim do mundo" juntamente com declarações de outros colegas:

CAM- Porque as pessoas têm a necessidade de fixar uma data para o chamado fim do mundo? Que mecanismo psicológico justifica isto? Para que surjam estas teses, as teorias científicas são adulteradas?

CF- O receio do fim do mundo sempre existiu e provavelmente sempre existirá, em muitos povos e culturas. Veja o fim do mundo no ano 1000 e, embora em menor escala, o fim do mundo em 2000 (o "bug do milénio" era uma manifestação na informática desses receios). Na nossa cultura cristã e católico, o mito do Apocalipse está presente. Deve haver razões psicológicas, sociológicas e religiosas, mas não sei aprofundar o assunto. Sim, as teorias científicas são, por vezes, adulteradas para alimentar mitos do fim do mundo. Chama-se a isso pseudo-ciência, criar uma ciência fictícis que sirva os nossos preconceitos ou propósitos.

À escala cósmica, tanto quanto sabemos, o nosso Universo é semi-eterno, isto é, teve um início, há 13,7 mil milhões de anos, mas não terá fim. A expansão, começada com o Big Bang, será eterna, ficando o Universo cada vez mais frio e com cada vez maiores distâncias entre as galáxias. Pode haver o fim da Terra sem ser o fim do mundo. Decerto que daqui a cerca de cinco mil milhões de anos, o Sol chegará ao fim do seu ciclo de vida (vai a meio) e ficará uma gigante vermelha antes de se tornar uma anã branca. Nessa altura, o raio do Sol chegará perto da órbita da Terra e, se ainda aqui estivermos (a história humana só tem cerca de um milhão de anos, nada comparado com os cinco mil milhões de vida do Sol) estaremos "fritos". Já houve quuem propusesse soluções de engenharia para evitar o apocalipse solar: lançamento de bombas de hidrogénio lançadas para o Sol para o reavivar ou reposicionamento da "nave espacial" Terra numa órbita mais longínqua do astro-rei (ambas soluções temporárias, claro). Falta muito tempo e não há que estar preocupado.

Claro que no Sol há colisões de cometas e de asteróides (agora menos do que no princípio do sistema solar). Não estamos livres de que haja uma dessas colisões, pese embora o efeito defensivo da atmosfera. Há programas em curso para observar asteróides próximos e há também quem defenda o desenvolvimento de tecnologias para aniquilar asteróides perigosos. São, por vezes, tão pequenos que só se vêem muito perto, mas têm passado bem ao lado. Julgo que é bem mais fácil ganhar o Euromilhões do que apanhar com um asteróide grande...

Pode haver outras catástrofes da Terra, mas à escala planetária, talvez a mais plausível parece felizmente afastada: o "inverno nuclear" causado por uma denotação maciça de bombas de hidrogénio (processo de fusão semelhantes aos que ocorrem no Sol). A guerra fria jaz, felizmente, morta e enterrada.

CAM- É possível, do ponto de vista astronómico que civilizações antigas, como a maia, sem o devido instrumental, possam fazer cálculos elaborados que prevejam acontecimentos com antecedência de tantos anos? Tinham acesso a instrumentos matemáticos suficientes para assegurar algum rigor nos resultados?

CF- A matemática e astronomia dos maias tinham algum grau de desenvolvimento, mas nada comparado com a matemática e astronomia de que dispomos hoje. E a matemática e astronomia de que dispomos hoje não nos fazem recear nenhuma catástrofe planetária previsível. Acho de resto que essa história do calendário maia, que prevê o "fim do mundo" para daqui a um ano (21/12/12) está muito efabulada. São interpretações mais do que discutíveis sobre um ciclo longo que chega ao fim do calendário maia. É um pouco parecido com o "fim do mundo" associado aos finais do milénio: os anos 1000 e 2000 não vão voltar a acontecer, mas foram datas normalíssimas, como outras quaisquer do calendário.

CAM- Das seguintes teses, quais as que, do seu conhecimento e do ponto de vista científico, têm alguma credibilidade? Profecia hindu (2012 como fim de um ciclo, com base em ciclos), profecia maia (idem, com base em um calendário específico), choque com um asteróide (ou um cometa ou o planeta Nibiru ou X), inversão dos pólos da Terra (guinada magnética que provocaria sismos violentos), explosão de raios gama (causaria danos no núcleo das células, desenvolvendo cancros), índios hopi (fim de um ciclo), código da Bíblia (o sol transformará o planeta num mar de chamas), tempestades solares (erupções do sol atingirão o seu auge em 2012), profecias de Nostradamus (cataclismos no solstício de inverno).

CF- Não têm credibilidade nem a profecia hindu, nem a maia. Choque planetário é possível (foi assim que a Lua se formou no início do sistema solar) mas é muito pouco provável que o asteróide ou cometa tenha tamanho suficiente para ser perigoso para nós. O planeta Nibiru não existe: é uma invenção de algum visionário, que aproveitou uma palavra da tradição babilónica. Quanto à inversão da polaridade magnética da Terra é possível (aconteceu no passado, ao longo da história geológica, mas não é previsível: a série parece aleatória). O código da Bíblia não faz sentido nenhum, é um disparate completo. As profecias de Nostradamus também. Assim como as profecias de S. Malaquias, que prevêem que o actual será o penúltimo papa. Quanto às tempestades solares, o Sol tem, de facto, ciclos, que se podem medir pelo número de manchas solares (a Universidade de Coimbra observa diariamente o Sol desde 1925, fotografando a face manchada). O próximo máximo será em 2013, e tudo indica (a avaliar pelas manchas observadas até agora) que não vai ser tão intenso como o anterior. Ciclos solares sempre houve e sempre haverá enquanto o Sol estiver "vivo"...

CAM- Mas confirma-se o agudizar de explosões solares? Com que consequências para a vida das pessoas?

CF- Não se confirma nenhum agudizar de explosões. A actividade solar está registada e os registos estão acessíveis a todos. As oscilações do número de manchas solares são normais.

CAM- De forma a explicar aos leigos, qual é a interferência dos fenómenos astrofísicos na vida quotidiana das populações?

CF - Se houver - lagarto, lagarto - queda de um grande asteróide ou cometa poderá haver alterações na evolução biológica. Embora seja discutível, pensa-se que hoje existimos graças à grande colisão que, caindo sobre o Iucatão (México), eliminou os dinossauros, permitindo a ascensão dos mamíferos. As tempestades solares podem ter efeitos nas comunicações à superfície da Terra, o fenómeno é conhecido, mas não é considerado grave. Se houver alteração do campo magnético terrestre (causado por correntes no interior da Terra, de comportamento imprevisível) poderá haver exposição a tempestades magnéticas, isto é, partículas carregadas vindas do Sol poderão não ser deflectidas, como convém, pelo campo magnético terrestre.

CAM- É verdade que no mês de Julho de 2006, telescópios e supercomputadores revelaram que o nosso sistema solar se encontra no cruzamento entre duas galáxias e se alinhará com o centro da Via Láctea em 2012, libertando um fluxo máximo de energia? As comunicações podem ser então interrompidas? O alinhamento galáctico é outro nome para o mesmo fenómenos? Quando aconteceu pela última vez?

CF- Não é verdade, isso são fantasias que não resistem ao menor espírito crítico. A expressão "libertando um fluxo máximo de energia" não se percebe sequer nesse contexto.

CAM- Se as previsões são possíveis em Física, porque não se previu o grande tsunami no último grande terramoto no Japão?

CF - Não são possíveis previsões de terramotos no estado actual da sismologia. Pode ser que um dia venha a ser possível mas hoje não é. Portanto está ser um enorme erro o julgamento de sismologistas italianos por não terem previsto o sismo de l'Aquila.

CAM- Tem conhecimento de que, desde 2008, existe um «cofre do fim do mundo», com sementes de valor alimentício?

CF- Não, mas não me admira nada, há tanta coisa engraçada. O nome é engraçado. A iniciativa é engraçada. Não sei como é que se vai comer depois do fim do mundo...

CAM- Uma última pergunta; conhece o Movimento de Extinção Voluntária (VEHMT), que prevê o fim da reprodução humana?

CF- Não conheço, mas comento com uma frase de Einstein. O grande sábio disse um dia: "Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. E sobre a primeira não tenho a certeza."

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

PREVISÕES PARA 2012 E 2015


Minha crónica no Público de hoje (na imagem, o asteróide 433 Eros):

A astrologia não está em crise. Esta é a altura em que os astrólogos miram as suas bolas de cristal, ou lançam as suas cartas, ou olham para as folhas do chá, para anteverem o que vai suceder no próximo ano. São muitos os que disputam o prémio da adivinhação: por exemplo, segundo a revista Focus (28/12/2012), a astróloga Cristina Candeias, conhecida dos espectadores da RTP1 pela sua presença no programa Praça da Alegria, prevê que vão ocorrer “falências de algumas empresas e um aumento da taxa de desemprego”. Além disso, “a grande asfixia em que nos encontramos neste momento levará a um exaspero das classes menos favorecidas e, consequentemente, a um aumento da criminalidade”. Adianta ainda: “Infelizmente, pelas análises astrológicas assumidas por mim, esta triste realidade vai manter-se até Setembro de 2015. Só após esta data é que irá verificar-se um alívio das dificuldades do país, porque Saturno entrará em Sagitário, signo de fé, de novas filosofias de vida e de sorte”. Será difícil não dar razão à vidente quer quanto às falências e ao desemprego quer quanto ao exaspero e ao aumento da criminalidade. E também quanto ao alívio das dificuldades antes das legislativas de 2015 pois não é novidade nenhuma que todos os governos fazem tudo e mais alguma coisa para ganhar eleições. De Candeias vem pois a confirmação de más notícias para o curto e médio prazo. Enfatizo, porém, as boas notícias: segundo a moderna astrologia, sobreviveremos ao fim do mundo anunciado pelo ciclo longo do calendário maia para 20 de Dezembro de 2012, segundo uns, ou 23 de Dezembro do mesmo ano, segundo outros (não é fácil ler calendários maia).

Sem querer competir com a astróloga Candeias, nem com a taróloga Maya, que com certeza chegará ao mesmo resultado da sua colega lançando cartas, ou com o Prof. Karamba, que não terá dificuldade em ver algo semelhante no fundo de alguma chávena, atrevo-me a fazer algumas previsões para 2012 e 2015, que serão ainda mais certeiras do que as que fez a astróloga de serviço à nossa televisão pública (ainda ninguém reparou que se podia poupar mais ao erário público?).

Assim, prevejo que 2012 será um ano bissexto, como acontece normalmente de quatro em quatro anos. Existirá, portanto, o dia 29 de Fevereiro de 2012, que será a uma quarta-feira, facto que ajudará ao magno objectivo do ministro da Economia de aumentar a produtividade nacional. Conto trabalhar nesse dia.

Prevejo também que, na passagem do dia 5 para o dia 6 de Junho, vai ocorrer um trânsito de Vénus, isto é, uma passagem desse planeta por diante do disco solar. Eu vi como foi no ano de 2004 e posso garantir que neste século não voltará a haver mais nenhum evento desse tipo (o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, também o garante no seu livro Trânsitos de Vénus, com Fernando Reis e Luís Tirapicos, Gradiva, 2004). Após 2012 só volta a haver em 11 de Dezembro de 2117, numa altura em que a actual crise já terá passado (quero ser optimista), embora possa haver outra diferente (diz o meu lado pessimista). O problema com a observação do trânsito de Vénus de 2012 é que ela exige uma viagem ao Pacífico, por exemplo ao Havai. Não que me importasse, mas não prevejo fazê-lo devido à crise. Uma pena, pois uma ocasião desta é absolutamente imperdível.

Prevejo ainda, se me é permitido acertar muito mais do que Cristina Candeias, que a 20 de Maio próximo haverá um eclipse do Sol anular, infelizmente de novo visível apenas no Pacífico. Também não posso ir por estar a trabalhar. A 13 de Novembro haverá outro eclipse do Sol, este no Pacífico Sul, na Austrália. Já é azar, passar-se tudo tão longe: até os astros nos são desfavoráveis. Lamento muito porque tive oportunidade de ver o eclipse solar total de 2005, em Miranda do Douro, que foi uma coisa digna de se ver. Em contrapartida, espero desfrutar do eclipse solar que será visível de Portugal continental em 20 de Março de 2015, antes da campanha eleitoral desse ano, segundo Candeias numa conjuntura económica mais favorável do que hoje. Oxalá ele seja auspicioso. Eu cá gosto de eclipses, ao contrário da astróloga da RTP, que explicou um dia, num eclipse tanto da ciência como da língua portuguesa, numa das emissões em que participou: “Não gosto muito dos eclipses, porque eles estão muito associados a cataclismas (sic) naturais. [...] Ainda mais com a lua cheia, que é aquilo que vai enchendo.” Fico sem saber como é que as nossas dificuldades vão ser aliviadas: por um lado Saturno entrará em Sagitário e, por outro lado, a Lua tapará o Sol.

E sobre o fim do mundo? A coisa mais próxima que se consegue arranjar é a passagem do asteróide 433 Eros a 31 de Janeiro perto da Terra. Perto, mas não muito: à confortável distância de 27 milhões de quilómetros. Foi nesse asteróide que pousou em 2001 uma sonda da NASA, a NEAR Shoemaker.

Votos de Bom Ano de 2012! E faço também votos antecipados de um 2015 bem melhor.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

HACKS: SHODDY PRESS COVERAGE OF SCIENCE.


Destaque à coluna semanal "What's New" de Robert Park:

"The Leveson Inquiry into the standards and ethics of the UK press, headed by Lord Justice Brian Leveson, was prompted by the News of the World phone-hacking scandal. The seamy British tabloid was the top-selling English-language newspaper in the world when owner Rupert Murdoch had to close it five months ago after its news-collection methods were exposed. The intense public interest in the sex and drug culture of celebrities is certainly troubling, but the same journalistic standards applied to science news may be more dangerous. In 1998, for example, Andrew Wakefield, an obscure British gastroenterologist, set off a worldwide vaccination panic when he falsely identified the common MMR vaccination as a cause of autism. Widely reported by the press, Wakefield's irresponsible assertion led to a precipitous decline in vaccination rate and a corresponding 14-year rise in measles cases. An editorial in the current issue of Nature (8 Dec 2011) urges scientists to "fight back against agenda-driven reporting of science." Who could disagree? It is, after all, a fight against ignorance."

Robert Park

O FIM DO MUNDO NÃO ESTÁ PRÓXIMO


Minha crónica saída hoje no "Sol":

Não, não. Apesar de todo o barulho na Internet sobre um hipotético fim do mundo que se se avizinha, a verdade é que nada, repito nada, sustenta esse tipo de especulações. Por muito que os modernos profetas da desgraça se afadiguem a propagar as suas mensagens nos seus computadores, não existe nenhuma base científica para alimentar qualquer receio.

Alguns desses modernos profetas prevêem para 21 de Dezembro de 2012 esse tal fim do mundo com base em calendários maias. Em primeiro lugar, trata-se de uma interpretação mais do que discutível de documentos antigos sobre a contagem do tempo. Em segundo lugar, e mais importante, os antigos maias não dispunham da capacidade de fazer previsões sobre catástrofes astronómicas a essa distância. E o mesmo acontece com outras civilizações antigas, como por exemplo a dos indianos.

Há quem relacione o fim do mundo com um embate com a Terra de um planeta, de nome Nibiru, mencionado na antiga tradição babilónica. Mas isso é pseudo-astronomia. Os astrónomos sabem – e têm-no dito – que não há nenhum Nibiru que ameace o nosso planeta. Claro que há pequenos asteróides que, por vezes, passam relativamente perto do nosso planeta. Mas a probabilidade de haver um que seja fatal para nós é muitíssimo pequena. E ninguém fez, com base em observações e cálculos, uma previsão de um evento desse tipo para o ano de 2012.

Por outro lado, há quem fale de um ciclo solar violento com consequências danosas para a Terra. Ora o máximo de manchas solares no actual ciclo solar (cujo período é de onze anos) está previsto para 2013, estando também previsto que não será tão intenso como no ciclo anterior. As consequências para nós não serão significativas: ciclos solares sempre existiram e sempre existirão (enquanto o Sol estiver activo, o que significa nos próximos cinco mil milhões de anos).

Há ainda quem fale de inversão dos pólos magnéticos terrestres, um fenómeno que aconteceu irregularmente na nossa história geológica e para o qual não há nenhuma possibilidade de previsão. E há quem fale, relacionado ou não com a inversão do eixo magnético, na eclosão de grandes sismos, um fenómeno que também não conseguimos prever no estado actual da ciência geofísica.

O movimento, que não é novo, da “Nova Era” emite todo o tipo de informações falsas, atribuindo-lhes fundamento científico, na esperança de enganar os mais incautos. Talvez este momento, de crise económica no mundo ocidental, seja psicologicamente propício para que um grande número de pessoas se deixe levar por superstições. Se as ciências físicas não prevêem o fim do mundo, talvez as ciências psicológicas consigam explicar os medos do fim do mundo.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Lua cheia: um indutor natural do parto?


13 de Setembro de 2011. Ao serviço de obstetrícia do Hospital de Santa Maria vão chegando senhoras grávidas com queixas de contracções dolorosas. Visivelmente muitas delas estarão já em trabalho de parto.

-Isto hoje é uma enchente, comenta um futuro pai para outro.

-É verdade, parece que só já têm uma cama livre. Se isto assim continua penso que vão começar a redireccionar para outros hospitais.
-É normal, ontem foi noite de Lua cheia... Quando reparei nisso adivinhei logo que seria para hoje...

Será de facto assim? Afinal de contas, é sabido que a Lua influencia as marés. Por que não havia de influenciar também, através de um mecanismo ainda desconhecido, os nascimentos? Ainda bem que possuímos o método científico, que nos permite destrinçar entre factos empiricamente comprováveis e simples crenças infundadas.

Foi este o assunto estudado por Dan Caton no seu artigo Do Birth Rates Depend on the Phase of the Moon? publicado em 2001 no Bulletin of the American Astronomical Society. Com base em informação fornecida pelo Centro Nacional de Estatística para a Saúde, Caton compilou dados referentes aos cerca de 70 milhões de nascimentos ocorridos nos Estados Unidos durante um período superior a vinte anos. O gráfico seguinte mostra aquilo que segundo este estudo é um ano típico:

Podemos facilmente constatar a existência de uma periodicidade semanal. Trata-se de uma diminuição do número de nascimentos durante o fim de semana, que acontece uma vez que as cesarianas e os os partos induzidos não são por norma programados para sábados e domingos. Observa-se também um aumento médio linear do número de nascimentos entre Fevereiro e Agosto, com uma queda abrupta em Setembro. O autor atribui este facto a fenómenos sociais, como, por exemplo, algum resquício do calendário agrícola. Seja como for, aquilo que não se constata de todo é a existência de um qualquer padrão de período mensal que corresponderia a um eventual efeito da Lua. Estes dados foram ainda estudados numericamente em função do período sinódico da Lua tendo-se demonstrado a inexistência de uma qualquer correlação estatisticamente significativa entre o dia do mês lunar e o número de nascimentos.


Conclusão: os partos não são influenciados pela Lua cheia ou por uma qualquer outra fase da Lua. Não deixa de ser curioso que tantos defendam a tese contrária, afirmando terem já constatado pessoalmente uma ligação entre os dois fenómenos. Trata-se da força da superstição: uma visão enviesada do mundo assente em crenças irracionais profundas.


Podemos encontrar por exemplo o seguinte texto no site de Márcia Mattos - projectos, produtos e serviços em astrologia:


"A LUA E A FERTILIDADE
Tradicionalmente, a Lua representa o Princípio Feminino por excelência: a mulher/mãe na sua capacidade de fecundar, gestar, proteger e nutrir sua cria. Por isso, se atribui a ela o domínio sobre todos os processos e forma de fertilidade e nutrição. Partos, gravidez, gestação, concepção - estão todos sob a regência da Lua. É conhecido o impacto sobre a incidência de partos na troca de Lua. A Lua Cheia é a campeã na precipitação dos nascimentos. É muito difícil resistir à chegada da Lua Cheia quando as semanas de gestação já estão cumpridas ou próximas de se cumprirem. Para quem tem ciclos de ovulação/menstruação irregulares recomenda-se um tratamento que siga a Lua de nascimento da pessoa para que a menstruação se regule assim naturalmente."

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

LIVROS DE CIÊNCIA?


Minha crónica no "Sol" de hoje:

O Expresso decidiu recorrer à consultora Gfk para obter uma lista de livros mais vendidos. Esta empresa revelou, porém, que não era credível ao publicar no jornal de 3 de Dezembro um top 10 de livros de ciências encabeçado por Astrologia e Guia do Amor 2012, de Paulo Cardoso (Livros d’Hoje), Pai-Nosso que Estais na Terra, de José Tolentino Mendonça (Paulinas), e Do Eu Solitário ao Nós Solidário, de Frei Fernando Ventura e Joaquim Franco (Verso de Kapa). A lista fecha com Dia-a-Dia com os Anjos, de Marta Cabeza Villanueva (Pergaminho). A Gfk mostrou não fazer a mínima ideia do que é a ciência. A astrologia, embora se queira fazer passar por ciência, é pseudociência. Religião também não é ciência, como concordarão decerto tanto o Padre Tolentino como Frei Ventura.

Quanto ao conteúdo do livro Dia-a-Dia com os Anjos, nem é pseudociência nem religião, mas algo delirante. Basta ler como o livro (que inclui 50 cartas de jogar) se apresenta: “Os Anjos são mensageiros divinos, seres de luz constituídos por energia superior. Estão sempre presentes na nossa vida, guiando, apoiando e protegendo-nos; normalmente, fazem-no através da organização de acontecimentos nas nossas vidas, criando aquilo a que chamamos «coincidências». Mediando entre a divindade e o homem, os Anjos ajudam-nos a criar um mundo melhor. Este livro convida-nos a aprender como «jogar» com os anjos.” Trata-se de um livro de auto-ajuda, mas, como muitas obras desta índole, não passa de fraude grosseira. Se a astrologia procura pontes para a astronomia, macaqueando-a, alguns destes livros procuram pontes para a religião, macaqueando-a. São pseudoreligião, portanto. O mais curioso é que a Gfk tenha colocado no topo dos livros de não-ficção a obra O Céu Existe Mesmo, de Todd Burpo e Lynn Vincent (Lua de Papel). A consultora não faz ideia nenhuma do conteúdo dos livros que indica, pois bastar-lhe-ia ter lido um excerto da sinopse – “Foi em 2003 que o pequeno Colton, sentado na sua cadeirinha no banco de trás do carro, começou a falar sobre os anjos que o tinham visitado durante a operação à apendicite aguda” – para ter colocado este livro à frente dos seus “livros de ciência”.

Os leitores querem um top 5 de bons livros de ciência de autores nacionais? No Natal que se avizinha, ofereçam aos outros ou a si próprios, não interessando a ordem, Casamentos e Outros Desencontros, de Jorge Buescu (sobre matemática, na Gradiva), O Grande Inquisidor, de João Magueijo (sobre física, na Gradiva), Haja Luz!, de Jorge Calado (sobre química, na IST Press), Uma Tampa para cada Tacho, de Francisco Dionísio (sobre biologia, na Bizâncio), e A Aventura da Terra, de vários autores coordenado por Maria Amélia Martins-Loução (sobre geologia, na Esfera do Caos). Boas leituras!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11/11/11

A data 11/11/11 é muito fácil de fixar e também por isso está a ser utilizada para a divulgação de um evento inovador em Portugal, o lançamento do Projecto Nacional de Sequenciação do Genoma.

Mas o número de disparates que se ouvem e lêem hoje em Portugal e no mundo sobre o 11/11/11 são incríveis. Esses disparates são, em geral, do domínio da futurologia, a pseudociência que procura ver implicações em sequências de algarismos que mais não são do que coincidências. É claro que há coincidências, ao contrário do que transparece do título de uma conhecida escritora lusa.

No caso das datas, já tivemos o 01/01/01, o 02/02/02, o 03/03/03, o 04/04/04, o 05/05/05, o 06/06/06, o 07/07/07, o 08/08/08, o 09/09/09, o 10/10/10 e agora temos o 11/11/11. Para o ano teremos o 12/12/12. E depois acaba-se a brincadeira com estes números, pois já não há o 13/13/13 (seria o triplo azar para os supersticiosos. Este ano já tivemos outro número curioso , o 11/02/2011, que se pode ler de frente para trás e de trás para a frente. Alguém se lembra de alguma dessas datas? Mas talvez o 11/11/11 seja mais fácil de fixar: não há o 00/00/00 e não haverá o 22/22/22.

O 11/09/01 (esse todos se lembram por causa do ataque às torres gémeas) ajudou à disseminação do disparate: eram duas torres altas, tal como um 11 e um dos voos tinha o número 11. New York City tem 11 letras (coincidência, Jesus Cristo também tem!). E há quem queira encontrar o 11 em todo o lado a propósito desse evento. Mas a numerologia funciona assim: procura-se o 11 de qualquer maneira, se não se encontra (na maior parte dos casos) esquece-se e, se se encontra, lembra-se (em muito poucos casos). É tudo menos ciência. Os numerologistas prevêem tudo, mas só depois de ter acontecido!

Por vezes não há coincidências, e outras vezes elas são forçadas: a 1ª Guerra Mundial acabou oficialmente em 11/11, mas de 1918. E apesar de ter acabado às 11h10 há quem acrescente um minuto e diga que foi às 11h11... De qualquer modo hoje celebra-se o Armistício.

O dia 11 de Novembro é decerto lembrado por quem faz anos nesse dia. Entre os países a Polónia faz anos neste dia (a independência foi após a 1ª Guerra Mundial) Angola faz anos neste dia,e Angola também faz anos nesse dia (a independência foi em 2005, às 11 h da noite, quer dizer às 23h). No numeroso grupo dos actores internacionais fazem anos hoje o Leonardo di Caprio e a Demi Moore e os numerologistas acharão talvez que é uma coincidência cósmica o facto de já terem namorado um com o outro! Mas, de facto, o Di Caprio já namorou tantas raparigas que alguma tinha de ter o mesmo dia de aniversário que ele...

PS) Hoje é Dia de São Martinho e São Martinho tem 11 letras, se não abreviar o São!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

VACCINE: THERE IS NO INOCULATION AGAINST IGNORANCE.


Destaque para a sempre atenta e oportuna coluna What's New de Robert Park:

"Here we go again. Last week during a debate of Republican presidential candidates, Representative Michele Bachmann characterized human papilloma virus (HPV) vaccine as "a potentially dangerous drug," and linked its effect to "mental retardation." There is no medical support for her wildly irresponsible remarks; the HPV vaccine prevents cervical cancer, and an editorial in Nature calls on Bachmann to retract her words, but I don't think she reads Nature. The 1998 claim of British researcher Andrew Wakefield that the common MMR vaccine causes autism set off a revival of the anti-vaccination movement, and a corresponding rise in measles cases. In 2009, however, Wakefield was found to have altered patient’s records to support his claim . Barred from the practice medicine in the UK, Wakefield now operates an autism clinic in Austin, Texas. He doesn't have a US medical license, but such formalities don't much matter in Texas. Rick Perry, the Governor of Texas, differs with Bachmann on HPV, having attempted to mandate the use of the HPV vaccine for 11 and 12-year-old schoolgirls as the Center for Disease Control recommends, which may have something to do with the fact that Merck, the only maker of HPV vaccine, is a major contributor to Perry's campaign."

Robert Park

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

EARTHQUACKS: IT'S TIME TO STOP BEHAVING LIKE ANIMALS


Destacamos a coluna What's New do físico Robert Park:

"At the urging of a 5.8-magnitude earthquake centered in Northern Virginia, thousands of books in the University of Maryland Library sought a lower energy configuration, moving from the bookshelves to the floor. Meanwhile, according to the Washington Post, ABC, and NBC, high-strung inmates at the National Zoo like orangutans began to screech and scramble to higher perches "minutes before" seismographs sensed anything. Like maybe they had some special sense that humans don't? Or so the media reported. Were reporters already at the zoo waiting for a quake? Zoos are always in turmoil. Inmates chase each other, fornicate and have food fights, except the laid-back types like pandas that just sit on their ass through it all munching bamboo."

Robert Park

terça-feira, 30 de agosto de 2011

QUERIDA JÚLIA ACABA COM O MUNDO


Júlia Pinheiro, no seu programa da SIC "Querida Júlia", tratou do fim do mundo no final de 2012 com entrevistas de ruas e um painel de comentadores: ver aqui o filme e o comentário do astrobiólogo Carlos Oliveira publicado no seu blog astro.pt.

O FENÓMENO DA CONSCIÊNCIA É COMO O DA EXISTÊNCIA DO UNIVERSO - DAVID LODGE

Faleceu David Lodge, o polifacetado escritor britânico que manteve na ficção uma ironia finíssima e absolutamente corrosiva. A diversidade h...