Crónica publicada no "Diário de Coimbra":As plantas, como os animais, possuem mecanismos de defesa contra agentes patogénicos. Ou seja, possuem sistemas imunitários. Estes processos permitem aos animais e às plantas distinguir o que é próprio daquilo que é estranho e são denominadores comuns de protecção contra bactérias e vírus que têm, no caso que aqui nos interessa, as plantas como hospedeiros alvo.
Nas plantas, tal como nos animais, são processos complexos que envolvem redes de sinalização ainda muito mal compreendidas, mas cuja investigação tem conseguido avanços recentes. É disso exemplo o trabalho agora publicado na revista
Nature sobre a influência da luminosidade solar, mais especificamente dos ritmos circadianos, nos processos imunitários das plantas superiores.
São conhecidas muitas alterações fisiológicas e vias bioquímicas nas plantas que são reguladas pela intensidade luminosa, sendo talvez a mais evidente a da actividade fotossintética. Ao entardecer, as plantas como que mudam para um "modo metabólico" nocturno. Mas, com a surpresa e espanto que muitas vezes debruam o conhecimento científico, esta investigação agora publicada ilumina uma importante actividade de defesa para as plantas quando o disco solar baixa no horizonte.
O estudo revela que as plantas começam a activar mais os seus sistemas de defesa imunitários ao entardecer, altura do dia a partir da qual os microrganismos patogénicos apresentam também uma maior virulência. É uma espécie de reacção antecipada das plantas a um eventual ataque microbiano ao fim do dia.
Assim, ao contemplarmos a vegetação ao pôr-do-sol, enquanto os animais diurnos recolhem para dentro da escuridão e se envolvem em processos de regeneração, as plantas ampliam as suas defesas imunitárias contra uma qualquer provável infecção.
António Piedade