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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Debate: Europa de Pós-Crescimento

"Geopolítica de uma Europa Pós-Crescimento" é o tema do debate que irá ter lugar amanhã, sábado, dia 14 de dezembro, às 14h30, no auditório da Casa Fernando Pessoa. 

No debate participarão Richard Wouters, Ana Gomes, Inês Cosme e Rui Tavares, que irão trocar ideias sobre os conceitos de pós-crescimento, decrescimento ou crescimento verde. Num contexto histórico marcante de depleção de recursos naturais, de alterações climáticas, de asscenção de autoritarismos e de guerra às portas da Europa, importa debater os vários rumos para o futuro da Europa.

Data: Sábado, 14 de dezembro, 2024, às 14h30
Local: Auditório da Casa Fernando Pessoa, R. Coelho da Rocha 18, Lisboa

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Ajude a identificar a localização desta espécie.

 Decerto que já deve ter reparado numas aves verdes e barulhentas que esvoaçam pelos arvoredos de algumas cidades do nosso país. São os periquitos-de-colar (Psittacula krameri), uma espécie exótica de origem africana e asiática e que nas últimas décadas chegou ao nosso país e está a expandir-se. 

Agora a SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves lança-nos o desafio de identificar os locais onde estas aves se juntam para dormir. Esta organização está a preparar uma contagem inédita por todo o país, mas antes é necessário identificar os locais. Para isso, toda a ajuda é bem vinda. Entre 15 de Outubro e 15 de Novembro, pode fazer as suas observações ao fim do dia.

Neste link, a SPEA explica como participar, o que tem de fazer, como identificar a espécie 

Crédito: Guilherme F. Lima, fonte: wikipedia

Se se interessa por aves, e já que estamos a falar de espécies que não são nativas de Portugal, a SPEA vai realizar um webinar gratuito sobre "Aves exóticas e invasoras em Portugal", no dia 15 de Outubro, às 18h30. Para saber mais, veja aqui.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Descoberta de possível subespécie de Fura-bucho-do-Atlântico nas Canárias

Segundo um estudo publicado na revista Journal of Avian Biology, uma equipa internacional que conta com quatro técnicos da SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves como autores, relata que o Fura-bucho-do-Atlântico (Puffinus puffinus), que se pensava ser uma só espécie que nidificava no Atlântico Norte (Reino Unido e Irlanda, com pequenas colónias, nos Estados Unidos da América, Canadá, Espanha e Portugal), afinal pode ter uma subespécie nas Canárias, dadas as diferenças encontradas pelos investigadores nas aves dessa população. Esta descoberta poderá ter impacto nas medidas de conservação a aplicar, principalmente atendendo a que o tamanho dessa população tem vindo a diminuir.

O artigo pode ser consultado aqui: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/jav.02633 

Créditos: Alix d'Entremont. Fontehttps://ebird.org/species/manshe?

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

“FLORESTAS MARINHAS: UMA VIAGEM PELO PASSADO, PRESENTE E FUTURO”




Na próxima 4ª feira, dia 9 de Janeiro de 2019, pelas 18h00, vai ocorrer no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a palestra "Florestas marinhas: uma viagem pelo passado, presente e futuro”, por Ester Serrão, investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e Professora associada da Universidade do Algarve.



Esta palestra integra-se no ciclo  "Ciência às Seis - Terceira temporada"*

Sinopse da palestra:
As florestas do mar são formadas por seres marinhos muito diversos como algas castanhas gigantes e animais como corais e esponjas, e são essenciais para muitos dos seres vivos nesses ecossistemas marinhos.  Estas espécies têm fraca capacidade de migração mas ao longo das épocas passadas, as alterações climáticas causaram repetidas alterações das suas distribuições. Essas variações deixaram marcas na biodiversidade genética das populações atuais, que permitem compreender o seu passado e fazer previsões sobre o seu futuro, revelando o papel importante da Península Ibérica na conservação da biodiversidade destes importantes ecossistemas. 

*Este ciclo de palestras é coordenado por António Piedade, bioquímico, escritor e divulgador de Ciência.

ENTRADA LIVRE

Público-Alvo: Público em geral

terça-feira, 16 de setembro de 2014

UMA HISTÓRIA BELA E OUTRA MENOS BELA

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional.



Hubert Reeves é um poeta do cosmos. Através da sua escrita de divulgação de ciência a poesia das poeiras das estrelas substancia o nosso pensamento. O distante torna-se familiar, o longe inspira-se com olhar deslumbrado. Do Big Bang até ao futuro, a sua escrita simples e cativante, aproxima-nos do Cosmos.

Foi assim ao longo de mais de uma dezena de livros de divulgação de ciência que nos ajudaram a deslumbrar e a aprender a história do Universo, que é também a de todos nós. Esses livros do astrofísico Hubert Reeves conheceram a edição portuguesa através da editora Gradiva, que os foi publicando na sua prestigiada e premiada colecção “Ciência Aberta”. O primeiro foi “Um pouco mais de azul” (número 2 daquela colecção), e o último “Onde cresce o perigo surge também a salvação” (número 205). E é este último livro de Hubert Reeves que importa visitar agora.

Esta edição portuguesa tem a tradução deste de Pedro Saraiva e a revisão científica de Carlos Fiolhais. O título, “Onde cresce o perigo surge também a salvação”, é a adaptação de um verso do poeta alemão Friedrich Hölderlin. E é o mote para a narrativa em que Hubert Reeves nos conta duas histórias: uma bela, e outra menos bela.

A bela, é a história deslumbrante de como o Universo evoluiu, desde as primeiras partículas, até à espantosa propriedade de a matéria se organizar na viva e se dotar de inteligência. Uma inteligência que nos permite contemplar o Universo e tentar compreendê-lo. Reeves conta-nos esta bela história com a escrita científica-poética a que nos habitou.

A história menos bela é sobre o efeito que aquela mesma inteligência humana teve sobre o planeta que a aninhou, causando a extinção de outras espécies, perda de biodiversidade que desequilibra perigosamente os ecossistemas. Inteligência que desenvolveu tecnologias poluentes que provocam alterações climáticas que fazem perigar a habitabilidade do nosso planeta para a vida. Hubert Reeves faz uma descrição impressiva do impacto da espécie humana sobre o planeta Terra.

Mas o nosso poeta do cosmos não se limita a apresentar estas duas histórias. Numa terceira e última parte do livro, apresenta-nos os esforços que têm sido desenvolvidos, desde há cerca de cento e cinquenta anos, para tentar conciliar as duas histórias e, com inteligência, tentar reverter os malefícios da acção humana sobre a Terra. Descreve-nos “o despertar verde” que tem permitido salvar várias espécies da extinção e restaurado a camada de ozono, entre outros aspectos marcadamente ecológicos. Fala-nos também da necessidade de uma “cosmoética” e apresenta-nos uma ética para a Terra.

É um livro para todos e que nos ajuda a refletir sobre a nossa história e o nosso lugar no Cosmos. Que nos sensibiliza para a importância de usarmos a mesma inteligência que criou a revolução industrial, para salvaguardar o futuro da vida no único planeta que conhecemos onde ela existe. É um livro escrito com confiança e esperança na beleza da nossa inteligência.


António Piedade

domingo, 7 de abril de 2013

«A EVIDÊNCIA DA EVOLUÇÃO – POR QUE É QUE DARWIN TINHA RAZÃO»

Recensão crítica publicada primeiramente na imprensa regional.
Numa era em que as pseudociências e o criacionismo se enraízam na superficialidade tornada de fácil consumo pelas novas tecnologias da informação, e em que esta informação tem evolução acelerada, importa ter acesso a bons livros que nos possam dar guarida para pormos os pés (a consciência e o pensamento) em terrenos firmes, férteis sobre um dado assunto, sem perder a criatividade, fortalecendo assim o direito à liberdade de expressão, bem como ao livre pensamento. Mas com a responsabilidade que define a própria liberdade. E o assunto da própria evolução da vida merece a nossa maior atenção, principalmente porque há excesso de má informação a circular sobre esta matéria. Matéria esta que é de importância central para o bom funcionamento das nossas diversas actividades, do nosso relacionamento com a vida do e no planeta Terra.

Enquadra-se neste contexto o excelente livro «A Evidência da Evolução – Porque é que Darwin Tinha Razão», de Jerry A. Coyne, recentemente editado pela Tinta-da-china e cujo original é de 2009, foi traduzido por Paula Almeida e teve revisão científica de Martin P. Melo do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos). Jerry A. Coyne é professor no Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Chicago (EUA) e um activo e excelente divulgador de ciência em geral, e da evolução em particular, para o grande público (ver http://whyevolutionistrue.wordpress.com/).

(Ver aqui a apresentação que o Professor Carlos Fiolhais fez deste livro)

A leitura desta obra interdisciplinar recomenda-se a todos, pois para além de ser de agradável leitura, consegue tornar compreensíveis os conceitos envolvidos na evolução das espécies, fornecendo inúmeros e esclarecedores exemplos e factos actualizados sobre esta realidade.

Ao longo de nove capítulos (1 - o que é a evolução; 2 – Escrito nas rochas; 3 – Resíduos: vestígios, embriões e organismos mal concebidos; 4 – A geografia da vida; 5 – O motor da Evolução; 6 – De que forma o sexo acelera a evolução; 7 – A origem das espécies; 8 – Então e nós?; 9 – A evolução revisitada) de notas oportunas e de um glossário útil para refrescar a memória, o leitor é confrontado com uma escrita alimentada por raciocínios lúcidos e rigorosos sobre milhões de anos de evolução da vida neste planeta.

A actualidade e robustez dos argumentos expressa-se não só nos mais recentes registos fósseis encontrados, mas também nos novos dados e confirmações que a genética moderna tem fornecido. A moderna biologia celular e molecular tem permitido confirmar a teoria da selecção natural de Darwin, e também entender o motor da evolução. O autor explica-nos, com simplicidade e rigor, os mecanismos genéticos subjacentes à evolução das coisas vivas. E também a nossa própria evolução.

Precisamos de bons livros para compreendermos melhor a importância da biodiversidade, como ela surgiu e evoluiu, e a nossa relação com a vida no único planeta de que temos conhecimento em que ela evoluiu. Este é um desses bons livros.

Não posso deixar de replicar aqui a acutilante opinião do prestigiado biólogo Richard Dawkins sobre este livro: «Quem não acredita na evolução ou é estupido, ou é louco, ou não leu Jerry Coyne.»

António Piedade

Dados Bibliográficos
Título: A Evidência da Evolução – Porque é que Darwin Tinha Razão
Autor: Jerry A. Coyne
Editora: Tinta-da-china
Tema: Ciência
Tradução: Paula Almeida
Co-edição: CIBIO | Serralves
Adaptação: Martim P. Melo
1.ª edição: Outubro de 2012
N.º de páginas: 376
Tipo de capa: Capa mole
Formato: 14x21 cm
ISBN: 9789896711337

sábado, 28 de abril de 2012

...EM VIAS DE EXTINÇÃO



"Animais em perigo de extinção" é o enfoque da nova colecção de selos emitidos e postos a circular, no dia 19 deste mês de Abril de 2012, pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Selos encomendados pela ONU a uma das mais talentosas ilustradoras científicas portuguesa: Diana Marques.

A ilustração científica na filatelia ficou assim mais enriquecida. Noutra perspectiva, reafirma-se o selo como um excelente suporte e veículo para a comunicação de ciência.



A excelência do trabalho da Diana Marques (ver página desta comunicadora de ciência através da arte da ilustração aqui) pode agora ser enviado, sem extinção, usando estes selos.

Contribuímos também para sensibilização colectiva de que é urgente proteger as espécies animais (neste caso) que perigam deixar a biosfera, muito devido à acção humana.

 António Piedade

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O problema ambiental mais deprimente não é a perda de habitat ou a sobreexploração, mas a indiferença humana a esses problemas


Órgão da Administração Direta do Ministério da Ciência e Tecnologia, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia / INPA - foi criado (1952) com a finalidade de realizar o estudo científico do meio físico e das condições de vida da região amazônica, tendo em vista o bem estar humano e os reclamos da cultura, da economia e da segurança nacional. Sua missão é gerar e disseminar conhecimentos e tecnologia, e capacitar recursos humanos para o desenvolvimento da Amazônia. Ao longo de cinco décadas, vem assumindo responsabilidade crescente na tarefa de produzir conhecimento, estabelecendo um compromisso com o desenvolvimento sustentável, a defesa do meio ambiente e de seus ecossistemas, expandindo os estudos sobre a biodiversidade, a sociodiversidade, os recursos florestais e hídricos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

As maravilhas da natureza e a Humanidade

Tive a honra de receber o vigésimo primeiro postal de Boas Festas do Professor Jorge Paiva, botânico da Universidade de Coimbra.

O postal, em papel, tem, como sempre, fotografias e texto original em versão portuguesa e inglesa e intitula-se As maravilhas da natureza e a Humanidade. Com a devida vénia, aqui o reproduzo:


"A época natalícia, celebrada pelos cristãos como um acontecimento esplendoroso, recordo sempre muitas das maravilhas da Natureza que tive a felicidade de observar, como, por exemplo, o parto de uma elefanta africana (Loxodonta africana) em plena selva. Já estive em regiões naturais de avassaladora beleza, plenas de diversidade, como por exemplo, as florestas equatoriais (pluvisilva) de todos os continentes, o Pantanal da América do Sul, as savanas da África Oriental, os mangais da América, África, Ásia e Austrália tropicais.

Em algumas regiões, além da elevada biodiversidade, tem-se ainda a oportunidade de ver seres invulgares e outros de desmedidas dimensões, como enormes elefantes, árvores com 6.000 toneladas de biomassa, como um exemplar de Sequoiadendron giganteum, vagens de uma momosácea (Entada pursaetha) com cerca de 2 m de comprimento, sementes com cerca de 20 Kg (Lodoicea mldivica) e folhas de um “nenúfar” de limbo flutuante com cerca de 2 m de diâmetro (Victoria amazónica e Victoria cruziana).

Recentemente, tive a oportunidade de estar num dos maiores centros de biodiversidade da América Central (Costa Rica) e observar aí dois seres invulgares de rara beleza: uma borboleta da asas transparentes (Greya oto) e um feto trepador, cujo limbo foliar por ter uma única camada de células de espessura, as folhas são transparentes (Trochomanes elegans). Também existe me Portugal, embora extremamente localizado, um feto desses (Vadenboschia speciosa).

Muitas destas maravilhas estão protegidas, não apenas pela sua raridade ou esplendor, mas porque a sobrevivência da humanidade só é possível desde que na “Gaiola Global” (Globo Terrestre) onde vivemos, existam as outras espécies que a habitam. Não é pela beleza ou invulgaridade que temos de preservar as outras espécies do Globo, mas porque sem elas não sobrevivemos.

Façamos votos para que durante a época festiva do final de ano, em que, regra geral, se come exageradamente, nos recordemos que toda a comida (o nosso combustível) é de origem vegetal, animal e de outros sertes vivos (leveduras, por exemplo). Isto é, sem os outros seres vivos (biodiversidade) não comíamos, não nos vestíamos, não tínhamos medicamentos, lenha, petróleo (o crude é de origem biológica), bebidas (exemplo, cerveja, vinho, cidra), fibras, energia eléctrica."

J. Paiva, 2011.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A VIRGEM E O COELHO

Crónica publicada no "Diário de Coimbra".

A Virgem e o Coelho” ("Madonna del Coniglio", no italiano original), é um óleo sobre tela do pintor italiano Tiziano Vecellio (1473? – 1590) que pode ser actualmente apreciado no museu do Louvre, em Paris. Tiziano é um dos principais representantes da escola veneziana do Renascimento Europeu, e este seu quadro referencia a pureza da fertilidade e da concepção imaculada de Maria, representada pela alvura, símbolo de pureza, do coelho enquanto espécie associada à fertilidade. Nesta pintura renascentista, Maria recebe de Catarina de Alexandria o menino Jesus. Este contempla um coelho branco bem seguro pela mão esquerda de sua mãe imaculada. As mãos de Maria fazem a interligação entre o menino Jesus e a pureza representada pelo coelho branco.

Como veremos mais à frente, há razões para uma intencionalidade para este simbolismo do coelho com a pureza e com a concepção sem pecado. Neste contexto, pode dizer-se que a obra faz uma alusão ao mistério da incarnação e da imaculada concepção de Maria, numa interpretação de Tiziano do culto mariano e dos novos evangelhos bíblicos. Mas note-se também na presença de um cesto semiaberto com fruta, uma maçã, numa alusão ao pecado original relatado nos Velhos testamentos.

Esta obra “A Virgem e o Coelho” contém ainda informação insuspeita sobre da evolução da humanidade na sua relação com o mundo. Muito para além do renascimento e vitória da luz sobre as trevas, ajustado pela cristandade ao solstício de inverno, apropriada e primeiramente celebrada nas festividades natalícias neste canto ocidental da humanidade, para celebrar o nascimento do menino Jesus.

Mais do que possamos extrair a partir dos estudos derivados da História da Arte, de outros contextos implícitos em segundos e outros planos, também eles férteis em informação histórica nas suas matrizes telúricas, bucólicas (a figura do pastor) mas também de urbanas modernidades, este quadro encerra em si uma informação que corrobora, imagine-se, conhecimento recente provindo da genética e genómica modernas: o da domesticação do coelho!

E porquê? Porque é uma das primeiras obras de arte conhecidas em que um coelho branco é representado em contacto directo com uma figura humana, mesmo sendo a de Maria, mãe de Jesus.

Saliento: coelho branco e não cinzento que é a cor do bravo, endémico e nativo.

Por outras palavras, este quadro indica-nos que, pelo menos em 1530, o coelho já tinha sido domesticado. Embora caçado desde tempos imemoriais pelo Homem, caçador-recolector, para fonte de carne e pele, a domesticação do coelho selvagem terá ocorrido não há mais de 1500 anos. Esta informação ressalta dos estudos de divergência entre os genomas das variadíssimas espécies de coelhos domesticados hoje conhecidas e do seu “primo” selvagem.

Estudos efectuados nos últimos anos pelo biólogo e geneticista português Miguel Carneiro (e seus colaboradores), investigador no Campus Agrário de Vairão do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, mostram que o coelho europeu (Oryctolagus cuniculus) é o antepassado comum de todos os actuais coelhos domésticos. Curiosamente, esta espécie é nativa da Península Ibérica onde duas subespécies divergiram há cerca de 1,8 milhões de anos, sendo muito bem distinguíveis geneticamente: a O. c. algirus, ainda existente no sudoeste da península, principalmente em Portugal, e a O. c. cuniculus presente no noroeste da Ibéria e também no sul da França. Os trabalhos de referência estão publicados nas revistas Molecular Biology and Evolution (2011, 28(6):1801-1816) Genetics (2009, 181:593-606) e Evolution (2010, 64: 3443-3460), entre outras.

Há muitas evidências históricas de uma farta utilização de coelhos durante a ocupação da Península Ibérica pelo Império Romano. De facto, no século I a.C. os Romanos referiam-se à Hispânia como a terra dos coelhos. Cercados de coelhos terão sido utilizados para amplificar a sua reprodução e satisfazer a procura da carne de coelho, mas sem que uma deliberada reprodução selectiva de certas características tenha sido efectuada pelos Romanos ou povos ocupados, pelo que os investigadores excluem a ocorrência de uma efectiva domesticação do coelho durante esse período.

Um outro registo histórico, bem documentado (ver referências nos artigos atrás citados), surge aos investigadores como testemunho de uma domesticação intencional do coelho ancestral, com uma forte pressão de selecção artificial para fixar características de interesse, como seja a docilidade de trato ou a cor da pelagem. Esta selecção parece ter-se iniciado, ou pelo menos intensificado, a partir do século VI d.C. em Mosteiros do Sul de França, propulsionada por um decreto do Papa Gregório I (c. 504 – 12 de Março 604), também conhecido como S. Gregório Magno, em que é reconhecida a pureza carnal dos coelhos recém-nascidos! Diga-se, por oportunidade musical, mesmo que aqui dissonante, que Gregório I foi responsável pela divulgação do tipo de música que hoje designamos por gregoriana.


Segundo o referido édito papal, os coelhos recém-nascidos não eram considerados carnais pelo que poderiam ser consumidos durante a quaresma sem que daí adviesse pecado para aqueles que os consumissem! Eis uma forte razão para os manter em cativeiro, para os domesticar. Há registos da troca de coelhos no ano de 1194 entre mosteiros do centro da Europa e do Sul de França, o que mostra que a sua domesticação era comum já no primeiro milénio d.C.

A natureza não carnal dos coelhos recém-nascidos, sugerindo uma concepção sem pecado, encontra assim eco na associação do coelho branco do quadro de Tiziano ligado à concepção imaculada do menino Jesus por Maria, nascimento celebrado nesta quadra natalícia pela cristandade.

António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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Faleceu David Lodge, o polifacetado escritor britânico que manteve na ficção uma ironia finíssima e absolutamente corrosiva. A diversidade h...